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Capítulo 29

A risada maldosa dos guardas ecoava em minha mente, junto com as ofensas dos serviçais. A expressão de repulsa da governanta estava enraizada em cada pensamento meu. É como se fosse impossível fugir desse rótulo dado à mim: vadia do rei. Queria relutar contra toda essa injustiça, provar que possuía valor e merecia respeito. Porém, minha vida se resumiu a abaixar a cabeça e aceitar qualquer tipo de comentário, pois não tinha coragem o suficiente para encará-los. Sempre encolhendo os ombros e aceitando tudo calada.

Presa em um ciclo interminável...

Acordo com um sobressalto, ofegante e suada. A impressão de ainda estar naquela cela gélida e fedida me causa náuseas. Apenas quando analiso o ambiente ao redor que permito recuperar parte do fôlego, inspirando com profundidade. Reconhecia o vasto tapete preto com as panteras bordadas em uma tonalidade dourada. A lareira estava acessa apesar das chamas insignificantes, talvez por causa da janela aberta fazendo a cortina azul-escuro dançar ao vento. A enorme cama com uma longa almofada vermelha, combinando com a coberta de mesma tonalidade, era onde o meu corpo repousava. Uma coberta macia e fofa possuindo um cheiro agradável.

Não estava naquela cela. Não estava presa. Esse é o quarto onde fiquei nas semanas como espiã em Icarus.

O meu olhar recai sobre a figura acomodada na poltrona no canto do quarto, folheando calmamente o livro em seu colo. Lorcan estava com uma camisa preta, abotoada até os pulsos e continuava com as típicas luvas de couro. Por estar em um lugar pouco iluminado, exclamo surpresa diante de sua presença. Ele parecia um demônio à espreita naquela distância mas, ao analisá-lo com cuidado, percebo a suavidade da sua expressão.

— Finalmente acordou. — a sua voz grossa e imponente ecoa pelo cômodo. Automaticamente, encolho-me nos lençóis e assinto. — Que bom.

— Eu passei muito tempo desacordada?

— Quase dois dias.

Ergo um pouco a coberta e percebo estar usando uma longa camisola branca de tecido fino. O meu rosto esquenta ao pensar na hipótese de ter sido o duque a me trocar.

— V-Você...

— Eu não a troquei. Uma empregada fez isso. — responde sem tirar o olho do livro, como se pudesse deduzir meus pensamentos apenas pela forma como minha voz vacilou. — Ficará no quarto até recuperar totalmente a sua energia. Um médico veio examiná-la ontem e constatou que uma semana é tempo suficiente para isso.

Aperto as mãos sobre a coberta, suspirando com pesar. Não fazia a mínima ideia do porquê ter sido salva por Lorcan, principalmente quando eu o criei para não ter misericórdia. Então, tinha uma chance considerável do seu ato "nobre" exigir algo em troca.

— E o que acontecerá comigo quando estiver recuperada?

Ele fechou o livro, colocando-o na estante ao lado após se levantar da poltrona. A luz do luar refletia em seu cabelo, acentuando o brilho único dos fios.

— Quem decide é você.

Pensei que seria obrigada a matar alguém ou contar as fraquezas do rei já que trabalho no castelo. Porém, o duque não exigiu nada em troca. Nada que pudesse dar vantagem contra o seu inimigo. E por falar nele...

— O senhor e Christian... — murmuro sentindo a garganta seca. — Estão em guerra?

Lorcan dava um passo em minha direção sem ousar quebrar o contato visual. No começo, ele evitava me encarar diretamente nos olhos, mas agora não parecia desconfortável com essa hipótese.

— Não, ainda não. Mas se ele ousar descumprir a minha palavra e vier buscá-la, não serei tão amistoso.

Engulo seco e aceno positivamente com a cabeça. Não estava em condições de opinar sobre a situação, até porque tinha parcela de culpa nisso. Lorcan estava disposto a antecipar a guerra; não por vantagens em acordos externos ou aumento da potência bélica, e sim por mim. Sei que pode parecer presunçoso da minha parte, mas o homem mais odioso de todo o reino havia me colocado em uma posição de importância.

Não, a palavra "odioso" não combinava mais com ele.

Ao retornar à realidade, notei que o duque já estava na mesinha ao lado da cama. Ele despejava um pouco de água no copo prateado, segurando com firmeza a jarra de mesma tonalidade.

— Isaac virá vê-la ao amanhecer. O Arvid está na casa dos pais do outro lado de Icarus, talvez venha depois. — comenta entregando-me o copo. O olhar tão inexpressivo como sempre, apesar da voz estar menos ríspida. — Não consegui encontrar o responsável por prendê-la naquela cela, mas mandei meu espião investigar.

Dou um generoso gole na água, umedecendo os lábios logo em seguida.

— Isso não importa, não mais.

Mas aquele olhar repleto de raiva estava irredutível.

— É necessário.

Suspiro em sinal de desistência voltando a beber a água. Então, um pensamento repentino invadiu a minha mente. E se ele me salvou por causa do Tratado de Corvus? O meu peito doeu ao imaginar que a sua gentileza não passou de mera obrigação.

— Fez isso por causa do acordo...? — sussurro receosa.

Lorcan franziu o cenho, repousando a jarra em cima do móvel de madeira.

— Não fiz nenhum acordo para salvar empregadas, Diane.

Ele não fazia a mínima ideia de que sou uma moradora de Icarus. O duque me salvou por livre e espontânea vontade. Algumas lágrimas se formam em meus olhos enquanto encaro o homem que estava com o rosto virado em direção à janela. Ele explicava regras básicas sobre seu castelo, quais cômodos poderia visitar e o horário mais seguro para sair pelas ruas. Contudo, não prestei atenção em uma palavra sequer. O meu total foco era no rosto do homem que todos chamavam de monstro, aberração, cruel.

Quando Lorcan fez menção a se afastar, segurei sua mão o deixando surpreso. Lentamente, retirei a luva de couro expondo os dedos repletos de cicatrizes. A sua pele irregular e áspera devia-se por causa delas, mas era agradável de tocar. Então, abaixei a cabeça dando um beijo nas costas de sua mão, os lábios roçando em uma das cicatrizes. O corpo do duque se retraiu e os olhos se arregalaram por breves momentos.

Ergui a cabeça para fitá-lo com lágrimas escorrendo por minha face.

— Você não é um monstro. Não se deixe levar pelo o que dizem.

Porque aquela alma quebrada já havia sofrido demais. As pessoas de Velorum sabiam que ele era capaz de revirar o reino em busca de uma empregada? Sabiam que o duque passou madrugadas acordado para entregar um simples bolinho em meu quarto? Se soubessem, parariam de olhá-lo com ódio e repulsa. Mesmo que todos o vissem como um monstro, eu sabia a verdade.

Apoiei a testa contra a palma da sua mão, inspirando profundamente como se pudesse absorver esse momento para o meu interior. Após alguns segundos, Lorcan puxava a mão de volta com força e recuava alguns passos. Os olhos percorriam cada canto do ambiente, incapazes de focar em mim. Por mais improvável que seja, talvez ele esteja envergonhado.

— Você ainda está afetada pelo o que houve, por isso fala coisas assim.

E não pude rebater seu comentário, pois o homem saiu do quarto sem nem ao menos olhar para trás.

***

Isaac surgiu ao amanhecer, como Lorcan havia avisado. O moreno correu ao meu enlace e envolveu os braços entorno do meu corpo magro. Mesmo que não pudesse falar, ele era bem transparente em suas expressões. Ao se afastar, Isaac arrumou o travesseiro em minhas costas e puxou um pouco a coberta para cima antes de ir até o outro lado do quarto para fechar as janelas.

— Eu senti a sua falta, Isaac.

Ele lançava um sorriso tímido com um leve rubor nas bochechas. Logo, retornava para perto de mim e brincava com os dedos um tanto receoso. O seu olhar alterna entre os móveis e a minha silhueta encolhida na cama. Imediatamente, entendi o recado.

— Não precisa limpar o quarto. Não agora. Eu gostaria de apreciar sua companhia.

Recebo outro largo sorriso em resposta. Os cachos de seu cabelo se movem com graciosidade quando balançava levemente a cabeça. Isaac senta na ponta da cama, segurando a minha mão e analisando o meu rosto, cabisbaixo.

— Sabe o que aconteceu? — pergunto e ele nega com a cabeça, apontando para a porta e depois tocando os próprios lábios totalmente contraídos. — Entendo. O duque não contou nada.

Ele assente.

— O seu senhor me salvou. Eu fui mandada para uma cela dentro do castelo porque... — engulo seco sentindo a minha voz falhar. A verdade é que odiaria ser julgada por Isaac se contasse do que eles me chamam no palácio. —... são pessoas ruins. E é isso que pessoas ruins fazem. O senhor De'Ath descobriu onde eu estava e acabou me levando para cá.

Havia compreensão no olhar de Isaac conforme falava. É como se essa história fosse frequente em Icarus, onde o duque já quebrou diversas regras para salvar alguém que precisava da sua ajuda. Se era por altruísmo ou a necessidade de ter mais aliados contra a família real, nunca saberia.

— Por que acha que ele salvou a minha vida?

O rapaz franze o cenho e depois desviava a atenção para a janela, apreciando o nascer do Sol. A luz invadia o cômodo expondo mais detalhes que não pude perceber da última vez. A estante estava repleta de livros e havia uma pilha de folhas em brancos em cima da escrivaninha. No canto direito do quarto, encontrei minha roupa de treino em um manequim de madeira.

As lembranças do treino com Lorcan ainda estavam frescas em minha mente. A sua voz grossa ditando comandos, a postura ereta enquanto circulava diversas vezes entorno do meu corpo e o olhar intenso recaindo em cada articulação minha, conferindo se os movimentos estavam sendo executados com perfeição.

Uma inquietude surgiu em meu interior e decidi me concentrar na conversa. Isaac apertou sutilmente minha mão e a outra repousou no próprio peito. A ponta dos dedos dava leves batidas sobre a região, os lábios contraídos formando a onomatopeia "tum-tum".

— Ele me salvou porque tem coração? — pergunto e ele balança a cabeça em afirmação. Logo, ajeito minha postura ficando completamente sentada na cama. — Não pode ser, Isaac. Eu sei que a atitude do duque foi nobre, mas ele não foi criado para agir assim. Não vejo Lorcan como um monstro, mas como uma boa pessoa? É difícil.

O serviçal piscava os olhos confuso.

— Acredite em mim. Ele foi treinado a vida inteira para repudiar qualquer tipo de sentimento. Então, por que teria pena de mim?

Isaac deu um suave beijo na palma da minha mão e depois fez um cafuné desajeitado em meu cabelo. Ele negou com a cabeça enquanto continuou a dar leves batidas no coração, como se essa fosse a resposta.

Mas eu não fazia ideia do que poderia ser.

No final da tarde, Arvid apareceu analisando-me brevemente antes de retornar à típica máscara de indiferença. Por dentro, sabia que o garoto estava aliviado ao ver que meu estado não era tão deplorável. Ele fez um breve cumprimento e se aproximou recolhendo a bandeja ao meu lado com o prato vazio. O almoço foi generoso. Quase não acredito na variedade do meu prato e nas frutas como um "bônus".

— Como está a sua mãe, Arvid?

Ele demonstra surpresa por um instante, mas logo desvia o olhar retomando a postura séria.

— Ela está bem. Pelo visto, você já sabe sobre o ataque. Por sorte, os miseráveis não tiveram tempo de machucá-la de verdade. O senhor De'Ath os interceptou antes que pudessem matá-la.

Sinto um nó em minha garganta. Arvid falava com tamanha naturalidade sobre a experiência quase morte de sua mãe, como se fosse comum as pessoas do ducado de Icarus serem tratadas dessa maneira.

— Eu fico feliz com isso.

— E o que houve com você?

Respiro fundo ponderando se deveria contá-lo ou não. Mas confiava em Arvid, apesar do pouco que o conhecia. Então, relato sobre todo o ocorrido no castelo desde o início das provocações até o salvamento glorioso do duque. Ao final, o garoto fazia uma careta de nojo e se segura para não cuspir no tapete ao proferir:

— Maldito seja o rei! Ele não fez nada?

Abaixo o olhar para minhas mãos unidas sobre o colo.

— A culpa não é do Christian. Eu não contei à ele sobre o que acontecia entre mim e os serventes.

— Isso não importa. Como um rei que se vangloria por proteger seu povo ignora um pedido de ajuda? Sendo silencioso ou não, ele ainda está lá. É o que a minha mãe me ensinou.

Tento sorrir para demonstrar que está tudo bem, mas a verdade é que não está. O meu coração se encontra em pedaços por causa da negligência de Christian. Sei que ele não tem culpa das atitudes deploráveis da governanta e de Jonnathan; mas sinto que podia ter feito mais. Ou talvez eu tenha esperado demais do personagem criado para ser o espectro da perfeição.

Isso não tem sentido. Você deveria ser perfeito, Christian.

— Você ainda gosta dele? — a pergunta de Arvid desperta-me dos meus pensamentos.

Balanço positivamente a cabeça, incapaz de olhar em seus olhos pois tenho certeza que encontrarei indignação neles.

— Você, por acaso, é burra, Diane?! Como pode amar o homem que te abandonou?

— Ele não me abandonou! — exclamo ousando erguer a cabeça. — Christian prometeu me proteger. Ele só não conseguiu manter a promessa...

Arvid suspira em pura frustração, caminhando em direção à porta. Ele parava na saída, olhando-me por cima dos ombros com uma expressão séria. Para uma criança, havia muita sabedoria em seu olhar.

— Se ele não consegue manter uma promessa como um homem, por que devo confiá-lo como rei? E por que você precisa confiar seu coração à ele?

Abro a boca para rebater mas desisto na hora. Nenhum argumento veio em minha mente e abafei fervorosamente a voz irritante que dizia "ele está certo".

***

Lorcan não apareceu durante os três dias que se seguiram. As empregadas apareciam duas vezes por turno, ajeitando minha almofada ou me ajudando com o banho. O médico do ducado veio me visitar no segundo dia, fazendo um simples exame de rotina. Ele recomendou algumas ervas naturais e, no outro dia, a sua lista estava disposta na cozinha do castelo, segundo a informação de uma das serventes.

Diferente do palácio real, as pessoas aqui me tratavam relativamente bem. Algumas lançavam olhares julgadores, mas ninguém proferiu uma única ofensa. Depois, Arvid me explicou que o motivo foi a ameaça nada delicada de Lorcan a cada um dos seus empregados. Ele jurou caçá-los nos confins do inferno se ousassem me insultar.

Isaac surgia todas as manhãs para fazer companhia antes de partir para seus trabalhos rotineiros. Gostava da companhia dos dois, mas estava incomodada pelo duque não vir me visitar depois que acordei. Ele sequer mandou alguém para perguntar sobre o meu estado e nenhum empregado ousou contar sobre o seu paradeiro.

Era frustrante e irritante não poder vê-lo. Queria perguntar o que poderia fazer no ducado para não ser um incômodo ou qual o estado de Velorum após a sua ameaça com o rei. Porém, não havia nenhum sinal do vilão. Como não sabia onde ficava o seu quarto e ainda estava fraca para me aventurar pelo corredor, encolhi-me na cama junto com meus pensamentos e resmungos rabugentos.

Mas fiz bom uso do tempo livre para ler dois livros sobre combate. Havia algumas anotações feita à tinta nas páginas. Letras um pouco tortas e uniformes, provavelmente feitas por uma criança. E acabo me lembrando de um dos momentos da obra, retratando um breve trecho do passado do vilão.

O garotinho mal podia tocar os pequenos pés no chão, balançando-os no ar enquanto se acomodava na cadeira dura. Ele molhava a ponta da pena na tinta e começava a escrever em uma folha de papel. A sua mão está trêmula e a primeira letra do seu nome sai torta. Mesmo assim, ele fazia careta tentando acertar o restante até receber uma chicotada no braço. Automaticamente, ele se encolhia apoiando a mão sobre o local vermelho. Os olhos já lacrimejando focam na figura séria do seu pai.

— Como um De'Ath não consegue escrever o próprio nome na sua idade? O meu filho é um retardado? Ele é?! — dizia elevando o tom de voz e o garotinho se encolhe, negando com a cabeça diversas vezes. — Então, prove que não é inútil. Ou irá dormir novamente no estábulo.

O pequeno assente e volta a escrever o nome. Contudo, a mão tremia mais do que antes em um misto de medo e nervosismo. A segunda chicotada é certeira, arrancando sangue de sua pele que já possuía leves marcas das punições anteriores. O garoto se encolhe tentando engolir o choro mas era em vão, soluçando baixo.

— Até mesmo um dos meus cães de caça possui inteligência superior à sua. Por que eu fui amaldiçoado com um filho imprestável? Por que não consegue ser igual ao seu amigo, o príncipe Christian? — questiona batendo com força na mesa, fazendo a criança se encolher abraçando o próprio corpo. Ele ousava olhar a face do seu pai, encontrando o ódio em seus olhos incandescentes. — Por que não morreu logo ao nascer, Lorcan? Ao menos, iria me poupar de tanto desgosto.

A minha garganta secou e dei um bom gole na água ao lado. Quanto mais pensava no passado problemático que criei para o duque, maior era a dor em meu peito. Não o via mais como um mero personagem, via como uma pessoa dotada de sentimentos e personalidade própria. E eu havia sido a responsável, indiretamente, por seu sofrimento na infância. Então, com esse sentimento de culpa, acabei adormecendo.

Os outros dois dias seguintes foram exatamente iguais. Os mesmos cuidados com a alimentação, o banho e a medicação. Isaac surgia em alguns momentos para verificar se eu estava bem e Arvid decidiu não aparecer, provavelmente ocupado cuidando da mãe. Após terminar os dois livros sobre combate, cogitei começar o terceiro mas estava inquieta demais. O meu corpo já havia melhorado consideravelmente e recuperei parte das minhas forças.

Nada do maldito Lorcan aparecer!

Então, pensei que talvez o motivo do resgate era irritar o Christian e, cumprido o seu objetivo, seria descartada. Um arrepio desconfortável atingiu minha espinha e senti que algo precisava ser feito. Não queria ser tratada daquela maneira insignificante nunca mais. Por isso, decidi que iria vê-lo e exigir uma explicação por seu sumiço.

No meio da noite, vesti um robe acinzentado de seda que tocava a região do meu calcanhar, ocultando a camisola fina. Arrumei o cabelo desembaraçando os fios e inspirei profundamente o cheiro de frutas cítricas de minha pele. O perfume era produzido de maneira rústica nessa época mas não podia negar o aroma agradável. Após reunir coragem, saí do quarto agradecendo internamente à iluminação dos corredores. Em passos lentos e suaves, segui a trilha de tochas em busca do possível paradeiro do duque. A minha mão tateava a parede tentando manter o corpo de pé.

Resmungo em desagrado quando encontro uma fileira de escadas que dava acesso ao salão da entrada. As minhas pernas ainda estavam fracas, porém desistir estava fora de cogitação. Por isso, seguro o corrimão com todas as forças e desço lentamente até ouvir vozes vindo de um dos cômodos. Involuntariamente, apresso os passos contendo o gemido de dor por forçar meu corpo além do limite. Ao se aproximar da luz de uma das salas, apoio o ombro na parede gélida e estico o corpo encontrando Lorcan de costas. Ele estava com as mãos apoiadas na mesa de mármore escuro enquanto alisava o longo mapa estendido em sua superfície.

— Em um possível ataque pelo Sul, precisamos mover nossas tropas para cá. — comenta passando o dedo indicador sobre o mapa, traçando uma linha imaginária. — E pedir para o povo recuar.

— Estaremos dividindo a força do nosso ataque. — dizia uma voz masculina e grossa. — É um movimento arriscado.

Desvio a minha atenção para o homem do outro lado da mesa. Ele devia ter quase dois metros e meio, uma parede de músculos assustadora. O seu traje era igual ao de um soldado de Icarus, exceto pelo casaco de pele em seus ombros e três fileiras de cintos douradas entorno da cintura onde havia uma variedade de facas rústicas, a maioria feita de ossos. O homem tinha uma barba espessa e ruiva, combinando com o seu longo cabelo preso atrás por um rabo de cavalo alto. Os olhos escuros tão mortais quanto um anjo caído.

Devido à sua aparência, eu o reconheci imediatamente. Njal Glimer, o gigante destruidor de exércitos. Ele é o braço direito de Lorcan e o responsável por boa parte dos massacres à sangue frio na obra.

— Temos que considerar todas as opções. — pontua o duque. O rosto irredutível sem demonstrar recuo diante das expressões mortais de Njal. — Se Christian decidir iniciar uma guerra, devo pensar em quantas hipóteses forem necessárias para atingirmos a vitória.

— Isso não aconteceria se não tivesse sequestrado uma das prostitutas do rei. — resmunga uma voz feminina. A mesma voz naquele dia no escritório.

A mulher de longo cabelo cacheado e volumoso se pronuncia, permanecendo apoiada na parede do outro lado da sala, com os braços cruzados. A pouca iluminação da sala ressaltava a sua pele negra e o rosto esculpido pelos deuses. Os seus olhos são em uma tonalidade acinzentada e os lábios carnudos. As curvas do corpo destacadas pela calça de couro e o espartilho preto entorno de sua cintura fina. Os músculos de seu braço se sobressaem perante a camisa esverdeada que tocava os cotovelos.

Katlyn Myers. A melhor arqueira de todo o reino e uma das poucas pessoas que o duque confiava. Ela nutria sentimentos pelo vilão, mas ele sempre negou as suas investidas.

— Não fale assim novamente. — Lorcan a repreende com um olhar sério. — Os boatos são falsos, tenho certeza disso.

— Não entendo porque a defende. Ela sequer é de Icarus. Deveria tê-la deixado apodrecer na cela!

— Katlyn...

Ela estala a língua em sinal de desagrado, virando o rosto para o lado. Nesse momento, notava a minha silhueta escondida atrás da parede e estreita os olhos em minha direção.

— Sua...

Lorcan lança um olhar por cima dos ombros, confirmando a minha presença. Logo, retorna a atenção para os outros dois presentes na sala e profere:

— Saíam. Depois, retomaremos a reunião.

Njal acena com a cabeça, não se dando o trabalho em olhar para mim. Katlyn parece que irá atirar uma flecha em meu pescoço à qualquer momento, mas contém a raiva ao passar pela porta.

— Desculpa ter atrapalhado.

O duque não comenta nada enquanto andava em minha direção. Ele parava à dois degraus de distância e, por causa da altura, consigo olhar diretamente em seus olhos sem precisar erguer a cabeça. Uma tocha da parede servia para iluminar o céu noturno de seus olhos azuis. Com a sua aproximação, encolho-me com medo de uma bronca mas relaxo o corpo ao sentir a sua mão tocar minha testa. Desta vez, desprovida de qualquer luva. O toque áspero de sua pele contra a minha causa um formigamento agradável.

— Você está melhor? Não deveria andar pelo castelo até estar totalmente recuperada.

Não se tratava de uma ordem pois havia uma singela preocupação em sua voz. Por isso, pisco os olhos surpresa e fecho o punho sobre a parede.

— O senhor não apareceu no meu quarto por todo esse tempo! Por isso, vim saber o motivo.

Mesmo com o semblante neutro, vejo um brilho diferente em seu olhar. Lorcan apoiava o ombro na parede estando frente à frente comigo com alguns centímetros de distância do meu rosto.

— Estava com saudades de mim?

Engasgo com a própria saliva e nego com a cabeça. O rosto esquentou um pouco por um motivo que não compreendo.

— Não, não. Eu só pensei que tivesse esquecido da minha estadia aqui.

— Não esqueceria. Não de você, Diane.

Sinto embrulhos no estômago diante da intensidade do seu olhar. Ela é intimidadora, mas em um sentido bom.

— Er... Entendo. Mas esteve todo esse tempo ocupado com reuniões?

— Não devo explicações à você.

Filho da puta! Eu te criei, seu mal-agradecido!

Mas não estava irritada com o duque, não de verdade. Ele também não parecia bravo com minha pergunta, apenas não estava acostumado com alguém preocupado sobre o seu paradeiro.

— Boa noite, então. — resmungo dando as costas.

Quando piso no primeiro degrau, respiro fundo por causa da fraqueza nas pernas. Ouço o pigarrear do vilão mas não o encaro, prevendo um olhar de "eu avisei para ficar no quarto".

— Vejo que está com um pequeno problema com a escada.

— É. O senhor deveria ter feito menos degraus em seu castelo! — reclamo virando o rosto em sua direção.

O duque arqueia a sobrancelha enquanto encurtava nossa distância.

— Era mais fácil você ter ficado no seu quarto do que remover os degraus, sabia?

Penso em alguma resposta no mesmo nível de sarcasmo, mas a minha mente fica em branco quando Lorcan me pega em seus braços. Ele ignora o meu protesto para descer, iniciando uma caminhada em direção ao meu quarto. A forma como me carregava sem problema algum, fazia tudo parecer mais fácil. Sinto-me uma mera pena sendo transportada.

— Não está incomodado? — questiono receosa.

O seu rosto vira para poder me encarar diretamente nos olhos.

— Você é leve.

Estava me referindo ao seu problema com toques, mas tudo bem.

— Insignificantemente leve?

Ele dá nos ombros, retornando o foco ao caminho.

— Apenas leve. Já carreguei coisas três vezes mais pesadas do que você.

Remexo o meu corpo desconfortavelmente ao mesmo tempo que envolvo os braços entorno do seu pescoço para não cair. Lorcan se retrai um pouco como o esperado, mas não me joga no chão.

— Três vezes mais pesadas? Era uma mulher?

— Isso não é do seu interesse. — rebate.

Trinco os dentes e solto um resmungo baixo. Lorcan chegava no quarto deixando-me na cama com certa delicadeza, apesar de não ser do seu feitio. Ele apenas dá um olhar de advertência e entendo o recado como "da próxima vez, siga as minhas ordens e fique no quarto até estar curada". Em resposta, aceno com a cabeça e o observo se dirigir até a saída.

— Lorcan!

Ele parava virando o rosto em minha direção, esperando por minhas palavras. Aperto a coberta contra meu corpo enquanto tento não desviar o olhar para qualquer canto do quarto.

— Obrigada por acreditar em mim. Acreditar que não sou o que dizem.

A sua expressão se suaviza por uma mera fração de segundos antes de fechar a porta, deixando-me na completa escuridão do cômodo.

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