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Capítulo 37 - Danilo

Minha sala é invadida pelos meus funcionários segurando balões e jogando confete para todos os lados. Eles entoam um "parabéns para você" todo desafinado e rodeiam minha mesa, me cercando de um jeito que eu não tenho como fugir. Afasto os papéis que eu estava lendo e desisto de ignorá-los. É impressionante o fato de todo ano eles fazerem a mesma coisa e até hoje eu não ter aprendido a trancar essa porta.

— Feliz aniversário, chefe! — Alexandra comemora, soprando confete na minha cara.

— E muitos anos de vida! — Marcinha completa ao colocar um pequeno bolo confeitado sobre minha mesa com duas velas douradas denunciando minha idade.

Trinta e um anos é bastante coisa, é quase a metade da vida da maioria das pessoas, considerando a expectativa de vida nesse país. Nunca fui muito de pensar em como seriam as coisas quando eu fosse velho, sempre vivi um dia de cada vez e isso resultou na minha fama de irresponsável. Agora eu consigo perceber que não planejar direito o futuro pode ser um problema, afinal a idade chega para todos e com ela responsabilidades ainda maiores.

Ano passado, no meio de uma comemoração como esta, havia menos funcionários da Eco Habitação na minha sala, meu avô não estava se aposentando e eu não fazia ideia de quem era Leila. Hoje há mais pessoas aqui que dependem de mim e do meu trabalho para que possam trabalhar também e pagar as próprias contas, eu estou concorrendo à presidência do Grupo e estou casado da forma mais real possível para mim, que nunca tinha cogitado isso nem de brincadeira. Tem coisa demais acontecendo e, apesar de toda bagunça que a minha vida se tornou, eu nunca estive melhor.

Meus funcionários começam a cantar parabéns de novo, pedindo para que eu apague as velas do bolo e faça algum pedido. Todos os anos quando eles faziam isso comigo eu cedia para que me deixassem em paz, mas acabava não pedindo nada. No entanto, há algumas coisas que tenho desejado nos últimos tempos, e se essa tradição boba ajudar em algo, quero ser beneficiado ao menos uma vez.

Fecho os olhos por um instante e mentalizo o que almejo para o futuro. Eu quero o sucesso da Eco Habitação, quero a presidência do Grupo e quero... Leila. O nome dela soa tão forte na minha mente, que fico tentado a dizê-lo em voz alta. Ainda é meio complicado para mim entender o que ando sentindo por ela, mas não posso mais me esquivar disso que tem crescido tanto dentro de mim ao ponto de deixar menos importante tudo pelo que sempre trabalhei para conseguir.

Acho que de todas as minhas descobertas recentes, ter percebido que estou colocando meu relacionamento com Leila, ainda que sem perceber, à frente da minha corrida para a presidência da empresa é a que mais me assusta. Sempre valorizei mais as coisas que eu queria do que as pessoas à minha volta e eu não sabia que conseguia priorizar alguém desta maneira até estar sentindo o que sinto por Leila. A impressão que eu tenho é que eu fui substituído por outra pessoa enquanto dormia, porque mal reconheço minhas próprias atitudes.

Me inclino sobre a mesa e assopro as velas do bolo ainda com Leila na cabeça. Eu estou me tornando tão clichê e idiota quanto Tales, e eu nem consigo me envergonhar por isso. O pior que poderia acontecer comigo era me casar e eu já estou casado, então não importa muito o fato de eu estar sorrindo como um babaca só de pensar nela.

— Agora você vai pagar o quê para a gente beber à noite, chefe? — Murilo me cutuca, arrancando algumas risadas das pessoas na sala.

— Se toca, Murilo! — Camila dá um tapinha de leve na testa dele. — Dr. Danilo vai querer comemorar com a esposa e a família.

Assim como os demais, eu tento rir do que Camila diz, mas sinto no fundo da alma que não estou sendo sincero comigo mesmo. Não cheguei a combinar nada com Leila para hoje, na verdade eu nem a vi de manhã e nem conversamos durante o dia, então acredito que ela nem saiba que hoje é meu aniversário, afinal ela anda ocupada demais nos últimos dias com a E. M., e eu não quero atrapalhar as coisas para ela justamente agora que está tudo dando certo. E minha família... É esperar demais receber qualquer felicitação deles.

Não falo com Marcos e nem com meu avô desde a briga. Já faz mais de um mês que tudo aquilo aconteceu, no entanto o ressentimento continua recente e me magoa mais do que eu me permito admitir. Discutir com Marcos se tornou uma rotina ao longo dos anos, não nos damos bem, volta e meia tínhamos nossos bate-boca, só que antes daquela troca de socos na sala do meu avô, nós dois nunca tínhamos nos agredido. Nossa relação sempre foi distante demais para que chegássemos ao cúmulo de nos machucar, e ter chegado a esse ponto me deixa com um nó na garganta, sinto que aquilo foi o estopim para que o pouco respeito que havia entre nós caísse por terra.

Logo após toda a confusão com Marcos, eu só queria ter razão e provar meu ponto, inclusive expliquei à Leila sobre como me sinto sempre deixado para trás quando as coisas envolvem meu irmão, e ela, aos poucos, me fez entender que eu venho tratando minhas angústias da pior maneira possível ao longo dos anos. Os conselhos dela me fizeram ligar para minha mãe com mais frequência e ela pareceu ter ficado feliz com isso, mas não consigo fazer o mesmo com Marcos e vovô. Não quero dar o braço a torcer e admitir que estou errado, eu teria que passar por cima do meu orgulho e estaria deixando evidente que meu avô tem razão sobre eu não servir para a presidência, mesmo que eu esteja certo de que sou o mais adequado para o cargo no momento.

Não sei se meus funcionários percebem minha mudança de humor, mas eles rapidamente iniciam um coro animado cantando "discurso!", me encurralando de novo. Ano que vem, sem sombra de dúvidas, eu trancarei essa porta ou me darei o dia de folga.

— Está bem, está bem! — Ergo minhas mãos para fazê-los se acalmarem. — Primeiro, muito obrigado pela consideração de sempre, eu nunca vou saber se vocês me amam ou me odeiam para fazer essas coisas comigo todo ano, mas ainda assim eu fico grato por lembrarem do meu aniversário e entupirem minha sala de confete.

Marcinha dá um passo sutil para longe de mim e tenta tirar alguns confetes de cima dos pequenos cactos que ficam sobre a minha mesa. Ela sabe que a primeira coisa que eu irei reclamar mais tarde é da sujeira nas minhas plantas.

— Agora, sendo sincero, sou muito grato a todos vocês por toda dedicação. Graças ao trabalho duro de todos, nossa empresa pôde crescer e se tornar o que é hoje. Obrigado mesmo por cada um dos seus esforços, espero que no próximo ano... — Faço uma pausa, pensando melhor nas palavras que irei usar.

Os olhares cheios de expectativas da minha equipe me fazem hesitar, eles sabem que eu posso deixar esta sala e a Eco Habitação a qualquer momento e que falar sobre planos para o futuro é algo que tenho evitado. Se eu pudesse, assumiria os dois cargos apenas pelo prazer de trabalhar aqui com eles e vê-los crescer, mas sei que será impossível e que em breve, se tudo der certo, outra pessoa ocupará meu lugar.

— Espero que no próximo ano, caso eu não esteja aqui, vocês ainda assim se lembrem de mim e continuem firmes com a nossa missão de transformar o mundo, um tijolo de cada vez. — Completo minha fala, não conseguindo colocar tanta fé nas minhas palavras de encorajamento.

— Nunca vamos esquecer de você, chefe. — Mateus dá um tapinha no meu ombro. — Só que isso aqui vai ficar vazio se você for embora.

— Eu virei visitar vocês sempre! Ninguém vai se ver livre das minhas cobranças tão cedo. — Tento mudar o clima da sala, mas falho miseravelmente.

Sinto a apreensão deles, a insegurança e a incerteza. Isso me balança um pouco, porque não sei como a pessoa que colocarei no meu lugar para tocar a Eco Habitação vai querer trabalhar, se algo vai mudar, se alguns deles, que são preciosos para mim, se tornarão inúteis para outro diretor. Queria poder dar aos meus funcionários a garantia de que a empresa continuará a crescer, mas estou ciente de que as coisas podem começar a dar errado assim que eu virar as costas.

Sempre que penso nisso, acabo indiretamente pensando no que Marcos me disse há alguns meses atrás. A Eco Habitação é algo que eu amo e eu estou literalmente abrindo mão por algo que apenas quero. A presidência do Grupo é um passo gigantesco na minha carreira, é o topo, é onde sempre almejei chegar, entretanto, quanto mais me aproximo disso, menos tenho certeza se serei mesmo feliz sentado na cadeira do meu avô, que nem me quer lá. Detesto estar sopesando essas coisas só agora, depois de ter chegado tão longe e ter feito tanta coisa por esse cargo, pois já sacrifiquei coisas demais para desistir.

— Querem saber de uma coisa? Podem sair mais cedo hoje! Vão para casa, descansem, aproveitem que é sexta-feira para iniciarem o final de semana com o pé direito!

Eles comemoram um pouco e fico feliz por estarem contentes com isso. Todo mundo aqui tem trabalhado demais, principalmente depois que me candidatei à presidência e comecei a cobrar bons números para impressionar os acionistas e afastar de vez a ideia da diretoria de incorporar a Eco Habitação a qualquer outra subsidiária do Grupo Torres.

Antes de deixarem minha sala, meus funcionários ainda me fazem cortar o pequeno bolo confeitado e dedicar o primeiro pedaço para alguém. Como de praxe, Marcinha ganha aquele agrado. Ela dedicou os últimos cinco anos a salvar meu pescoço de encrencas e organizar minha vida, minha secretária é tão essencial aqui quanto o próprio prédio, inclusive ela merece um aumento, que eu providenciarei antes de sair da Eco Habitação.

Nem tento voltar para o trabalho depois que todo mundo sai. Da minha mesa consigo ver toda a movimentação dos meus funcionários se preparando para irem embora. Pego meu celular esquecido de dentro da gaveta, porque quem sabe, se eu pedir com jeitinho, Leila vai para casa mais cedo comigo. Contudo, ao deslizar o dedo pela tela, vejo que há diversas ligações e mensagens de Simone. Eu desbloqueei o contato dela depois de tê-la encontrado na festa de Fabrício e me desculpado por eu ter sido um idiota, mas eu não esperava que ela me ligasse, ainda mais sabendo que estou casado.

Abro as mensagens, mas são apenas frases curtas pedindo para que eu retorne as ligações assim que possível. Até clico sobre o nome dela para ligar, mas meu celular toca naquele exato momento com uma ligação de Leila e eu esqueço qualquer coisa que eu estava prestes a fazer.

Oooiii! — Ela cumprimenta do outro lado da linha. — Como está sendo seu dia?

— Confesso que poderia ser melhor. — Tento soar chateado por puro drama, mas acabo rindo. — Liberei todo mundo aqui e estava indo para casa. Você pode sair da E. M. agora?

Leila solta um suspiro meio frustrado e eu não tenho um bom pressentimento sobre o que ela vai dizer.

Na verdade eu até te liguei para te dizer para não passar aqui. Precisei vir com Jonas num dos fornecedores e acabamos nos atrasando.

— Onde é? Eu vou buscar vocês, é só me mandar o endereço.

Não precisa. Vai para casa, está bem? Nos vemos mais tarde ou amanhã.

— Amanhã, Leila? — Minha voz soa quase desesperada. — Eu nem sequer te vi hoje.

Me desculpe, foi tudo de última hora, você sabe como estou trabalhando sem parar.

— Eu sei. — É minha vez de suspirar de frustração. — Eu só queria passar mais tempo com você, a gente nem tem se visto direito.

A culpa é meio que sua por ter colocado uma autoescola entre as mil coisas que faço durante o dia! — Leila retruca em tom de brincadeira. — Vou precisar ir agora. Não esquece de ligar para a sua mãe. Beijo! — E desliga.

Nem disfarço a chateação. Ela nem me deu os parabéns, provavelmente nem se lembrou do meu aniversário. Eu não deveria me importar com essas coisas na minha idade, mas eu queria a atenção de Leila ao menos hoje, já que mal tenho espaço na vida corrida e complicada dela. Estou tentando o meu máximo para não sufocá-la, o que é meio complicado, porque o que eu mais quero é agarrá-la o tempo todo quando estamos à sós, e eu esperava que finalmente tivéssemos um bom momento hoje, contudo...

Junto meus pertences, me arrependendo de ter dispensado todo mundo. Eu poderia ter pagado algo para os meus funcionários hoje e ido rir um pouco se eu soubesse que iria ficar sozinho esta noite. Penso em ligar para Tales, mas desisto disso assim que desbloqueio a tela do celular. Eu o vi mais cedo, ele me disse que Andressa está de folga do hospital depois de duas semanas, o que significa que eu iria segurar uma bela de uma vela se inventasse aparecer na casa dele.

Por fim, apenas decido dirigir para casa em silêncio, remoendo o fato deste ser um dos piores aniversários da minha vida. Ao menos terei Sansão e Dalila como companhia, se bem que eles preferem brincar de quem destrói os móveis da casa mais rápido do que assistir futebol na televisão comigo.

Sigo o conselho de Leila e ligo para minha mãe assim que chego em casa. Ela me enviou mensagens de felicitações e ficou feliz quando recebeu minha ligação agradecendo. Fico inclinado a me oferecer para ir jantar com ela mais tarde para não ter que passar a noite sozinho, mas minha mãe deixa claro suas intenções antes que eu diga qualquer coisa:

Seria bom se você fosse ver seu avô, Danilo.

— Ele não quer me ver.

Ele quer, sim. Seu avô te ama mais do que muita coisa nesse mundo e está ficando doente com toda essa sua briga idiota com o seu irmão.

Fico subitamente preocupado com o que minha mãe diz, porque pensando bem, pelo que eu soube, meu avô tem ido muito menos na empresa do que o de costume e isso é preocupante no caso dele, que sempre trabalhou muito, faça chuva ou faça sol.

— Como assim doente?

Você sabe como ele é, tem pressão alta, colesterol, não pode ficar preocupado que já começa a atacar tudo de uma vez só.

— Eu deveria ir lá, então. — Digo, realmente preocupado com a situação do meu avô. — Saí mais cedo do trabalho, posso ir vê-lo daqui a pouco.

Vá, sim. Leve Leila com você, seu avô a adora!

— Eu até levaria se ela estivesse em casa, aliás nem sei se ela volta hoje.

Trabalho?

— Sempre.

Vocês precisam conversar e conseguir um tempo um para o outro antes que esse casamento acabe sem nem ter começado direito, Danilo.

Se minha mãe soubesse como as coisas nesse casamento são complicadas, ela ficaria feliz por Leila ainda não ter me pedido o divórcio. Contudo, eu tenho para mim que dona Roberta tem alguma razão desta vez. Eu venho me questionando há alguns dias se eu deixei claro o suficiente para Leila que eu quero que nosso casamento passe a ser de verdade em todos os sentidos e se eu deveria tentar reforçar minhas intenções de algum jeito, para o caso dela não ter me entendido.

— A senhora quer ir comigo ver o vovô? — Pergunto com o intuito de mudar de assunto e também porque, nem sei ao certo o porquê, mas quero ver minha mãe hoje também.

Essa deve ser a primeira vez em uns dez anos que você me convida para alguma coisa.

— Se a senhora não quiser ir...

Tudo bem, tudo bem! — Ela sequer me deixa terminar. — Já estou te esperando. Venha com cuidado, hoje é sexta-feira, as ruas estão cheias.

Um sorriso pequeno desponta no meu rosto quando escuto o aviso preocupado da minha mãe. Faz mesmo uma eternidade desde que eu liguei para ela e a convidei para fazer alguma coisa comigo, mas ao contrário de mim, tenho certeza que não faz muito tempo desde que ela me disse para tomar cuidado pela última vez. Uma sensação esquisita toma conta do meu peito quando penso naquilo, e por mais que eu faça esforço para esquecer o pensamento que se forma na minha cabeça, não consigo afastar a ideia de que eu tenho sido um péssimo filho ao longo dos anos.

Tenho a impressão de que há alguma coisa errada acontecendo assim que coloco meus pés na casa do meu avô. O carro de Tales está estacionado bem na entrada e ele me disse com todas as letras mais cedo que não poderia fazer nada hoje à noite porque passaria o tempo inteiro com Andressa, logo a única explicação para que ele esteja aqui a esta hora é alguma urgência na empresa.

Apresso meus passos, deixando minha mãe lutando com os saltos para trás. Vovô não está bem e ainda assim deve estar se preocupando com os assuntos do Grupo. Quem deveria cuidar disso enquanto ele se recupera é Marcos, mas se ele não pode fazer o mínimo, como quer assumir a presidência algum dia? Por essas e por outras que não engulo a indicação do meu irmão para o cargo, quem no meu lugar engoliria isso, afinal?

Ouço minha mãe me pedindo para esperar por ela, mas já estou me enfiando pela porta da sala de estar, seguindo o som das vozes que vem de dentro da casa. Uma das minhas sobrinhas passa correndo por mim, enquanto a outra vem correndo em minha direção, gritando para que eu volte e não olhe para a sala, mas é tarde demais.

Fico completamente sem reação no primeiro momento, sentindo uma mistura incomum de surpresa e vergonha tomando conta do meu corpo. Nem se eu nascesse de novo, eu esperaria encontrar esse tipo de coisa na sala da casa do meu avô. Eu nunca tive isso nem quando eu tinha idade para ganhar algo do tipo, mas ainda assim isso está acontecendo.

— Surpresa! — Leila anuncia, balançando alguns balões coloridos.

Me recosto na parede e balanço a cabeça, sem acreditar no que eu estou vendo. Há uma mesa decorada, há balões e uma faixa colorida escrita "feliz aniversário!" bem grande pendurada na parede oposta à que eu estou recostado. Minha família inteira está aqui, inclusive Marcos, e todos eles estão com chapéus de cone ridículos na cabeça, rindo e fazendo barulho. Não sei de quem foi a ideia disso tudo, mas estou de volta aos meus 11 anos de idade.

— Parabéns, tio! — Viviane se agarra à minha cintura e Ana Clara nem perde tempo ao fazer o mesmo.

Esfrego o rosto com as mãos, não conseguindo e nem tentando conter meu sorriso. Isso é tão exagerado e inesperado, tão cafona e engraçado, ao passo que também é extremamente reconfortante. Meu coração está batendo tão forte e eu estou rindo tanto, que sinto como se eu precisasse disso de algum jeito, como se a minha vida inteira eu tivesse esperado para estar vivendo esse momento.

Minha família inicia a famigerada canção de parabéns e sou abraçado por todos eles, um por um me puxando para si e me desejando coisas boas. Marcos é o último e eu realmente me surpreendo quando ele abre os braços para mim. Aquela atitude toca fundo na minha alma e sou incapaz de dar ouvidos a quaisquer pensamentos orgulhosos ao aceitar o abraço e as felicitações vindas do meu irmão.

— Você está ficando velho, moleque — Marcos diz sério, se afastando um passo e me olhando de cima a baixo do jeito desconfiado dele. — Espero que comece a criar algum juízo.

— Eu não sou mais criança já faz algum tempo.

— Você sempre vai ser uma criança para mim, Danilo.

Engulo em seco sem saber o que responder. Tenho sorte da minha avó se aproximar para me parabenizar de novo e me chamar para cortar o bolo. Meu segundo bolo de aniversário hoje, o segundo primeiro pedaço que terei que dedicar à alguém no mesmo dia. Isso nunca aconteceu, eu nunca gostei muito de comemorar meu aniversário, porque eu sempre me sinto mais sozinho do que o normal nesse dia, mas esse ano as coisas estão tão diferentes, que eu daria uma festa enorme como a de Fabrício se soubesse que eu receberia tanto carinho assim da minha família, mesmo depois de toda perturbação que eu tenho causado.

Minha avó me entrega uma faca e me orienta a cortar o bolo, que ela diz ter recheio de doce de leite, como eu gosto. Com cuidado, tiro um pedaço do bolo confeitado, depositando-o sobre um prato de porcelana fina. Olho para as pessoas na sala com atenção, me decidindo para quem devo dedicar meu primeiro pedaço. Leila sorri para mim e aproveita o momento para tirar algumas fotos com a minha câmera. É incrível como ela pensou até nisso, provavelmente já podendo prever que eu iria querer colocar mais alguns porta-retratos na minha estante depois de hoje.

Minhas sobrinhas continuam agarradas à mim, disputando cada instante da minha atenção, na esperança de serem as escolhidas para ganharem o primeiro pedaço do bolo. Valéria reclama um pouco com as duas, o que não resolve muita coisa.

— Acho que eu tenho que agradecer todo mundo primeiro, não? — Digo, incerto ainda do que fazer com aquele bolo. — Obrigado... — Olho para a mesa enfeitada, para os balões coloridos, para a minha família reunida. — Obrigado por tudo.

— Aaaah, ele está tão sentimental! — Andressa gargalha. — Nós também te amamos, Danilo, talvez não tanto quanto Leila, mas te amamos.

Vejo Leila se encolher um pouco, usando o pretexto de mexer na câmera para não me olhar nos olhos. Assim que vi tudo isso na sala eu imaginei que tinha sido ideia dela, contudo ouvir praticamente essa confirmação me deixou ainda mais contente. Ela sabe como é difícil para mim me conectar com a minha família e como eu me martirizei pela briga que tive com Marcos, então ela ter me proporcionado esse momento de paz com eles, ainda que eu nem sequer mereça, significa muito para mim.

— Eu não consigo escolher qual de vocês é mais importante para mim, por isso eu vou dividir isso aqui em dois e entregar para as minhas duas princesas. — Anuncio por fim, entregando o bolo às minhas sobrinhas para que ambas parem de birra.

Essa foi a maneira mais fácil de sair dessa enrascada de ter que escolher alguém, porque a verdade é que eu jamais conseguiria avaliar a importância das pessoas desta sala na minha vida. Tales e Andressa se tornaram meus irmãos durante os nossos anos de convivência, meus avós são tudo o que eu conheço de família, Marcos e minha mãe, apesar de eu ter tentado muito não me importar com eles, são uma parte enorme de mim, e Leila é minha esposa, é a mulher que eu escolhi — mesmo sem ter noção disso — para estar ao meu lado e por quem eu me apaixonei perdidamente.

Tales resgata nosso tabuleiro de damas remendado com fita adesiva e nos espalhamos os dois pelo chão da sala para jogar, enquanto comemos bolo. Minha família me conta como Leila planejou isso tudo e o quão receosos eles estavam, já que não sabiam se eu iria acreditar que vovô não andava bem de saúde.

— Foi um golpe baixo, confesso. — Leila admite, deixando de lado um pouco a câmera e as fotos. — Mas Danilo se preocupa muito com a sua saúde, Seu Fausto, então eu imaginei que ele ficaria maluco se soubesse que o senhor tinha tido uma piora.

— Piora? — Meu avô pergunta, sem entender direito.

Leila pisca algumas vezes, atônita. Ela olha nervosamente em minha direção e eu me lembro da mentira que contei sobre vovô estar com uma doença terminal. Fico imediatamente de pé, temendo que Leila diga mais alguma coisa e que eu seja desmascarado aqui mesmo.

— Acho que ela quis dizer que eu ficaria maluco se soubesse que o senhor tinha adoecido, vovô, e eu ficaria mesmo.

— Ah! — Meu avô ri um pouco. — Não se preocupe, Leila, eu estou mais saudável que vocês todos nessa sala!

A risada descontraída do meu avô faz com que todos na sala comecem a rir também, exceto por Leila, que não consegue abandonar a expressão angustiada. Merda, eu preciso arranjar alguma coragem para desmentir isso, antes que Leila acabe descobrindo do pior jeito e eu perca sua confiança por causa de uma besteira.

Faço um sinal sutil com o queixo para que ela me siga para fora da sala. Caminhamos juntos até o jardim iluminado por lâmpadas pequenas que minha avó costuma deixar acesas a noite toda. Leila tinha reclamado comigo das lâmpadas de vovó certa vez, dizendo que haviam lâmpadas mais econômicas no mercado, mas esqueci completamente de repassar o recado.

— Eu quase deixei escapar aquilo sobre a doença na frente dele, me desculpe... — Leila lamenta, me olhando preocupada.

Minha consciência pesada me pressiona ainda mais por vê-la naquele estado. Seguro-a gentilmente pelo cotovelo, fazendo-a parar de andar. Acho que falar a verdade agora pode estragar todo o clima bom entre a gente, mas se eu não fizer alguma coisa...

— Ei, você lembra? — Leila sorri para mim, indicando o jardim com as mãos. — Foi bem aqui!

Olho ao redor, levando alguns instantes para entender o que ela quer dizer. Somente quando vejo as roseiras da minha avó que me lembro de tudo e começo a rir. Foi aqui que quase nos beijamos pela primeira vez. Naquele dia, Leila ficou tão irritada comigo que me deu um tapa no rosto. Se alguém me contasse que eu iria me sentir flutuando ao lado de uma mulher que me estapeou na primeira oportunidade que teve, eu definitivamente não acreditaria.

— Parece que foi há uns três anos, mas só fazem alguns meses.

— Eu sempre achei que tempo era algo fundamental para saber se gostamos ou não de alguém, só que eu tenho entendido cada vez mais que isso é bem relativo. — Leila diz, se aproximando um pouco mais de mim.

— O que te fez chegar a essa conclusão?

Ela sorri, deslizando as mãos pelo meu peito, subindo pelos ombros até encontrar minha nuca. A proximidade me surpreende, Leila nunca tinha vindo até mim assim e era justamente por isso que eu passei o mês inteiro de mãos atadas sem saber se ela me queria ou não. Agora, no entanto, parece que estou tendo alguma resposta.

— Você me fez chegar a essa conclusão. — Ela diz devagar. E então fica na ponta dos pés e me beija delicadamente. — Feliz aniversário!

— O que foi isso? Meu presente?

— Prefiro definir como nosso começo.

— Nosso começo... — Eu a puxo para perto, sorrindo contra seus lábios. — Gostei disso.

Consigo ver nos olhos dela que o momento que eu tanto queria que acontecesse entre nós dois finalmente chegou. É o nosso começo e eu não vou permitir que nada dê errado.

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