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━━ 𖥔 ִ ་ ،𝟭𝟵. 𝟯𝐃𝟮𝐘.

━━ Região Costeira da Ilha das Mulheres, Amazon Lily; Calm Belt.

Law permaneceu em silêncio, recostado na parede metálica ao lado da porta da sala de cirurgia, enquanto processava todas as coisas que a garota de cabelos platinados havia dito em meio à sua crise. Ele ainda conseguia escutar o choro dela, embora fosse baixo e tão suave que se tornava quase imperceptível. Apenas tinha noção de que ela chorava por conta das puxadas fortes de ar para o peito e os soluços que ecoavam no silêncio daquele início de madrugada.

Os olhos da birkan ainda estavam inundados por suas lágrimas ao mesmo tempo em que sua cabeça era mantida contra o peito de seu capitão, que ainda permanecia desacordado e sem dar sinais de que iria acordar.

Sua escolha por ter ficado por perto para vigiá-la havia trazido ao Cirurgião da Morte informações valiosas que nem ele esperava conseguir obter, pois imaginava apenas que Elisabette fosse falar algumas bobagens ou tentar acordar o Chapéu de Palha por conta própria. Então, havia optado por ficar ali, caso precisasse intervir nas ações da mais nova. Entretanto, a descoberta de seu nome completo e da posse do "D." nele o fez ficar atento, em alerta às próximas falas que ela teria, para saber mais sobre ela e o porquê de ter escondido aquilo até mesmo do próprio capitão, como ela havia dito em meio ao seu desabafo choroso.

Ela levantou o rosto do peito de Luffy, levando as mãos até o rosto do garoto e acariciando suas bochechas com cuidado, vendo o ar embaçar o aparelho que o ajudava a respirar, sentindo seu coração apertar ainda mais e seu choro se intensificar. Não sabia quando e como faria o pranto cessar, quando tudo parecia estar se voltando contra si, com o único objetivo de fazê-la desabar daquela forma depois de tantos anos reprimindo aquilo, engolindo todas as angústias e mágoas que sentia.

Foram cinco anos inteiros, cinco anos segurando o choro em sua garganta, engolindo cada lágrima e respirando profundamente a cada soluço que ameaçava escapar de seus lábios. Cinco longos anos reprimindo sua própria humanidade, se vendo digna para não derramar uma única gota sequer, e agora se via com sua face úmida, molhada por seu choro e sem fôlego pelos soluços involuntários que vinham com força de seu peito, impossibilitando-a de respirar corretamente.

Ali, com as mãos segurando o rosto de seu capitão, Elisabette deitou a cabeça novamente em seu peito, em busca de algum conforto ao escutar o bater de seu coração fraco e, acima de tudo, envolto pela angústia que ela sabia que ele sentia. Afinal, o rapaz havia falhado em sua missão, pela qual tanto batalhou pelo sucesso, que era salvar seu irmão, sua família, Portgas D. Ace. No entanto, fracassou, e isso seria algo que iria assombrar o Chapéu de Palha por muito tempo. Não só a perda do irmão, mas também ver seus companheiros sendo derrotados um a um sem que ele pudesse evitar tal destino, vendo cada um de seus amados amigos desaparecendo diante de seus olhos quando o próprio já não tinha mais forças para lutar. Em um gesto de desespero, ordenou que a garota de cabelos platinados fugisse dali, mesmo sabendo o quão vulnerável ela poderia ser quando sozinha e desamparada no desconhecido que era o mar azul.

Após alguns minutos de silêncio, doze badaladas de relógio ecoaram por todo o Polar Tang, atraindo a atenção da Birkan, que imediatamente olhou para a porta, ainda sentindo a presença de Trafalgar ali.

Por um momento, ela respirou fundo e levou as mãos até as próprias bochechas para enxugar suas lágrimas e deixou um suspiro carregado de dor fugir entre seus dentes. Um sorriso curto, mas singelo, formou-se nos lábios rosados dela, que voltou a olhar Monkey, passando suavemente uma mão por seus cabelos negros e afastando as madeixas rebeldes de sua testa, dando-lhe uma visão ainda melhor do seu rosto adormecido. Uma única lágrima solitária rolou, a última daquele dia, e, voltando a ser uma pessoa estoica em relação às suas dores, ela implorou a Deus que aquela fosse a última de sua vida.

- Hoje é 11 de setembro, capitão. - sussurrou, com um sorriso fraco se formando no rosto. - Eu tenho 17 anos agora.

Elisabette olhou por mais alguns segundos para o garoto, desfazendo o sorriso e se despedindo com um simples aceno de cabeça. Então, girou nos calcanhares e caminhou silenciosamente até sair da sala de cirurgia.

Seu rosto, outrora naturalmente pálido, tinha uma coloração rosada, e seus olhos estavam inchados e vermelhos devido ao choro. Seu nariz ainda escorria um pouco, e ela não se importava em limpá-lo. Seus cabelos estavam emaranhados, e as flores se soltavam uma a uma da trança feita por suas mechas platinadas. A menina estava em completo desalinho e reconhecia isso perfeitamente. Contudo, o cansaço mental e físico era tanto que ela sequer se preocupou em se arrumar antes de passar pela porta e se deparar com Law, que a encarou de canto, vendo os olhos dela brilharem com a pouca iluminação da lua que adentrava pelas escotilhas do submarino.

Como um hábito que inconscientemente havia se tornado deles, os dois piratas ficaram olhando nos olhos um do outro em silêncio, deixando que apenas aquela simples troca de olhares falasse por eles.

Havia coisas que ele gostaria de perguntar, mas reconhecia que sua relação com a mais nova não era das melhores e ainda sentia um certo ressentimento por ter sido enganado por ela. Apenas cedeu um espaço no Polar Tang pelo remorso que o assolou ao vê-la ir contra Kizaru apenas para evitar que o homem causasse mais estragos e os matasse.

Não a conhecia, tampouco desejava conhecer e se tornar alguém íntimo de, agora, dita como Magni D. Elisabette. No entanto, não podia deixar de sentir curiosidade em saber mais sobre a garota que, aos seus olhos, havia se tornado de certa maneira interessante e misteriosa. Quem ela era? Por que tanto desespero e medo? O olhar dela era como o de uma criança perdida e desamparada, que não sabia o que fazer ou como se virar, ao mesmo tempo em que tinha uma aura fria, de alguém sádico que não se importaria em matar o primeiro que se opusesse contra suas decisões. O que era, de fato, Skypiea? Law não fazia ideia de quem poderia ser Enel e nem o quão importante ele havia sido ou ainda era para as Ilhas do Céu. No entanto, apenas o fato de o homem ter dito à sua filha que ela deveria manter em segredo o próprio nome já indicava algo, que ele poderia, de certa forma, saber alguma coisa.

E se ela também soubesse de mais coisas, mas que também havia sido "proibida" de falar? O moreno de pele tatuada tinha escutado tudo o que ela havia dito, desde suas repreensões sobre o comportamento do Chapéu de Palha até seus clamores desesperados para que o próprio acordasse e a revelação sobre o nome completo dela. Teria como ele tirar algo da boca dela sem que ela relutasse? Não, não teria. Ela parecia impossível. Parecia ser impulsiva, como um animal selvagem domado para obedecer a uma única pessoa no mundo, Monkey D. Luffy.

Os minutos de silêncio foram como uma eternidade inteira, tempo suficiente para que ambos pensassem um sobre o outro. Law poderia encurralá-la, ver se conseguiria mais alguma informação que pudesse ser valiosa. Algo sobre os D., o que eles eram e o que o passado dela nas Ilhas do Céu tinha de tão importante, de tão sufocante... o que raios foi todo aquele choro? Por que ela se considerava uma praga? Até mesmo lembrou de Urouge a chamando por tal apelido e viu no semblante dela o quanto aquilo a incomodava e, agora, ela havia se autointitulado assim.

- ...se você puder fingir que não escutou nada, eu ficaria agradecida. - Elisabette sussurrou, finalmente quebrando o contato visual ao desviar seu olhar das orbes acinzentadas dele.

- Beleza.

Ela sorriu fraco para o Cirurgião da Morte e deu as costas para ele, que a observou em silêncio por alguns segundos, vendo-a se distanciar aos poucos, até o momento em que lembrou da última frase que ela havia dito antes de se retirar da sala de cirurgia. Era 11 de setembro, o aniversário dela, pelo menos foi o que ela havia dado a entender.

- Elisabette-ya. - ele a chamou, com sua voz firme, mas soou suavemente a ponto de surpreender a si mesmo.

Ao ouvir-se chamá-la por algo que não fosse "pirralha" ou "fedelha", a garota de cabelos platinados virou-se imediatamente para encará-lo, com os olhos arregalados e uma expressão confusa e assustada em seu rosto.

No silêncio gélido do submarino, envolvidos pelo ar frio que arrepiava suas peles, os dois piratas permaneceram imersos em um intenso intercâmbio de olhares. As correntes de ar que percorriam o ambiente pareciam ecoar o suspense que se acumulava entre eles, cada respiração mesclada ao sussurro dos sistemas de ventilação do Polar Tang. Seus olhos se encontraram em um jogo silencioso de expectativas e segredos não ditos, onde as emoções pareciam traçar entre suas íris. O brilho acinzentado dos olhos do moreno de pele tatuada refletia a curiosidade, enquanto os olhos de Elisabette, tingidos de uma sombra de inquietação, buscavam decifrar os pensamentos ocultos por trás da máscara impassível do Cirurgião da Morte. Cada segundo que passava parecia esticar o tempo, ampliando a sensação de suspense e tensão entre eles, enquanto o frio do submarino se tornava quase palpável, envolvendo-os em um aperto gelado.

- Feliz aniversário.

A única reação que ela teve diante daquela simples - mas que se tornaria significativa - frase, foi ruborizar as bochechas e sorrir para Trafalgar. Em toda a sua vida, ninguém, nem mesmo seus próprios pais, havia a parabenizado pela data. Ele havia sido o primeiro. Anos sendo apenas informada de que naquele dia ela estava completando determinada idade, mas nunca um "parabéns" ou um mero "feliz aniversário". Ela sequer sabia o significado daquela palavra até Sanji lhe perguntar a data e ela indagar o que era um "aniversário", recebendo uma explicação doce e gentil. Para piorar, nem sua família havia lhe feito uma festa uma única vez ou a parabenizado por mais um ano de vida.

- Você foi a primeira pessoa a me dizer isso, sabia? - ela riu baixo, voltando a dar as costas para ele e saiu andando.

- Volte para o acampamento e vá dormir... já está tarde.

- Estou indo fazer isso, mas não é porque você mandou.

- Entendo. - Law sorriu ladino, arqueando uma sobrancelha ao encará-la novamente.

- Boa noite!

Por fim, Elisabette acenou para ele e saiu andando saltitante, enquanto ele continuou a observá-la em silêncio, vendo-a desaparecer no meio da escuridão do submarino até que o som dos passos dela deixou de ecoar e ele se viu livre da presença da pirralha do bando do Chapéu de Palha.

• ʚĭɞ •

Além do horizonte, o sol já despontava, gradualmente iluminando todos os recantos do mar azul e alcançando a Região Costeira da Ilha das Mulheres, onde brilhava sobre o acampamento onde alguns dos Piratas de Copas, Jinbe e Elisabette descansavam após mais um dia zelando à recuperação de Luffy e ao declínio do tumulto após a Guerra de Marineford. Ao longe, pássaros entoavam cânticos matinais, enquanto a brisa noturna, que perdurava, causava arrepios em alguns de seus corpos, despertando-os um a um de seus sono, e deparando-os com mais uma manhã ensolarada.

A garota de cabelos platinados estava envolta em sua coberta, com uma das mãos sobre sua borda, mordiscando o dedo indicador, enquanto a outra segurava firmemente o cabo de sua foice, cuja lâmina estava cravada no gramado onde seu corpo repousava confortavelmente. Os longos fios prateados caíam sobre seu rosto, e sua expressão era serena, embora ao mesmo tempo transmitisse um ar de aflição, como evidenciado pelo leve franzir do cenho. Seu ronco era discreto, e sua respiração, tranquila, permitindo-lhe permanecer em tal posição por mais algum tempo para recuperar suas energias, todas esgotadas nos últimos dias ao precisar se virar sozinha em Sabaody e posteriormente em Marineford, onde salvou seu capitão de uma morte iminente.

Jinbe, assim que se ergueu, examinou o entorno, seu olhar encontrando a menina adormecida e embolotada no cobertor, evocando uma imagem que lhe lembrou sushi, e uma risada anasalada escapou suavemente.

Com cautela, o homem-peixe caminhou em silêncio até a mais jovem, com a intenção de despertá-la para que se alimentasse, uma vez que as mulheres da ilha estavam prestes a chegar ao litoral para fornecer comida. Era crucial que ela estivesse acordada para não perder o café da manhã pela terceira vez devido ao excesso de sono. Ele compreendia a exaustão da jovem, mas também reconhecia a importância de uma alimentação adequada para sua completa recuperação.

Cuidadosamente, Jinbe ajoelhou-se próximo a Elisabette e, quando estava prestes a tocar seu ombro para tentar acordá-la, a garota rapidamente girou na grama e inverteu as posições de forma extremamente ágil, tão rápida que o próprio ex-Shichibukai não foi capaz de acompanhar seus movimentos, mesmo com seu Haki de Observação desperto em momentos como aquele.

Um pé da platinada foi ao peito dele, enquanto o outro pressionava contra seu pescoço, suas mãos segurando firmemente Inazuma e apontando a parte da lâmina afiada para o rosto dele, que a encarou com um olhar confuso e, ao mesmo tempo, assustado. Aquela reação havia sido repentina, mesmo com a certa afinidade que haviam desenvolvido desde que se conheceram mais profundamente ao chegarem em Amazon Lily e se alojarem na costa do país.

- Oh, é você, Jinbe. - ela disse, substituindo a expressão séria por uma mais amigável e sorrindo gentilmente para o homem-peixe, logo retirando-se de cima dele.

- Sim, sou eu... - Jinbe arqueou uma sobrancelha enquanto a encarava com curiosidade, cruzando os braços no mesmo instante. - Por que me atacou?

- Me assustei. Achei que fosse a Marinha tentando me levar.

- Eu nem cheguei a tocar em você, como sabia que eu estava perto? - ele a olhou com um olhar repleto de confusão, e a menina apenas deu de ombros.

- Eu durmo, mas não completamente. Uma parte de mim ainda fica alerta a tudo ao meu redor, para que eu esteja sempre preparada para qualquer treta. - Elisabette explicou, gesticulando com as mãos como se fosse um pássaro voando, insinuando que era ela se defendendo.

Por um momento, o homem mais alto permaneceu em silêncio, observando-a com ainda mais dúvidas, tentando analisar suas palavras e compreender o que ela havia dito. Aquela garota, aparentemente ingênua, estava afirmando que permanecia em estado de hipnagogia¹ em vez de adormecer completamente? Como isso seria possível? E, mais importante ainda, por quê? Jinbe a observou por mais um momento, estudando o rosto redondo e rechonchudo, logo percebendo as pequenas olheiras sob seus olhos azuis. Concluiu que parte delas era natural, enquanto o restante era claramente resultado da falta de sono.

- Você está dizendo que fica "dormindo" ao mesmo tempo em que está acordada? É por causa do seu Haki de Observação!?

- O meu o quê?

- Haki de Observação. - por fim, ele levantou-se, ficando de pé em frente a ela.

- Nunca ouvi falar... - ela fez um beicinho. - O que é isso? - seu olhar brilhou na direção do dele, como o de uma criança curiosa e travessa prestes a aprontar.

- O Haki de Observação é como um radar interno. Ele nos ajuda a sentir as pessoas ao nosso redor e entender o que elas estão planejando, mesmo sem vê-las diretamente. É como ter um aviso prévio sobre qualquer perigo iminente.

- Oh, você está se referindo ao Mantra? - a cabeça dela inclinou para o lado, demonstrando confusão. - De onde eu venho, esse tal de "Haki de Observação" é chamado de "Mantra".

- Você veio de uma ilha do céu, estou certo? Luffy-kun disse isso quando estávamos indo para Marineford.

- Sim, Skypiea! É uma ilha linda e maravilhosa! Embora deva estar com a Praia dos Anjos arruinada, o Jardim Superior deve ter sido destruído e imagino que a cidade principal esteja sendo reconstruída, se tiverem sorte dela não ter sido totalmente obliterada pelo meu pai. - o sorriso nos lábios de Elisabette era suave e doce, como se estivesse falando de algo natural do dia a dia.

- Pelo seu pai!? - o homem-peixe arregalou os olhos e franziu o cenho, chocado e ao mesmo tempo confuso. - O que aconteceu?

- É uma longa história...

Durante grande parte da manhã, a garota de cabelos platinados optou por permanecer ao lado de Jinbe, que, até então, havia demonstrado ser uma pessoa bastante educada e atenciosa com ela, além das habitantes de Amazon Lily e alguns dos subordinados de Law, que ocasionalmente tentavam iniciar conversas com ela. No entanto, ela frequentemente se afastava abruptamente, escondendo-se entre as palmeiras e observando-os de longe com olhos semicerrados, como um animal arisco e desconfiado.

As perguntas que ela formulava eram consideradas triviais; algumas pareciam tão inocentes, impulsionadas por sua curiosidade, que outros poderiam até mesmo considerá-la ingênua demais ou burra. Entretanto, Elisabette tinha um desejo ardente de compreender mais sobre o mundo ao qual agora pertencia. Apesar de ter percorrido apenas uma pequena parte da Grand Line, ela estava fascinada por cada aspecto, tendo chegado quase ao seu término antes de se deparar com a Red Line, ficando diante da imensa barreira de cor rosa claro. Seus olhos irradiavam intensamente a cada dúvida que era esclarecida, seu sorriso se ampliava. De fato, conversar com ela era semelhante a interagir com uma criança na fase de querer compreender o motivo por trás de tudo e entender o funcionamento das coisas.

A birkan ria diante das respostas, impressionada com cada uma delas. Seus olhos brilhavam como estrelas em noites estreladas, enquanto seu sorriso doce e inocente adornava seus lábios rosados, ocultando sua verdadeira natureza. Exteriormente, ela se mostrava sorridente, por vezes gentil e amável com aqueles ao seu redor quando se sentia confortável em suas presenças. Contudo, interiormente, ela reconhecia a crueldade que residia em seu âmago, o peso das vidas inocentes sobre seus ombros e o fardo de suas mãos manchadas de sangue.

Enquanto conversava com Jinbe - algumas horas já haviam se passado, estando próximos do meio-dia -, um arrepio percorreu o corpo da garota mais nova, levando-a a silenciar a si mesma ao fechar a boca e observar ao redor com um olhar desconfiado. Suas pupilas contraíram-se, por frações de segundos adquirindo um brilho avermelhado, indicando a ativação involuntária de seu Mantra, alertando-a sobre algo prestes a acontecer.

O homem-peixe a fitou com confusão, percebendo sua expressão séria e a maneira como parecia agitada ao examinar todos os lados do litoral, como se estivesse em busca de algo.

De repente, ecoaram gritos vindos do Polar Tang, todos chamando pelo garoto com chapéu de palha, capturando imediatamente a atenção de todos para o submarino de cor amarela. Com um esforço vigoroso, Luffy rompeu a parte superior do convés e emergiu, lançando destroços de metal e madeira em todas as direções. Isso permitiu apenas que os Piratas de Copas se esquivassem dos fragmentos arremessados em sua direção, tanto sobre a superfície do mar quanto no interior do navio.

Elisabette ficou chocada ao vê-lo naquela condição, completamente fora de si e tomado pela loucura, gritando de maneira perturbadora pelo seu irmão recentemente falecido, Portgas D. Ace. Ele corria desesperadamente em todas as direções, socando e chutando qualquer um que tentasse contê-lo.

Ela reconhecia que esse comportamento representava um risco para a saúde de seu capitão, pois seus ferimentos poderiam se abrir novamente e resultar em sangramento fatal, privando-o de qualquer chance de sobrevivência. Com um movimento ágil, num simples bater de asas, a garota de cabelos platinados agarrou os braços de Luffy para contê-lo, mesmo recebendo inadvertidamente cabeçadas e chutes do moreno, que lutava freneticamente para se libertar de seu domínio. Parecia estar em um estado de delírio, incapaz de distinguir a realidade, com a imagem de seu irmão mais velho caindo sem vida no chão repetindo-se inúmeras vezes em sua mente, como um ciclo de angústia infinita.

- ME SOLTA! - ele gritou, agarrando o cabelo dela com os dentes e puxando com força o suficiente para fazê-la tombar sobre ele.

- Argh! Luffy! - mais uma vez, ela conseguiu contê-lo, segurando suas mãos acima da cabeça e prendendo seu corpo usando as pernas em cada lado de seu torso. - Chega! Fique quieto!

- SAI DE CIMA DE MIM!

- NÃO! VOCÊ... - antes que pudesse sequer terminar de falar, o Chapéu de Palha a atingiu em cheio com uma joelhada na barriga, fazendo-a soltá-lo bruscamente para levar as mãos até o local atingido.

Aproveitando a guarda baixa de sua subordinada e sem reconhecê-la pelo estado deprimente de crise, Monkey a acertou com um soco no rosto, tão forte a ponto de fazê-la ser arremessada para longe e cair de costas no chão, com o nariz ensanguentado e zonza pelo impacto do punho do garoto em sua face.

Elisabette cerrou os punhos e os dentes, sentindo a raiva borbulhar em suas veias e uma onda de eletricidade percorrer seus ossos. Suas asas se abriram rapidamente, e ela estava disposta a dar um golpe com força suficiente para deixar seu capitão inconsciente novamente. Mesmo que isso causasse estranheza entre os dois, ela sabia que, se ele continuasse daquela forma, a situação só pioraria. Assim, não hesitou em se levantar e avançar na direção do garoto com chapéu de palha, que continuava a debater-se nos braços dos Piratas de Copas que tentavam contê-lo.

Intervindo em seus movimentos, Law agarrou firmemente o pulso dela, fazendo-a encará-lo com o cenho franzido. Se fosse outra pessoa ali, segurando-a tão repentinamente, ela teria reagido sem hesitar. No entanto, sem compreender completamente o motivo, ela permitiu que ele a impedisse de continuar avançando.

O olhar acinzentado do Cirurgião da Morte fixou-se nos olhos dela, transmitindo silenciosamente a mensagem para que ela se aquietasse. Prontamente, a mais nova suavizou a expressão e relaxou os músculos, encolhendo os ombros como sinal de arrependimento ao captar a mensagem implícita por trás daquele simples gesto de segurá-la e fitá-la nos olhos em silêncio.

Quando voltou a olhar para Luffy, ela o viu correndo para o interior da ilha, adentrando a floresta, e logo em seguida, Jinbe foi atrás dele. Aproveitando essa oportunidade, Elisabette optou por ficar onde estava, caindo de joelhos no chão e pressionando ambas as mãos contra o nariz para tentar estancar o sangramento. Inclinou o corpo para frente e apoiou a testa no chão. Trafalgar, por sua vez, agachou-se ao lado dela e segurou levemente seu ombro, chamando-a para olhá-lo de volta. Ao fazê-lo, viu seus olhos marejados e o semblante de dor no rosto da mais nova. "Quão forte ele bateu nela?", questionou-se o homem de pele morena e tatuada, enquanto observava o sangue escorrendo pelas narinas da pirralha do bando do Chapéu de Palha.

- Não precisa se preocupar com isso, o Luffy precisa de você. - apontou a platinada na direção em que seu capitão havia ido, vendo suas mãos sendo seguradas pelos pulsos e afastadas de seu rosto, deixando o ferimento mais visível.

- Jinbe está cuidando dele. Deixe-me ver isso. - Law retrucou, segurando-a firmemente para que ela não se afastasse, examinando atentamente o sangue escorrendo e pingando de seu queixo para o chão. - Mas que merda...

- O quê?

- Nada sério, só quebrou.

- SÓ!? - ela o encarou com indignação diante de sua maneira tranquila de dar o diagnóstico.

- Sim, mas se você tivesse voltado lá, poderia ter sofrido mais do que ter quebrado esse seu nariz empinado.

O Cirurgião da Morte rapidamente chamou um de seus homens e ordenou que trouxesse uma maleta com suprimentos médicos para cuidar da garota ajoelhada ao seu lado, que lhe encarava com uma carranca. Enquanto aguardava, ele segurou delicadamente o rosto de Elisabette, examinando com cuidado o ferimento. Assim que a maleta chegou, ele abriu-a rapidamente e selecionou os medicamentos necessários para estancar o sangue do nariz da menina. Com leveza, ele aplicou o medicamento com precisão, garantindo que o sangramento parasse completamente antes de começar a fazer o curativo.

Cuidadosamente, o mais velho realizou o curativo dela, garantindo que o ferimento fosse limpo e protegido adequadamente. Ele cuidou para não causar mais desconforto à jovem durante o procedimento, mantendo-se calmo e focado em sua tarefa.

- Pronto, é o suficiente. Tente ficar com a bunda no lugar e não se envolver em mais confusões, não sou seu médico particular. - ele disse, levantando-se e oferecendo a mão para que ela se apoiasse e se levantasse.

- Certo, certo, vou me manter quieta! Obrigada. - ela sorriu.

- Não foi uma...

- Ai, cala a boca! Diga "de nada" e pare de ser chato! Se você começar com isso de "não foi uma boa ação", o próximo a ter o nariz quebrado será você, Trafalgar-san. - a garota de cabelos platinados respondeu com firmeza, dando uma cotovelada leve no braço dele.

Com um olhar severo, o homem de pele morena deu um leve tapa na testa da pirata mais jovem, que apenas resmungou e inchou as bochechas, lançando-lhe um bico enquanto ele se afastava mais uma vez, dirigindo-se aos seus companheiros que agora estavam menos afoitos depois que Monkey D. Luffy parecia ter se acalmado um pouco, uma vez que seus gritos cessaram e os sons de destruição provenientes da floresta também haviam parado. Isso indicava que ele talvez tivesse sido imobilizado ou recuperado completamente a consciência.

Elisabette, por outro lado, ainda se sentia preocupada, mas algo a prendia ali, aconselhando-a a dar um tempo ao seu capitão e permanecer parada onde estava, deixando tudo nas mãos de Jinbe. Em sua mente, ela ponderou: "ele é mais velho, logo é mais sábio, saberá o que fazer". Assim, sentou-se onde estava e ficou em silêncio, contemplando o céu mais uma vez.

Em quietude, ela pôde relaxar um pouco, sentindo os músculos de seu corpo se soltarem ao sentir a brisa soprar sobre ela, seus longos cabelos platinados dançando com o vento, contudo, isso não lhe importava. A garota respirou fundo e, por fim, tombou para trás, finalmente livre para descansar verdadeiramente após dias de puro desespero e preocupação com Luffy. Suas pálpebras pesaram, seus músculos amoleceram e, pouco a pouco, seus olhos começaram a se fechar à medida que sua visão escurecia e se tornava turva, vencida pelo cansaço, até que finalmente adormeceu por completo.

• ʚĭɞ •

Cerca de uma hora havia se passado desde que o capitão dos Piratas do Chapéu de Palha havia acordado de seu coma e tentava enfrentar a dolorosa realidade em que se encontrava naquele momento, junto de Jinbe, que esteve ao seu lado o tempo todo, oferecendo conselhos e tentando convencê-lo a não desistir de seus sonhos. Era importante continuar lutando não apenas por si mesmo, mas também por seus companheiros. Apesar das decepções enfrentadas ao chegar ao Arquipélago Sabaody, ele ainda os tinha, mesmo que distantes. Sabia que, assim como ele precisava deles, eles também precisavam dele.

Law estava com seus homens, observando-os pescar, enquanto Elisabette ainda permanecia em um sono pesado, a ponto de roncar alto. Diferentemente de antes, ela dormia profundamente e estava completamente apagada, tanto que não percebeu quando lhe jogaram um cobertor por cima do corpo e colocaram um amontoado de panos debaixo da cabeça para servir como travesseiro, deixando-a ali, tranquila, para dormir em paz.

Contudo, enquanto os Piratas de Copas pescavam, viram surgir do fundo do mar um enorme Rei dos Mares que, em questão de segundos, foi morto diante de seus olhos, transformando as águas azuis do Calm Belt em vermelho pelo sangue da fera marítima derramado e espalhado. Perplexos, todos ficaram em alerta ao notar que algo - ou alguém - se aproximava das margens do litoral de Amazon Lily em alta velocidade.

Sobre a pequena montanha da baía da Ilha das Mulheres, surgiu Silver Rayleigh, o ex-imediato do Rei dos Piratas, com o corpo todo encharcado e demonstrando certo cansaço. Ele alegou que seu navio havia naufragado em uma tempestade horas antes de chegar ao país e que, por conta disso, teve que nadar até ali, surpreendendo a todos presentes, inclusive o Cirurgião da Morte, que tentou manter uma postura estoica diante do homem de cabelos grisalhos e sorriso caloroso nos lábios.

Mesmo conhecendo a resposta, Rayleigh ainda preferiu perguntar se Monkey D. Luffy estava presente ali e, sem hesitação, um dos subordinados de Law respondeu afirmativamente. Logo em seguida, fez um diagnóstico rápido sobre o estado de saúde do garoto com chapéu de palha, enfatizando várias vezes a gravidade de seus ferimentos e alertando que qualquer movimento brusco poderia provocar hemorragias fatais. O pirata mais velho entre eles, por outro lado, não demonstrou preocupação com as palavras do jovem, pois seu foco estava voltado para o pequeno monte de lençóis um pouco afastado do grupo.

Seu olhar estava fixado na platinada, que dormia e roncava alto como um homem de meia-idade após uma noite de bebedeira. Sorridente, Silver começou a caminhar em direção à garota e parou próximo a ela, agarrando-a pelo pé e erguendo-a no ar, deixando o rosto dela na direção do seu. Ele riu alto ao se deparar com o olhar assustado da birkan, com os olhos arregalados e a pele pálida como uma folha de papel, não esperando ser acordada de tal forma, muito menos vê-lo depois de dias, quando havia dito que não demoraria para retornar ao bar. Elisabette engoliu em seco e sorriu nervosa, segurando o vestido com ambas as mãos quando a parte debaixo ameaçou cair, ciente de que poderia revelar suas roupas íntimas.

- Aqui está você, menina travessa! - ele gargalhou, finalmente a colocando no chão e dando alguns tapinhas em sua cabeça. - Nos deixou preocupados, sabia disso? Shakky me deu uns belos socos por tê-la deixado ir para Marineford.

- Sinto muito! Não foi minha intenção deixá-los preocupados! - Elisabette imediatamente se curvou diante dele para se desculpar.

- E esse nariz machucado, quem ousou tocar na minha protegida? - quando disse isso, todos ali ficaram pálidos e suaram frio, imaginando como seria humilhante e, ao mesmo tempo, uma honra levar uma surra de um pirata lendário.

- Ah, isso? Foi o Luffy. Ele tocou o puteiro aqui quando acordou, bateu em todo mundo e socou a minha cara, mas acho que ele já está bem, porque não grita mais há um tempo.

- "Tocou o puteiro"? - ele arqueou uma sobrancelha, ainda sorrindo. - Nunca mais repita isso, é feio quando sai dos lábios de uma jovem bonita como você.

- Sim, senhor!

- Isso, boa menina. - o ex-imediato sorriu, mas logo ficou sério e a olhou nos olhos. - Preciso conversar com você, depois com seu capitão, mas tem que ser com você sozinha, sem ele. Tudo bem por você, Elisabette? - perguntou, mantendo o tom firme.

- Eh? Claro! Sim, está tudo bem sim. Podemos conversar com toda certeza. - a garota assentiu sem nem pensar, seguindo com ele para um local mais afastado de onde os outros estavam.

De longe, Trafalgar Law os observava com desconfiança, sentindo-se tentado a ir observar de perto o que os dois fariam, mas preferiu deixar aquela situação de lado e começar a se preparar junto de sua tripulação para saírem logo daquele lugar e seguirem para o Arquipélago Sabaody novamente, para revestir o Polar Tang e partirem rumo ao Novo Mundo. O moreno de pele tatuada sabia dos perigos que enfrentaria, assim como já estava preparado para colocar em prática o seu plano de se tornar um Shichibukai, uma vez que Jinbe e Barba Negra haviam perdido seus títulos após a Guerra dos Maiorais em Marineford, o que lhe abriria a oportunidade, pois duas vagas estariam disponíveis.

Elisabette e Rayleigh chegaram em um local um pouco afastado da costa, mas ainda com vista para o mar de onde estavam e, sem mais delongas, o homem mais velho fez um sinal para que a garota de cabelos platinados se sentasse e logo fez o mesmo, os dois ficando frente a frente.

O semblante do Rei das Trevas era mais sério do que quando ela o conheceu na casa de leilões; ele parecia disposto a algo, seu rosto era de alguém completamente diferente, era intimidante. No entanto, ela não se deixou abalar por isso e o encarou da mesma forma, com seus olhos adotando o brilho de superioridade e autoridade. Lembrava-se bem das vezes em que via Enel fazendo o mesmo ao lidar com alguns fiéis que conseguiam passar pelas provações e ganhavam a chance de poder vê-lo pessoalmente, para lhe pedir por milagres e bênçãos.

- Tenho observado você e sua tripulação de perto desde que nos conhecemos na casa de leilões. Vocês enfrentaram muitos desafios até agora na Grand Line, mas ainda há muito a aprender e a se fortalecer. - ele pontuou, sua voz estava calma e solene, soltando um suspiro em seguida.

- S-sim, isso é verdade... mas o que o senhor sugere?

- Eu sugiro que vocês todos tomem um tempo para se fortalecer. Dois anos, para ser exato.

- Dois... dois anos!? I-isso é muito tempo! - a garota exclamou cheia de indignação e começando a ficar agitada, com suas asas soltando penas e penugem por toda parte. - Tempo demais para que eu... para que todos nós consigamos lidar separados.

- Eu sei que pode parecer muito, mas é necessário. Durante esse tempo, você e sua tripulação podem treinar, crescer e se preparar adequadamente para os perigos que encontrarão no Novo Mundo.

- E se algo acontecer durante esse tempo? E se precisarmos agir antes de estarmos completamente prontos? - ela ponderou por um momento, sua expressão refletindo hesitação.

- Compreendo suas preocupações, Elisabette. Mas acredite em mim, esse tempo será valioso. Quando vocês retornarem, estarão muito mais preparados para enfrentar qualquer desafio que surja no caminho.

- E-eu não sei...

Elisabette ouviu atentamente as palavras de Rayleigh, sentindo o peso da responsabilidade que recaía sobre seus ombros. Enquanto ele explicava a importância do treinamento de dois anos, sua mente era tomada por uma mistura de preocupação e medo. Imaginar-se separada de sua tripulação por tanto tempo era assustador. Como poderia lidar com os desafios que surgiriam no caminho sem seus companheiros ao seu lado? A ideia de enfrentar o desconhecido sozinha a deixava inquieta, e sua mente se encheu de dúvidas sobre sua capacidade de sobreviver nesse ambiente hostil.

Contudo, à medida que Rayleigh continuava a argumentar, a garota de cabelos platinados começou a enxergar a sabedoria por trás de suas palavras. Ela compreendia que o treinamento de dois anos não era apenas uma questão de força física, mas também de seu amadurecimento. A Grand Line era um lugar implacável, onde apenas os mais preparados podiam sobreviver. Aceitar a proposta do pirata mais velho significava não apenas garantir sua própria segurança, mas também a segurança de seus amigos. Ela percebeu que, ao se fortalecerem juntos durante esse tempo, estariam aumentando significativamente suas chances de sucesso no futuro.

Assim, depois de uma longa reflexão, ela finalmente aceitou a decisão de Silver. Embora ainda sentisse um aperto no coração ao pensar na separação iminente de seus companheiros, ela sabia que era a escolha certa a ser feita. Com determinação renovada, ela se comprometeu a aproveitar ao máximo os próximos dois anos de treinamento, preparando-se para os desafios que aguardavam no Novo Mundo.

Quando o homem mais velho partiu para se encontrar com Luffy a respeito de sua proposta, Elisabette respirou fundo e levou as mãos ao rosto para conter suas lágrimas, pressionando os dedos contra as bochechas para evitar o choro, pois não iria chorar novamente, nem mais uma vez.

Em silêncio, ela retornou à região costeira da ilha, percebendo que o acampamento improvisado já estava quase desfeito, e avistou Law novamente sozinho, sentado no mesmo local da noite anterior.

Ele estava de costas, contemplando o mar, pensando em como começaria a dar início à sua vingança contra Donquixote Doflamingo, recordando vagamente do breve período de afinidade e convivência com o irmão daquele maldito, apresentado a ele como Corazón e, posteriormente, revelado como Rosinante.

Ainda era doloroso para ele ver as memórias de seu passado conturbado emergirem em sua mente em momentos como aquele, quando tudo estava tranquilo e ele se sentia feliz, mesmo que minimamente. No entanto, mais do que ninguém, ele sabia o quão difícil era manter tais lembranças tão fervorosas escondidas no fundo de seu coração, longe de seus pensamentos, pois uma hora elas sempre retornariam para atormentá-lo. Um homem como ele, de sua idade, de seu comportamento, status e posição, jamais poderia demonstrar suas fraquezas, suas tristezas e tudo o que restava a Trafalgar Law, o temido Cirurgião da Morte, era sofrer silenciosamente até que o sono viesse e o libertasse da prisão que era viver dia após dia com o fardo de que um reino inteiro estava sob o governo de alguém tão cruel quanto Doflamingo... por sua culpa.

- Você não fica entediado de tanto pensar? - o silêncio foi interrompido por Elisabette, que se sentou ao lado dele e o observou com um olhar curioso.

- Não.

- Você é muito antipático, sabia? Mas até que eu gosto de você, já que você cuidou de mim todo esse tempo, mesmo com essa cara azeda. Obrigada!

- Não foi... - ele suspirou. - De nada.

- Ha! Pensei que essa frase não existia no seu vocabulário.

- Eu tenho boas maneiras, ao contrário de certas pessoas.

- Quem?

- Você.

Elisabette revirou os olhos e ignorou a ofensa, dirigindo sua atenção na mesma direção em que o pirata ao seu lado olhava, avistando apenas o mar e o céu refletindo nas águas. Naquele momento, ela relembrou a carta de Gan Fall, suas palavras e como, apesar de tudo, ele parecia disposto a acolhê-la caso ela optasse por retornar para Skypiea. Surgiu então um pensamento em sua mente: seria aquela a hora? E se ela decidisse voltar para as Ilhas dos Céus? Não com o intuito de buscar redenção junto ao povo, pois sabia que eles a desprezavam profundamente, e tampouco desejava o perdão deles; não se rebaixaria a tal ponto. Seria uma atitude humilhante, algo que ela se recusava veementemente a fazer. Afinal, para que serviria tal gesto? O perdão deles já não lhe importava... ela queria acreditar que não.

- Agradeço por ter cuidado dos ferimentos dele. Isso significa muito para mim, e estou certa de que ele será eternamente grato a você por isso. - a garota disse, dirigindo um sorriso a ele.

- De nada.

- Não... desta vez você pode admitir que não foi uma boa ação.

- Hm? - Law a olhou de soslaio, já compreendendo onde ela queria chegar com aquela conversa.

- Diz aí, quanto você quer?

- E eu acreditando que em sua cabeça só havia vento e teias de aranha. - ele sorriu de volta, com presunção e malícia.

- Você é médico e realmente acreditava que havia vento e teias de aranha na minha cabeça? Acho que você precisa estudar mais, hein? - Elisabette franziu o cenho, e ele apenas respirou fundo para não socá-la.

- Retiro o que eu disse...

- Fale logo quanto você quer! Eu posso conseguir mais do que aquilo que você pegou no Sunny, eu te dou minha palavra. - ela disse com determinação, olhando-o seriamente. ‐ E então?

- 1 bilhão de berries seria aceitável.

- Isso vai levar um tempo para ser reunido. Deseja alguma forma de garantia? Mesmo que eu esteja sendo sincera e assegurando que não vou mais enganá-lo, especialmente após tudo o que você fez pelo capitão.

O semblante do Cirurgião da Morte tornou-se sombrio, como se a pior das ideias passasse por sua mente, o que até mesmo assustou Elisabette. Ela imediatamente se arrependeu de sua proposta e engoliu em seco ao ver o homem moreno de pele tatuada, levantar-se e aumentar sua estatura sobre ela, fazendo-a respirar fundo e também se levantar. Os dois jovens ficaram frente a frente, encarando-se em silêncio. Ele com um sorriso macabro nos lábios, como o de um assassino cruel e sádico prestes a fazer mais uma vítima indefesa, enquanto ela, por outro lado, estava exatamente como ele desejava que estivesse naquele momento: com medo.

- Mes. - Law sussurrou, pressionando uma mão sobre o seio esquerdo da mais jovem, empurrando seu coração para fora de seu corpo, deixando-a com um buraco no peito.

- O que... o que você... - ela arregalou os olhos, vendo o órgão caindo no chão dentro de um cubo transparente.

- Seu coração é a garantia de que você não vai tentar me enganar outra vez, Elisabette-ya.

- Ei... m-mas... como... eu... isso... e-espere... i-isso não... - suas mãos começaram a tremer de desespero ao vê-lo pegar o cubo e brincar com ele enquanto a encarava com um sorriso malicioso.

- Não se preocupe, enquanto seu coração estiver comigo, nada vai impedi-la de continuar vivendo mesmo sem ele em seu corpo.

Elisabette sentiu uma onda de pânico percorrer seu corpo quando viu Law segurando seu coração em suas mãos. Seu peito não doía com a ausência do órgão vital, mas o desespero a consumia enquanto ele brincava com aquilo que mantinha sua vida pulsante. Cada batida do coração fora de seu corpo ecoava como um lembrete angustiante de sua vulnerabilidade diante daquele homem que até poucos minutos considerava alguém confiável, que ela podia chamar de amigo ou, no mínimo, colega.

Os tremores em suas mãos revelavam a intensidade de seu terror interior enquanto ela o observava com o coração dela entre os dedos. A sensação de estar à mercê dele, com sua própria vida literalmente em suas mãos, era esmagadora. Cada movimento que ele fazia com o órgão a fazia questionar se algum dia recuperaria sua liberdade ou se continuaria a ser refém de suas decisões impiedosas.

- Você pode... - ela disse, dando um passo para perto do mais velho que a encarou com uma sobrancelha arqueada. - Esperar por mim por dois anos?

- Vê se não morre.

Após sua última declaração, tudo o que Elisabette testemunhou foi Law desaparecer de sua vista ao se teletransportar para perto de seus companheiros, que já estavam prontos para partir de Amazon Lily. Seus olhos permaneciam arregalados, e ela ainda podia sentir a sensação da mão dele pressionando seu seio. Por fim, recordou-se da forma como seu coração simplesmente saltou do peito, atravessando suas costas em um cubo gelatinoso, rolando pelo chão como se não fosse nada, como se não valesse nada, nem mesmo sua vida.

Ainda atônita, ela fitou o buraco no local onde costumava residir seu órgão que bombeava sangue por todo o corpo, e um arrepio percorreu sua espinha ao ver nada além de um vazio em forma de quadrado.

Ele estava falando a verdade?

Ela realmente seria capaz de continuar vivendo mesmo sem seu coração dentro do corpo? Se sim, como? Se não, por quanto tempo? O órgão já não estava mais dentro dela, mas ela podia sentir como se ainda estivesse; sabia que ele batia desesperadamente nas mãos de Trafalgar Law, que provavelmente se divertia a bordo do Polar Tang ao perceber o quão perplexa e chocada conseguira deixá-la. De fato, ele estava se divertindo ao ver o coração pulsando freneticamente em cima de sua mesa, sabendo que aquilo era apenas um reflexo do que ela estava sentindo naquele momento.

Com as mãos trêmulas, Magni D. Elisabette pegou o Eternal Pose de sua bolsa e o encarou com pavor, sentindo suor escorrer por sua testa e sentindo fraqueza nas pernas devido ao nervosismo. Ela respirou fundo, tentando se acalmar, encarando o céu, exatamente para a direção em que a agulha da bússola apontava, sabendo para onde era e era naquela direção que deveria seguir.

Sem pensar em despedidas - ciente de que nunca foi hábil com elas -, ela lançou um último olhar para a floresta, sentindo a presença não apenas de Luffy, mas também de Jinbe, Rayleigh, Boa Hancock e outras mulheres. Ela ansiava profundamente que apenas as palavras do Rei das Trevas fossem suficientes para fazer com que seu capitão compreendesse seu afastamento, pois ele entendia seus sentimentos em relação a dizer "adeus" ou um simples "até logo".

Por fim, ela estendeu suas asas. Com um impulso decidido, ela rompeu os grilhões do solo, elevando-se para os vastos céus de Amazon Lily. O vento acariciava suas penas, enquanto ela pairava no ar, livre das amarras terrenas que uma vez a mantiveram cativa. Sua jornada para Skypiea começou com um único bater de asas, cada movimento impulsionando-a para o desconhecido além das nuvens.

Apesar da ausência física de seu coração, sua determinação ardente servia como uma âncora para sua alma errante. Com olhos fixos no horizonte distante, ela se entregou ao chamado do Eternal Pose, guiando-a na direção de seu destino.

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