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08

O celular ao meu lado despertava sem parar, cobri o rosto, esfreguei levemente meus dedos sobre os olhos e logo depois passei as mãos sobre meus cabelos. Minha boca se abriu em um bocejo sonolento e virei-me para o lado, ficando de bruços sobre a cama; o pequeno relógio digital pontuava que já se passavam das nove e meia, fazendo-me suspirar frustrado.

Passei as mãos sobre o rosto novamente e com a outra tateei a pequena mesinha de descanso procurando meu celular, assim que o encontrei vi que ele possuía muitas mensagens, algumas de meu pai, amigos e cinco de Elle, mas não havia nenhuma de Amelie.

Ignorei todas as notificações e afundei o rosto no travesseiro, grunhindo. Minha cabeça começava a se envolver em uma nuvem de pensamentos e minhas atitudes do dia anterior começaram a pesar minha consciência.

Alguns minutos se passaram até que ouvi alguns toques contra a porta do meu quarto e a voz de Brianna soar do lado de fora – ignorei completamente o seu chamado, permanecendo deitado.

— Hero, eu sei que você está acordado! – falou. — A Amelie está aqui, você pode fazer o favor de descer?

Quando ouvi o nome de Amelie, senti meu coração disparar imediatamente, levantei-me apressado da cama e gritei para Brie:

— Já estou descendo!

Segui em direção ao banheiro e andei apressadamente até a pia, lavando o rosto e escovando os dentes, após isso saí do quarto e caminhei em direção às escadas. Assim que meus pés alcançaram os degraus, ouvi a risada de Amy se misturar com a de Brie e imediatamente parei no meio da escada.


Sabia que se eu a visse agora não iria conseguir agir normalmente sem sentir culpa pelo o que fiz no dia anterior, então passei as mãos sobre os cabelos e, frustrado, recuei em direção ao meu quarto – mas não rápido o suficiente para que escapasse dos olhos de Amelie, que saiu da cozinha, indo em direção à sala.

— Hero? – ela me chamou.

Engoli o pequeno nó que se formou rapidamente em minha garganta e repreendi-me mentalmente, virando-me para ficar de frente à garota, que agora estava ao pé da escada.

— Amy. – disse. — O que você está fazendo aqui?

Suas sobrancelhas se ergueram levemente em surpresa pela minha pergunta e imediatamente seu rosto ganhou um tom avermelhado – respirei fundo, esperando uma resposta da sua parte.

— Ah, bom... Achei que Brie tinha avisado que eu estava aqui! – esclareceu. — Vim ajudar ela a...

— E por que ela diria que você estava aqui? – interrompi em nervosismo.

A boca de Amelie se abriu algumas vezes, mas nenhuma palavra escapou por seus lábios – virei-me em direção ao corredor, fechando os olhos e me repreendendo novamente pelo modo como estava agindo, pois ela não tinha culpa.

— Desculpa, eu não quis ser incoveniente. – disse.

— É, mas está sendo! – disparei.

Minhas palavras rasgaram a minha garganta sem que eu pudesse processar o modo como elas atingiriam a garota.

— Eu só queria saber como estava... Só isso. – disse baixo. — Mas não quero te incomodar mais. Até mais tarde!

— Tanto faz! – murmurei.

Dei um passo para fora da escada, seguindo apressado pelo corredor praticamente correndo até o meu quarto. Quando finalmente cheguei em frente à porta, abri-a e entrei no cômodo, encostando-a atrás de mim.

Joguei-me sobre o colchão, passando os dedos no cabelo e puxando os fios com força enquanto liberava uma série de palavrões e repreendia-me pelos meus atos. Ouvi a voz de Brie e Amy ao longe surgindo pela janela; levantei e segui até a mesma, ergui a mão até a cortina e a afastei.

As mãos de Brie se moviam no ar incessantemente enquanto Amy, que estava à sua frente, mantinha sua cabeça baixa balançando negativamente, e senti o coração em meu peito pesar ao pensar na possibilidade dela estar sabendo de tudo.

A cabeça de Amy se ergueu e, antes que eu pudesse me afastar, seus olhos encontraram os meus e ela lamentou, virando-se e caminhando para longe de Brie.

Puxei a cortina para cobrir a janela e voltei para a cama, deitando-me e cobrando o rosto com o travesseiro.

— Você é um estúpido, Hero! – resmunguei.

Peguei meu celular, que estava jogado entre os lençóis da cama, e busquei de forma rápida o número de Amelie na lista de contatos. Digitei apressado uma mensagem de desculpas, mas antes que eu pudesse enviar a porta do meu quarto se abriu bruscamente e Brie adentrou o quarto, furiosa.

— Qual é a merda do seu problema, Hero? – questionou de forma grosseira. — O que deu em você!?

Joguei o celular sobre a cama sem enviar a mensagem e dei alguns passos em direção à Brie, lamentando-me.

— Eu... Eu não sei... – confessei. — Eu não pensei direito, eu só falei, tá legal?

Os braços da minha irmã estavam cruzadas à frente do seu corpo e sua expressão de fúria não muda. Começo a caminhar pelo quarto de um lado para o outro em nervosismo.

— Você tem que contar para Amy o que fez! – exclamou. — Você não pode brincar com ela desse jeito! Foi você que foi atrás dela Hero, ela não veio até você!

— Eu sei, porra! – gritei. — Mas o que você quer que eu faça? Quer que eu vá lá e peça Amelie em casamento? Que eu segure a mão dela e saia por aí, para todo mundo sair comentando? É isso que você quer? – disparei.

— Eu quero que você comece a agir como um homem e não como uma criança! – disparou. — Por que não pensou sobre essas coisas antes de ir atrás dela e dizer que a amava, dizer tudo aquilo? Você não acha que é um pouco tarde agora?

Sentei-me em minha cama e passei as mãos por meus braços, lamentando toda essa situação.

— Eu não pensei em nada, eu só... Eu só fiquei tão feliz por finalmente termos confessado o que sentíamos, que eu não pensei em absolutamente nada. – confessei. — Não pensei nos problemas que isso envolveria.

Suspirei irritado e triste por toda a situação e pela forma como agi com Amelie, pois sabia que minha atitude há pouco a deixou bastante chateada e confusa.

Senti Brie se aproximar e se sentar ao meu lado, seu braço circulou em minha cintura e ela repousou a cabeça em meu ombro.

— Você rompeu com Elle e foi até Amelie, você disse que a amava há muito tempo e você sabe, Hero, é recíproco. – disse. — Não há como voltar atrás, já está feito! Agora você tem que terminar o que começou, e eu espero que você termine ao lado de Amelie. – confessou.

Minha cabeça balançou positivamente, mas nenhuma palavra escapou dos meus lábios – eu sabia que era isso que eu deveria fazer: manter o silêncio por hora e consertar tudo, sem deixar mal entendidos e mentiras.

Apenas, consertar tudo.

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