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Capítulo XXIII


A cidade esvaziava-se aos poucos, à medida que os combatentes saíam para o deserto em direção às cidades da Torre. Com sorte, os primeiros mensageiros já estariam a chegar às cidades, preparando os rebeldes daí para se lhes juntarem ou, pelo menos, para causar pequenas insurgências que distraíssem os Irmãos por tempo suficiente para que aqueles pequenos grupos conseguissem tomar algumas das cidades do interior. Yex seguia à frente de um deles, algo a que chamariam de batalhão se não fossem tão poucos os soldados.

Avançavam lentamente. Os cavalos estavam carregados e o resto do grupo ia a pé, levando os mantimentos em mochilas e sacos como os das extintas tribos. Yex guiava Lyin pelas rédeas, deixando-o carregar o peso que, tão cedo na viagem, ainda era muito. Trilhava os velhos caminhos invisíveis a quem não conseguisse ler a topografia, os mesmos caminhos seguidos por gerações. Era fácil navegar naquela área, até, porque o chão de gravilha e pedra não mudava de sítio, e as formações rochosas eram únicas e facilmente visíveis. Era mais complicado andar nas zonas onde as dunas cobriam o deserto, porque elas se mexiam bem mais do que seria expectável. Atrás de si, o grupo não demorou a abandonar o silêncio, enchendo o ar com cantilenas e conversas. Ela fechou os olhos, sorrindo; por um momento apenas podia fingir que estava de volta na sua juventude, de volta à sua família e à sua tribo ou, mais tarde, a escoltar outros grupos pelas partes mais perigosas de Nyin.

Nedoy avançou até caminhar à beira dela, abandonando o lado de Eris. Yex quase se tinha esquecido que ele não percebia aquela língua em que o grupo conversava alegremente. Na verdade, a maioria também sabia a língua dele, muitas vezes não por escolha; mas neste momento provavelmente quereriam qualquer razão possível para excluir o Cavaleiro. Eris parecia ser a única que não estava desconfortável com descobrir o seu passado.

–Porque é que vieste? –perguntou Yex, quebrando o silêncio desconfortável.

Ele olhou-a. –O que é que queres dizer com isso?

Yex olhava para o horizonte turvo, orientando-se, e não para a expressão dele. –Esta guerra não é tua, Nedoy. Sabes que podes sair a qualquer momento, certo? Por isso, porque é que vieste connosco?

Ele hesitou por um longo momento. –Não podia voltar para as cidades da Torre, e não sei o suficiente para conseguir sobreviver no deserto.

–Podias ter ficado em Eshafra. Não nos deves nada.

Nedoy abanou a cabeça, rindo. –Podia, não podia? Mas devo, sim. –Suspirou, subitamente mais sério. –Devo-vos tudo.

Avançaram para um pouco mais longe do grupo, e ele sussurrou-lhe como tinha feito parte do regimento que atacou Leska, uma das cidades que planeavam libertar. Espreitou sobre o ombro antes de lhe dizer como tinha entrado em casas e prendido famílias inteiras de bruxos, sabendo que se não morressem pela sua mão fá-lo-iam pela de outrem. Nem conseguiu acabar a história de como teve de agarrar uma criança que se tentou atirar para as chamas para salvar o irmão.

Suspirou. –Mas, mesmo depois disso tudo... –hesitou, fechando os olhos para desviar as memórias. –vocês acolheram-me, alimentaram-se a ajudaram-me. Tenho que pagar isso de volta, não é?

Yex olhou-o, curiosa, mas ele estava virado para algures após o horizonte, pensativo.

–Se não tivesse acontecido este ataque, se a Torre não tivesse aqui chegado, talvez tivesse seguido o meu caminho a fingir que não devo nada a ninguém. Mas isso não é verdade. –Baixou os olhos. –A Torre nunca me quererá de volta. Mesmo se me entregassem o meu lugar de volta, assim de bandeja, não sei se conseguia aceitar, sabendo o que sei.

Yex sorriu. Virou-se para olhar as formações rochosas que a ajudavam a orientar-se, aproveitando para desviar o olhar de cima dele.

–Já que passei tanto tempo a aprender a lutar, –continuou ele, –mais vale aproveitar isso, não achas?

–É escolha tua, Nedoy. E eu, de toda esta gente, devo ser a que menos te quer fazer desistir. –Sorriu. –Honestamente, acho que fizeste a escolha certa. Mas eu sou tudo menos imparcial.

Ele riu-se, baixando os olhos.

–Riu-se, mas depois hesitou. –Vê só se não contas essas histórias a todos. Eu posso estar... dessensitizada, mas eles não. –Fechou os olhos, sentindo as energias da tribo de gente que os seguia. –E essas eram as famílias de alguns deles.

–Não te preocupes. Eu prefiro manter o meu pescoço intacto.

~~~~

A noite tinha chegado. Nedoy estava sentado à beira da fogueira, envolvido pela mão-cheia de tendas que fazia uma espécie de aldeia ambulante para albergar aquela gente toda. Nem havia poço, ali, só um pequeno ponto de água que, agora gasto para encher os cantis e para cozinhar o jantar, demoraria até que se voltar a encher de água.

Eris tinha ficado de guarda e, por mais que ele se tivesse voluntariado para ir com ela, ainda ninguém dali confiava nele o suficiente para o deixar fazê-lo. Ele fechou os olhos e puxou os joelhos até ao peito para melhor manter o calor. Aquelas conversas eram, para ele, ininteligíveis.

Estava cada vez mais longe de qualquer lugar que pudesse chamar de casa. Pelo menos agora tinha um semblante de rotina, um voltar ao normal. Ali estava ele, no meio do deserto, acampado com um grupo de soldados cujo objetivo era destruir a Torre e matar os Irmãos... era uma normalidade diferente, mas servia.

Respirou fundo, deixando que o fumo da fogueira lhe queimasse as narinas e aproveitando o calor que a capa emprestada que lhe cobria as costas lhe dava.

–Em que pensas? –perguntou Yex, sentando-se a seu lado. Os olhos transparentes dela, à luz das labaredas, tomavam os tons do fogo.

Ele encolheu-se mais, hesitando, e pousou o queixo sobre os joelhos.

–O que é que viste em mim? –acabou por lhe perguntar, num quase sussurro. –Podias muito bem ter-me deixado no deserto antes de eu sequer ter percebido quem tu eras. Ou, quando fugi da cidade, podias só ter-me deixado ir. Era o que eu estava à espera que tu fizesses, era a coisa mais lógica a fazer, e ainda assim...

Ela riu-se. –Acreditavas se eu dissesse que é pela mesma razão que não se deixa um cachorrinho magoado no meio da estrada?

–Ouch!

Yex sorriu, os olhos evitando o fogo, focados algures acima dele. Ele seguiu-lhe o exemplo, olhando para a forma como o fumo criava desenhos no ar e questionando-se quanto a qual teria sido a razão de ter sequer perguntado. Não era como se aquilo ainda importasse.

Nedoy ergueu a mão e, gentilmente, criou uma pequena chama amestrada. Andava a praticar e estava a ficar cada vez melhor. Talvez durante a longa viagem Yex lhe conseguisse ensinar mais um ou dois truques.

–Não. Não foi isso, –disse ela, respondendo à questão que ele ainda não tinha posto. –Não tinha como saber que eras um bruxo, antes de me teres dito. Suspeitava, claro, mas isso não era o suficiente.

Aquela chama, ao contrário da fogueira, queimava limpa e sem fumo. Focou-se na forma como mudava de cor ao ele lhe mudar a temperatura. Yex suspirou, e ele fechou a mão para extinguir o pequeno feitiço.

–Naquele momento em que decidiste abandonar a Torre, em que abandonaste essa vida passada...–disse ela, devagar, –acho que quebraste o teu próprio destino. Chama-lhe de instinto ou de loucura, não sei, mas eu acho que, de alguma forma, faço parte desse plano maior.

A luz das chamas iluminavam-lhe a pele quase branca. Ali, brilhando nos tons de vermelho do fogo dançante, parecia um espectro, um espírito do deserto tão parte da natureza quanto as estrelas do céu ou o chão onde se sentava. Ele quis perguntar-lhe tantas coisas, certo de que ela lhe saberia responder, e o facto de haver algum plano maior para a vida de cada um não lhe pareceu tão louco assim. Ela não parecia humana, não era bem humana, parecia mais ser filha de deuses ou pelo menos criada por eles da mesma forma e com o mesmo carinho que usaram quando criaram o mar ou a terra ou pintaram constelações no firmamento. Se alguém conseguisse sentir aquelas forças ancestrais, seria ela.

–Eu não acredito em destino, –acabou Nedoy por dizer, pegando numa pedra do chão e atirando-a para o foco, o que fez as chamas tremer. –Estou farto de deixar outras pessoas fazerem as minhas escolhas.

Yex sorriu. –Claro que estás. –Ela fechou os olhos e imitou-o, atirando mais um pedaço de gravilha para dentro da fogueira.

À sua volta, o grupo começava a desbandar, com alguns a entrarem nas tendas para passar a noite. Ele olhou em volta e depois começou a desatar os fios do apetrecho de couro que ainda lhe tapava a marca. Yex olhou-o, mas não disse nada enquanto ele o tentava desajeitadamente soltar.

–Obrigado, –disse Nedoy, devolvendo-lho.

Ela sorriu o seu meio sorriso irritante e só lhe acenou com a cabeça.

~~~~

–Achas que é seguro?

–Não, –respondeu Yex.

Tinham-se separado do batalhão. Andavam muito mais rápido em grupos mais pequenos, especialmente tendo em conta de queDepois de semanas de viagem, tinham finalmente chegado à cidade. Yex chamava-a de Pó-vivo e ele conhecia-a como Santa Luzia, mas o nome importava menos que as muralhas imponentes que já espreitavam sobre o horizonte. Nedoy hesitou, receoso do que lá ia encontrar.

–Repete lá porque é que estou aqui?

–Porque precisamos de armas, e há alguém atrás daquelas muralhas que talvez nas consiga dar.

–Isso eu sei. Mas porque é que eu estou aqui?

Ela virou-se para ele com uma expressão ilegível. –Podes sempre ir-te embora. Ou ficar aqui, e não voltar comigo. Suponho que tenhas siso suficiente para não ires dar com a língua nos dentes.

Nedoy baixou os olhos, fazendo que não com a cabeça.

–Estás aqui porque pode ser que essa tua tatuagem sirva de alguma coisa.

Ele passou os dedos pelas velhas linhas gravadas sob a pele que cada vez o incomodavam menos. Ela tapou o seu próprio braço o apetrecho que Nedoy lhe devolvera.

–Porque é que tens uma marca assim no braço? –perguntou ele. –Sabes a história da minha.

Yex sorriu o seu meio sorriso, passando os dedos pelo couro gasto pelo uso e pelo tempo. –De onde é que achas que a Torre tirou a ideia?

Ele olhou-a, mas os olhos transparentes dela estavam focados no topo das muralhas da cidade. Ficou em silêncio por um longo momento, esperando que ela continuasse, mas ela não o fez.

–O que queres dizer?

Ela suspirou, baixando os olhos para a crina do cavalo negro, sorriu. –Estou a dizer que eu fui uma Cavaleira.

Nedoy fez curto-circuito, quase achando que ia cair do cavalo ao ouvir aquilo. Era impossível, não era? Yex era uma mulher e, além disso, odiava a Torre com todo o seu ser. Era impossível que pudesse ser Cavaleira!

Ela olhou-o e riu-se da sua expressão. Mas, quando voltou a baixar os olhos, todo o humor a deixou.

–Antes daqueles monstros saltarem dos seus barcos e decidirem que as nossas casas lhes pertenciam, já havia Cavaleiros. –Ela sorriu, perdida em memórias. –Éramos nada mais que um grupo de magos que, talvez erradamente, achou que os Deuses os guiavam. Sabes os poços, os abrigos espalhados por esse deserto a fora? –Nedoy hesitou, mas acenou-lhe com a cabeça. Yex talvez nem tivesse visto o seu gesto, mas continuou –Antes, só havia pontos de água como os que viste à volta de Eshafra, alguns oásis espalhados. Nós depois conseguimos projetar esses abrigos para as tribos que, na altura, trilhavam o deserto. Construir seja o que for no meio do nada é um problema complexo de logística, mas nós arranjamo-nos, –sorriu.

Os abrigos que rodeavam os poços eram centenários. As paredes mostravam marcas do tempo, do vento e da ocasional chuva. Nedoy nunca tinha sequer pensado em como alguém os teve de construir; eram tão parte da paisagem quanto as dunas ou as formações rochosas espalhadas por Nyin. Ele nunca tinha ponderado que houvesse um tempo em que eles não existiam.

–Talvez se não o tivéssemos feito, a Torre tivesse tido mais dificuldade em vir para o interior do deserto, –sussurrou ela.

Continuaram a avançar, aproximando-se pouco a pouco da cidade. Os cavalos estavam cansados e, francamente, eles também.

–As lendas são reais, então, –disse Nedoy.

–Sim.

Depois da primeira vez que se encontrou com Yex, pouco tinha pensado nas lendas que se contavam sobre os Cavaleiros Originais. Em criança, a sua mãe contava-lhe como os míticos magos dobravam rios e moviam montanhas, como criavam cidades inteiras a partir de fogos mágicos que coziam a areia. Nuns contos, eles eram espectros do deserto, espíritos criados pela lua para proteger os viajantes durante a noite, destruindo os monstros que se tentassem aproveitar da escuridão. Eram uma espécie de guardiões das tribos que trilhavam o deserto. Ao crescer, deixou de acreditar em tais coisas. Magia era perigosa, mas não a ponto de conseguir destruir cidades inteiras num só movimento, como se contava que os Originais eram capazes de fazer. Não; o que havia era um grupo de magos fora-da-lei que, ao rejeitar o poder da Torre, tinham tomado os nomes dos míticos heróis. O facto de se chamarem de Cavaleiros era só mais um insulto, um que Nedoy tomou de forma pessoal durante o tempo da adolescência que passou a treinar sob a tutela da Torre.

Seria possível que as lendas fossem baseadas em algo real, que realmente houvesse algo de sobre-humano naquele grupo de foras-da-lei? Se assim fosse, Yex não seria a jovem que aparentava ser e teria, quê, duas centenas de anos? Se ela não fosse apenas uma de um bando de criminosos, mas realmente a heroína mítica... Não que ele fosse tomar a palavra dela quanto a isso, mas essa hipótese explicava muita coisa.

Antes que pudesse fazer mais perguntas, um par de homens montados a cavalo começou a vir a seu encontro. Estavam tão próximo da cidade que era só uma questão de tempo. Yex ajeitou o couro sobre a marca e ele endireitou-se sobre a sela, instintivamente em sentido.

Deus, como ele odiava aqueles instintos.

–Sabes o que tens de fazer? –perguntou Yex, desacelerando para ficar um pouco atrás dele. –Este problema não se resolve com a espada.

Ele acenou com a cabeça, deixando os guardas aproximarem-se. –Vai correr tudo bem.

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