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04| agora | lar doce lar

BOSTON, USA
METADE DO OUTONO

O cheiro de alvejante impregna minhas narinas, irritando sua pele, amargando minhas papilas gustativas. Sabe quando um cheiro fica associado a algum fato em sua mente? Como quando você sente cheiro de bolo de chocolate e lembra da sua avó. Ou como o aroma de um churrasco a faz salivar. Ou aquele perfume de uma pessoa que nunca saiu da sua mente e jamais parou de inquietar seu coração.

Era assim que me sentia com aquele misto de alvejante e medicamentos, minha mente não conseguia evitar em trazer lembranças da minha mãe, Eleonor, e seus últimos dias de vida.

Ninguém deveria passar seus últimos dias como ela passou, afastada da família, da sua casa, presa a uma cama hospitalar, apenas esperando a dor passar. E para no final deixar que o maldito câncer a consumisse, como uma folha jogada na fogueira.

Com meus braços repousados na confortável cadeira, observo a figura do homem magro, cabelos grisalhos, pálido e com olheiras amareladas. Por seu braço passava um fino cano que injetava soro e outros medicamentos em sua corrente sanguínea, e em seu peito uma fita colada a uma máquina que fazia um barulho repetitivo, igual ao do seu coração.

Ele parecia confortável, como se tivesse em um sono profundo. Michael Clarke era tudo para mim, um pai fantástico, amigo para qualquer hora, desde que tinha saído de Boston, passávamos horas no telefone conversando sobre nada, sobre tudo, ou simplesmente ele me ligava para perguntar alguma receita em especial.

Felizmente quando cheguei ele estava acordado, falante, elogiando as jovens enfermeiras. Foi terrível quando Isobel me ligou e despejou a notícia que nosso pai tinha sofrido um enfarto, o chão sumiu sob meus pés. E antes que pudesse me recuperar o avião já estava aterrissando em solo americano.

Finos dedos afagam meu ombro, instintivamente reclino a cabeça encontrando uma figura feminina de pele clara e sardenta, cabeleira ruiva presa em um rabo, olhos castanhos e sorriso familiar.

Definitivamente ela tinha o sorriso do papai.

— Finalmente ele dormiu — ela observa com os olhos no homem repousando sobre a cama alta.

— Dormiu — murmuro em um sussurro — Tem certeza que não quer que eu fique? — insisto em uma decisão que havíamos discutido a mais ou menos duas horas atrás.

Izzie maneia negativamente a cabeça. Enquanto apoio minhas mãos no apoio da cadeira, impulsionando meu corpo a empertigar meus joelhos. Em passos calculados e delicados caminhamos em direção a porta.

— Eu fico — Isobel insiste — Você deve estar cansada, ainda tem as chaves de casa? — questiona curiosa.

Maneio positivamente a cabeça. Felizmente ou não, carregava mais chaves do que deveria, de casas que não eram mais minha. Uma chave em especial deveria ter sido jogada fora, mas ainda não o tinha feito, como uma âncora para o passado.

— Tenho — minhas palavras confirmam meu gesto.

Seus ruivos cenhos dançam no ar, eu estreito os meus confusos. Seus olhos castanhos reviram na orbe em direção a uma fileira de cinco cadeiras posicionas estrategicamente no corredor. Meu olhar acompanha sua insinuação, esbarrando com a figura do homem alto, cabelos castanhos claros penteados para trás, pele bronzeada e aroma amadeirado, que estava sentado com seu calcanhar apoiado em seu joelho o olhar atento na tela reluzente no aparelho em sua mão.

Um homem que conhecia bem e com um aroma que já me era familiar. A pouco mais de dois anos, Tobias Pullman, tinha cruzado meu caminho, me feito uma proposta irrecusável e mudado minha vida.

— Ele não arredou o pé daqui — comenta a ruiva diante de mim, com os olhos fixados no homem sentado a poucos metros de distância de nós — Desde que você chegou ele está a sua espera.

Meus pulmões inflam, enquanto minhas narinas produzem um suspiro inapropriado. Tobias era uma grande pessoa, um ótimo amigo, mas acima de tudo era algo a mais, alguém em minha vida, alguém que queria tomar um posto que ainda não estava vago, a de meu marido.

Avery

Trago a espessa saliva que se forma em minha boca com a recordação daquela figura. Ainda doía. Ainda pensava nele no silêncio da noite, principalmente quando suas avelãs invadiam meus sonhos e roubavam o sono do restante da noite. Não conseguia evitar. Não conseguia esquecer.

— Ele está apaixonado — em um tom casual, observa, a mulher cinco anos mais nova do que eu.

Encontro seu olhar.

— Izzie — meu tom é repreensivo.

Isobel espalma as mãos no ar em minha direção, enquanto a feição de inocência assume todo seu semblante.

— Quer enganar quem? — questiona estreitando os olhos em minha direção, como se algo passasse em sua mente — Ou quer continuar se enganando? — e ela dá voz a ideia que assume seus pensamentos.

Elevo os ombros, cerrando as pálpebras, comprimo os lábios, em uma completa sinceridade, de quem não sabia o que responder.

— Parece que eu já vi essa história — suas palavras são controladas e precisas a um momento do meu passado.

— Não vamos por esse caminho Isobel — tento deter seus futuros questionamentos.

Seu olhar foge do meu, fitando para a extensão do corredor, seu corpo se empertiga, enquanto um sorriso gentil assume seus lábios. Sigo seu olhar, encontrando a figura imponente e alta de Tobias se aproximando em passos largos.

— Vamos? — questiona com um sorriso gentil, enquanto sustenta meu casaco de lá no seu antebraço.

Assinto.

— Vamos — murmuro.

Dando alguns passos em direção a ruiva ao meu lado, plantando um beijo acalorado em sua bochecha, e envolvendo meus braços em torno do seu pequeno corpo.

— Prometo voltar cedo — sussurro com os lábios se afastando de sua pele.

— Descanse.

Os dedos grandes e grossos de Tobias envolvem minha mão, enquanto caminhamos por entre os corredores. As portas automáticas no enorme hospital se abrem, permitindo que as rajadas de vento acolhessem nossos corpos. Gentilmente o homem ao meu lado abre o casaco bege, me ajudando a vesti-lo, enquanto sua mão se apressava em deter um táxi.

Um carro amarelo para no meio fio rapidamente, nossos corpos invadem o espaço acalorado no banco de trás do automóvel dividido por um acrílico, enquanto no volante um homem magrelo, vestindo uma touca, pergunta o destino. Tobias é rápido em mencionar o hotel em que estava hospedado, mesmo sabendo que nosso destino final não era o mesmo.

— Tem certeza de que não quer ficar no hotel comigo? — seus dedos envolvem a mão repousada no meu colo.

Meu olhar caminha em sua direção, meus lábios se curvam em um agradecimento velado. Maneio a cabeça negativamente.

— Tenho — murmuro — Inclusive a Isobel já levou minhas malas para casa — recordo a gentil acomodação.

É a vez dos seus lábios se curvarem, aquecendo algo em meu interior, enquanto sua cabeça gira o suficiente para plantar seus lábios em minhas madeixas, me passando uma sensação de segurança única.

— Então eu fico no hotel e o motorista a leva para casa — decreta vencido.

Agradeço. Seus dedos envolvem os meus com força, enquanto minha cabeça se apoia no encosto do banco logo atrás, girando o suficiente para meus olhos observarem a cidade que passavam como um filme ao nosso redor.

Já tinha feito aquele trajeto algumas vezes. Algumas de carro, mas as vezes mais especiais foram na garupa de uma moto, da Dyna. Aperto as pálpebras com força sentindo que emoções inapropriadas estavam prestes a transbordar em meu interior.

Instintivamente comprimo o membro entre meus dedos.

— Está bem? — aquele chamado afasta meu passado.

Me fazendo perceber que estava segurando o ar por tempo demais. Sopro o oxigênio por entre meus lábios.

— Apenas cansada — minto — E pensando em meu pai — continuo mentindo.

Gentilmente Tobias ergue minha mão, a levando até seus lábios.

Tobias era tudo o que eu precisava em um momento que estava prestes a perder tudo. Um homem gentil, galanteador – mas nada abusado -, discreto, ótimo ouvinte, um grande amigo, meu chefe – ele era dono do restaurante em que trabalhava -, o cara que me ajudava crescer na vida a em minha carreira. Além de que ele não representava um risco ao meu coração.

Ele simplesmente tinha me acolhido em sua vida, me dado uma nova vida, era confortável tê-lo em minha vida, era seguro, sabia onde estava pisando, o que esperar, sem mencionar que queríamos a mesma coisa: trabalhar e reconhecimento.

O táxi deixa Tobias no caminho, enquanto eu continuo a rota até o meu destino final: a minha casa.

O caminho era familiar, inquietava meu interior, as casas de cores semelhantes passavam como um flash através do vidro um pouco embaçado da janela da porta traseira. Tudo parecia igual, mas tão diferente. Ao mesmo tempo que estava ansiosa para chegar, um friozinho, de como se fosse visitar alguém perdido no tempo assombrava meu interior.

Suavemente os pneus deslizam contra o asfalto, virando a última esquina. Uma fileira de casas com estrutura semelhantes passa diante dos meus olhos, finalmente o motorista diminui a aceleração do veículo, travando as rodas diante da casa branca, com revestimento de madeira, dois andares e uma porta vermelha.

Entrego duas notas ao motorista através da janela no acrílico. Abrindo a porta que me detinha dentro do automóvel, toco a calçada de pedra, em direção a trilha de tijolos até a porta. Habilmente meus dedos enfiam a chave na maçaneta, permitindo que minhas narinas fossem impregnadas por um cheiro característico: cheiro de lar.

Meus olhos vagam pelo ambiente. Encontrando o mesmo sofá, televisão, revestimento de madeira no chão, apenas uma confortável poltrona era um elemento novo. Suavemente a ponta dos meus dedos empurram a leve porta e o seco baque reverbera pelo silencioso ambiente iluminado por apenas uma luz.

Caminho até o centro da sala, acendo a luz da cozinha, que é a mesma, com armários brancos, uma ilha com tampo de madeira no meio, até o fogão era o mesmo.

E com um sopro, sinto cada fibra dos meus músculos relaxarem. Meus pés sobem os degraus encerados de madeira. No topo me deparo com um corredor, com quatro portas, três de quartos e uma do banheiro que era dividido por Isobel e mim na infância e adolescência, sempre brigávamos porque uma passava mais tempo que a outra trancada lá dentro.

Em passadas largas, alcanço a segunda porta, envolvo a maçaneta com os dedos e revelo um pedaço do meu passado intacto: meu quarto.

A mesma cama de solteira, as mesmas cortinas cinza, o mesmo carpete em formato de flor. A escrivaninha intacta encostada na parede, com um painel de fotos da minha época de escola.

Sempre insistia para que papai guardasse aquelas coisas, mas ele nunca o fez. Dizia: é seu espaço Joaninha.

A colcha cor de rosa, era um complemento para a cama branca.

— Lar doce lar — murmuro para mim mesma.

Exausta, não ignoro minha bolsa de couro repousada em minha cama. E em uma sucessão de atos, agarro uma camiseta de manga comprida, uma calça de pijama listrada com punho na barra, roupas intimas limpas e caminho em direção a próxima porta ao lado da minha.

Por longos minutos, apenas me permito sentir as vaporizadas gotas de água acolherem meu cansado corpo. Não dedico muito tempo em secar meu corpo com a toalha de algodão e trajar a roupa. Apenas encarando mais do que gostaria meu reflexo no espelho, enquanto o barulhento secador fazia o trabalho de evaporar a água das minhas madeixas.

Apoio o secador sobre a bancada, o desligando da tomada, começo a apreciar o silêncio, que prontamente é quebrado por um barulho estranho, que meus ouvidos demoram a captar. Passo pelo batente da porta do banheiro, me permitindo captar o som de bater na madeira, as batidas aumentavam, até cessarem. Um inapropriado calafrio percorre meu corpo, enquanto minha nuca queima de medo.

E o estridente tocar da campanha toma o ambiente. Paralisando meus pés que sabiam que deveriam estar em movimento. Trago o nó em minha garganta, que resfolega machucando minhas cordas vocais.

Receosos meus pés caminham, enquanto a campanha cessa, e as batidas recomeçam, faço questão de dar um passo por vez nos degraus que ligavam os andares da residência.

Mesmo parecendo que havia levado uma eternidade, antes do que gostaria meus dedos estão envolvendo a maçaneta reta. Meus tímpanos não estranham a campanha que toca uma vez mais, antes do profundo silêncio tomar conta do ambiente.

Minha mão livre gira a chave. Enquanto sem pressa meus dedos abaixam a maçaneta e colocam as dobradiças a trabalhar, revelando uma figura esquecida no tempo. Me tragando para o passado e transbordando em meu interior tudo o que estava tentando conter.

Meus pulmões decidem parar assim que meus olhos encontram a figura do homem de cabelos castanhos, com a mão apoiada no batente da porta e a cabeça inclinada para frente, não precisava ver seus olhos para saber a cor. Eu sabia. Eram cor de avelã.

Meu peito dói, como se tivesse levado um golpe. Minha traqueia se fecha. Meu coração galopa. A ponta do meu nariz queima, arde, enquanto minhas pálpebras secas tentam conter a água. E tudo o que eu queria evitar nos dias que estivesse naquela cidade estava ali, em pé, parado diante dos meus olhos.

Sua cabeça se ergue, suas avelãs encontram meus olhos. O tempo para.

Quero dizer: olá. Mas não o faço.

Quero manda-lo embora. Mas também não faço.

Quero pular em seus braços e tragar todo o aroma de seu pescoço que pudesse. Mas não me permito.

Apenas fico parada. Ele parecia o mesmo, a altura era a mesma, a cor dos olhos e dos cabelos eram as mesmas. Mas ele parecia mais velho, parecia que tinha se passado uma vida inteira desde a manhã em que ele se despediu de mim pela última vez, em nossa cama.

Seus cabelos não eram mais desgrenhados, estavam penteados para o lado, quase para trás. Sua barba era mais volumosa. E em torno dos seus olhos tinha mais marcas do que podia me recordar.

— Lennon — é ele quem quebra o silêncio, seus lábios tremulam, mas não sorriem. Suas narinas fungam, mas não escapa uma lágrima dos seus olhos avermelhados.

Meus lábios cospem o ar, como alguém que estivesse se afogado.

— Avery — sussurro.

Sem a certeza de que ele tenha ouvido. Seus globos oculares se mexem confusos dentro da orbe, vão para cima, para baixo, para os lados, não se fixam em nenhum lugar. Suas pálpebras se abrem e fecham com uma lentidão, como se estivesse sonolento.

Ele diminuiu a distância entre nossos corpos, apenas com uma passada larga e firme. Seus lábios continuam entreabertos – como se sugasse o ar - , mas seus olhos continuavam confusos. Um forte odor de bebida invade minhas narinas.

— Você está bêbado — dou voz a aquela observação.

Que parece ser ignorada pela pessoa diante de mim.

— Você voltou — sua língua resvala em algumas letras.

Mas a ponta do seu dedo indicador é preciso em desenhar uma linha na curvatura do meu nariz, até a ponta, fazendo todo meu corpo se estremecer, obrigando meus dedos envolverem com força a maçaneta, como se um objeto daquele pudesse sustentar meu corpo e joelhos trêmulos.

Seus lábios esboçam um sorriso, não era o mesmo de antes, não era aquele sorriso fácil e cativante, era triste. Ele estava triste. Aquela constatação obriga minhas pálpebras abrirem e fecharem mais vezes do que deveriam, uma tarefa árdua para conter o ardor e as lágrimas que ameaçavam serem produzidas.

— Por que? — preguiçosamente seus lábios expelem aquela pergunta.

Por que?

A única pergunta que eu não queria responder. A pergunta que estava evitando nos últimos dois anos. Lembranças de um passado que deveriam continuar lá, no passado. Não queria remexer em uma dor que não existia mais em meu interior, que me tirava as noites de sono ou me faziam acordar soluçando no meio da noite.

— Você tem que ir embora — as palavras que saem por entre meus lábios não são aleatórias. Era o que eu queria, era o que eu precisava.

Seus olhos se estreitam em minha direção confusos. Os meus fogem sobre seu ombro, a procura de como ele tinha chegado ali, se sozinho, acompanhado ou alguém o havia trazido.

Mas nada. O acostamento estava vazio.

Droga.

— Você foi embora — aquelas palavras me obrigam a encara-lo novamente.

Suas avelãs eram negras, profundas, como um lago sem fundo. Um lago em que poderia me afogar facilmente.

Eu fui. Eu precisei ir.

Não respondo. Apenas penso. Ele me encara.

— Você não me deixou ir atrás de você — as palavras saem embargadas, enquanto seus lábios se comprimem — Por que?

Apenas o encaro.

Porque iria me fazer mudar de ideia.

— Você disse que não me amava — ele recorda o que havia escrito na carta mais cruel da minha vida, um suspiro escapa por entre seus lábios, enquanto suas pálpebras tentam conter a água que se acumulava.

Trago o ar com força, tentando secar as lágrimas que me ameaçavam. Aperto minhas pálpebras, sem saber o que fazer com aquele homem parado diante de mim.

— O que eu fiz de errado Lennon? — a frase oscila em suas cordas vocais — Onde eu errei?

Maneio negativamente a cabeça, apertando com força as pálpebras, quase torcendo para que tudo não passasse de um sonho, como as demais vezes nos últimos anos.

— Me responde — seus lábios se entreabrem o suficiente para sair o som.

Afasto minhas pálpebras. Ele ainda continua ali. Dou um passo para trás. Ele dá dois passos em minha direção. Mas seus pés parecem trançar, seu equilíbrio falta e antes que pudesse perceber seu braço estava rodeando meu pescoço e parte do seu peso sustentado em meus ombros.

Droga

E tudo o que eu não queria acontece. E quem eu não queria invadindo minha vida estava agora entre meus braços. Meu corpo não conseguia ignorar o calor do seus. Meus dedos ficam na lateral do seu corpo – talvez para segura-lo, talvez para senti-lo -, e mesmo tudo sendo tão errado, mesmo cada palpitar do meu miocárdio doendo, se pudesse escolher, jamais o soltaria.

— O que aconteceu com você? — questiono, temendo a resposta.

Sua cabeça gira milimetricamente, seu olhar se fixa ao meu.

— Você — seus lábios silabam a resposta.

Um nó se forma em minha garganta, o mesmo nó que se alojava em meu peito.

— Você precisa ir embora — insisto mais por mim mesma do que por ele.

Seu corpo se desvencilham do meu, seus pés cambaleantes fazem um trajeto até próximo a escada.

— Não — seu tom aumenta algumas oitavas — Preciso saber o porquê? — insiste.

Não me rendendo, mas sem opção, empurro a porta, e um baque seco da sua fechadura se encaixando ecoa pelo tenso ambiente.

— Alguém te ameaçou? — insiste — Contou alguma mentira — seu olhar avermelhado revela desespero — Eu nunca te trai — Avery volta a se aproximar, com as passadas mais firmes do que gostaria, suas mãos se encaixam embaixo do meu queixo, no espaço que minhas pálpebras se apertam para que meu interior não perdesse o controle — Me dá algum motivo — implora — Qualquer coisa.

— Vai fazer diferença? — uma fagulha diferente queima em meu interior.

— Eu preciso — aquelas palavras vêm acompanhada de lufadas de ar que acariciam minha pele.

— Eu deixei uma carta explicando tudo — balbucio.

— Eu não acredito nela — rebate, meus lábios tremulam, uma parte de mim, a que deveria estar morta, sente-se feliz por ele me conhecer tão bem — Aquelas palavras não são suas.

Abro minhas pálpebras, encaro sua figura pouco coerente por entre meus cílios. Minhas mãos agarram as suas – quero ficar o tocando, mas não devo – afasto suas mãos do meu rosto, tentando pensar com clareza.

— Você precisa ir embora — insisto.

Ele maneia negativamente a cabeça. Ele não deveria estar ali. Meu objetivo sempre foi claro, ser fria, machuca-lo, matar aquele sentimento, para que ele nunca mais me dirigisse o olhar. Mesmo sabendo que sua indiferença iria me matar. Mas ele estaria bem, estaria a salvo de mim e de todo o estrago que poderia fazer na sua vida.

— Quem costuma fugir é você — sem emoção, ele joga aquela acusação contra mim — Não eu.

Seu corpo pendia de um lado para o outro, tentando se equilibrar.

— Preciso saber — insiste.

Dou um passo para trás. Ele continua tentando se equilibrar. O ar me falta, como se estivesse presa em um caixa. Necessito escapar. Necessito me afastar.

— Vou fazer um café — decreto, passando por ele.

Agradeço quando não ouço seus passos atrás de mim. De maneira falha minha mão tremula sustenta a chaleira na boca da torneira. Agradeço o fato do fogão ser automático e não precisar lidar com o fogo.

Sinto algo quente escorrer pela minha bochecha, enquanto uma mão firme parecia comprimir meus pulmões. Ligeiro, meu indicador apaga qualquer vestígio da minha emoção. Agradeço o silêncio. Que é quebrado pelo apito estridente da chaleira, que pareceu fazer sua função mais rápido do que deveria, me dando apenas tempo para definir que tinha que amenizar sua bebedeira, chamar um táxi e enfia-lo dentro, antes que fosse tarde demais para mim.

Rapidamente misturo o pó solúvel com a água na caneca, com exatas duas colheres de açúcar.

Como ele gosta

Aquela informação percorre minha mente, me fazendo amaldiçoar o fato de não conseguir apagar algumas coisas da minha memória.

Sustentando a alça da caneca vermelha entre meus dedos, refaço meu caminho, não encontrando a figura masculina, apenas o vazio, como se tudo não tivesse passado de uma ilusão.

Cadê

Um desespero divide minhas emoções, enquanto uma parte anseia para que estivesse maluca e aquele homem fosse fruto da minha imaginação, outra parte faz meus olhos percorrerem por todos os cantos, necessitados por encontra-lo, para não perder aquele momento, mesmo que ele não lembrasse, ou que jamais voltasse a se repetir, parte de mim, uma parte ancorada no passado necessitava de mais algumas frações de segundos com tudo que deveria ter sido deixado para trás, com John Avery.

O espaço ao meu redor está vazio. Meus olhos esbaram na escada, mesmo não querendo, subo os degraus, enquanto tento não derramar o liquido preto sobre o piso.

O escuro corredor é iluminado por uma luz reflexiva através de duas portas, uma luz forte, a do banheiro que certamente tinha esquecido acessa. E uma luz fraca que vinha do meu quarto.

Não conto meus passos, nem se as passadas são curtas ou largas, apenas alcanço a pequena fresta até aquele cômodo. E meus olhos não se espantam quando encontram a figura do homem com camisa amassada, sentado na minha colcha cor de rosa, com seus dedos sustentando algo que chamava a atenção dos seus olhos.

Era uma foto.

— Você parecia feliz — ele sabia que eu estava ali, mesmo sem me encarar.

Me aproximo. Reconhecendo de longe uma fotografia que estava no mural em cima da escrivaninha. Ou deveria estar lá. Uma foto de um dos churrascos da família Clarke. Uma imagem de um casal sorridente, abraçados e felizes.

O baque suave da caneca sobre o criado mudo é audível no ambiente silencioso.

— Eu fiz você feliz? — questiona, vagando o olhar em minha direção.

Muito

— Por um tempo, sim — minto.

Seu pomo de adão dança em seu pescoço, enquanto sua mandíbula remexe com os lábios fechados, seu indicador dobrado corre em direção a sua face, contendo algo que parecia transbordar por suas pálpebras.

Queria abraçá-lo

Porém não o faço, permaneço em pé ao seu lado.

— Você me amou? — ele não me encara.

Eu o amo, ainda amo.

— Por um tempo, sim — minto, tragando o nó que se formava em minha traqueia e ardia a ponta do meu nariz.

Seus lábios se curvam melancólicos.

— Você é feliz? — seus olhos continuam repousados no passado.

Um pouco, o suficiente para sorrir durante os dias da semana.

— Muito — agradeço por seus olhos não estarem focados em mim.

Seu corpo curvado se empertiga. Seus olhos vermelhos vagueiam pelo ambiente, passam por mim como se não me notassem. Ele engole a saliva.

— Eu fui feliz aqui — murmura melancolicamente, seus lábios se curvam sorridentes — Lembra da nossa travessura aqui?

Aperto minhas pálpebras, não querendo lembrar, não devendo lembrar, do dia em que o arrastei para o meu quarto, no meio de uma festa em família e realizei um fetiche, fizemos sexo rápido, quente e cheio de roupas em minha cama. Eu o amei naquele dia mais do que deveria. Eu me apaixonei de novo por ele. Como acontecia todos os dias.

— Vagamente — minto — Faz muito tempo.

Suas avelãs repousam em mim. E o sorriso some dos seus lábios. Seu olhar triste é como uma faca no meu interior, enquanto em minha cabeça uma voz grita que eu fiz tudo errado. Pois quando eu queria preserva-lo, o machuquei. Quando era para ele ter me esquecido, ele continuava a lembrar e quando não era para ele estar ali, lá estava ele, ferido, magoado e sangrando.

— Eu tentei te encontrar em outras — aquela informação é como uma flecha no meu coração, mesmo sabendo e querendo que ele tivesse outra, não queria saber ou ver — Nenhuma se encaixou em mim como você — seus lábios tremulam melancólicos, soltando um suspiro — Estou tão cansado de te procurar — suas pálpebras se fecham e demoram a se abrir — De te esperar.

Seu corpo range as molas do colchão ao se chocar contra ele. Avery se acomoda em um canto da cama, com as pálpebras mais fechadas que abertas, deixa um espaço vazio ao meu lado.

— Parece que faz uma vida que você me deixou — balbucia.

Concordo.

Enquanto meus olhos analisam a figura do homem deitado de lado sobre a colcha cor de rosa. Ainda de sapatos, com uma ponta da camisa branca escapando da calça, sua mão alisa o lugar vazio ao seu lado.

— Fica comigo — balbucia, como se estivesse em um estado letárgico demais para diferenciar as realidades — Não me deixa — implora — Vamos recomeçar.

Inclino a cabeça para trás, piscando mais vezes do que deveria. Tento conter as lágrimas fujonas. Raspo meus dentes inferiores em meu lábio superior.

Não chora

Ordeno.

Droga

Contra todos os alertas da minha razão, repouso meu corpo ao seu lado, meu rosto fica de frente para o dele, posso sentir sua respiração, posso ouvi-la. Não consigo ignorar seu aroma cítrico e nem o cheiro de uísque.

Suas preguiçosas pálpebras se afastam. A palma da sua mão repousa no nosso meio, como um convite silencioso para que fizesse o mesmo.

— Amanhã acho que você não vai estar aqui — balbucia — Como todas as manhãs, você nunca está lá quando acordo — resmunga letárgico.

A ponta do seu dedo contorna abaixo dos meus olhos. Seus lábios se curvam.

— Mas hoje você parece tão real — seus dedos tocam meus lábios — Hoje você não parece o sonho habitual.

Sua palma repousa na minha frente, sua cabeça roça na fronha do travesseiro que nossas cabeças dividem. Sua testa roça da minha, assim como a ponta do seu nariz.

— Seu cheiro não mudou — observa com os olhos fechados.

Seu olhar alcança o meu através dos seus cílios negros.

— Você lembra o que me pediu no nosso primeiro beijo? — seus lábios recordam melancólicos.

Minto. Maneio negativamente a cabeça, sem conseguir esquecer do pedido: não parta o meu coração.

Seus lábios roçam no meu, engulo a saliva, como se estivesse prestes a provar uma comida de anos atrás. A fina pele dos meus lábios queima.

— Eu cumpri a promessa — recorda sorridente.

Um suspiro de exaustão dilata suas narinas. Seus lábios colam nos meus. Aperto minhas pálpebras com força, com dor, com saudades, enquanto gotas de água escorrem pela minha face.

E o vazio dos seus lábios queimam nos meus. Abro os olhos, encontro sua figura sonolenta, em um sono profundo.

— Meu idiota — murmuro, deixando as lágrimas rolarem — Eu me odeio por ainda amar você.

ESTÃO COMO EU? Arrasadas ?
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