Abigail
Prythian; Terras Mortais
Eu estava deitada na escuridão do meu quarto, somente observando o teto, pensando no que diria a Azriel. Porque, no fim das contas, Eris tinha razão. Eu precisava contar tudo para Az, e logo. Antes que ele acabasse descobrindo. Seria pior se ele descobrisse por qualquer outra pessoa que não por mim.
Eu não me assustei quando Azriel surgiu da escuridão e se sentou na cama ao meu lado. Somente rolei para o lado, o olhando nos olhos, a luz da lua que entrava pela janela iluminando seu rosto.
Por algum motivo, Az parecia tenso. E aquilo me deixou preocupada. O que havia acontecido para ser capaz de deixar Azriel daquele jeito? Será que ele tinha descoberto algo? Não; se ele tivesse, não estaria tenso, mas sim puto da vida.
-Eu encontrei sua irmã. - ele revelou e eu me sentei, o cobertor deslizando e caindo pro lado, sentindo meu coração disparar com aquela notícia. Eu sabia que Az podia escutar, e sabia que ele podia sentir meu ódio, meu desespero, mas eu não me importava. Porque aquela notícia mudava muita, muita coisa. -Ela se escondeu quando soube o que você fez com aquele cara.
Isso soava como Elizabeth. Ela sempre foi uma covarde otária mesmo. Fazia eu ter um gostinho de vitória saber que ela estava com medo de mim. E ela deveria ter mesmo, porque quando a encontrasse, a surra dela era garantida. Não mataria minha irmã, mas a deixaria bem ferida pelos anos de humilhação, por ela ter casado com Peter apesar de tudo o que ele fez comigo. Elizabeth merecia sofrer tanto quanto Peter merecia ser torturado. E eu, honestamente, não dou a miníma de isso me torna uma pessoa ruim. Então serei ruim.
-Onde?- eu perguntei, minha garganta oscilando. Sentia que talvez a ansiedade fosse me consumir naquele momento.
-Não tão longe daqui, em uma casa escondida no meio da floresta.- disse Azriel e eu somente consegui o encarar. -Eu não consegui encontrar o marido dela.- completou ele, se recusando a dizer o nome do infeliz. -Ela tem uma filha que deve ter uns cinco anos.
-Nós vamos até lá. Podemos ir até lá?
-Claro, Aisha. Você nem precisa me perguntar isso.- ele disse suavemente, e eu sentia como se um buraco tivesse sido aberto e eu estivesse caindo e caindo e caindo.
Voltei a me deitar e Azriel se deitou ao meu lado. E pela primeira vez, eu me estiquei e deitei a cabeça em seu peito, passando o braço ao redor de sua cintura. Eu podia notar que ele tinha ficado surpreso, mas Az me abraçou de volta.
E, naquele momento, eu soube que deveria ser honesta com Azriel sobre o que eu sentia. Eu estava cansada de guardar as coisas pra mim. De esconder tudo, de deixar que as coisas me consumissem. Sim, eu tinha que contar a Az sobre Luna, e faria isso assim que aquele dia maldito acabasse, mas também tinha que dizer a ele a verdade sobre o que eu sentia por ele.
-Eu te amo, Azriel. - as palavras saltaram da minha boca e agradeci por não poder ver seu rosto. Tinha medo do que encontraria ali, ainda mais depois que Az praticamente parou de respirar. -E eu não preciso que você diga isso de volta, mas quero que saiba que eu te amo. E tem muitas coisas sobre mim que você não sabe, que vou te contar, mas agora, eu só quero que saiba disso.
Az não disse nada, mas me puxou para seu colo e começou a me beijar. E eu não precisava que Azriel dissesse algo, porque estar ali com ele bastava pra mim. Azriel bastava.
Quando acordamos na manhã seguinte, eu estava tensa. Tensa porque sabia que aquele dia não seria fácil. Que tudo o que aconteceria seria um monte de merda.
Az se aproximou de mim depois que terminamos de nos trocar e colocou a mão na minha bochecha.
-Não deixe que isso te abale.- ele disse e eu assenti.
-Eu só quero esfregar a cara da Elizabeth nas pedras.- eu resmunguei e Az deu um sorrisinho.
-Então vamos.
Azriel estendeu a mão para mim e eu aceitei. No segundo seguinte, estavamos atrás de árvores na frente de uma casinha escondida no meio da floresta. Fumaça saia pela chaminé, um indicativo que a casa não estava vazia.
Tirei Assassina da Escuridão da bainha, segurando com força o cabo gelado da lâmina em minhas mãos. Azriel também pegou Reveladora da Verdade, e eu não podia deixar de estremecer toda vez que ele assumia aquela pose assassina.
-Ela está lá dentro. - disse Azriel, provável podia escutar o coração de Elizabeth bater. -E não está sozinha.
-Vou até lá.
Azriel não se moveu enquanto eu caminhava até a porta de entrada. Fechei o punho e esmurrei a madeira com força. Não demorou muito até que a porta fosse aberta.
Eu estava esperando por Elizabeth, a raiva me dominando, meus olhos em chamas. Mas quem me recebeu fez uma parte daquela raiva se dissipar.
Az tinha me avisado que Elizabeth tinha tido uma filha, mas eu não esperava que ela fosse tão... Fofa. Jovem. Inocente.
Eu sequer sabia o nome dela, mas aquela criança me olhou com os olhos castanhos grandes tão parecidos com os meus, me olhou e me olhou.
-Quem é você?- ela me perguntou, a vozinha tão fofa.
-Aisha.- eu disse forçando um sorriso. -E você?
-Abigail.- ela disse mexendo na trança do cabelo. -Você que é a minha tia que está tentando matar meu pai?
Quase desmaiei.
-Ele não está aqui.- ela continuou. -Mamãe disse que ele está atrás de você. Não deixe que ele te ache, ele não é um bom homem.
Que tipo de coisas essa criança de cinco anos tinha sofrido para que estivesse falando assim do próprio pai? Meu coração começou a bater acelerado no peito.
-Ele me machuca.- ela disse baixinho. -E mamãe finge que não vê.
Já chega. Isso é o suficiente. Dei um passo para frente, mas senti a mão de Az no meu ombro. Vi Abigail arregalar os olhos, mas ela sequer se mexeu. Fiquei com medo que ela começasse a gritar.
-Fique calma.- disse Az no meu ouvido.
-Tudo bem, Abigail, ele não vai te machucar. - eu disse e ela assentiu.
-Eu sei. Eu o vi ontem. - ela disse e dessa vez quem quase desmaiou foi Az.
-Porque você não vai buscar suas coisas? Eu vou te levar pra um lugar muito muito melhor, o que acha?- eu disse e ela deu um sorriso, correndo para dentro da casa e subindo as escadas. Ótimo. Era melhor que ela não visse o que eu ia fazer. -Onde?
-Cozinha.- disse Az.
Caminhei até lá, a raiva me inundando. Elizabeth estava de costas, cortando legumes. Puxei Assassina da Escuridão, levantei a perna e dei um chute nas costas dela. Elizabeth gritou quando atingiu o armário com força e caiu no chão.
Ela me olhou com horror e deu um grito quando viu Azriel. Elizabeth começou a tremer e a se arrastar pelo chão, para trás e para trás, até que suas costas batessem contra a parede.
-Oi, Lizzie, sentiu minha falta?- eu disse com um sorriso perverso. Elizabeth arregalou os olhos. -Onde ele está?- eu gritei empurrando a mesa, as penelas caindo no chão e tilintando. Elizabeth estremeceu.
-Ele não está aqui!- ela disse e eu a alcancei, puxando Elizabeth pelos cabelos loiros. Ela gritou de dor e gritou novamente quando bati o rosto dela contra a pedra da pia.
-Você é uma vaca!- eu rosnei, minha faca apontada para seu pescoço. Elizabeth começou a tremer olhando para lâmina em minhas mãos. -Eu deveria te rasgar toda, principalmente por deixar Peter machucar sua filha!
-O que queria que eu fizesse?!- ela gritou, lágrimas de raiva escorrendo pela bochecha, se misturando com o sangue. -Ele me machuca também!
-Você escolheu essa merda! Sabia que ele tinha me estuprado e escolheu essa merda!- eu gritei. -Você merece toda a merda que tem!
-No que você se tornou?- ela disse horrorizada. -Cadê aquela menina magrela inútil?
-Inútil? A única inútil aqui é você.- eu ri com escárnio. -Você não presta pra porra nenhuma.
-E você presta? Arranjou um imortal pra te sustentar, foi isso?- disse Elizabeth e pressionei com mais força a lâmina. Um filete de sangue escorreu, mas Elizabeth sorriu. -Assassina da Escuridão. Seu namorado sabe quem é você? Quem te criou? Sabe que está espionando a mando das Rainhas Mortais?
Senti meu mundo girar. Merda, merda, merda.
-Ah, eu sei. Depois do que você fez com John, Peter foi conferir, e descobriu que Luna te adotou. Te treinou. Que você se tornou parte da corte dela, uma filha. - ela disse e olhou para Azriel atrás de mim. -Ela está te usando!
Deu uma joelhada no estômago de Elizabeth e ela se curvou. Apertei um ponto de seu pescoço que a fez desmaiar, caindo dura no chão.
Quando me virei, eu estava tremendo. Porque o segredo que eu tinha planejado contar a Az...
Eris tinha razão; eu deveria ter contado antes.
Azriel me olhava com aquele olhar que indicava morte e eu sabia, deuses, eu sabia que havia o perdido pra sempre.
-Az...
-É verdade?- ele disse, a voz tão fria que me fez estremecer.
-Sim.- eu disse baixinho. -Mas, Az, não é toda a história! Eu ia te contar, eu juro que eu ia, mas...
-Mas o que, Aisha? - ele disse com a voz baixa e eu me encolhi. Preferia que ele tivesse gritado. -Você é uma maldita mentirosa. Eu deveria te matar agora por estar manipulando todos na minha Corte, por estar passando informações...
-Eu nunca passei nenhuma informação para ela, eu juro!- eu disse e Azriel me deu um olhar frio. Ele não acreditava em mim; porque acreditaria? -Vassa me conhecê e nunca falou nada porque ela sabe que eu nunca prejudicaria vocês, Azriel! Eu não faço mais parte daquela corte!
-Nem de nenhuma. Você é uma traidora. Pode nunca ter passado informações, mas ainda assim mentiu.- ele rosnou.
-Az...
-Pronto.- disse uma vozinha fina na porta da cozinha e nos viramos para ver Abigail. Ela olhou para a mãe caída ao meu lado, depois pra mim. E simplesmente não deu a mínima.
Abigail foi até Azriel e segurou a mão dele, e Az se virou meio chocado, uma parte daquela raiva por mim se dissipando.
-Pra onde vamos?- ela perguntou nos olhando. Azriel me olhou com raiva, mas estendeu a mão pra mim. Ainda meio assustada, eu peguei a mão dele.
Azriel nos atravessou até a porta da minha casa, onde Ethan estava aos beijos com um cara que eu não conhecia. O cara deu um gritinho quando viu Azriel e saiu correndo, e Ethan olhou feio para nós antes de olhar intrigado para Abigail.
-Ethan, pode levar Abigail?- eu perguntei e meu irmão percebeu pelo meu olhar a merda que eu estava metida. Ele segurou Abigail e a levou para dentro. Me virei para Azriel, preparada para um discurso, mas ele me cortou.
-Eu não quero te ver nunca, nunca, mais. Se algo acontecer com minha família por sua causa, te mato. E não ligo se Eris vai causar uma guerra por isso, eu acabo com você.- ele rosnou e eu dei três passos para trás, meu coração batendo forte no peito.
Azriel me lançou um último olhar de ódio, o mais verdadeiro ódio, antes de atravessar e sumir dali. E então, eu chorei.
Fim da primeira parte
Bom dia, meu povo! Tudo bem com vocês? Espero que sim! (a sonsa)
Eu passei MUITO TEMPO escrevendo esse capítulo, pelo Caldeirão. Minha mãe veio me perguntar três vezes porque eu tava o dia inteiro no celular KKKKKK
Honestamente, não tenho muito o que dizer desse capítulo que não seja: deu merda
Em defesa da Aisha, ela ia contar. O problema é que enrolou demais risos
Agora a bicha sabe que está simplesmente f o d i d a
Enfim
Vejo vocês amanhã!
~Ana
Data: 01/03/21
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