09 | O Jardim de Frigga
𖤍 T a l i s s a 𖤍
Os últimos dois dias se passaram tão devagar que me faziam querer ter poderes para acelerar o tempo. Eu não podia fazer tanto esforço, o que diminuía significativamente meus afazeres. Tudo o que fiz foi ler e caminhar pelo castelo envolta em conversas com Frigga e suas ajudantes. O corte em meu estômago já estava completamente curado, mas o local do ferimento ainda doía com certa pressão, então ainda não podia treinar ou batalhar, e isso me deixava extremamente entediada.
Ainda não havia falado nada com Heimdall também. Não tinha notícias sobre o meu mundo ou sobre minha mãe. Estava preocupada, mas não poderia atrapalhar seu trabalho e nem tinha condições de ir visitá-lo. Só me restava esperar. Quando tivesse oportunidades, tentaria falar com ele e saber de algo. Enquanto isso, continuaria enchendo minha cabeça de teorias e preocupações.
Batidas na porta me fizeram espantar os pensamentos e mandei que entrasse. A imagem de Loki fez-se presente, fazendo meu coração palpitar por alguns segundos. Eu havia sentido falta de sua presença esses dias. Quase não nos falamos. Trocamos apenas algumas palavras durante os jantares, os únicos momentos em que eu o via.
— Atrapalho?
— Jamais. Estava tentando ler mas não consigo me concentrar. Entre. — Peço, vendo o deus adentrar o cômodo por completo.
— Minha mãe falou que seu corte está curado. Como se sente?
— Está, finalmente. Ainda dói se me esforçar demais, mas já está bem melhor.
— Que bom. Estive pensando, agora que está melhor, se não quer ir visitar o Jardim...
— Achei que havia esquecido!
— Impossível. Apenas obedeci as ordens de deixar vossa alteza em repouso.
— Não precisa ser tão cordial comigo. Não me considero uma princesa. — Disse, vendo-o assentir. — Agora venha, me ajude a levantar. — Peço.
Loki se aproximou ainda um pouco receoso e segurou minha mão. Sua outra foi até as minhas costas, me dando apoio. Levantei, sentindo as pequenas fisgadas no abdômen ao fazer esforço, e sorri em agradecimento.
O príncipe me guiou para fora do quarto e logo começamos à andar em direção ao portão central. Loki me explicava algumas coisas sobre o tal jardim. Havia sido criado por sua mãe, para preservar ervas e flores raras, e seguir o cultivo de plantas medicinais. Eu achava que era um lugar pequeno, mas estava completamente enganada. Era similar ao tamanho do Pico do Luar. Com várias plantas no chão e em vasos grandes. Bancos pintados em branco e dourado, e no fundo uma pequena nascente que formava um lago no centro do jardim. Era lindo, calmo e silencioso.
— Nunca vou perdoar você por demorar à me trazer aqui.
— Estive respeitando sua saúde, milady. — Diz em tom engraçado, e eu sorrio. — É lindo, não é?
— Demais. — Disse, respirando fundo. — Eu não quero voltar para o castelo.
— Imagino. Em toda Asgard, esse é meu lugar favorito.
— Foi aqui que passou os últimos dois dias?
— Como?
— Esteve tão sumido...
— Oh... Na verdade, estava na biblioteca. Estava com algumas coisas em mente e precisava ler um pouco. Também precisei ir à uma missão com os três patetas.
— Por quê eu sinto que não gosta deles? — Perguntei sarcástica e ele soltou um sorriso anasalado.
— Eles não gostam de mim, eu não gosto deles. Mas obedeço as ordens de meu pai.
— O pouco tempo que passei com eles, pude perceber que o único que merece atenção ali é Volstagg.
— Ele tem um coração de ouro. E mais filhos do que pode contar nos dedos. — Brinca, sarcástico e eu sorrio.
— É. Mas me diz, por que eles não gostam de você? Não me parece o tipo de pessoa que eu deixaria fora do meu círculo de amizade.
— Ahm... Digamos que eu já tenha feito muitas coisas ruins. Realmente ruins. Prejudiquei algumas pessoas no caminho. Quase todos aqui em Asgard sabem disso, porque... Eles foram as minhas vítimas.
— Mas está tentando mudar, não está?
— Estou, na verdade. Já faz um bom tempo que tenho ficado quieto. Leio, estudo, saio para cavalgar... É difícil se distrair sozinho. — Ele admite e sinto um peso grande em sua fala. Me identifico com isso quase que de imediato.
— Então não entendo o motivo de ainda odiarem você.
— As pessoas não esquecem as coisas tão fácil assim, Talissa. — Disse. Pude perceber um pequeno nervosismo soar quando ele disse meu nome.
— Ninguém esquece, mas perdoar não é difícil.
— Não sabe como eles são. Não sabe o que eu fiz.
— Não, não sei, mas sei como são as pessoas que me cercavam. Escuta... — Pedi, me aproximando dele. — Eu nasci sem poderes. Nenhum. Nada. Era uma completa inútil. Treinava por horas, dias, mas não podia lutar contra ninguém. E os comentários, risadinhas e brincadeiras sem graça me cercaram por duzentos e trinta anos. Eu tive que conviver com isso, por que eu sabia que era verdade. Mas eu consegui meus poderes. Finalmente pude dizer que sou uma deusa, uma guerreira. Entende o que eu quero dizer? Onde eu quero chegar?
— Acho que sim...
— Eu pude provar que mudei, Loki. Pude provar meu valor. E foi muito satisfatório ver a cara de todos eles quando me viram ganhar várias e várias batalhas.
— Acha mesmo que alguém aqui ainda aceitaria meu possível lado bom? Nem sabemos se existe.
— Se você está tentando, ele existe. Sejamos sinceros, você me salvou! Eu poderia estar morta agora. Já não tinha mais esperanças, mas você me salvou. Me levou pra dentro do palácio e cuidou de mim, se preocupou comigo. Uma mulher que você nem conhecia. — Disse, vendo o sorriso do deus. Ele não me olhava, apenas sorria, talvez pensando no que eu tinha falado.
— Por quê está me ajudando? Porque está sendo legal comigo?
— Porque eu sinto algo bom em você. E também porque não sei quanto tempo terei que ficar aqui, precisarei de um amigo.
— Gosto da sua sinceridade. — Respondeu com um meio sorriso. — Deixa eu te mostrar uma coisa?
— O quê?
— Fecha os olhos. — Ele pede e eu arqueio as sobrancelhas. — Anda logo.
— Ok, ok. — Obedeço. De relance vejo um brilho verde soar à minha frente e sorrio nervosa.
— Pode abrir.
Tudo ao nosso redor estava cercado por borboletas de diversas cores e tamanhos, e Loki me observava com um sorriso satisfeito, me fazendo entender que se tratava de uma ilusão sua. Mas era tão lindo, tão real...
— São lindas. É um de seus poderes?
— É... Comecei à praticar recentemente, não tenho tanto costume. — Disse e eu ergui um dedo, vendo uma delas pousar em mim, mas logo sumir. — Viu? Não estão perfeitas.
— Só precisa praticar.
— E eu irei... — Diz, desfazendo-as.
— Porque borboletas?
— Não sei, na verdade. Costumo praticar com objetos inanimados, mas ultimamente tenho me atraído por coisas que voam. — Ele diz, e vejo o canto de sua boca levemente puxado para um sorriso. Logo sinto meu rosto corar. — Me diga um animal que goste.
— Coruja. Embora tenha medo de algumas por seu olhar macabro. — Digo e ele assente com um sorriso leve.
Loki se concentra e segundos depois uma luz verde emana de suas mãos, fazendo aparecer uma coruja das neves em seu pulso. O animal pia por alguns segundos mas logo desaparece.
— Se prepara, vou te pedir pra criar ilusões pra mim o tempo inteiro.
— À disposição, ao menos treinarei melhor meus poderes.
— E em ótima companhia. — Brinco, lhe dando uma piscadela e sorrio, deixando o momento mais leve.
Passamos o restante da tarde conversando sobre o meu mundo. Loki tinha curiosidade em, como eles chamam, Midgard, e nunca pode conversar com alguém de lá, saber tudo o que acontece, como são as pessoas, os deuses... Expliquei o máximo que pude mas logo tivemos que voltar. O ar cortante da noite já nos alcançava, e eu sentia fome.
— Irmão! Onde estava? Achei que iríamos treinar hoje. — Thor chama nossa atenção, exasperado e aparentemente cansado.
— Estive fazendo companhia à Talissa.
— Hogun sentiu falta de um bom parceiro de luta.
— Amanhã estarei lá. — Loki diz, dando de ombros E continuando à caminhar.
— Está se sentindo melhor, milady? — O loiro me pergunta, girando o martelo distraidamente em sua destra.
— Estou sim, muito obrigada.
— Então talvez queira acompanhar meu irmão amanhã. Ver seus futuros oponentes batalharem.
— Com certeza irei.
— Ótimo.
De lá, seguimos para o grande salão. O jantar foi servido e mais uma vez comemos enquanto me contavam mais histórias do passado. Todos eles ali já eram bem mais velhos que eu, e por vivermos num mundo tão diferente, nossas experiências também eram diferentes. Os monstros com os quais lutavamos, as criaturas que dividiam o mundo conosco... E eu adorava aprender coisas novas, então tudo ali era interessante pra mim.
Frigga estava mais quieta. Observava tudo, como sempre. Parecia ter notado a proximidade que eu estava tendo com Loki e não sei dizer ao certo se ela gostava disso ou não. Suas expressões não a entregavam. Mas independente do que pensasse, Loki é alguém que quero manter próximo. Parece ser um bom amigo quando não se fecha para as conversas e com certeza temos muito em comum.
Após o jantar, os três guerreiros se dividiram, indo cada um para a sua casa. Sif e Thor foram bêbados para o quarto e Frigga pediu que Loki me acompanhasse. Seu quarto era no mesmo corredor que o meu, e eu ainda me perdia aqui dentro.
Ele me guiava corredores adentro, respeitando a velocidade do meu cansaço, e em silêncio, com as mãos unidas atrás do corpo. Eu apenas apreciava sua companhia, mas foi quase quando chegamos as portas dos nossos quartos que uma pergunta veio em mente.
— Nunca conversamos sobre isso... Que poderes você tem? — Perguntei, vendo o moreno pensar um pouco.
— Muitos.
— Diga-me alguns... Vamos, você sabe todos os meus.
— Força, resistência, manipulação de magia, telepatia, transmutação... Ilusão, como você viu hoje...
— Telepatia? Fala sério!
Estou falando. — Disse em minha mente, usando o tal poder.
— Me convenceu. Também pode mudar de forma?
— Posso. Mas não faço tanto.
— E como funciona?
— Bom.. Posso adotar uma forma de qualquer outro ser vivo ou objeto inanimado. Mas geralmente uso minhas versões de outras espécies.
— Isso é incrível! E qual poder que gosta mas não usa tanto? — Perguntei, vendo-o pensar.
Ele ergueu a palma da mão e uma pequena chama verde apareceu. Aumentou um pouco de tamanho e continuou vívida. Repeti seu ato, fazendo agora uma chama aparecer na minha mão, também verde.
— Achei que as suas fossem laranjas.
— Posso mudar a cor. - Disse, fazendo-as rosa, depois amarelas.
— Isso é ainda mais incrível.
— Você não pode?
— Posso, com o auxílio da magia. As suas são naturais.
— Posso mudar as cores dos raios também.
— Propositalmente? Está brincando!
— Não. Os raios mudam conforme o meu humor.
— Quais cores pode ter?
— Não vou dizer. Adivinhe.
— Sabe que posso ler sua mente, não sabe?
— Sei, mas confio em você. Não vai fazer isso.
— Tudo bem. Vou descobrir em algum momento.
— Claro que vai... Então, amanhã.. Com quem vai lutar?
— Hogun e Fandral talvez. Costumo treinar alguns dos soldados do exército real. É uma boa forma de ocupar a mente e cansar o corpo.
— Entendi... Então me chame quando estiver saindo. Quero ver se é realmente bom quanto aparenta.
— Isso soa como um desafio pra mim.
— Entenda como quiser... — Disse, vendo suas sobrancelhas arqueadas. — Boa noite, Loki. — Desejei, lhe dando um rápido beijo na bochecha.
— Boa noite, Talissa. - Respondeu, quase num sussurro.
◦◦◦◦ ◎ ◦◦◦◦
Oláaaaa!
Me perdoem o pequeno atraso na postagem, tive alguns problemas e consultas médicas ontem, acabei descansando o restante do dia.
E me perdoem também se houver algum erro no capítulo, Wattpad tá dificultando bastante a minha vida aqui 😅
Espero que estejam gostando e me digam aí, o que estão achando da interação do Loki soft boy com a Talissa? Eu confesso que já sou cadelinha demais desses dois...
Nos vemos no próximo, amores, até mais!
Se cuidem 💚
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