Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

08.

capítulo oito.
o início dos jogos

A RESPIRAÇÃO ACELERADA de Meadow obrigou Finnick a acordar antes do previsto na madrugada daquela segunda-feira. Com os olhos inchados de sono após mal ter conseguido dormir previamente, o vitorioso movimentou uma das mãos quase violentamente em direção ao abajur na mesa de cabeceira ao lado da cama, fazendo com que houvesse iluminação suficiente para que ele fosse capaz de ver a garota sentada ao seu lado, com uma das mãos próxima ao pescoço, enquanto tinha o terror nos olhos.

Meadow sentia seu peito prestes a explodir. Seu estômago doía e um turbilhão de pensamentos preenchia sua mente enquanto todas as piores possibilidades ocupavam sua cabeça. Finnick tentou levar uma das mãos até suas costas e perguntar o que havia acontecido, mas antes que pudesse, a mentora do Distrito 8 já havia se levantado para correr até o banheiro, apenas para vomitar nada além de um líquido amarelo. O rapaz a seguiu, segurando seus cabelos para trás enquanto a garota tossia, abaixada próxima ao vaso sanitário. Ele aguardou pacientemente até que ela se acalmasse, e então a ajudou a se levantar, vendo Meadow caminhar até a pia em silêncio para escovar os dentes.

Finnick cruzou os braços, apoiando as costas contra a parede do banheiro, e observou Meadow pelo reflexo do espelho.

━ Fique tranquila. Você não pode mostrar Sylvia que está assustada, isso vai deixá-la insegura e esse é o pior momento pra fazer isso ━ ele lembrou.

━ Eu não acordei vomitando de propósito, Finnick ━ Meadow resmungou, levando a escova até a boca, e Finnick levantou as sobrancelhas, lançando um olhar para o conteúdo do vaso sanitário, antes de dar descarga.

━ Você mal pode chamar isso de vômito. Não tinha conteúdo no seu estômago pra vomitar além de bile ━ ele pontuou, repreendendo-a, e apoiou uma das mãos na nuca de Meadow. ━ Você está suando frio, Meadow. Eu sei que não é de propósito, só estou dizendo pra se acalmar.

Por estar com a boca ocupada pela escova, Meadow não respondeu, mas gostaria de dizer que falar era muito fácil. Era ela quem havia acordado assustada e se sentindo ansiosa. Ela estava em pânico. Claro que Finnick também não estava feliz com os acontecimentos que estavam previstos para aquele dia, mas ele precisava entender que dizer “se acalme” não era algo que surtia efeitos, muito menos imediatos.

━ Pode me xingar mentalmente o quanto quiser ━ ele disse, com um sorriso ladino, e saiu do banheiro. ━ Vou buscar algo pra você comer.

Finnick a conhecia muito bem. Após a arena, Finnick era a única pessoa que a conhecia de verdade, porque era a única versão de Meadow com a qual ele havia tido contato. As outras pessoas – seu pai, Cedar, até mesmo Indigo Weaver –, costumavam se lembrar dela antes dos Jogos Vorazes, e ela não os havia permitido conhecê-la para além da superfície após a arena. Mas Finnick, com algum custo, havia conseguido, afinal, ele sempre estava lá quando ela precisava, geralmente passando pelas mesmas coisas que ela.

Embora o noivado fosse de fachada, era claro para todos que os dois jovens haviam criado um laço poderoso de afeto. Mesmo aqueles que duvidavam dos motivos do casamento dos dois, não tinham dúvidas sobre a amizade nutrida por Odair e Selcouth; era algo claro para todos, e ficava explícito na forma em que os dois se olhavam. Finnick nunca se sentiu compreendido de verdade por ninguém até conhecer Meadow; ela era jovem como ele, desejada como ele, corrompida como ele, e era usada da mesma forma que ele era. Ela estava assustada quando ele a conheceu, e permaneceu assustada em todos os seus primeiros encontros. Foi difícil se aproximar, mas ele conseguiu, porque ela decidiu permitir.

De todas as pessoas que Meadow havia conhecido na Capital, Finnick Odair era a única que não a fazia sentir medo. Ele poderia, se quisesse; o vitorioso do Distrito 4 era muito maior e mais forte do que ela, e havia matado muitas pessoas em troca da própria sobrevivência na arena. Se Finnick desejasse a assustar, instigar ou ameaçar, não lhe faltariam opções de como fazer aquilo, mas ele agia de forma diferente. Não havia violência em seu olhar, rispidez em suas palavras ou trapaça em suas ações; Finnick era apenas um rapaz tão quebrado quanto ela e que, de alguma forma, ainda conseguia a olhar com carinho e cuidado.

━ Que horas são? ━ Meadow perguntou ao sair do banheiro, encontrando o quarto vazio, sinalizando que Finnick já havia saído para buscar algo na cozinha. Ele não gostava de precisar incomodar um Avox, independentemente do horário. Os olhos da garota foram até o relógio na parede. ━ Três e quarenta e sete… Ainda falta muito tempo.

Com um suspiro, Meadow permitiu que seu corpo desabasse sobre a cama bagunçada, sentindo o colchão ainda aquecido pelo corpo de Finnick, que dormia ali até alguns minutos antes. Para ela, havia algo muito notável sobre a presença de Finnick; ela sempre sabia por onde ele havia passado, porque reconhecia o calor que seu corpo deixava, ou sentia seu cheiro característico. As pessoas também mudavam de comportamento quando ele estava por perto, desejando chamar a atenção do vitorioso. Meadow não conseguia não achar tudo aquilo engraçado, mas no fundo, ela compreendia. Todas as versões de Finnick eram dignas de se adorar, desde a versão apresentada à Capital, de vitorioso mais jovem, bonito e confiante de Panem, até o rapaz que dormia ao seu lado quando ela sentia medo e viajava através do país apenas para ter certeza de que ela estava se alimentando.

Quando Finnick retornou ao quarto, fechou a porta atrás de si cuidadosamente, antes de rir pelo nariz ao encontrar Meadow encarando o teto, distraída. Ele chamou seu nome, antes de jogar uma maçã em sua direção, e a garota pegou a fruta no ar, dando uma mordida generosa. Ele se sentou na cama e a observou, silencioso, cruzando os braços em frente ao tronco. Apesar de não ter acordado em pânico como Meadow, o rapaz agora começava a sentir o temor atingindo seu âmago. Dali a algumas horas, os tributos seriam enviados à arena; antes daquilo acontecer, ele poderia ver Annie Cresta pelo que, muito provavelmente, seria a última vez.

━ Annie tem boas chances ━ disse Meadow, como se lesse seus pensamentos. ━ Ela é forte e mais velha do que a maioria dos outros tributos. Acho que, quando estiver na arena, ela vai fazer o que precisa pra sobreviver.

━ Pode ser que sim. A verdade é que nós não sabemos como cada um vai se comportar até que todos estejam na arena ━ ele respondeu, pensando em seus anos de experiência. ━ Eles agem de um jeito aqui fora, dizem que vão fazer isso e aquilo, mas quando estão lá dentro, tudo fica real demais. A maioria não age como prometeu.

━ É. Lá dentro, tudo muda pra sempre ━ Meadow concordou, com um ar melancólico, dando mais uma mordida em sua maçã, e suspirou ao deixar a fruta de lado. ━ Eu penso, às vezes, que talvez seja melhor mesmo que Sylvia morra na arena. Ela não merece morrer, nenhum deles merece. Mas eu sei que a vida dela depois dos jogos vai se tornar bem pior, apesar de vencer. Morrer lá dentro pode ser o verdadeiro prêmio, se comparar com o que passamos aqui fora quando saímos de lá.

Finnick a encarou, unindo as sobrancelhas.

━ Você se sente assim? ━ indagou, com a voz baixa.

━ Há algum tempo ━ ela admitiu, em um murmúrio. ━ Mas as coisas estão um pouco melhores agora.

Os horrores da arena, especialmente os que Meadow havia presenciado no último dia, após Aspen tirar a própria vida para que ela pudesse viver, haviam mudado algo na garota. Os horrores da Capital perpetuaram todas essas mudanças e as tornaram muito piores. Meadow revivia os traumas todos os dias e criava novos com uma certa frequência enquanto estava no lugar mais rico de Panem, e enquanto pensava sobre a situação em que se encontrava, agradecia por ser ela no lugar de seu irmão passando por tudo aquilo e pensava que a morte talvez fosse um destino mais gentil do que a vida de um vitorioso.

Em outros dias, ela havia pensado em dar um fim àquilo. Havia pensado que deveria ter morrido na arena, assim como Aspen, e talvez os dois pudessem descansar em paz na companhia um do outro. Então, ela se lembrava de tudo o que o irmão havia feito para que ela sobrevivesse, e afastava os pensamentos autodestrutivos da própria mente porque não queria deixar que o sacrifício de Aspen tivesse sido em vão. Meadow vivia em uma constante batalha consigo mesma, tentada a escapar da própria realidade, e sempre pensando em vários métodos de fazer aquilo.

Ela não mentia quando dizia que as coisas haviam melhorado nas últimas semanas. Finalmente, ela não precisava se preocupar em se deixar ser possuída pelos cidadãos da Capital. Não precisava se preocupar em sentir o toque de suas mãos sujas marcando sua pele e não precisava sentir o cheiro forte de perfume impregnando seu próprio corpo. A pior parte já não a atingia mais, ainda que as memórias rondassem sua mente. Meadow duvidava que algum dia elas fossem a abandonar de vez, mas já havia se acostumado com a ideia de viver com as cicatrizes internas deixadas pelo passado.

━ Essa parte das nossas vidas acabou, Meadow ━ Finnick disse, em um tom de voz quase tranquilizador, e Meadow balançou a cabeça em concordância. ━ Demos um jeito nisso, não demos?

━ Mas a troco de tanta coisa ━ ela riu pelo nariz, melancólica. ━ Somos obrigados a nos casar. Me mandaram pra longe da minha família mais uma vez, e agora sem que eu pudesse me despedir. Annie vai para a arena em algumas horas e nós ainda temos que fazer parte de toda a matança, participando do lado de fora ━ Meadow citou, vendo Finnick comprimir os lábios, e sentiu lágrimas formando-se em seus olhos enquanto encarava o rapaz, e sua voz se tornou trêmula. ━ O ponto é que estamos lidando com uma Hidra de Lerna. Cortamos um problema e surgem mais sete no lugar. Nós não temos como escapar de tudo, não é? E então nós somos obrigados a ser egoístas, porque queremos escapar do que acreditamos ser a pior parte.

Sob o olhar de Finnick, Meadow encarou o teto e fechou os olhos com força, impedindo que as lágrimas caíssem. Ela passou uma das mãos pelo rosto, antes de respirar fundo, e então voltou os olhos para o rosto do rapaz sentado próximo de si.

━ Você sabe qual é a pior parte? ━ ela indagou, sem esperar resposta. ━ Eu estou parando de sentir culpa. Às vezes penso nas coisas mais terríveis que faria pra escapar disso tudo, e nas consequências que as minhas ações acarretariam pras outras pessoas, e por alguns segundos, eu não consigo nem me sentir mal ━ confidenciou, soltando uma risada quase forçada pelo nariz, enquanto uma lágrima solitária desceu de seus olhos. ━ E isso me deixa pior, porque estou entrando no jogo deles. Estou agindo como eles agem. Eu tenho medo de perder a noção das coisas e um dia acordar e perceber que não sou nada além de uma pessoa exatamente igual às que mais repudio.

A instabilidade de seus pensamentos e ações não era algo novo para Finnick; ele via aquilo todos os dias quando se olhava no espelho e começava a se questionar sobre seu compasso moral e até onde iria para conseguir o que queria: a própria liberdade. Ele via aquilo transparecer nos olhos de cada vitorioso que saía da arena; os Jogos Vorazes obrigavam todos eles a perderem o que tinham de mais precioso, que era a inerente bondade do ser-humano, e os fazia colocar à prova toda a moralidade que acreditavam ter. Quando encontrava outro vitorioso, a primeira coisa que Finnick notava era a escuridão e o vazio em seus olhos.

Era preciso entender aquilo e passar a conviver com o fato de que a violência da arena jamais permitiria que eles fossem os mesmos. Era um caminho longo, intenso e doloroso, mas inevitável. Um dia, Meadow acordaria e entenderia que seus pensamentos egoístas não a faziam uma pessoa ruim, mas uma pessoa humana. Porque, no fim, não passavam daquilo: pensamentos. O que ela fazia a partir de suas ideias era o que realmente importava.

━ Ontem, quando eu me senti mal e disse que era minha culpa que Annie estivesse na arena, você me acalmou e disse que não era. Que nós não tínhamos como prever isso e que é culpa de Snow ━ ele murmurou, observando o vazio, e Meadow se atentou às suas palavras. ━ Eu entendo o seu sentimento de culpa, você sabe que entendo. Você sabe que também sofro com isso todos os dias, e é um fardo que nós vamos carregar pelo resto da vida, Meadow. Nós jogamos esse jogo porque somos obrigados. Fazemos parte de tudo isso porque é a única forma de nos manter vivos, e tentar manter as pessoas que amamos vivas também ━ Finnick continuou, soltando uma risada amarga, e balançou a cabeça negativamente. ━ E são elas que eles usam pra nos machucar ainda mais. É como nos convencem a jogar. Até a culpa que nós sentimos é fruto da vitória deles sobre a gente, porque eles fazem de tudo pra que a gente se sinta responsável por tudo de ruim que eles têm causado há décadas.

Meadow ainda o encarava em silêncio, com os olhos marejados e as sobrancelhas, e aproximando-se um pouco da garota, Finnick apoiou uma de suas mãos na parte de trás da cabeça da vitoriosa, acariciando seus cabelos até alcançar a parte de trás do pescoço, e então a puxou levemente em sua direção, para olhar fixamente dentro de seus olhos.

━ Nós estamos sendo punidos, Meadow. Não recompensados. Lembre-se disso toda vez que se sentir responsável por alguma coisa por aqui. Lembre-se que nós não temos poder nenhum ━ ele pediu, com o rosto angustiado enquanto a fitava nos olhos, tirando alguns segundos para estudar os detalhes de seu rosto. ━ Você é a única coisa boa desse lugar. Você é a melhor de todos nós. Eu não posso deixar que eles façam você se sentir assim, não posso.

Na Capital e nos distritos, Meadow era a representação da pureza de coração e da misericórdia. Um símbolo de piedade e compaixão. A vitoriosa que ganhou os Jogos Vorazes sem matar, contrariando tudo o que a competição representava. Ela havia perdido muitas coisas, como todos os outros, mas Finnick via a esperança em seus olhos desde que se conheceram. Ela não havia sido quebrada por completo, e o peso que trazia sobre os ombros era tão diferente do peso da responsabilidade de matar e destruir famílias para sempre. Meadow era boa e tinha aversão à violência. Meadow escolheria morrer a matar. Em todos os seus detalhes e suas pequenas ações e recusas, Meadow era uma rebelde e a chama que o inspirava a fazer o possível para escapar.

Ele estava prestes a desistir e apenas aceitar completamente o seu destino quando a conheceu, com os olhos grandes, assustados e com um brilho de inocência que os moradores da Capital se digladiariam para arrancar o mais rápido possível. Finnick quis a proteger e aquilo recuperou um pouco sua fé e vontade de lutar, porque não queria permitir que a garota tivesse seu fim. Meadow era quem o havia feito recobrar as esperanças e ele não poderia sonhar em permitir que ela perdesse as próprias.

Cuidadosamente, ele descansou a testa contra a da garota e fechou os olhos, balançando a cabeça para os lados lentamente.

━ Você não pode se perder ━ ele falou, em um tom suplicante, e abriu os olhos alarmados mais uma vez, percorrendo o olhar pelo rosto de Meadow. ━ Eu não posso deixar que você se perca. Não vai me restar nada se eu perder você também.

Meadow separou suas testas, franzindo o cenho, e afastou os cabelos de Finnick do rosto com um de seus dedos. Devagar, ela acariciou sua pele, passando as costas de sua mão pela testa, a ponte do nariz e então as bochechas de Finnick em um cuidado quase absurdo, observando seu rosto.

━ Você é a única coisa boa que me aconteceu depois dos jogos, sabia? ━ ela perguntou, baixinho. ━ Você é quem me fez perceber que ainda nem tudo está perdido, e continua fazendo isso todos os dias, como um pontinho de luz no meio de uma escuridão avassaladora ━ continuou falando, aproveitando-se da coragem momentânea que a permitia dizer coisas que ela não conseguiria normalmente. ━ Você me mantém no lugar, Finnick. Você é o meu único apoio.

Os dois se encararam em silêncio por alguns segundos, enquanto Meadow pensava em tudo o que haviam passado juntos. Sua mente não demorou a chegar nas memórias de seus dias no Distrito 4, onde viveu alguns dos melhores momentos de sua vida em muito tempo, e se sentiu, pela primeira vez, tranquila. Onde Finnick e Mags a ensinaram sobre pesca, navios, peixes e o mar.

━ Você é minha âncora ━ ela finalizou, referenciando uma das coisas mais comuns do distrito do rapaz.

Ele era sua proteção, abrigo, estabilidade. Sem a coragem de Finnick, Meadow não seria nada; era sua coragem que a deu esperanças novamente, porque ele tinha bravura o suficiente para os dois. Ela nunca seria tão forte e corajosa quanto ele era, e sem Finnick, jamais desafiaria seu destino decidido pelo presidente de Panem. Mas ele não parecia perceber o quão importante era para a garota, o que a incomodou naquele momento.

Finnick levou uma das mãos até a de Meadow, afastando-a de seu rosto, e entrelaçou seus dedos. A garota, de forma gentil, levantou suas mãos unidas até a altura de seu rosto, depositando um beijo leve nas costas da mão do rapaz a sua frente, que permanecia tão próximo que eram capazes de sentir a respiração um do outro. Fechando os olhos, os dois descansaram as testas uma contra a outra novamente, em uma quase perfeita sincronia.

━ Estamos juntos nessa ━ ele assegurou, quase em um sussurro, e quando Meadow balançou a cabeça em concordância, seus narizes roçaram um contra o outro. ━ Até o fim, Meadow. Fique comigo.

Quando ela assentiu mais uma vez, Finnick levou uma das mãos até seu rosto, segurando-o como um bem precioso, e abriu os olhos brevemente para encontrar seus traços delicados. Meadow colocou uma mão sobre a sua, sem querer abandonar o calor de sua pele, e respirou fundo.

━ Eu vou ficar, Finnick ━ ela prometeu. ━ Até o fim.

Meramente aliviado, Odair soltou uma risada arrastada, que fez com que Meadow também abrisse um sorriso, e de forma quase inconsciente, o loiro aproximou ainda mais seus rostos, e a garota, também despercebida, levantou a face levemente, fazendo com que seus lábios entreabertos esbarrassem nos de Finnick. Um arrepio subiu por todo seu corpo, mas ela não pensou em se afastar.

━ Não tem câmeras aqui ━ ela lembrou, em um sussurro.

━ Não ━ Finnick confirmou, sentindo a respiração de Meadow misturando-se a sua, e migrou o olhar de seus olhos para sua boca. ━ Somos só nós.

━ Só nós ━ ela repetiu.

E então, seus lábios se encaixaram, devagar, e Finnick fechou os olhos novamente, movendo sua mão do rosto de Meadow para se apoiar em sua nuca, trazendo-a ainda para mais perto, como se antes houvesse uma longa distância entre os dois. A garota, timidamente, se aproximou quando ele a trouxe para perto, apoiando uma das mãos no antebraço do rapaz enquanto, pela primeira vez, beijavam-se de verdade.

Devagar, ela sentiu seu coração se desacelerando e o silêncio ao redor dos dois soou como uma melodia enquanto seus músculos relaxaram. Finnick, por outro lado, tornou-se tenso nos primeiros segundos, porque estava aterrorizado pelo sentimento novo que o atingiu, como se finalmente encontrasse algo pelo qual sempre tivesse procurado, e cada pensamento de sua mente houvesse sido brutalmente arrancado e substituído por Meadow enquanto o mundo já não queimava mais ao seu redor.

Finnick teve medo do que sentiu. Então, se afastou:

━ Me desculpe ━ ele pediu, e ela abriu os olhos em confusão, ofegante. ━ Isso não deveria ter começado sem sua permissão.

Quando se separaram, Meadow finalmente pôde pensar com clareza, e levou os dedos até os lábios que formigavam, ainda tentando entender o que havia acontecido. Tentando entender por quê sentia falta de seus lábios contra os de Finnick e tentando entender o motivo de não conseguir formar uma frase coerente naquele momento.

Na falta de palavras, ela se inclinou novamente na direção de Finnick, esperando que suas ações traduzissem o que queria dizer e não conseguia. Ele não se afastou, observando-a de perto, e quase como se travasse uma batalha interna, Meadow dividiu a atenção entre seus olhos e seus lábios levemente avermelhados, antes de ir de encontro a eles com os seus próprios mais uma vez, e agora, as mãos de Finnick perderam-se em meio aos seus cabelos, com seus dedos se emaranhando nos fios e mantendo a garota tão perto quanto ela sabia que queria estar.

Não havia nada entre eles, nem mesmo ar. Seus lábios estavam pressionados juntos em um beijo sem pressa e o rapaz se sentiu como um lunático ao perceber que, finalmente, as circunstâncias eram diferentes daquelas em que ele a beijou pela primeira vez. Não havia nenhuma obrigação, não era um teatro para a Capital, não era uma cena ensaiada para Caesar Flickerman. Eram apenas eles dois, Finnick e Meadow, e mais ninguém para interferir no que acontecia.

Dessa vez, quando afastaram seus lábios, Meadow descansou a testa na de Finnick novamente, descobrindo que gostava daquela posição. Ela soltou um longo suspiro, sentindo Finnick rir baixinho ao ouvi-la, e encostou seus narizes, mantendo-os mais próximos.

━ Nós vamos ficar bem ━ ela murmurou.

━ Eu sei que vamos.

Pela primeira vez, os dois acreditaram naquilo.

𓅨

No apartamento dos tributos do Distrito 8, Meadow sentia o nervosismo aumentar a cada segundo que passava sem ver Sylvia e Mervyn, que tinham um último momento a sós com Pearl Rooney, a escolta dos dois, antes de irem para a arena. Olhando para Hayden pelo canto dos olhos, a garota percebia que o homem não parecia se dar conta do que acontecia, mas sabia que ele estava completamente ciente de que os tributos entrariam na arena em breve; ele apenas estava acostumado demais para se importar.

Enquanto o homem brincava com uma faca de manteiga, parecendo despercebido e surpreendentemente calmo, ela batucava as pontas dos dedos contra a madeira, ansiosa, e virava a cabeça o tempo todo, na esperança de encontrar as crianças vindo em sua direção para uma última conversa antes do momento mais decisivo de suas vidas.

━ Você está parecendo uma assombração. Não dormiu essa noite? ━ o mais velho indagou, olhando para ela com os olhos semicerrados. ━ Cashmere disse que não viu Finnick saindo de seu quarto ontem à noite.

Ela o encarou, levantando as sobrancelhas.

━ Eu não achava que você fosse o tipo fofoqueiro ━ disse, fazendo Hayden a olhar ofendido, e deu de ombros. ━ Finnick é meu noivo. Moramos juntos, e agora não podemos dormir no mesmo quarto?

━ Eu não sei se acredito em você, Meadow. Eu bem que gostaria, sabe, mas realmente não consigo ━ retrucou o homem, cruzando os braços, e balançou a cabeça negativamente. ━ Mas você está certa de fazer isso. Você não sabe em quem deve confiar, no fim das contas ━ Hayden sorriu, estudando as reações da garota, que uniu as sobrancelhas. ━ Quem garante que eu não sou um infiltrado do presidente Snow, ou pior, um líder rebelde?! Os seus segredos devem valer muito, Meadow Selcouth.

Meadow suspirou. Lidar com Hayden era cansativo; ele parecia se entediar com facilidade, e quando o tédio o atingia, o homem começava a perturbar seu juízo sem um motivo aparente. Ele parecia persegui-la, tentar descobrir seus segredos, encontrar uma forma de fazê-la admitir coisas que não deveriam ser ditas em voz alta.

━ Isso é problema seu ━ ela respondeu, comprimindo os lábios. ━ O que você quer? Ser convidado para o casamento?

Ele arregalou os olhos.

━ Eu ainda não estava na lista?

A garota riu pelo nariz, dando de ombros. Apesar de tudo o que Hayden a fazia sentir — irritação, ansiedade, impaciência e outras coisas —, ele não lhe provocava desconfiança ou medo, não propositalmente. Tombando a cabeça para o lado levemente, Meadow cruzou os braços, observando o mentor com atenção. Era impossível que aquele homem estivesse com a Capital; ninguém fingia desprezo tão bem, e Meadow, honestamente, duvidava que qualquer pessoa que havia passado pela arena pudesse concordar com aquilo. É claro que ela não confiava em todos os vitoriosos, porque sabia que alguns não hesitariam em jogá-la para os lobos em busca de benefícios próprios — ela não os culpava —, mas confiava em Hayden Sage, principalmente porque Indigo Weaver confiava.

━ Eu não sei ━ ela disse. ━ Você sabe que não sou eu quem cuida da lista.

Hayden assentiu, em silêncio, e aos poucos, um sorriso mínimo dominou seus lábios. Qualquer pequeno ato que fosse contra o que a Capital defendia o deixava satisfeito; ver aqueles dois jovens se unindo para lutar contra um dos aspectos mais cruéis que era inserido na vida de vitoriosos era algo realmente grandioso, ainda que fosse uma das mais silenciosas formas de rebelião, porque a maioria das pessoas não fazia ideia de que o casal estava contrariando imposições. Era um passo pequeno em direção a algo grande, e todo incêndio começava com uma pequena faísca.

━ Os seus segredos com certeza devem valer ouro, Hayden ━ Meadow falou, após algum tempo o encarando em silêncio, percebendo que, apesar de passar grande parte de seus dias ao seu lado, ela sabia muito pouco sobre ele. ━ Mas eu não sei se estou disposta a pagar o preço.

━ Os meus segredos, Meadow, não valem ouro ━ ele retrucou, balançando a cabeça negativamente, com a voz baixa. ━ Eles custam confiança, e nada além disso. E eu não confio em você o bastante para falar sobre eles. Você interpreta bem o papel de boazinha, de heroína injustiçada, mas você é mais sorrateira e esperta do que boa parte desses idiotas que vieram para a Capital.

Aquela era mais uma das diferenças entre os dois; Hayden nunca escondeu o descontentamento, e não aceitava interpretar o papel na peça de teatro escrita por Coriolanus Snow para agradar seu público. Mas Meadow havia aceitado jogar, porque ainda possuía coisas pelas quais valia a pena lutar e sofrer, e então, aceitou entrar no personagem de menina inocente, a vitoriosa misericordiosa, um produto da Capital. Mas decidiu escrever seu próprio enredo após um tempo, e foi quando a doce e ingênua campeã se apaixonou pelo mais jovem vitorioso, de forma secreta, arrancando suspiros da Capital com o romance juvenil.

Um ponto positivo de Meadow, na opinião de Hayden, era que ela sabia usar tão bem o personagem que lhe foi criado, que era capaz de brincar com as pessoas da Capital sem que elas mesmas percebessem. Mas aquilo a tornava perigosa, afinal, ela era a única que sabia para o que usava seu dom. O próprio benefício, era óbvio; mas o que ela considerava que a beneficiava ainda podia ser considerado um mistério, e haviam dois caminhos para seguir a partir dali. No primeiro, Meadow manipulava a Capital para silenciosamente lutar pelo que era certo. No segundo, ela os usava para alcançar uma posição de conforto.

━ Meadow! ━ a voz de Sylvia a chamou, interrompendo a conversa dos dois mentores, que se viraram de imediato para encontrar as crianças.

━ Sylvia ━ a mais velha cumprimentou, levantando-se da cadeira na cozinha para ir de encontro à ruiva na sala de estar, abraçando a garota apertado na tentativa de lhe passar segurança. ━ Tudo bem? Você está se sentindo bem?

━ Na medida do possível ━ a menina murmurou, e Meadow compreendeu. A não ser pelos carreiristas, nenhum tributo ficava muito bem antes de entrar na arena. Sylvia estava nervosa e assustada, mas ao menos, não apresentava qualquer sinal de doença.

De fato, os dias na Capital haviam lhe ajudado um pouco; a menina ganhou um pouco de peso ao ser bem alimentada pela primeira vez na vida, e definitivamente estava mais descansada do que quando Meadow a viu pela primeira vez na Colheita.

A mentora tirou alguns segundos para observar cada detalhe do rosto da mais jovem, desejando se lembrar para sempre do rosto adorável de seu primeiro tributo. Ela esperava que fosse o último; se as coisas fossem como Meadow desejava, não haveriam mais Jogos Vorazes, nunca mais, e nenhuma criança seria mandada para a arena. Com cuidado, analisou os cabelos ruivos de Sylvia, as sardas em seu rosto e o olhar amendoado, e abriu um sorriso pequeno.

━ Eu estou com medo, Meadow ━ a menina contou, insegura.

━ Eu sei. É normal ━ ela respondeu, sem poder dizer muitas coisas para ajudar. ━ Olha só, tenta não pensar muito nisso. Todos os outros vão estar tão assustados quanto você naquela arena. Você precisa tentar se acalmar, e correr o máximo que puder quando for liberada. A maior matança acontece nos primeiros minutos dos jogos, na Cornucópia. Você foge, está me entendendo?

Sylvia balançou a cabeça em concordância, sem saber o que dizer, e abraçou Meadow mais uma vez, temerosa. Meadow a apertou em seus braços, acariciando seus cabelos, e engoliu em seco para conter o nó em sua garganta.

━ Tente não se colocar em situações perigosas demais. Use a arena ao seu favor, descubra o que é ou não venenoso… Faça o seu jogo lá dentro, e eu prometo que vou fazer o meu aqui fora ━ garantiu Meadow. ━ Eu vou mover minhas peças, você vai ficar confortável. Não vai faltar comida e nem água. Posso tentar mandar alguma arma, caso você queira… Nós temos bons patrocinadores ━ continuou, e então suspirou. ━ Só… Só tente não fazer nada cruel demais, tudo bem? Eu sei que o propósito dos Jogos Vorazes é matar, mas… Não faça nada muito brutal. Se for matar alguém, tente fazer isso rápido, não prolongue o sofrimento de ninguém…

━ Eu não quero fazer ninguém sofrer. Eu só… Só quero viver, Meadow ━ disse Sylvia, balançando a cabeça negativamente, e limpou a garganta, lançando um olhar para Mervyn e Hayden, que conversavam a alguns poucos metros de distância. ━ Ele vai ficar comigo, você sabe, não sabe? Nós somos amigos e estamos nessa juntos. Você tem mais patrocinadores do que Hayden, o que não me admira, porque ele não é a pessoa mais simpática do mundo. Será que pode… Bom, pode mandar uma quantidade maior de comida, pra que eu possa dividir com Mervyn?

━ Sim. Sim, com certeza ━ a mentora respondeu, balançando a cabeça para cima e para baixo. ━ Isso não vai ser um problema. Eu vou mandar o suficiente.

━ Certo. Obrigada.

Não havia muita coisa para ser dita; o futuro era inevitável e nenhuma das duas sabia como seriam as coisas na arena, afinal, o design do local onde ocorria a competição era mantido como um segredo até o último minuto, quando os tributos entravam. A edição de Meadow havia sido uma arena desértica; talvez parecesse óbvio demais, mas ela não podia deixar de imaginar que, naquele ano, o principal problema dos tributos seria lidar com a neve e o frio.

Ninguém pôde conversar por muito tempo; não havia nada a ser dito. Meadow deu dois tapinhas nas costas de Sylvia, mandando-a se sentar com Hayden e Mervyn, e com a mente ainda presa à possibilidade de haver neve na arena, a mentora caminhou até a cozinha, onde Hayden havia abandonado o controle da TV mais cedo. Como quem não queria nada, ela se aproximou da pia, pegando a palha de aço que havia ali, e fez um buraco desleixado com os dedos, antes de abrir o controle remoto para roubar as pilhas. Ela colocou as baterias na palha de aço, repuxando-a novamente para as esconder, e então retornou à sala de estar, sentando-se ao lado de Mervyn, frente a frente com Sylvia e Hayden.

━ Cada tributo tem direito de levar um objeto pra arena, desde que não possa ser usado como arma ━ ela falou, estendendo a palha de aço para Sylvia, que aceitou. ━ Leve isso. Vai ser útil.

━ Você não acha mesmo que ela vai ter tempo de lavar a louça lá dentro ━ disse Hayden, curioso sobre o motivo de Meadow entregar aquilo à jovem. ━ Ou acha?

Meadow encarou o homem em silêncio, antes de revirar os olhos e voltar a atenção à Sylvia Hazel.

━ Tem pilhas aí dentro ━ contou, e Sylvia levantou as sobrancelhas de leve, assentindo ao compreender para que seria útil. ━ Você se lembra como usar.

━ Sim ━ disse Sylvia, voltando a atenção para Mervyn, que parecia confuso. ━ É pra fazer fogo.

━ Ah. Boa ideia, deve ser mais rápido do que com pedras ou gravetos ━ o garoto comentou, e todos assentiram, enquanto Hayden encarou Meadow com os olhos semicerrados.

━ Isso não é trapaça ou algo do tipo?

━ Bom, a não ser que Sylvia faça alguém engolir uma bateria, eu não acho que isso se configure como arma ━ retrucou Meadow, cruzando os braços. ━ É só uma vantagem pequena. Não é nada comparado aos tributos do 1, que passaram a vida toda treinando.

Hayden assentiu em concordância.

━ Tire as pilhas ━ ele mandou, e Meadow e Mervyn o encararam indignados. ━ Tire as pilhas, eu estou dizendo. Se as câmeras pegarem isso, não vai ser só Sylvia que terá problemas, está ouvindo, Meadow? Fique com a palha de aço ━ Hayden aconselhou, e Sylvia estreitou os olhos, seguindo seu raciocínio. ━ Quando Meadow mandar o seu primeiro patrocínio, destrua o aerodeslizador e pegue a bateria dele. É menos arriscado, e com certeza vai causar uma comoção maior no público.

A ruiva assentiu, imediatamente tirando as pilhas de dentro da palha de aço e as entregando para Meadow, que observou os objetos nas mãos, antes de soltar as pilhas sobre a mesa, cruzando os braços.

━ Boa ideia ━ ela elogiou, e Hayden abriu um sorriso ladino.

━ Você não achou que era a única pessoa inteligente daqui, achou?

Meadow suspirou, dando de ombros.

━ Achei. Mas que bom que eu estava errada.

Os pacificadores entraram no apartamento antes que a conversa pudesse continuar, e com o coração apertado, Meadow se levantou de imediato, assim como Hayden e as crianças. Ela abraçou Sylvia, murmurando desejos de boa-sorte em seus ouvidos, e quando a soltou, aguardou que Hayden terminasse sua rápida conversa com Mervyn, antes de abraçar o garoto também, enquanto o outro mentor se colocava a falar com a menina.

━ Cuidem um do outro ━ ela pediu, abraçada a Mervyn, e passou uma das mãos pelos cabelos do rapaz. ━ O que você está levando pra arena?

Mervyn assentiu, antes de puxar um pedaço de pano roxo cintilante de um dos bolsos da calça.

━ Não é nada demais. É só pra me lembrar de casa ━ ele disse, e a mentora assentiu.

━ Boa sorte, Mervyn ━ desejou, sabendo que não poderia prolongar mais a despedida.

Sylvia se aproximou de Mervyn, passando um dos braços por seus ombros, e os dois se aproximaram dos pacificadores. O rapaz olhou para Meadow uma última vez.

━ Boa sorte, Meadow.

Quando viu as crianças deixando o apartamento na companhia dos pacificadores, Meadow sentiu suas pernas perdendo a força e se sentou no sofá, engolindo em seco enquanto encarava a porta pela qual os tributos desapareceram. Em meio ao silêncio, ela ouviu um grito desesperado, e olhou para Hayden com os olhos arregalados. Ele deu de ombros, sentando-se na poltrona oposta a de Meadow.

━ É a Pearl ━ ele explicou. ━ Ela é detestável, mas também não é exatamente fácil pra ela perder dois tributos todo ano. No caso dela, é mais por uma questão de ego. Ela gosta de estar em evidência.

Meadow assentiu, desejando se afogar no silêncio, e fixou o olhar em um ponto vazio do apartamento, tentando esvaziar a mente. Ela não sabia dizer quantos minutos se passaram, mas após algum tempo quieta, ela ouviu a movimentação de Hayden ao seu lado e seu nome sendo chamado, e soube que precisavam sair do apartamento e seguir para o centro de controle dos jogos, de onde assistiriam a competição enquanto seus tributos durassem.

Ela seguiu Hayden como um fantasma, e enquanto o carro que os levou até o local chacoalhava, ela parecia não perceber, nervosa demais para sentir qualquer outra coisa. Ela não desceu quando o carro parou, e o homem precisou a puxar de volta para a realidade e para fora do automóvel. Após cambalear nos primeiros passos, mantendo-se de pé por ter um dos braços sendo segurado fortemente pelo mentor, os dois adentraram o grande e luxuoso edifício, vendo que os outros mentores também chegavam no local, posicionando-se cada um em seu local designado.

A sala dos mentores era ampla, bem iluminada e refrigerada. Haviam grandes telões em todas as paredes, de forma que os jogos pudessem ser vistos por todos os presentes, e pequenos cubículos com computadores separados por distritos, distribuídos em três fileiras com quatro pequenos alojamentos. Meadow dividiria um cubículo com Hayden, e os dois estariam posicionados atrás de Mags e Finnick, do Distrito 4, seguindo pela ordem de distribuição. Pacificadores vigiavam as portas, e havia uma grande geladeira e mesa de petiscos em cada extremidade da sala.

Diante de toda a tecnologia que precisaria administrar, Meadow uniu as sobrancelhas, tentando evitar o ímpeto de arregalar os olhos, para que ninguém percebesse sua confusão. Hayden riu pelo nariz, guiando-a até sua cadeira, e apontou para os computadores com o dedo indicador.

━ É mais fácil do que parece. Só precisamos apertar alguns botões, definir quantidades, coisas básicas. Você vai se sair bem ━ ele explicou, de forma corrida, e ela balançou a cabeça para cima e para baixo, tentando acompanhar. ━ E nessa tela de cima, o tempo todo, vai estar o seu tributo. Eles administram pra que a gente não perca eles de vista. Você vai ser Sylvia o tempo todo, eu vou ver Mervyn, Finnick vai ver Annie, e por aí vai.

━ Certo. Acho que entendi.

Hayden levantou o polegar para a garota, antes de lhe dar dois tapinhas no ombro e se distanciar para conversar com Haymitch, que não parecia estar tão bêbado quanto normalmente estava. Ela percorreu os olhos pela sala parecendo uma gazela assustada, até encontrar o rosto gentil de Mags, que sorriu em sua direção, e a fez sentir um pouco melhor. Meadow viu todos conversando, mas não ousou se levantar, porque temia que suas pernas fossem deixar a desejar. Então, permaneceu ali sentada, lutando contra os próprios pensamentos pessimistas, e respirou fundo.

━ Ei, olha o que eles tinham na mesa de petiscos ━ Finnick chamou sua atenção, aproximando-se com um cubo branco em mãos. ━ Torrões de açúcar! Eles costumam dar isso pros cavalos, mas acho que usam pra adoçar o café, também. Você quer um?

Com o cenho franzido, ela rejeitou a oferta.

━ Você não sabe o que está perdendo ━ ele falou, jogando o torrão de açúcar no ar e o capturando com a boca.

━ Acho que você deveria ficar longe do açúcar, Finnick ━ ela opinou. ━ Você já é agitado o suficiente.

━ Ah, não, eu jamais poderia ficar longe de você, cubo de açúcar ━ o rapaz retrucou, de forma sarcástica, mastigando o torrão. Meadow fez uma careta. ━ Pelo menos finja confiança. Não dê esse gostinho aos outros, todos querem ver você falhar.

━ Como sempre ━ ela resmungou, encarando os telões nas paredes, e mordeu o interior das bochechas. ━ Parece que o tempo não passa.

━ É. Os jogos podem durar no máximo duas semanas, mas parece uma eternidade. Principalmente pra quem aparece no telão ━ Finnick apontou, seguindo o olhar de Meadow, e se sentou na cadeira designada a Hayden. Foi quando Meadow percebeu que uma de suas mãos estava cheia de torrões de açúcar. ━ Eles devem estar passando pela última checagem agora, eu acho. Os jogos devem começar em menos de vinte  minutos se eu estiver certo.

Finnick se forçava a parecer confiante naquele momento, porque sabia que estava sendo observado de perto por todos. Mas Meadow sabia que ele estava nervoso, porque percebeu que ele batucava os pés incansavelmente no chão. Ela não disse nada, embora não gostasse tanto da versão de si que o vitorioso precisava apresentar na Capital; ele costumava ser bem mais acolhedor quando não haviam figuras de autoridade por perto.

Depois da madrugada daquele dia, ela não conseguia olhar diretamente nos olhos de Finnick sem que suas bochechas adquirissem tons de vermelho. Ele percebeu, porque sempre percebia, mas não disse nada. Após comer cada um de seus torrões de açúcar, Odair estendeu a mão limpa para segurar a da garota, e apertou três vezes.

Era sua forma de mostrar que ainda estava ali. Para que ela se lembrasse que aquela figura confiante e exibida era apenas uma fachada, e que a versão que ela tinha conhecimento ainda estava ali, meramente disfarçada pelo vitorioso. Ela comprimiu os lábios e assentiu com a cabeça, e ele soube que ela compreendia seu recado inaudível.

━ É melhor ir pro seu lugar, Odair ━ a voz de Hayden os interrompeu após alguns minutos, e os jovens viram que todos seguiam para seus respectivos assentos. ━ Os jogos vão começar.

O medo transpareceu no rosto de Finnick por um breve momento, e o rapaz se levantou e se sentou no lugar que havia sido designado a ele, lançando um olhar assustado para Mags, que apoiou uma mão em seu ombro para tentar tranquilizá-lo. As luzes da sala logo se apagaram e apenas o telão e os computadores permaneceram brilhando, e Meadow mordeu o lábio inferior, sem ousar piscar.

Quando uma contagem regressiva surgiu na tela, ela viu Hayden se inclinar sobre a mesa e unir as sobrancelhas, unindo-se à contagem com a voz baixa.

━ Cinco, quatro, três…

━ Dois… ━ Meadow se juntou a ele, tentando controlar a respiração, e finalmente: ━ Um.

De início, os mentores não viram nada no telão, até que seus olhos começaram a se ajustar à escuridão e eles perceberam que já estavam vendo filmagens da arena, devido às silhuetas imóveis dos tributos que podiam ser vistas. Meadow olhou para Hayden, confusa.

━ Que horas são?

Ele balançou a cabeça negativamente, vidrado no telão, e respondeu:

━ Não importa. É noite na arena.

Aos poucos, a imagem se tornou melhor, devido a algum tipo de edição de vídeo executada por um dos produtores dos Jogos Vorazes. Assim como os mentores, os tributos na arena tentavam compreender o motivo da escuridão, assustados demais pela possibilidade da escuridão ter sido causada por acidente. Quando a primeira competidora, a garota do Distrito 5, teve a coragem de dar o primeiro passo, todos esperaram para ver se ela explodiria.

O barulho da explosão não veio, e então, todos se colocaram a correr, quase cegamente devido à escuridão, em direção à Cornucópia. Mas alguma coisa atrasava seus passos, e no início, Meadow precisou semicerrar os olhos para enxergar se o solo era terra úmida ou algo parecido com um pântano, até que seus olhos se arregalaram quando a garota finalmente constatou.

A arena estava coberta de neve.

veio aí o primeiro beijo DE VERDADE dos nossos queridos sugarfish!! aceito sugestões de nomes de ship, aliás. não existe uma junção bonita dos nomes meadow e finnick, eu acho 😭

o capítulo de hoje teve 7k de palavras. admito que eu não planejava que o beijo deles acontecesse nesse momento, mas enquanto eu escrevia a cena eu senti que o beijo ficaria tão lindo ali que coloquei!! foi um momento de surto. e também não corrigi o capítulo porque tava ansiosa pra postar, então perdoem qualquer errinho.

também quero agradecer e elogiar vocês, porque o último capítulo teve um aumento no número de comentários e eu fiquei muito feliz, porque eu amo mesmo ler e saber o que vocês estão sentindo <3 por favor continuem sou carente

enfim, espero que tenham gostado do capítulo, e vejo vocês no próximo!

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro