⫘ׂ⫘݂ TEARS, 009 !
💥🧟♀️ ꒱ ⭑˛ ℭapitulo 009 ֥
Lágrimas ⸼⸼ ⚠︎ · ╮
DIAS ATUAIS
2013
A NOITE NÃO ESTÁ SENDO FÁCIL para Ravena, ela por algum motivo não consegue tirar Vance de sua cabeça, e muito menos sua falecida amiga, April. A garota se remexe na cama tentando achar uma posição confortável, mas parece que está deitada em cima de pedras pontiagudas.
Carl já está dormindo desde que se deitou às 00:09. Ravena nunca imaginou que ele dormia tanto e tão rápido. A garota se senta na cama e sua respiração permanece ofegante, está difícil de respirar e seu corpo está fervendo.
"Não é possível que eu esteja com febre. Não, não é possível."
Ela bebe um gole d'água gelada que estava na mesinha ao lado e volta a encarar a parede. Sua mente não aparenta estar nessa realidade, sua imaginação cria um universo no qual não aconteceu o apocalipse: Nele tudo é calmo e confortável. Lá não existe o seu pai, Michel, em seu lugar está a pequena Martina. O céu é azul claro e o sol brilha sobre Atlanta em uma tarde perfeita para passear com a família.
Ravena não consegue dormir, e já são 04:50 da manhã. A mulher sai do transe com Carl a chamando repetidas vezes.
-- Ravena? Ravena! - Se levanta da cama e vai até a frente dela. - Você 'tá bem? - Ele devagar coloca a mão no ombro da maior, e por incrível que pareça ela aceitou o contato, mas só por alguns segundos, pois logo se afasta. Parece que o Grimes não tem um sono tão pesado como aparentava.
-- Eu 'tô bem. - Se deita e se cobre com o cobertor. Carl permanece parado na frente dela tentando ter certeza que ela não ficará acordada.
-- Certeza? - A menina não responde. E Carl volta para a cama, seu pulso está dolorido e a palma de sua mão pálida está com arranhões recentes causados pelas crises que a mulher tem durante as noites. O garoto não conseguiu dormir a noite inteira, talvez preocupado com o estado dela, talvez temendo dela fazer alguma besteira que causará sua morte.
A manhã está quente, e Alexandria está voltando ao normal com os dias que se passam lentamente. Ravena caminha pela floresta sozinha, como costumava fazer antigamente no início do apocalipse, Nana quase nunca saia sozinha depois que reencontrou com Vance em Alexandria. Sua perna está recuperada, e tem apenas o curativo em seu ombro que está suavemente sujo de sangue. O local em que levou o tiro não está doendo nadinha, a não ser na hora de limpar com álcool.
A ruiva está com sua jaqueta vermelha, seu tênis preto com o desenho do homem aranha, quatro anéis pratas em seus dedos e suas pulseiras por cima dos curativos de seu pulso ferido. Seu cabelo está com um penteado que Michonne fez: duas tranças.
Ela se senta em um tronco de árvore, a garota abre sua mochila, pegando seu caderno. Ravena costuma sair para lugares aleatórios para buscar inspirações para seus desenhos, ou até mesmo para relaxar enquanto escreve sobre sua miserável vida.
Sua respiração se prende por alguns segundos no momento em que sente a ponta de uma arma tocando sua nuca. O barulho do gatilho faz Ravena levantar as mãos para o alto, deixando seu caderno e suas coisas no chão.
-- Me dê suas coisas. - A voz firma diz. É claro que é um homem, a voz é grossa, mas não tanto. O garoto bate de leve o cano da arma na nuca da menina e exclama. - Suas coisas!
A de madeixas onduladas se levanta lentamente, Ravena pega sua mochila e se vira para entregar para o suposto homem. Em sua frente está um homem usando uma blusa azul, uma calça jeans com vestígios de sangue, ele tem uma pele negra e cabelo crespo escuro, seu olhar é de medo, claramente passou por coisas horríveis durante esse tempo.
O menino se aproxima para pegar a mochila, mas é surpreendido pela ruiva. A Smith torce o pulso dele, o fazendo cair rapidamente contra o chão, a garota se aproxima pisando no peitoral dele.
-- A única coisa que você irá receber hoje, é uma surra. - Fala dando um soco no rosto dele, seus anéis afundam contra a pele dele e seu sangue respinga pela grama.
-- Porra! Porra, eu não sou um cara ruim! - Grita cuspindo sangue no tênis da garota.
-- E quem disse que eu me importo? - Volta a pressionar o tênis contra ele, dessa vez seu pé está localizado no pescoço do de cabelos escuros.
-- A gente pode resolver isso!
-- Eu não ac... - A fala de Ravena é cortada por um puxão que recebe em seu pé. O homem agarra o pé dela a fazendo despencar sobre o chão. Ela murmura ao sentir suas costas batendo contra o tronco rígido da árvore.
Carl está caminhando pela mata ao lado de Ellie. A garota não cala a boca um segundo sequer, ela não consegue parar de falar sobre seu filme favorito. Carl está andando na frente dela, cuidando para não trombar com o zumbi.
O Grimes escuta galhos se quebrando mais a frente, e então se aproxima silenciosamente. Seu único olho se arregala ao ver um homem por cima de Ravena enquanto está com a mão no pescoço dela.
-- Eita... - Sussurra a menina. - Sexo violento que se chama, né? - Carl a encara incrédulo, a morena levanta as mãos para cima em sinal de rendimento. - Não está mais aqui quem falou. Tenho que descontrair o lugar, né?
-- Eu sabia que essa garota era doente. E não precisa descontrair o lugar, Eli. - Diz caminhando para o lado contrário.
-- Que climão.
-- É óbvio. Eu acabei de ver a Ravena por baixo de um cara!
-- Está com ciúmes? Uhm? - Se aproxima do menino, parando na frente dele. - Por que não chega nela?
-- Eu não gosto dela. Eu só não queria ver aquela cena logo de manhã. - Responde passando a mão pela nuca. Ellie coloca as mãos na cintura e suspira frustrada.
-- A quem você quer enganar? Eu vi você e ela de conversinha durante a madrugada, eu percebi a maneira que você olha para ela, eu sei que você escreveu o nome dela na parte interna de seu chapéu, eu sei de tudo! Inclusive que você gosta da minha irmã!
-- Nossa, nunca mais falo nada para você.
Ravena da um chute na barriga do homem e se rasteja pela grama. A garota vê a silhueta de Carl e mais alguém se afastando. A ruiva tenta gritar, porém, o menino coloca a mão na boca dela.
-- Caralho, fique quieta! Eu não vou te machucar!
-- Então me solte! - Grita abafadamente.
-- Só se não me matar. - Começa a se afastar devagar, o homem pega uma faca por precaução. - Meu nome é Ravi, e o seu?
-- Não te interessa. Me deixa em paz, ou tente me matar novamente caso queira morrer. - A menina se abaixa para pegar a bolsa, entretanto Ravi a chuta para longe.
-- Suas coisas são minhas a partir de agora.
-- Era só o que me faltava. - Cruza os braços. Ravena não profere uma palavra sequer, e então o homem quebra o silêncio.
-- Você pode pelo menos me dar água? Comida? Me a...
-- Não - Corta a frase dele de maneira grossa. - Se vire para sobreviver. Igual todos fazem há muito tempo.
-- Eu não como há 4 dias, por favor me dê algo, nem que seja uma barrinha de cereal! - A ruiva observa o redor, não vendo ninguém. Ela se aproxima e entrega um pacote pequeno de salgadinho.
-- É só o que eu trouxe. - Coça a nuca a se senta no tronco de árvore novamente e volta a desenhar o retrato de Vance. Ravi não aparenta ser uma ameaça. Não para Ravena.
O menino se senta ao lado dela, porém, Nana se afasta. Ultimamente ela vem negando qualquer contato físico, talvez por não se sentir segura, ou talvez por medo.
-- Qual seu nome?
-- Ravena. - Diz depois de alguns segundos. - Ravena Smith.
-- Smith? - Pergunta cerrando levemente os olhos.
-- Sim, Smith. Por quê? - Pega um esqueiro que estava no bolso da jaqueta. A garota acende e desliga, brincando com ele. O fogo sempre encantou a garota, desde pequena.
-- Quem é seu pai?
-- Ah, meu pai?... Michel. Michel Collins. - O rosto de Ravi fica confuso, ele jurava que ela diria ser filha de outra pessoa.
A garota entra no quarto, já vendo Carl deitado na cama enquanto retira a camisa xadrez que deixa por cima da cinza. Ravena revira os olhos, ela pensou que teria um tempo sozinha, mas pelo jeito não terá.
Ravena se senta no chão ao lado da janela e abre sua bolsa, pegando algumas coisas. Carl observa a ruiva enquanto ela está de costas. O garoto então inicia uma conversa.
-- Quantos anos você tem mesmo? - Ele lembra que Ravena já havia dito isso no jantar, mas agora não se lembra se ela disse 15 ou 16. A mais velha não responde nada. - O que está fazendo?
-- Será que você consegue calar a boca?
-- Você fica estressadinha quando eu pergunto algo? Então me diga: Quantos anos você tem? Qual seu filme favorito? Qual sua música favorita? Você pinta o cabelo?
-- Cala a boca, por favor muleque! Eu 'tô tentando desenhar.
O Grimes se aproxima, sentando ao lado dela. O moreno fica encarando Ravena por minutos, discretamente reparando em cada detalhe dela.
-- Que saco! Se eu responder, você consegue parar de me encarar?! - Carl diz que "sim" com a cabeça. - O que perguntou então?
-- Quantos anos você tem? Qual seu filme favorito? Qual sua música favorita? Você pinta o cabelo?
-- Eu tenho 15 anos, e eu já disse isso. Meu filme favorito é homem aranha, jurava que era óbvio, mas pelo jeito você é burro. Não tenho uma música favorita, porém a que eu mais escuto desde o começo de tudo, é o álbum da Taylor Swift: Reputation. E não, eu não pinto o cabelo, seu idiota.
-- Reputation? Nunca ouvi falar. - Se levanta e sai do quarto apressado. Ravena volta a escrever e desenhar em seu caderno.
"Louco igual o pai." A de cabelos longos e alaranjados pensa enquanto revira os olhos claros.
Carl corre pelo corredor, ele caminha mais devagar quando ouve seu pai chamando a sua atenção do andar de baixo. Ele praticamente arromba a porta do quarto de Ellie e Martina de tão rápido e forte que abriu.
-- O que aconteceu, Carl?! - Pergunta Ellie indo até ele.
-- Reputation.
-- O quê? - Martina murmura confusa.
-- Você sabe onde posso ouvir essa tal de "Reputation"? - Entra no quarto enquanto recupera o fôlego. Eli entrega um MP3, ainda confusa com tudo. Por sorte Ravena no primeiro dia de apocalipse havia baixado todas as músicas que viu pela frente enquanto tinha internet nos eletrônicos da família, que no caso são 2 que restaram.
-- Por que você quer tanto ouvir isso? - A acastanhada se senta na frente dele, Carl coloca os fones de ouvido e antes de colocar a música para tocar diz.
-- Ravena disse que é seu álbum favorito. - Comenta simples e começa a ouvir a música.
-- Casal feliz, eca. - Afirma Martina pegando seu livrinho de conto de fadas.
Carl não sabe explicar, mas sente a necessidade de saber tudo sobre Ravena, talvez para tentar saber mais sobre a personalidade dela. Ele respira fundo e encosta as costas na parede e se ajeita na cama.
Quando está perto da garota, ele se sente mais agitado, querendo falar tudo que pensa, entretanto sabe que se falar tudo que pensa, acabará com o nariz quebrado.
Faz 1 mês e 1 dia exatamente que a família Grimes foi morar na casa de Ravena Smith. No andar de baixo está apenas Michel, como sempre: esticado no sofá e enchendo a cara de bebidas e drogas. Agora que Rick está aqui, ele só faz isso de noite. Todos que moram na casa já estão adormecidos, menos Ravena e Carl.
Ravena sente sua garganta seca e então se levanta para beber água, já que a de seu copo acabou. Carl encara ela a sair do quarto. O menino não está mais conseguindo dormir pesado, já que agora ele percebeu das crises que Ravena tem durante a noite, e então fica observando para ela não se auto machucar.
Os passos suaves da garota não são ouvidos por Michel. Ela pega um copo d'água e bebe rapidamente, aflita com o fato de estar sozinha no andar de baixo com o seu pai. O copo escorrega de sua mão e faz um barulho alto ao bater contra o metal da pia.
Ravena fica parada por um momento, enquanto escuta o sofá estalando e os passos brutos de seu pai. O aroma de álcool invade suas narinas.
-- Porra eu estava quase dormindo garota! - Exclama o homem. Ele está bambo de tão bêbado e suas pupilas dilatadas. Michel levanta a mão para dar um tapa na menina, mas para ao ouvir o gatilho de uma arma.
-- Vamos - Carl diz puxando Ravena para o andar de cima. - Por que não me contou sobre isso?
-- Não confio em você.
-- Mas saiba que pode confiar agora. - Entra no quarto ainda segurando o pulso dela, porém de leve. Há uns 9 dias atrás Carl viu o pulso dela sem querer, e desde então não tira o olho dela.
"Talvez. Talvez amigos..." Sua mente a comenta.
-- Colegas.
-- Tanto faz - Guarda a arma de volta no guarda-roupa. - Por que não dormiu ainda?
-- Não consegui... - Murmura baixo. Ravena se senta no canto da cama e pega seus fones de ouvido. Ela ainda sente resceo em se apegar a Carl. E se ele morrer? Ela terá que lidar com mais uma morte, coisa que claramente não será fácil.
-- Reputation, né? - Pergunta se sentando ao lado dela. Nana não diz nada apenas entrega um dos fones para Carl ouvir também.
Ellie sai do quarto como de costume, ela acaba sentindo vontade de ir ao banheiro durante a noite. Porém, ao passar pelo quarto de Ravena e Carl, ela não ouve a ruiva humilhando o menino como de costume, e o silêncio é algo anormal nesse quarto.
Eli se aproxima e abre lentamente a porta. Um sorriso de canto surge nos lábios da morena ao ver Ravena e Carl lado a lado ouvindo música.
Os olhos de Ravena encontram os olhos de Ellie. A ruiva logo se afasta do homem, e ele levanta rápido.
-- Meu casal. - Sussurra e sai do quarto e corre para contar para Martina. Um sorriso largo se forma em seus lábios rosados e seu coração está acelerado.
Ellie entra rapidamente no quarto e tranca a porta, para caso a Ravena decida a impedir.
-- Você não acredita! - Exclama a morena se sentando no chão ao lado da loira. - Carl e a Nana estavam ouvindo músicas juntos! - Praticamente grita.
-- Sério?! Aí, graças a Deus entretenimento nessa comunidade - Se levanta rapidamente, ela vai até uma gaveta e pega um papel e algumas canetinhas coloridas. - Vamos ser as responsáveis por certas coisinhas. - Diz com um sorriso travesso.
-- Onde aprendeu as palavras "entretenimento" e "responsáveis"? - Pergunta confusa já que há alguns dias atrás a garota não sabia dizer a pronúncia correta.
-- Livros, querida. - Responde irônica.
A playlist de Ravena acaba e os dois retiram os fones. Já está de tarde - exatamente às 18:40 -, Carl e a ruiva ficam em silêncio por alguns segundos, até que o menino decide quebrar o silêncio ensurdecedor.
-- Você tem um bom gosto musical.
-- Brigada. Suas HQs também são ótimas.
Carl sorri minimamente e vai para sua cama. Por incrível que pareça o Grimes quase não sai do quarto, pelo menos não de dia.
-- Curupira. - Chama o homem. Ravena revira os olhos, ela odeia esse apelido.
-- Não me chame assim, caolho. O que quer agora?
-- O que aconteceu naquela floresta? - Pergunta com a voz quase rouca. Ele pensa nisso todos os dias. Ravena e Ravi estão extremamente próximos, até demais para Carl.
-- Ah, nada demais. Ele só tentou me matar, e eu quase matei ele, mas 'tá tudo bem. - Responde com um tom calmo, que até chega a assustar o moreno.
-- Ele tentou te matar?
-- Além de cego é surdo agora? - Comenta sem paciência, Ravena sempre odiou perguntas idiotas, a não ser as perguntas bobas de duas certas pessoas: Martina e sua amiga morta, April.
-- Cavala. - O menino coloca os fones de Ravena. A mulher se aproxima tirando das mãos dele.
-- O que está fazendo?!
-- Ouvindo música. - Coloca os fones novamente.
-- Vá arrumar outro eletrônico para ouvir música. - Pega novamente os fones e os guarda na gaveta da cômoda. - Eu corto seus ouvidos caso mexa neles sem minha permissão. - Sai do quarto.
Ravena ganhou aquele MP3 de seu antigo professor de Educação física. O homem era bem legal e divertido, as aulas dele eram as melhores. Ravena nunca foi de fazer muito exercício, mas com ele era diferente, ela não sabe porque, porém, se sentia confortável. Ela desde então os guarda como lembrança.
Ellie e Martina ficaram a noite inteira preparando uma carta para Carl e uma para Ravena. Elas irão se passar por eles, igual viam nos filmes de romance antes do mundo se destruir.
-- Pronta?
-- Pronta! - Afirma Martina para a mais velha. - Eu resolvo com a Nana! - Se levanta e corre para a sala, onde provavelmente Ravena estará.
Ao descer as escadas, Tina encontra a irmã segurando um tecido grande e escuro em suas mãos. Os olhos da Smith estão vidrados no que parece ser um pano, chega a ser assustador para a criança de cabelos claros.
-- O que é isso?
-- Nada. - Ravena responde quase de imediato enquanto coloca o item num saco preto. - Apenas lixo. Vou jogar fora mais tarde.
-- Deixa que eu jogo. Agora escuta. - Puxa a menina para se sentar no sofá. - Assunto sério! - Entrega a carta para Ravena e sai correndo para o andar de cima, enquanto ri baixinho. Ravena fica confusa, e abre o papel com cautela.
"Poderia me encontrar às 00:00 hoje no teto daquela casinha? Irei devolver seu pingente do homem aranha, aquele que você deixou para trás quando eu te salvei dos zumbis.
Assinado: Carl Grimes."
A de cabelos avermelhados cruza os braços e encara o relógio velho que fica no canto da sala.
"23:20..." Lê nos ponteiros do relógio. Ela fica sentada no sofá pensando se deverá ir, ou apenas ignorar o bilhete. "Por que ele não me disse pessoalmente? Ele é tão doido assim? Carl não é tímido o suficiente quando está no meu quarto, mas para falar algo tão simples é?"
Ellie senta na cama onde Carl está e entrega o papel. Suas mãos estão suadas devido a ansiedade, Eli não aguenta mais ter que ouvir Carl falar sobre a Nana, e também não aguenta mais vê-los separados.
-- Não falte! - Exclama saindo animadamente do quarto. Carl lentamente abre o bilhete.
"Me encontre em cima do telhado daquela casinha hoje às 00:00. Tenho uma coisa para falar. Uma coisa muito importante!
Assinado: Ravena C. Smith."
"Ravena me chamando para algum lugar? Estranho." Levanta da cama e vai tomar um banho, de maneira alguma Carl irá com a roupa que ficou o dia inteiro.
Carl colocou uma blusa xadrez azul e sua calça e botas de sempre. Ele pegou emprestado um pouquinho de creme de cabelo de Martina, e saiu de casa às 23:56.
O garoto já está no local da carta enquanto espera pela menina. Ravena aparece às 00:04. Ela está com uma blusa preta um pouco colada com uma estrela vermelha no centro, uma calça jeans levemente larga e seu sapato de sempre.
-- Atrasada, hein. - Comenta sentado no telhado da casa. Ravena resmunga enquanto se aproxima, a mulher sobe no telhado da casinha e se senta ao lado de Carl.
-- Por que me chamou? - Carl fica confuso.
-- Eu não te chamei. Você me chamou. - O homem responde.
-- Bem, foi um mal entendido. Já vou indo então. - Levanta sem pensar muito. Carl segura suavemente a mão dela e diz com um tom de voz suave.
-- Você gosta de estrelas, não? A noite está linda para ir embora tão cedo.
O corpo de Ravena se arrepia, não com o vento gelado da noite, mas sim com o toque de Carl. Ela desprende a mão de Carl e se senta novamente. Um suspiro sai da boca avermelhada da garota que olha fixamente para a frente, tentando evitar contato visual com Carl.
-- Não vou ficar por causa de você, e sim por causa das estrelas. - Fala encarando as belas estrelas que brilham no céu escuro.
Os dois acabam perdendo a noção do tempo, e quando vê já se é 02:37. Os dois voltaram para casa em um silêncio estranhamente confortável.
-- Ah, tinha até esquecido que eu divido quarto com você, rato esmagado - Ravena quebra o silêncio enquanto abre a porta do quarto e vê Carl logo ao seu lado.
-- Ruiva escrota. - Seu tom de voz é sarcástico. O garoto entra no quarto e se joga na cama. - Estava com saudade de me chamar desse apelido idiota?
-- Talvez... - Murmura. Ravena se senta ao lado da janela. Carl senta na cama e encara a garota que está sentada no chão de madeira, se perguntando se ela ficaria acordada ou estava apenas esperando ele dormir para escapar de Alexandria pela madrugada inteira, ou pior: sair com Ravi. Ravena está de costas para Carl, seu cabelo ruivo se movimenta por conta da janela aberta e sua pele se arrepia novamente com o leve vento.
Carl se deita devagar na cama e finge estar dormindo. Nana olha para o garoto e o vê deitado e coberto. Seu pulso está coçando e levemente sujo de sangue, a sensação de que seu coração está acorrentado volta e a falta de ar também. A garota retira as pulseiras de seu pulso, deixando a mostra seus ferimentos, que para ela são horrorosos.
A de cabelos avermelhados espera alguns minutos para confirmar que Carl está dormindo profundamente. Ela pega a mochila que deixava embaixo da cama, dentro dela tem várias coisas, mas a mão de Ravena vai até o walkie-talkie.
-- Vance? Vance? - Questiona com o walkie-talkie em mãos. Durante a madrugada passada, Ravena havia escutado chiados vindo do pequeno aparelho, e uma pequena esperança de ter Vance vivo retornou. Ela e o homem tem um Walkie-talkie para se comunicar desde o começo do apocalipse, e talvez Vance esteja vivo, e querendo contato.
A cabeça da garota está baixa e um nó se forma em sua garganta. Nana encara a jaqueta pendurada atrás da porta e retorna a dizer. Ravena gostaria apenas de ter um lugar para explodir em lágrimas, portanto, não há nenhum, já que esse lugar era o abraço quente de Vance.
-- Eu... Eu sinto sua falta... Todos os dias - Sua voz sai falha, Ravena levanta a cabeça com seus olhos claros marejados. - Estou tentando ser forte, mas... - enxuga a lágrima que escorre. - Eu não consigo. Eu tentei fazer tudo sozinha. Eu juro que tentei!... Porém eu não posso mais lidar com tudo isso, não sozinha... Estou me aproximando de Carl, na verdade deixando ele se aproximar de mim. Entretanto... E se ele morrer? E se ele morrer igual você e a April? Esse é meu medo. E não sei se ele vai me machucar. Odeio confiar em pessoas. E a culpa não é minha se as primeiras pessoas em que confiei tentaram... - Ela para. Ravena odeia lembrar disso, relembrar do quão escrotas as pessoas podem ser. - Bem... não me fizeram coisas legais.
Seus olhos ardem e seu corpo está gélido e trêmulo. Sua pupila se dilata ao ouvir um chiado igual ao da noite anterior e seu coração quase pula para fora de seu peito.
-- Vance?! Vance?! - Chama com um pingo de esperança. - Vance?... - O silêncio toma conta do ambiente novamente. Ravena joga o walkie-talkie na parede, estralhaçando ele em mil pedaços. - Mas que porra! - Levanta pisando nos pedaços que restaram sem se importar com o fato de Carl poder ver. A ruiva se encosta no canto do quarto escuro, suas pernas fraquezam, e então ela se senta no chão e agarra seus joelhos.
O de cabelos castanhos apenas queria poder ir até ela e afirmar inúmeras vezes que está tudo bem, mas o medo corre em seu sangue. E se Ravena não quiser mais vê-lo depois disso?
-- Queri... Ravena... - Chama enquanto se levanta da cama com o coração apertado. Ele apenas se ajoelha na frente da mais velha e coloca a mão sobre as dela. Ravena continua chorando com o rosto escondido em seus joelhos. - Ravena... Eu... - Sua frase é cortada pela menina. A garota levanta a cabeça, seus olhos estão um pouco inchados, a ponta de seu nariz vermelha, e suas bochechas encharcadas de lágrimas.
Carl é surpreendido por um abraço iniciado por Nana. Um abraço caloroso e carinhoso, que imediatamente retribui. A parte do ombro da camisa xadrez fica úmida devido as lágrimas salgadas que não escorrem incessantemente dos olhos de Ravena. Carl passa a mão delicadamente pelo cabelo ruivo e ondulado da mulher, buscando a acalmar.
-- Pode contar comigo para qualquer coisa, Ravena - A de madeixas alaranjadas afasta o rosto do ombro do Grimes e encara o olho azul dele. - Não precisa guardar tudo para você, pode compartilhar comigo, tudo bem? - O tom suave da voz de Carl relaxa lentamente a mais velha. O moreno enxuga as lágrimas dela com o polegar.
⁰⁰¹: E saiu a notícia que o mundo não acreditou: capítulo novo de Reputation! Quem amou respira.
⁰⁰²: Vocês gostaram desse capítulo enorme? Talvez eu tente trazer mais assim.
⁰⁰³: Ao mesmo tempo que esse capítulo me confortou, ele também destruiu. Volta, Vance😭
⁰⁰⁴: O ato 1 já está acabando, nem acredito que o tempo passou tão rápido! Provavelmente daqui 1 ou 2 capítulos teremos o ato 2.
⁰⁰⁵: Capítulo revisado, mas se acharem algum erro ortográfico, podem me informar, por favor!
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro