“E quem é esse?”, perguntou Delia ao avistar o menino ao lado de Ash através da tela do dispositivo.

Orange apenas sorriu.

“Esse é meu colega de quarto, mãe. Ele se chama Orange e também é um treinador pokémon, assim como eu”, respondeu Ash apontando para o garoto ao seu lado.

A mulher retribuiu o sorriso com gentileza.

“Vejo que está fazendo muitos amigos novos. Sinto orgulho e até um pouco de inveja ao ver que meu menino está levantando suas asas asinhas e aprendendo a sobreviver nesse mundo. Principalmente depois dos últimos acontecimentos…’

Ash enrijeceu. Fazia tempo que não remoia o passado, e preferia continuar assim. Lembrar do que aconteceu com Gary apenas o deixava mais melancólico.

“Desculpa, não queria voltar a lembrar desse fato.”

De repente, Mr. Mime apareceu na tela do transmissor, parecendo alertar Delia sobre algo importante enquanto gesticulava com os braços.

“Mime Mime Mime MIMEEEEE!”

“Mankeys me mordam. Esqueci a comida no fogo. Tenho que desligar Ash, foi muito bom ver você, mantenha-se sempre em contato e não esqueça de ligar sempre…”

“Tchau, mãe!”, respondeu Ash.

Então, a chamada de vídeo foi encerrada.

Ash se virou para falar com Orange. “Pronto! Agora só preciso pegar a Luna com a enfermeira Joy e podemos ir!”

“Beleza!”, disse Orange.

Os dois se dirigiram em direção ao balcão de atendimento do centro pokémon.

O movimento estava calmo naquela hora da manhã. 

“Bom dia. Gostaria de saber o estado do meu pokémon. É um Clefairy, deixei ela aqui ontem à noite!”

A enfermeira olhou para um caderno de anotações, procurando o registro. “Pokémon Luna. Treinador Ash Ketchum. Certo, apenas um momento e já irei trazer o seu pokémon.”

A mulher entrou na ala hospitalar do centro pokémon e logo voltou, carregando Luna em uma maca.

“Está tudo certo com o seu pokémon. O check-up não denunciou problemas graves, além de esgotamento físico leve provocado por batalhas.”

Luna saiu flutuando da maca e pousou sob o boné de Ash.

“Obrigado por cuidar dela!”, agradeceu Ash.

“Estou apenas fazendo o meu trabalho. Caso você precise dos meus serviços, sinta-se livre para retornar sempre que julgar necessário. Tenham um bom dia.”

Os dois caminharam em direção à saída do estabelecimento.

“Para onde estamos indo exatamente?”, perguntou Luna através do link psíquico.

“Vamos passar o dia treinando para o torneio, é claro.”

“Ah tá, entendi. Apesar de que eu não preciso de treino já que sou forte o suficiente para derrotar todos os coitados que tiverem o azar de me enfrentar.”

Ash riu.

“Tá bom, fortona. De qualquer jeito, preciso me preparar.”

Aquele torneio reuniria treinadores de todas as partes de Kanto, e talvez até de outras regiões. Era normal esperar que a competição fosse de alto nível.

Orange olhou em direção a ele. Sua expressão era de confusão e estranhamento.

“Ash… cê tá falando sozinho?”

“Ah…”

Ash lembrou que não havia explicado para ele a peculiaridade do vínculo que possuía com Luna.

“É uma longa história, no caminho eu explico.”

Quando iam cruzar os portões, Ash ouviu uma voz chamar às suas costas.

“ASHHHHHH.”

Ash se virou para ver quem o chamara. 

Era Yellow. Dessa vez estava sozinha, sem Chuchu sendo carregada entre seus braços, fato que causou estranhamento.

Ao ver que tinha chamado a sua atenção, a garota veio correndo em sua direção.

“Vai sair?”, perguntou ela.

“Vou. Eu e o Orange vamos treinar juntos. Acho que você lembra dele, ontem, na fila junto com a gente.”

Os dois se cumprimentaram.

“Ash…” Ela parecia querer dizer algo. Pela sua expressão, havia algo de estranho, apesar dele não saber apontar exatamente o que era. “Preciso falar com você, a sós”.

Havia seriedade na sua voz.

“Ok… Vamos.”

Ash ia caminhar, mas foi parado por Yellow.

“Ash, quando disse a sós queria dizer que apenas nós dois.”

Ela olhou para o pokémon pousado em cima da sua cabeça.

Luna lhe dirigiu um olhar frio.

“Eh, Luna, espera aqui com o Orange rapidinho enquanto eu converso com ela.”

“Nem queria ouvir o que essa chatonilda tem pra falar mesmo, hum”, disse Luna após flutuar da cabeça de Ash e pousar no chão. Apesar do cinismo, Ash duvidava que o pokémon não tinha se incomodado com a exclusão.

Ash acompanhou Yellow. Os dois foram para um canto deserto do centro pokémon, lago abaixo das escadarias que levavam ao dormitório.

“E então. O que você tem de tão importante para falar comigo que precise da ausência de outros por perto?”

“Não quero conversar… Na verdade, quero que você faça uma promessa.”

“O quê? Mas por quê?”

“Não posso explicar agora, não nesse momento. Apenas confia em mim.”

A mudança da noite para o dia de Yellow estava deixando de ser apenas estranho. Agora estava bizarro, beirando a paranóia.

Ash suspirou.

“Ok, acho que não faz mal… Só promete que, se eu fizer a promessa, você irá parar de agir dessa forma.”

“Dessa forma como?”

“Não sei. É como se de ontem para hoje algo de diferente estivesse acontecido, só assim para explicar essa mudança súbita.”

“Ah…’ Ela olhou para baixo e segurou um braço com a mão.

Ash teve a impressão que ela iria revelar algo, porém, vacilou.

“Vamos acabar com isso logo de uma vez.”

Yellow o fitou diretamente nos olhos, mantendo contato visual direto.

“Certo. Ash, você irá e prometer que não importa o que aconteça, o quão angustiante e desesperançosa a situação pareça, você nunca irá deixar de ser você mesmo e perder o brilho no olhar. Não importa quais desdobramentos possam acontecer no futuro, você não se tornará uma pessoa completamente diferente do que é hoje.”

“É isso? É claro que eu nunca irei mudar. Assim como já aconteceu no passado, apesar de quão desastrosa a vida possa ser, eu segui em frente. Os problemas apenas me deixaram mais forte. Afinal, o meu sonho é ser um mestre pokémon.”

Não estava entendendo o ponto daquilo.

“Você tem que prometer! Eu tô falando sério.”

Ash revirou os olhos. Então, repetiu o juramento: “Eu, Ash Ketchum, futuro mestre pokémon, prometo que, não importa o que aconteça, o quão angustiante e desesperançosa a situação pareça, nunca irei deixar de ser eu mesmo e perder o brilho no olhar. Não importa quais desdobramentos possam acontecer no futuro, eu não me tornarei uma pessoa completamente diferente do que sou hoje.”

Yellow sorriu.

“Pronto, agora posso ir?”

“Acho que sim.”

Ash saiu correndo. Deu uma última olhada para trás enquanto corria e viu Yellow parada no mesmo lugar, olhando para ele.

Alcançou Luna e Orange.

“Pronto. Agora podemos ir.”

Luna flutuou até a sua cabeça e pousou.

“Desculpa ser intrometido… Mas sobre o que vocês conversaram? Pela expressão dela parecia ser algo bem sério”, questionou Orange

“Nada demais, apenas besteiras.”

“Ah, acho que entendi. Então vocês namoram.” Ele cobriu o riso com as duas mãos.

Ash ficou vermelho. Luna puxou o cabelo dele como birra.

“Ai!”, ele arfou. Então, justificou-se para Orange: “N-n-não é nada disso! Vamos logo, tenho que passar em um local antes.”

A promessa que fez a Yellow o fez lembrar que precisava comprar uma nova cartela de antidepressivos.

Os dois saíram correndo em alta velocidade do Centro Pokémon.