47
Ao chegar na delegacia fui barrada por um policial logo na entrada.
Ele era alto, branco e tinha um olhar profundo e castanho.
—– Calma aí mocinha, aonde pensa que vai? — Ele me agarrou pelo braço
—– Eu preciso falar com o delegado, é urgente — Falei ofegante pela correria. Ele prendeu uma pessoa inocente.
O policial continuou relutante e parecia zombar de mim.
Quem ele pensa que é? Não tenho tempo pra brincadeiras.
Minha vida é uma constante bomba relógio contando os minutos pra explodir. E eu preciso estar o tempo todo evitando que isso aconteça.
—– Por favor, eu estou com uma coisa que ele está procurando — Apelei. Precisa soltar o Vicent, ele nem se recuperou direito do coma...está exausto...isso é uma grande injustiça.
Os meus apelos não pareciam comover o tal policial que continuava me segurando com força.
—– Tá surdo ô idiota, me solta — Me irritei com ele, em seguida comecei a gritar e me debater em seus braços.
Ele continuou me segurando, com um olhar malicioso e um sorrisinho sarcástico nos lábios.
Não é possível que só ele esteja aqui.
Agora eu entendo por que tem mulheres que não gostam de ir em delegacias.
Pra não ter que esbarrar com um imbecil, que se acha é superior só porque está vestindo a porra de uma farda.
Os meus gritos chamaram a atenção de uma mulher que havia saido de uma sala, ela rapidamente veio na nossa direção.
Ela era loira, olhos esverdeados e usava uma jaqueta de couro preta.
—– Will pode deixar — Ela disse seriamente e o policial imediatamente acatou a sua ordem, um tanto sem graça.
Pela sua expressão, ele parece não ter notado que ela estava ali.
Não entendo porque todo mundo fica obcecado por mim. Nem sou tão bonita assim.
A mulher o repreendeu com o olhar, depois olhou pra mim.
—– Me desculpa — Ela disse — Por favor me acompanhe.
Ajeitei a blusa que havia subido um pouco e encarei o policial com desprezo. Depois me direcionei até a sala onde entrou a suposta mulher.
Os detalhes do ambiente prenderam totalmente a minha atenção. Na verdade qualquer lugar que não fosse a minha casa, parecia fascinante.
Era um espaço organizado, com alguns quadros, plantas e um mural com algumas colagens de investigação.
Sem contar as persianas. Eu sempre quis um escritório com persianas.
Andei pelo pequeno cômodo, apreciando a decoração à minha volta.
Eu gostaria de trabalhar em um lugar assim.
—– Parece que você gostou da decoração — Uma voz rouca interrompeu meus pensamentos.
—– An? Ah sim, gostei, desculpe, eu meio que viajei aqui — Falei com um sorriso sem graça.
—– Sente-se — Ela apontou para uma cadeira à minha frente.
Ela era muito séria.
—– Obrigada — Agradeci, e me sentei.
—– Aceita um café? água?
—– Não, obrigada.
—– Sou a detetive Morgan...os outros membros da equipe saíram todos para uma missão..estou aqui com o Will...
Quando ela disse esse nome, senti náuseas, e esfreguei o braço que estava um pouco dolorido.
—– E o Maicon, que é quem está cuidando do nosso prisioneiro.
Então eles foram buscar o Vicent no hospital.
—– Então você disse que está com algo que nos pertence? — Ela perguntou franzindo as sobrancelhas.
—– Sim, é um chip.
—– Hum, e você sabe o que tem nele? Chegou a ver?
Senti um calafrio ao me lembrar das imagens.
—– Tem...crianças...e...
Não consegui continuar, uma lágrima rolou pelo meu rosto.
—– Entendo, pode me entregar o chip, por favor.
—– Sim, claro.
Imediatamente enfiei a mão na bolsa, mas o meu nervosismo me atrapalhava um pouco.
A detetive estendeu a mão na minha direção, e pelo seu olhar compreensivo eu entendi que tinha que entregar a bolsa pra ela procurar, mas lembrei que tinha um revólver dentro dela.
—– Achei — Soltei nervosa, tirando o chip que eu havia cuidadosamente embalado em um plástico. Tinha receio dele arranhar ou coisa do tipo.
Ela o pegou e conectou em seu computador. Logo os gritos foram tomando conta dos meus ouvidos.
Eu não estava vendo, porque o monitor estava virado pra ela. Mas isso não me impedia de ficar angustiada. E as imagens associadas ao som, se agruparam na minha cabeça me fazendo tremer e chorar.
Ela tirou o chip e pôs de volta no plástico, depois suspirou olhando pra mim.
Era impressionante como ela não se abalava com aquilo, eram imagens extremamente fortes e sensíveis, principalmente por envolver crianças.
—– Lamento que tenha visto isso
—– Vocês prenderam um homem inocente, Vicent não tem culpa de nada disso, ele foi uma vítima desses marginais.
—– Por que está tão convencida de que ele é inocente? — Ela perguntou serenamente.
—– Porque eu o conheço, e sei que ele é uma boa pessoa, apesar das coisas horríveis pelas quais ele passou.
—– Certo, e como vocês se conheceram?
Sua pergunta me pegou de surpresa.
—– Isso não vem ao caso — Me exaltei— Vocês tem o chip , agora precisa soltar ele...
Eu não sabia muito bem como isso funcionava. Na minha cabeça eu só precisava entregar o chip, que eles o soltariam.
Mas a mulher olhou para o chip como se ele não fosse tão importante.
Parece algo tão inútil.
Em seguida, ela se levantou e começou a andar pela pequena sala.
Acompanhei ela com os olhos, completamente atordoada com o seu silêncio.
Eu já entreguei o que ela queria. Por que ela não parece satisfeita com isso?
O que mais eu preciso fazer.
—– Espancaram ele por causa desse chip, me espancaram, você precisa fazer alguma coisa — Exigi angustiada e ao mesmo tempo furiosa.
Ela se voltou subitamente pra mim e o seu olhar me congelou.
—– As coisas não são tão simples quanto parece, Ella Watson.
Como ela sabe o meu nome se eu nem falei?
O que está acontecendo aqui?
—– Eu não estou entendendo — Sorri nervosa.
—– Thomas é um velho conhecido nosso, não foi por acaso que o prendemos.
—– Thomas?
—– Sim, Thomas Edson
Ri incrédula. Mas logo parei ao ver que a mulher não tinha achado nenhuma graça, ela não parecia estar brincando.
—– Não, você está enganada — Soltei nervosa — O nome dele não é esse, vocês prenderam o cara errado, deve haver algum engano.
Meu corpo começou a ficar agitado de repente.
Ela foi até o mural e retirou uma foto que estava no meio das suas colagens e me entregou.
—– Reconhece esse rosto?
O homem que estava na foto, tinha cabelos castanhos e olhos verdes, mas os traços eram perfeitamente idênticos aos de Vicent, embora um pouco mais novo.
—– Vicent ? — Olhei pra ela buscando sua confirmação.
—– Não, esse é o Thomas, foi tirada a última vez que o vimos, e isso já faz dois anos.
—– Não..não é
—– Ele vem se camuflando, mudou o tom de cabelo, assumiu uma nova indentidade...
Agora que ela disse isso, me lembro de uma vez estar deitada com ele, e ter visto um fio castanho no meio dos seus fios loiros, mais não dei muita importância.
Não pensei que fosse importante.
—– Como vocês se conheceram, Ella? — Ela fez a pergunta novamente.
Eu estava chocada, sem conseguir acreditar. As lágrimas logo invadiram os meus olhos.
Então tudo não passou de uma mentira.
E eu pensando que Caleb era o único vilão da história.
Eu não acredito que me apaixonei por um louco.
Na verdade, por dois loucos.
Isso só pode ser um pesadelo. Meu deus!
—– Ella? — A detetive tocou no meu ombro, e eu me assustei totalmente com o seu toque.
Eu até então estava cabisbaixa, agrupando lágrimas nos olhos até ela me chamar.
—– Ele ...era o meu vizinho - Funguei, ainda sem encará-la.
—– Vocês tiveram um caso?
Bufei de raiva.
—– Você está fazendo perguntas de mais — Sussurrei histérica e cabisbaixa.
Eu não queria responder isso depois de ter descoberto essas coisas, eu me sentia envergonhada.
Envergonhada por ter permitido, e eu também me sinto culpada, culpada por ter enfiado um impostor na minha casa, por ter me deitado com ele.
Eu sou uma vadia, me deito com qualquer um.
Caleb tem razão, eu sou uma vagabunda.
—– Ella, quer uma água?
Me assustei novamente com a voz da investigadora. Ela estava falando muito alto, e sua voz era irritantemente aguda.
De repente, aquele ambiente que antes parecia agradável, foi se transformando em um cubículo. E eu me sentia sufocada.
Eu não conseguia respirar, eu tinha que sair dali.
Mas eu não achava a porta. Estava tudo girando.
—– Ella, você tá bem? Parece pálida.
—– Eu acho que eu vou vomitar — Sai correndo da sala e por não conseguir localizar o banheiro a tempo, acabei por vomitar em cima daquele mesmo policial.
Não foi de propósito, mas bem que ele mereceu.
—– Sua idiota, olha o que você fez — Berrou olhando para a roupa cheia de vômito e depois pra mim.
Pensei em pedir desculpas.
Mas eu não sabia para qual me direcionar para fazer isso. Haviam dois dele.
—– Sai de perto de mim — Ele me empurrou, e eu simplesmente caí no chão.
E não consegui levantar.
Na verdade eu queria ficar deitada no chão pra sempre.
O chão não era tão duro, não como a minha vida. E também não era tão frio. Eu sinto que estou em paz assim, desde que ninguém me incomodasse.
Minha cabeça foi invadida por pensamentos felizes, momentos inesquecíveis que passei ao lado de Vicent.
Isso por instante me fez sorrir, mas depois me fez rolar de dor ao saber que tudo não passou de uma ilusão.
Tudo na minha vida é muito instável. Tudo tem data de validade, é momentâneo.
Eu nunca consigo ser feliz por um longo período de tempo.
—– Ella — Uma voz distante me chamou.
Virei o rosto e vi a detetive se aproximando.
Mas sua imagem aos poucos foi se apagando, até que tudo ficou escuro.
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