Capítulo 9 - Movimentos
O casamento de Marie e Henrique ia acontecer numa pousadinha perto de San Diego. Foi como conseguiram apaziguar as duas famílias, realizando a cerimônia em território neutro. Nem na França, nem no Brasil. Tudo tinha a cara deles. Simples e alegre, com aquele toque de sofisticação com a cara da minha francesa favorita.
Faltava menos de uma hora para a cerimônia quando saí do banho, já com a maquiagem e cabelos arrumados, pronta para colocar o vestido verde musgo escolhido para as madrinhas. A cintura ficara marcada logo abaixo dos seios para caber a barriga de 4 meses, agora, indisfarçável.
_ Pareço um abacate. - comentei frustrada em frente ao espelho.
_ Ainda bem que eu adoro guacamole. - Jay respondeu, me beijando no rosto.
_ Preciso ouvir alguma coisa bonita do meu marido, senão vou surtar. - ele me lançou um olhar divertido e um sorriso sacana antes de começar a falar.
_ Uma coisa bonita. E tem que ser de mim, que não sei criar e cujas frases mais inteligentes que já proferi foram decoradas e dirigidas. Missão fácil. - ele me deu um beijinho. - Eu amo tudo em você, Aurélia. Sou louco pelo seu corpo todo definido e lindo, sua bunda dura e grande de brasileira, seus seios do tamanho perfeito, sua boca... mas não é isso que eu amo. Eu amo o jeito como seus olhos brilham quando está contando ou ouvindo uma história nova; a sua coragem de enfrentar todo mundo, mesmo que esteja apavorada; sua sinceridade, muitas vezes exagerada; o jeito como tenta disfarçar seu nervosismo e nem sempre consegue; o seu jeito de ser frágil só pra mim quando estamos a sós; sua imaginação sem limites que faz qualquer coisa ficar mais suportável; isso tudo e tudo o mais que faz de você, você! Não há ruga, gordurinha ou idade que vá fazer mudar a mulher que eu amo.
_ Por que você é assim? - é claro que eu já estava chorando. - Eu nem sei se te mereço.
_ Claro que merece. Agora, se quiser merecer mais ainda, limpa essas lágrimas e vamos logo. Não quero me atrasar.
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A cerimônia dentro da capela foi emocionante. Quando Henrique prometeu colocar a família nas mãos de ambos, tive a certeza que eles tinham tido "a conversa" e que tudo tinha ficado acertado. Após o jantar, pude presenciar Pedro dançando com uma menina da mesma idade e meu coração até disparou. Josué riu da cena e Jay olhou o garoto com uma expressão que não sei se soube ler direito. Talvez fosse orgulho, cumplicidade de homens. Talvez fosse só um carinho de pai postiço que ele nunca nem tentou esconder. Victor veio arrastar Josué para a pista de dança e os dois faziam passos coordenados, sendo seguidos por outros convidados e observados pelos demais.
_ Acho que tem mais gente querendo participar da festa. - falei no ouvido de Jay, pegando a mão dele e colocando sobre a minha barriga, onde o bebê acabava de se mexer pela primeira vez. _ Sentiu?
_ Não tenho certeza. - ele moveu a mão, tentando provocar mais movimentos - Acho que ele não quer brincar comigo.
_ Vai acontecer de novo. Ainda é muito pequeno, logo você vai sentir também. - dei um beijinho nele, colocando a mão sobre a dele. - Prometo que em casa, a gente fica até ele dar o ar da graça.
_ Se você diz...
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A bola laranja bateu no aro duas vezes antes de cair. Os meninos disputavam a bola como se fosse a coisa mais importante da vida e eu estava de preguiça na rede, lendo o romance de mais uma autora brasileira que se candidatava a ser publicada por nós. O apito na tela era familiar e desagradável. O clipping avisava mais uma notícia com um de nós. Cliquei e dei de cara com a nossa foto da véspera. Jay segurando a minha barriga, minha mão sobre a dele e o nossos olhares se cruzando. Devo admitir que a imagem era linda.
"Família crescendo:
Depois de muita especulação a respeito, temos a confirmação que o Jay e Aurélia Silva Hite estão esperando seu primeiro filho juntos. Ela já é mãe de dois meninos de um casamento anterior. Agora, aos 38 anos, espera o herdeiro do queridinho de Hollywood."
Qual a necessidade de destacar a minha idade? Ninguém questiona o George Clooney ser pai, quase sexagenário com uma mulher duas décadas mais nova. Ok, respira. Precisava contar ao pai do bebê que nossa família estava exposta mais uma vez. Antes que chegasse lá, senti o celular dele vibrar no meu bolso. Era a minha sogra.
_ Meu bem, telefone! - tive que gritar para superar os barulhos do jogo dos três.
_ Atende!
_ Nem pensar!
_ Por que não? - ele veio suado, ofegante pegar o aparelho da minha mão. _ Oi, mãe. - atendeu e olhou para mim, desgostoso.
_ Era por isso. - respondi cochichando e começando a me afastar. Ele me seguiu até a cozinha. Ouvia a voz dela alterada do outro lado da linha.
_ Você saberia da gravidez por nós, se conversasse mais com a gente. Não era segredo. Meu pai sabe desde o começo. - agora ela ia ficar mesmo brava. Desde a separação, meses antes, ele mal falava com ela.
_Você já tem netos, mãe. Ashley fez 13 anos mês passado. - a filha do meu cunhado não contava com a presença dela como gostaria. - E os meninos também estão aqui. E vão bem, obrigado. - mais uma vez, podia ouvir a voz alterada reclamando. Eu podia adivinhar de que.
_Sim, é a mesma coisa. Eles são meus filhos. Só são maiores que o outro e escolhi ser pai deles. Se não são importantes, não precisa participar da vida do próximo também.
_ Sim, mãe. Minha mulher está grávida. Estamos felizes por isso e está tudo bem. Agora preciso voltar ao jogo com os meus filhos já nascidos. Vou ver se ela pode atender - gesticulamos até ele me convencer a pegar o telefone. Nossa última conversa de verdade havia sido mais de dois anos antes e eu meio que ameacei a mulher.
_ Oi, Samantha.
_ Quer dizer que a minha familia está crescendo? - o tom amigável deixava aquela voz ainda mais intimidadora. - Você está bem? O bebê está saudável? Já sabem se é menino ou menina?
_ Estou bem e ele também. Desde que continue na minha barriga, tudo vai dar certo. - tentei gracejar, mas tive a impressão de ter sido meio grossa. - Vamos tentar saber o sexo amanhã.
_ Você me ligaria para contar?
_ Vou pedir que o Jay ligue, Samantha. O filho também é dele.
_ Você sabe que ele vai me deixar de fora se tiver a chance.
_ Ele tem os motivos dele. Resolva-se com seu filho. Você vai sempre ser bem recebida por mim, mas eu não vou passar por cima das decisões dele.
_ Você tem ideia do quanto sou louca pelo meu filho e tudo o que se refere a ele? Não me negue a participação na vida dessa criança.
_ Não nego nada, mas não vou me meter. Até porque sei muito bem o que você é capaz de fazer pela sua família e, digamos que eu não compactue com os seus métodos. - ela suspirou frustrada do outro lado da linha.
_ Como queira. Passar bem, Aurélia.
_ Até mais, Samantha.
Desliguei com um desconforto palpável.
_ Você não devia ter me feito falar com ela. Resolva a situação, não me jogue nela.
_ Desculpa, amor. Nem pensei. Imaginei que seria uma demonstração de boa vontade da nossa parte, não que ela te pediria para passar as informações que eu não der.
_ Parece que você não conhece a sua mãe... - ia continuar a frase, quando senti um movimento sutil. Peguei a mão dele e coloquei no ponto exato. - Sentiu agora?
_ Acho que sim. Espera mais um pouco. Senti! - ele ria como criança que passou de fase no video game. - Você também está bravo com a vovó? - ele se dirigia à minha barriga, fazendo um afago gostoso. - Amanhã a gente vai saber se o time de basquete vai ficar dois contra dois ou se o papai vai ter que aprender a brincar de Barbie.
_ Embora uma menina também possa jogar basquete, né?
_ Por que você não joga, então?
_Porque nesse momento, só posso ser a bola. E nos outros, detesto aquele negócio. Meu lance é yoga.
_ Você é chata.
_ Eu sei. E você não vive sem mim, estrelinha.
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