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3.16 |livro três | rebus sic stantibus

Afundo a cabeça debaixo d'água, sentindo-a inundar os meus sentidos.

Tudo fica abafado e o som do mar ressoa nos ouvidos. É pacífico, como se aqui debaixo ninguém pudesse me alcançar. Quando abro os olhos, só enxergo escuridão e a sensação claustrofóbica do meu corpo pedindo para respirar. Aguento o máximo que eu posso, prendendo o pouco do ar que me resta. Morrer na água salgada é demorado, requer um nível de obstinação maior e, por consequência, mais dor. Não quero morrer sentindo dor, o que é engraçado já que infligir dor a muita gente, mas penso em morrer de forma indolor, algo que não mereço.

Meu corpo inteiro implora ar e começo a sentir os meus músculos agindo de forma automática, me impulsionando para cima. É um pouco aterrorizante emergir no breu, com as ondas escuras me acertando como um soco. Nadar a noite é estranho por si só, é antinatural não conseguir ver o que está na água. Passo as mãos pelo rosto, jogando os cabelos molhados para trás, e sorrio ao ver Lisa na areia da praia.

O semblante dela se suaviza quando me vê.

— Achei que estivesse se afogando — ela diz assim que me aproximo, jogando uma peça de roupa na minha direção.

— Você demorou. — Mudo de assunto, analisando o vestido de babados que ela me deu. Lisa se dispôs a sair para roubar roupas das casas que vimos na encosta da montanha, perto do frigorífico. — É tudo que conseguiu encontrar?

— Não é como se os moradores daqui tivessem algum estilo. — Lisa dá uma voltinha, mostrando-me a roupa que está vestindo: uma saia midi com uma estampa florida e uma blusa branca de alça. Parece uma senhora indo à igreja.

— Uau... — Sorrio, batendo palmas. — Você finalmente está vestindo uma roupa que condiz com a sua idade, professora.

Ela se afasta, rabugenta.

— Não sou mais professora.

Não sei se Lisa queria privacidade ao se distanciar, mas eu a sigo enquanto tento passar uma manga do vestido pelo braço e não atolar o pé na areia fofa ao mesmo tempo.

— Dentre tudo o que eu disse, é isso que te incomoda? — pergunto divertida. — Não ser uma professora?

Lisa diminui o passo, consternada.

— Eu realmente gostava do que fazia, Jennie.

Alcanço-a, trombando em seu ombro de propósito.

— Está falando da parte de lecionar ou matar?

Pegamos os sapatos na beira da estrada, deixados ali numa tentativa chula para secar, mas ainda estão molhados e expelindo uma leve mistura de água salgada e sangue. Lisa toma a dianteira, andando no acostamento da rodovia. A cada passo o frigorífico fica para trás e o cheiro de ferro começa a se dissolver na minha mente, substituído pela maresia.

Andamos por alguns minutos em silêncio, até Lisa retomar o assunto.

— Pelo que eu entendi, agora você é professora?

Dou de ombros, tentando não parecer afetada.

— Achei que soubesse.

— Não, eu não sabia — ela responde baixinho, encarando-me com uma feição difícil de descrever.

Desvio o olhar, como se o concreto debaixo dos meus pés fosse muito interessante. Não consigo me lembrar qual foi o momento exato que decidi seguir os passos de Lisa, mas pareceu natural a se fazer, como se eu estivesse treinando há anos. Talvez fosse esse o caso. Lisa me treinava para alguma coisa, no fim das contas. Novamente ficamos em silêncio, dessa vez é uma escolha minha por não saber o que falar, e isso torna o silêncio um tanto quanto incômodo. Pelo menos o braço desnudo de Lisa resvala no meu a medida que caminhamos e fico indecisa se devo ou não apertar a sua mão. Nunca andamos de mãos dadas antes porque sempre fomos um segredo, até quando não precisávamos ser.

Não ouso levantar o rosto, igual a uma garotinha envergonhada. Por céus, Jennie, você é uma mulher adulta. Lisa deve estar pensando em tantos outros assuntos mais importantes que não envolvem me dar ou não a mão. Estamos cheias de assuntos importantes para pensar, mas a minha mente só quer ser preenchida com a possibilidade de entrelaçar as minhas mãos nas dela. É infantil me apegar a esse mínimo contato que não faz diferença para Lisa, mas quando sinto os dedos dela buscando os meus, eu prendo a respiração. Devagar, Lisa envolve a minha mão no aperto da sua e o calor queima o meu corpo.

Seguro o sorriso, sentindo as bochechas quentes.

— Eu pensei em você — Lisa diz baixinho.

O mundo parece parar, não existe nada além de nós.

— O que você disse?

Ela demora a falar, como se quisesse pensar delicadamente em cada palavra.

— Lá no frigorífico... você me perguntou se eu cheguei a pensar em você. — Lisa molha os lábios de saliva. — A resposta é sim. Eu pensei.

Quase perco o passo, mas me mantenho andando, um pé na frente do outro enquanto o meu coração bate rápido.

— Muito ou pouco? — pergunto.

Lisa pensa por um tempo.

— Algumas vezes — diz insegura.

Droga, agora estou sorrindo tanto que é impossível esconder.

— Algumas vezes me parece bom — respondo envergonhada.

Lisa também falha em segurar o sorriso.


>< >< ><


Estamos andando a mais de trinta minutos no silêncio que veio com o começo da noite. Lisa está na frente, a respiração cansada somando a minha enquanto a lua parece maior a cada passada. Ainda estamos de mãos dadas, mas chegou um ponto que ficamos anestesiadas. Nenhuma de nós sabe o que fazer agora e só estamos caminhando aqui, na beira da estrada, esperando a resposta para todas as perguntas que nos rondam. Meu corpo já está seco, mas os meus cabelos estão ensebados — se foi o sangue ou o sal do mar nunca saberei —, mas o que me incomoda são os sapatos, que fazem um barulho chato a cada passo que eu dou. A sorte é que a estrada está vazia e andamos por mais vinte minutos sem ouvir nada a não ser as cigarras cantando.

Até que Lisa pára de supetão, quase me fazendo cair.

— O que foi? — pergunto, buscando algo estranho em sua face, mas Lisa está com os olhos semicerrados fitando o mar. — Lisa? — chamo de novo.

— Por que tem um caminhão parado na praia? — ela pergunta.

Olho novamente para onde ela está apontando e então vejo. É um caminhão baú e não está necessariamente na praia, mas as rodas dianteiras afundam na areia branca. O automóvel poderia passar despercebido, porque está parado no fim de uma estrada que um dia foi utilizada, mas agora está abandonada e não resta nada a não ser um pedaço de concreto tomado por areia e mato. Para piorar, a encosta é íngreme e descer até lá é um caminho difícil. Os faróis estão ligados lançando um facho de luz amarelada na praia.

Lisa e eu trocamos um olhar preocupado.

Admito que estou mais confiante com ela aqui. Já posso imaginar mil e um motivos para o caminhão está parado, desde o motorista que errou o cruzamento e acabou soterrado na areia, esperando um guincho chegar para ajudá-lo, até Bambam preparando mais uma sequência de mortes bíblicas. Sem dizer nada, Lisa e eu adentramos no matagal que circunda a rodovia, o caminho é íngreme, mas é a melhor forma de chegarmos lá em pouco tempo. Lisa vai à frente, tirando os galhos maiores do meu caminho. Tudo o que posso ver é a sua silhueta iluminada pela luz da lua e, ao passo que nos aproximamos, o caminhão se torna maior. Agarro a barra da saia de Lisa, como fazia com a minha mãe quando era pequena.

Chegamos em um ponto que não dá mais para esconder entre a vegetação. A areia invade os meus sapatos. Lisa olha para mim e, lentamente, encosta o indicador nos lábios, pedindo silêncio, e eu movo a cabeça em afirmação. Estamos armadas, mas deixo Lisa tomar a dianteira com o revólver em punho. Ela sabe usar melhor que eu.

— Fica atrás de mim — Lisa pede e eu obedeço.

Agora que estamos perto do caminhão, é ainda mais estranho que ele esteja aqui, no meio do nada. Os faróis estão ligados no máximo e, ao mesmo tempo que iluminam a praia, escurece tudo ao redor. As janelas estão abertas, mas a cabine está preenchida apenas com uma luz vermelha. Aperto a barra da saia de Lisa com mais força, lembrando-me de quando dirigi até o cemitério particular e fui assombrada. Eu inventei aquilo, sei que inventei, estava sob pressão e tinha certeza que encontraria o cadáver zumbificado de Lisa. A minha mente sempre foi inventiva e está pronta para me pregar peças, mas esse cenário é diferente. Primeiro porque Lisa está comigo e tenho alguém para testemunhar essa loucura, e segundo porque sei que os assombrações que me atormentam estão mais vivos do que eu pensei.

— Vou checar do outro lado — Lisa avisa, mas no primeiro passo que dá longe, eu me apresso para alcançá-la.

— Não vou ficar sozinha aqui — explico assim que ela olha para trás, surpresa por eu ter puxado a barra da sua saia de novo.

Metade do rosto de Lisa está iluminado pelo farol do caminhão e a outra está embebida nas sombras.

— Está com medo? — ela pergunta, levantando uma sobrancelha.

— E você não está? — retruco, irritada pela pergunta.

O canto dos lábios de Lisa se erguem em um sorriso zombeteiro.

— Mesmo que eu ande pelo vale das sombras e da morte... — ela recita, caminhando pela lateral do caminhão. Sua voz não está tão alta, mas como tudo está silencioso, o timbre se projeta na escuridão. — Não temerei perigo algum, pois tu estás comigo...

Conforme nos aproximamos da traseira do caminhão, algo salta dos meus olhos. Está escuro demais para reconhecer o que é, mas parece ser uma perna. Lisa também percebe, mas não se deixa abalar e continua andando. A nossa distância aumenta, porque cada passo dela equivale a uma tentativa minha, e não consigo sair do lugar. Lisa chega na traseira do caminhão, as portas estão abertas, mas o que chama atenção é o que está caído na areia.

Não consigo ver o semblante de Lisa daqui, mas sei que algo despertou a sua desconfiança. O humor de segundos atrás se foi, e é o que me faz seguir até ela. Pelo menos tenho a certeza que não vou levar um susto. Assim que me aproximo, vejo que eu estava certa: é uma perna presa ao corpo de um homem morto. Um dos pés enterrados na areia está sem o sapato e o outro descalço, e a camisa pequena demais para cobrir a barriga avantajada está com marcas vermelhas, mas o sangue se concentra na cabeça, engolindo os cabelos grisalhos.

A causa da morte? Bem, é visível. É a faca cravada no pescoço dele.

Franzo o cenho à medida que Lisa se aproxima do cadáver.

— Tem alguma coisa errada aqui... — Rodo os calcanhares, tentando enxergar alguma coisa anormal na praia ou no matagal atrás do caminhão, mas nada salta aos meus olhos. — Esse assassinato não é do mesmo assassino que os outros... não tem nada bíblico e..

— Outra pessoa fez isso — Lisa me interrompe.

Ela já está dentro da caçamba do caminhão. Caixões. O caminhão está lotado de caixões.

— Que coincidência, não? — ela pergunta, irônica.

— Você sabe quem fez isso? — quero saber, seguindo-a para a cabine do caminhão.

Ela abre a porta do carona e pega uma mochila no assento, é como se soubesse exatamente o que vai encontrar. A mochila está cheia de roupas femininas.

Lisa lança um sorriso presunçoso.

— Ela chegou mais rápido do que eu previa.

Ela. Balanço a cabeça, confusa.

— De quem você está falando?

Lisa não me responde, ela entra na cabine e volta a vasculhar.

— Lalisa? — chamo de novo, irritada pelo vácuo.

Ela? Quem é ela? Engulo uma crescente de raiva que toma conta da minha garganta. Ela, ela, ela. Lisa disse "ela". É uma mulher. Uma mulher que Lisa conheceu enquanto estava longe de mim. É claro que foi quando estava longe, eu fiz questão de minar todas as escolhas femininas de Lisa quando nos conhecemos. Então tem que ser uma mulher que ela conheceu nesses anos. Uma mulher que pode estar aqui, que a conhece. O que Lisa estava fazendo? Como conheceu essa mulher? Estava procurando? E por que ela está aqui? O que quer com a Lisa?

— Não tem mais nada aqui. — Lisa desce da cabine, limpando a saia com a palma.

— Você não respondeu a minha pergunta — retruco impaciente.

— Quais delas? — Lisa volta a pegar a mochila, como se eu não estivesse aqui ou fosse só um mosquito insolente zumbindo em seu ouvido.

— Todas! — explodo. — Quem é essa mulher? Onde você conheceu ela e o que está fazendo aqui? Já não bastam todas as outras questões que precisamos...

Lisa levanta o indicador e eu me calo no mesmo segundo.

— Você já pensou em como quer morrer? — ela pergunta.

Involuntariamente engulo o seco, lembrando-me do mergulho no mar. Foi a primeira vez que eu pensei em como queria partir e a pergunta de Lisa chegou em um péssimo momento. Ela se aproxima de mim, sabendo que estou mentindo.

— Nenhuma vez você pensou como deveria morrer?

— Claro que não! — respondo na defensiva. — Que tipo de pergunta é essa?

Ela dá de ombros, jogando a mochila no chão.

— Você deveria pensar, quer dizer, metade da cidade deve estar pensando em nos matar agora.

Abro a boca e fecho-a logo em seguida, criando coragem para perguntar:

— Até essa mulher?

Um sorriso diabólico nasce nos lábios de Lisa.

— Especialmente ela.

Mais um problema no montante de problemas que nós temos que lidar. Fecho os olhos com força. O pior de tudo é que eu sei que Lisa está escondendo algo de mim e que isso vai nos impactar diretamente. Lisa e seus segredos. Mesmo depois de anos, quando pensei que me trataria como igual, ela ainda está mantendo segredos.

— O que você andou aprontando? — pergunto entredentes.

É uma péssima pergunta, porque pela primeira vez na vida eu não quero saber a resposta.



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Recados da autora: olá gente, como alguns de vocês sabem eu sou uma autora independente e vim avisar que meu mais novo conto está disponível na Amazon, o nome é 126 Cabides (faz sentido com a história, ok? kkkkk) E se vocês gostam das minhas histórias aqui acho que vão amar as que eu publico na Amazon. Para ler 126 Cabides o link está no meu mural e também no meu twitter @/wingsnoir (eu também posso enviar pela DM). Aos que já leram, não se esqueçam de comentar/classificar lá Amazon ou Skoob, assim o conto é recomendado para mais pessoas. É isso, desculpem a amolação e até quarta que vem. :)

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