- Camila? - minha mãe quase grita quando eu entro pela porta da frente de minha casa no dia seguinte do baile - Onde diabos você estava? 

Sua expressão exprimem preocupação, já a de meu pai mostram o quão irado ele está. Nesta manhã, eu e Diego voltamos para onde deixamos o carro e ele conseguiu dar um jeito de fazer o veículo funcionar e me trazer para casa. Meu vestido de baile secou durante a noite, por isso consegui vesti-lo novamente mas meu cabelo e meu rosto mostram o quão acabada estou.

Meus pais se aproximam de mim e disparam a falar, desesperados.

- Você quase nos matou do coração, Camila - diz minha mãe chacoalhando meus ombros.

- Estávamos quase indo na policia - meu pai diz.

- Você estava com o Tomás? - pergunta a matriarca. 

- Por que você não atendeu o telefone? - pergunta meu pai.

Eu abro a boca para falar, tendo plena certeza de que iria conseguir falar mas tudo que consigo é começar a chorar de novo. Meus pais me olham confusos, contudo, logo eles me abraçam e me seguram enquanto soluço. Sinto como se chorar fosse o único modo de fazer com que a dor em meu coração diminua. 

🌸

Naquela mesma noite, saio do banho com a toalha enrolada na cabeça e quando saio do banheiro, me deparo com Jô sentada em cima da minha cama com as pernas cruzadas e uma xícara de chá na mão.

- Sua mãe me pediu para te trazer isso - conta, olhando para a xícara.

Sorrio fracamente.

- Obrigada - me aproximo dela e me sento ao seu lado na cama.

- Soube que você e o Diego passaram a noite em um motel - ela diz baixinho, ainda sem olhar para meu rosto.

Olho para Joana, tiro a xícara de sua mão e coloco em cima da minha escrivaninha. Pego sua mão, fazendo-a me olhar. 

- Não aconteceu nada entre eu e Diego, Jô. Por favor, não ache que eu faria isso com você. Eu sou apaixonada pelo Tomás e Diego é apaixonado por você.

Sua expressão suaviza e ela me puxa para um abraço. 

- Me desculpe por ter duvidado de você, Mila. Eu amo você, estou aqui por você.

- Eu também amo você, Jô - a abraço apertado - Eu por você e você por mim, sempre. 

- Sempre - ela sussurra. 

🌸

Risadas.

É a primeira coisa que as pessoas fazem ao me verem chegar na escola na segunda. Coloquei a roupa mais discreta que encontrei com a esperança de que ninguém me notasse mas foi em vão. Enquanto caminho até a entrada da escola, percebo além de risadinhas, muitos cochichos. Quando começo a me arrepender de ter vindo e estou prestes a me virar para ir embora, alguém engancha o braço no meu. Olho para o lado e vejo Joana sorrindo encorajadamente para mim.

- O que está fazendo? - pergunto para ela.

- Te ajudando a encarar - diz Diego do meu outro lado e passando os braços por meus ombros. 

Sorrio com o apoio de meus amigos. Caminhamos pelo corredor juntos e todos começam a desviar o olhar. Não sei se o fato de Diego vulgo a pessoa mais popular da escola estar do meu lado ou se Joana esteja rosnando para quem ousar olhar torto mas os dois estarem do meu lado torna tudo mais fácil. 

A manhã de aula corre de forma tranquila com Jô ao meu lado a todo momento. Contudo, na hora que o sinal do intervalo toca, eu entro em desespero. 

- Não posso, Jô. Não vou suportar entrar lá e encarar todos aqueles olhares acusatórios. 

Joana segura meu rosto, me obrigando a olhar nos seus olhos. 

- Camila, por um acaso você fez alguma coisa de errado? Você escreveu sobre seus sentimentos no seu site. Você nunca deve sentir vergonha de seus sentimentos e de tudo que você escreveu. Mila, você é uma artista com as palavras, não deixe ninguém te dizer o contrário. Estamos entendidas? 

Apenas balanço a cabeça em afirmação e ela me puxa em direção do refeitório. Diego está esperando na entrada com um sorrisinho. Me pergunto onde está Tomás, não o encontrei a manhã toda. Suponho que ou ele não veio a aula ou tem conseguido me evitar com sucesso. Meus amigos dão um selinho como comprimento mas logo me colocam no meio de ambos e entramos no recinto abraçados. 

Nos sentamos em nossa mesa costumeira e sinto uma pontada no peito por estar ali sem Tomás. Comemos em silêncio os hamburguers que Diego nos comprou, contudo, antes de conseguir me controlar, eu pergunto o que quero saber: 

- Como está Tomás? 

O badboy suspira e passa a mão no cabelo. 

- Não vou mentir para você, Cami. Ele está mal, até tentei conversar com ele mas não adianta.

- Quando a poeira abaixar, vocês poderão conversar e acertar tudo - diz Jô enquanto coloca uma mecha de meu cabelo atrás da orelha - Não se preocupe. 

Limpo minha mão no guardanapo e respiro fundo.

- Espero que ele me escute. 

- Ele vai, Cami.

- Pensei que esse refeitório fosse frequentado por pessoas melhores - diz a voz irritante de João no meio do lugar, fazendo com que todos ficassem quietos para ouvir o que aconteceria a seguir.

- Alguém cala a boca desse garoto? - fala Jô, se alterando. 

- Vamos ignorar - cochicho para minha amiga.

- Se vocês tiveram dúvidas do que viram, aqui está a prova - João aponta para mim e para Diego - Não perdeu tempo para correr para os braços do irmão do ex-namorado. 

Todos os alunos começam a rir e assoviar. Diego olha para mim com uma fúria queimando seus olhos e se levanta antes que eu possa processar o que ele fará em seguida. Ele caminha pisando duro até João e lhe defere um soco que faz o menino cair no chão com tudo. 

Eu e Jô nos levantamos e corremos para onde estão, porém paro no meio do caminho quando sinto um olhar me encarando. Olho para cima e me deparo com os olhos castanhos de Tomás. Ele olha para mim e depois para Diego antes de se virar para sair do refeitório. 

- Vamos, o espetáculo já acabou - grita Joana para todos antes de falar para mim - Vá atrás dele.

Saio correndo fazendo o que minha amiga disse.

- Tomás, espera! – grito correndo para alcança-lo – Deixa-me explicar.

Ele se vira com os olhos marejados, o que corta meu coração.

- Explicar o quê? Eu me abri para você, Camila. Deixei você conhecer cada ferida de meu coração, falei sobre Luna – ele passa a mão no rosto – Deus, eu não conseguia falar dela com ninguém pois ainda era muito doloroso mas eu falei para você e sabe por quê? Porque eu achei que você era a pessoa certa para contar, que você também dividiria seus sentimentos comigo sem pensar duas vezes, só que eu estava enganado, não é?

- Eu sinto tanto, Tomás – lágrimas escorrem por minha bochecha.

- Sente? Como você pôde me ver chorar e se entregar para você e ter coragem de me esconder tudo que escreveu sobre meu irmão? O problema não é ter escrito sobre ele mas por ter me escondido isso, Camila. Por que fez isso?

- Eu estava com medo de te perder – cochicho.

- E no final fez alguma diferença? Você me magoou profundamente e não sei se serei capaz de te perdoar.

Nesse momento, me lembro das palavras de minha amiga: Você nunca deve sentir vergonha de seus sentimentos e de tudo que você escreveu. Olho para Tomás e respiro fundo antes de começar a falar:

- Eu escolhi Resenha Dores como o nome do meu site por um único motivo: foi nele que eu escrevi minhas preocupações, frustrações e a dor do amor não correspondido. Eu fiz das minhas histórias um refúgio para meus sentimentos que transbordavam. Porque essa sou eu, Tomás, eu transbordo palavras mas eu cansei de fingir que não sou eu escrevendo cada letra de meus livros. Eu escrevi cenas românticas e quentes com seu irmão sim e eu não me arrependo, afinal, era meu modo de lidar com meus sentimentos – dou um passo em sua direção e olho no fundo de seus olhos – Mas isso foi no passado. Agora eu estou aqui para lhe dizer que você é meu presente e futuro. Você tem todo direito de ter raiva de mim mas eu também tenho o direito de ter um passado e não ser julgada por isso. 

Ficamos nos encarando por um tempo, até que Tomás se vira e vai embora correndo, levando meu coração junto.

Fiz esse capítulo um pouco mais longo e espero que tenham gostado. Me contem o que acharam. 

Resenha Dores tem uma playlist bem massa no Spotify, link para você ir lá conferiri: https://open.spotify.com/playlist/4N7pm8dhwLRdoIkX8WPhxf?si=T1_vqDAeTo6OM2hdw1WDgg

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Até a próxima <3