Lar
Essa obra é um presente pra uma pessoa muito especial pra mim, Mikaellefariasnascim, aqui gatinha😚🫶
Bom, é minha primeira vez postando algo aqui, não vou pedir pra terem paciência, pq normalmente não têm.
Mas desde já agradeço à Enimochi por ter feito essa capa maravilhosa, de verdade, muito obrigada.
Tá' ventando lá fora. Na previsão diz que vai chover. Mesmo assim, jogo meu celular em cima da cama e resolvo sair de casa.
- Onde você vai? - minha mãe pergunta ao me ver descer as escadas, ela está deita-
da no sofá lendo um livro
- Dar uma volta - respondo, passando direto.
-Acho que vai chover - ouço, minha mãe deixa o livro de lado.
- Eu sei - repondo, seco, mas antes que pudesse chegar até a porta, ela vem até mim e me olha com atenção.
-O que aconteceu?
- Nada, só estou com dor de cabeça.
So-hee assenti e volta pro sofá e eu finalmente saio de casa.
Daqui a pouco escurece , mas eu não ligo.
Ando pela calçada com as mãos nos bolsos da do moletom preto, sentindo o vento frio bater no meu rosto e bagunçar meu cabelo.
Caminho bastante. Até sentir minhas pernas começarem a doer. Não sei exatamente onde eu tô mas não é um lugar desconhecido.
Acho que já estive aqui. Na verdade, já rodei metade da cidade sozinho e a pé.
Eu gosto de andar, de estar sozinho, sempre vivi assim e nunca me incomodei. Principalmente em dias nublados, em dias como hoje.
Paro de andar quando vejo a fachada de uma cafeteria. É fofa, toda a frente é roxa e branca. Magic Dreams.
Nunca estive aqui, talvez seja nova. Estou longe de casa
Continuo andando. Não tento descobrir onde estou.
Quando o vento fica mais frio, sinto o primeiro pingo d echuva no topo da minha cabeça, sorrio.
Já está tarde, eu acho, faz mais de duas horas que saí de casa, estou a pelo menos seis bairros depois do meu.
Nunca andei tanto e nunca me importei menos.
Quando realmente começa a chover, estou na onde que separa as duas partes da cidade. Não existe trânsito, não passa uma moto, um carro, nada.
Sossego.
Me escoro na beirada da ponte e olho o rio. Puxo o vape do bolso e trago. Eu sei que essa porra faz mal e não tô nem aí.
A chuva engrossa e encharca minha roupa, meu cabelo, lava o suor do meu rosto e relaxa meus músculos. Tá gelada.
Solto a fumaça do vape pra cima e observo o céu nublado. Silêncio, só ouço o barulho da chuva no asfalto. Não vai parar de chover tão cedo.
Me sinto leve e tenho vontade de dançar, pular, gritar.
No entanto, choro.
Deixo as lágrima caírem sem pausa. Elas se misturam com água da chuva. Choro em silêncio.
Dois carros passam em sequência, fazendo a ponte vibrar. Dois soluços me escapam.
Guardo o vape e passo a mão pelo meu cabelo ensopado. Ainda chove, muito.
Quando meu choro diminui, ouço passos pesados ao longe, acho que é coisa da minha cabeça. Ma depois olho pra esquerda e vejo a silhueta de alguém não longe de mim.
A pessoa usa branco nas roupas e preto no coturno. Anda ruidosamente até a metade da ponte, para e se senta na beirada, virado para o rio.
Não estamos longe. Sei que é um rapaz. Tem cabelo longo escuro, usa uma jaqueta de couro marrom balança os pés devagar.
Ele também está ensopado. Talvez estivesse andando a muito tempo, como eu. Ou pegou chuva no caminho pra algum lugar
Morador de rua ele não é. Talvez seja um lunático, um assassino. Ou ele é só um rapaz normal e o lunático sou eu.
Não o encaro, olho pro rio.
Não quero ir pra casa, mas sei que não posso ficar na rua, ainda mais chovendo. Porém, não quero votar a andar, minhas pernas doem.
Ainda estou chorando, não sei mais o que água da chuva e o que é meu choro. E pouco me importo.
Pego o vape de novo. Está quase no fim, preciso comprar outro, mas isso deve demorar, já que o filho da puta do meu ex chefe me demitiu quando soube que gosto de homens.
Sei que também foi por causa do filho mais novo dele. O garoto parecia na livraria todo santo dia, sempre no meu turno.
Acho que o velho percebeu o jeito que o filho me olhava e resolveu não "arriscar".
Quero ver o que ele vai fazer quando descobrir que o bebê dele beija homens. E beija muito bem, vale ressaltar.
Realmente não vai parar de chover tão cedo.
- Aí, isso é vape?
Ouço o rapaz perguntar. O olho e confirmo com a cabeça.
Ele desce de onde está sentado e vem lentamente até mim e imita minha posição, curvado sobre a beirada e olhando o rio.
O entrego a doença eletrônica e ele traga, deixando o rosto ser envolto pela fumaça.
Agora estamos à dois palmos de distância. Posso ver o rosto dele dele. O cabelo dele é preto e tem mexas cor-de-rosa. Ele é mais alto que eu e bem bonito.
Quando ele me entrega o cigarro, penso um pouco, quero usar, mas, e se ele tiver alguma doença?
Não ligo. Eu provavelmente tenho câncer por usar essa porra por mais de dois anos e anemia por negligência na alimentação. Então, foda-se.
Trago o cigarro eletrônico e solto a fumaça em direção ao rio, não chega até lá, óbvio.
Viro de vistas para o rio e escorrego até estar sentado no chão molhado. Apoio a cabeça na proteção e algumas lágrimas descem quando fecho os olhos.
- Você tá chorando. - O cara, ainda de pé, diz. Acho que era pra ser uma pergunta, mas saiu como uma afirmação.
É isso aí, gênio.
- Uhum - murmuro, ainda de olhos fechados.
- Dia ruim? - Ele pergunta e senta do meu lado.
- Vida ruim - falo, tragando a droga desse cigarro de novo.
Ele fica em silêncio e pega o vape da minha mão. Quando me devolve, trago uma última vez e lanço o objeto vazio do outro lado da ponte. Ele estilhaça.
Uma moto passa. A chuva diminui. O cara do meu lado tira a jaqueta.
- Você vai pegar um resfriado. - Ele diz, do nada, abro os olhos.
- Você também - digo, ele sorri de lado e balança a cabeça, franzindo o nariz.
Sinto vontade de deitar, não o faço.
- Dia ruim? - Pergunto, invés disso.
- Horrível.
Volto a apoiar a cabeça na proteção da ponte, olhando os postes de luz ao longo dela.
Subitamente, sinto a paz de mais cedo, quando começou a chover, mas meu coração bate mais rápido.
Não quero voltar pra "casa". É bom aqui.
Ouço barulho de carro, ele pára. Abro os olhos, uma viatura. O policial passageiro abaixa o vidro e nos olha.
- Tudo bem aí? - Pergunta alto, sobrepondo o barulho da chuva.
- Está sim - o de cabelo escuro diz, simples.
- Saiam daí, vão ficar doentes. - O da lei diz e o carro vai embora, sem esperar por uma resposta.
Silêncio. Por quase dois minutos. Deve ser nove da noite.
Respiro fundo ruidosamente e decido voltar pra onde moro. Me levanto e olho o rapaz sentado. Sorrio pra ele e assinto uma única vez, antes de me virar e começar a andar.
Dou quanto passos e escuto o homem me chamar. Olho pra trás e ele está de pé. Se abaixa e pega a jaqueta no chão, joga no ombro e olha.
- JungKook - ele diz, parecendo estar mais perto do que realmente está.
- Jimin - respondo.
Nós encaramos em silêncio. Ele tem olhos grandes e brilhantes.
Intenso.
Inclino a cabeça de leve e finalmente e me viro e vou embora.
Ainda chove.
JungKook. Ele é bonito.
Eu senti.
[...]
Chego em casa cerca de duas horas depois. Deixo os sapatos na entrada e So-hee vem até mim.
- Onde você esteve? - Pergunta, e não tem sei se está preocupada ou brava.- Por que demorou tanto?
- Saí pra andar, a chuva me pegou no caminho- ominto, ela me olha.
- Você estava bebendo?
- Não.
- Eu te liguei. Deixou seu celular em casa?
- Sim.
Passo por ela e ando em direção as escadas.
- Jimin, não estava mesmo bebendo?
- Não, mãe. Eu não estava.
Me viro e vou até ela. Sopro em direção ao seu rosto, para que sinta meu hálito. O vape era de cereja.
So-hee não diz nada. Agradeço deu silêncio e vou pro meu quarto.
Tiro as roupas molhadas e ponho pra secar e vou tomar banho.
Não adianta, um espirro me escapa. Droga.
Me jogo na cama depois de vestir roupas quentes e pego meu celular. 16 ligações da minha mãe.
Respondo algumas mensagens e fico de bobeira vendo story de famoso. Até minha mãe entrar sem bater.
- Você não vai jantar?
- Não, - olhando pra ela de relance.- Se sentir fome, eu desço depois.
- Ok, estou indo deitar.
Assinto e ela saí, fechando a porta. Eu tô com fome, mas espero ela dormir, odeio comer com ela por perto.
Então, depois de quinze minutos, minha barriga ronca, e decido descer e comer alguma coisa.
Como em silêncio, lavo o que sujei, e vou até a sala. Ligo a tevê, no volume mais baixo.
Passo os canais preguiçosamente, odeio tevê aberta.
Desisto de achar algo pra ver e desligo o aparelho. No quarto, fico olhando a garoa lá fora pela janela. Não tenho sono. De novo.
Vou até a sala novamente, a procura da cartelinha abençoada. Não acho. Procuro por todo canto e acho os benditos comprimidos que me dão paz em uma das gavetas da cozinha.
Tomaria dois, mas So-hee perceberia. Engulo um deles sem água mesmo e volto para o quarto. Alguns bons minutos depois, o remédio faz efeito e me preparo pra cair num sono sem sonhos.
Mas dessa vez não.
Depois de anos, consegui sonhar de novo. É... Bom?
[...]
A casa está vazia.
É a primeira coisa que percebo ao entrar. Fecho a porta e tiro os sapatos na entrada. Na sala, jogo meu casaco no sofá e vou pra cozinha, beber água.
Bebo direto da garrafa, sabendo que So-hee enlouqueceria. Volto pra sala e deito no sofá.
Duas semanas inteiras procurando emprego, um bico, qualquer coisa pra minha mãe parar de encher meu saco e poder ficar fora de casa algumas horas.
Procurei por algo parecido com meu antigo emprego, e acabei numa cafeteria, que tem uma pequena livraria aos fundos. Gostei de lá.
Comecei hoje, Sábado. Só trabalho de Quinta à Domingo.
Depois daquela noite, não choveu mais, apenas garoou.
Mais cedo, quando saia do trabalho, vi, do outro lado da rua, um garoto com roupas coloridas e uma mochila azul mas costas, andando na calçada.
Era ele.
O garoto da chuva. Ele não me viu, mas olhou para os lados, procurando algo.
Lindo.
Paz.
Intenso.
Foi em tudo que pensei, mas voltei a andar, torcendo pra que chovesse de novo, sem nem perceber.
[...]
Domingo, segundo dia de trabalho. Não tem muito movimento, mas não está vazio.
Hoje tá frio, espero que chova.
So-hee não me disse onde estava ontem a noite, mas sei que estava com uma amiga. Quando ela chegou, estava de mal humor e eu saí de casa.
Hoje, sai uma hora mais cedo. Ela já acordou pegando no meu pé.
"- Esse dinheiro veio em boa hora. Mas com certeza vai embora tão rápido quanto veio.
Fiquei em silêncio, sabia o que viria a seguir.
- Trabalhei muito pra conseguir esse aumento, já que alguém tem que pôr dinheiro nessa casa.
Eu sabia. Olhei pra ela, quieto.
- Você já conseguiu um emprego?
- Uhum - murmuro, ela me olha, sem acreditar.
- Quando? - Desacredita.
- Ontem - coloco a caneca de café na mesae volto a pretar atenção no celular.
- Por que não me disse nada?
- Estava esperando você jogar na minha cara que estava desempregado. - Falo, dando de ombros.
- Nunca joguei nada na sua cara, não diga isso- rebate, mas não me deixa responder."
Discutimos de novo antes de eu sair, pra não perder a paciência.
"- Uma cafeteria? Achei que fosse um emprego de verdade!
- É um emprego de verdade, mãe.
- Tá, tá. Pelo menos agora não vou precisar arcar com tudo sozinha."
Ela continuou falando, mas parei de prestar atenção, na verdade, quase nunca ouço o que ela diz.
- Com licença, moço. - Ouço alguém dizer. É a garota que estava olhando os livros a algum tempo.
- Pode dizer. - falo, ela está corada.
- Quanto tempo eu tenho pra devolver um livro daqui?
- Depende do livro. Qual vc quer?
- Esse. - ela mostra o livro, A Cabana.
- Esse você tem duas semanas, é um clássico e está na seção de referências. - Digo, soando o mais simpático que consigo. Ela sorri. - Os que não estão na seção de clássicos você tem um mês.
- Obrigada.
Sorrio e a garota volta pra biblioteca. Mas ela volta logo depois, ainda mais vermelha.
- Você pode me ajudar? Eu não alcanço o livro que quero.
Assinto e saio de trás do balcão, indo ajudá-la e ouço alguém entrar na cafeteria. A pessoa entra e o sininho da porta soa, irritante. Mas não olho.
Peguei o livro que a gato queria, que estava na parte alta das prateleiras e volto pro meu posto.
Nesse momento, quem tinha entrado, está saindo.
Era ele.
O Cara da chuva.
Ele não me viu, estava de costas. Só consegui ver parte de seu rosto e ele vai embora.
Falando nele, preciso comprar outro vape. Acho que comprarei um de menta dessa vez, aquele era de cereja, eu odiava, mas foi caro, tive que usar até o fim.
Solto um suspiro. Ainda faltam duas horas pro meu horário de ir embora. Eu gosto daqui, é calmo.
Paz.
É estranho, esse lugar me trás paz.
[...]
Saí do trabalho agora a pouco. Faz quarenta minutos, mas não fui pra casa. Estou a dias quadras da cafeteria.
Da última vez que olhei, eram 6:42 da noite. Agora, outra pessoa fica no meu lugar.
Deixei o celular em casa, sei que vai chover.
Sorrio quando a primeira gota de chuva no meu rosto. Depois, os pingos de chuva caem um atrás do outro, igual meus suspiros.
A chuva fica mais forte quando passo em frente a Sweet Dreams.
Vejo os pingos grossos baterem nos vidro da vitrine. Esse lugar me lembra bons momentos, não sei explicar. Mas é bom.
Continuo andando, a chuva me encharca rápido. A água empoça na rua e molha mu sapato preto.
Depois de andar muito, chego numa oeque a praça, com algums banquinho espalhados e árvores grandes.
Me sento em um dos banquinhos feitos de madeira e observo a chuva. Fico assim por um bom tempo, até a chuva cessar totalmente.
Depois me levanto e vou embora.
[...]
- Onde você estava? - é a primeira coisa que So-hee pergunta quando entro na casa dela.
- Andando. - digo.
- Por que não me atendeu?
- Deixei meu celular no quarto.
- Por que o quarto está trancado?
- Não quero que entre lá. - falo, seco e So-hee franze o cenho.
- Como é?- pegunta, indignada e eu já me preparo. - Então é assim? Sua mãe não pode entrar no seu quarto? - seu tom de voz aumenta. - Eu não posso entrar num cômodo da minha própria casa?
- Pode, mãe, poder você pode, eu só não quero.- me sento no sofá e espero ela começar a gritar.
- Ah! O homem da casa quer privacidade? E eu sou privada de entrar num lugar da minha casa porquê ele não quer.
Vejo So-hee gritar e gesticular sem parar, minha cabeça dói.
- Pois saiba você, que eu vou entrar lá sim! Você não tem que querer nada aqui dentro. Não enquanto estiver embaixo do meu teto, na minha casa! Se não fosse eu, estaria na rua e quer mandar em alguma coisa! Por favor!
Ela grita mais, me xinga e anda pela sala, estérica, eu continuo quieto, aguardando ela acabar.
Se fosse à um tempo atrás, eu responderia, retrucaria e até choraria, mas aprendi que não vale à pena. Por isso deixo ela fala e gritar o quanto quiser, não me abala mais.
Mas quando ela menciona meu pai, levanto do sofá.
- Você deveria me agradecer! Fui eu que te criei! Eu te dei de tudo! Por que se fosse pelo traste do seu pai, você já teria morrido! Mas não! Me trata feito lixo!
Enquanto ela me humilha, e xinga meu pai, subo as escadas pro meu quarto.
- Mas eu mereço mesmo! Mereço por ser tão besta! Não deveria ter sido tão leve com você, devia ter sido mais severa! Mas é isso, é isso que eu deveria esperar do filho daquele infeliz!
Entro no meu quarto tranco a porta.
- E ainda finge que não me ouve! Isso, me ignora!
Ela continuou gritando, mas a voz estava um pouco abafada. Certeza que todos os vizinhos estão ouvindo esse escândalo.
A voz esganiçada de So-hee desaparece quando ponho meus fones de ouvido no volume máximo e dou play na música. Paz.
Música me traz paz.
Deito na cama e abro o livro O Primeiro a Morrer no Final, retomando de onde parei.
Só queria deixar de existir.
Depois de ler o livro quase inteiro, ouço, no intervalo de uma música pra outra, minha mãe bater na porta.
- Filho? Você já dormiu?- ela pergunta, calma. - Você não vai jantar? Eu fiz comida italiana.
Silêncio.
- Está no microondas, se estiver com fome, é só esquentar. - ela diz e a ouço sair, desistindo.
Ouço seus passos pelo corredor e largo o livro na cama, não tenho fome.
Pego o celular, e fuço as redes sociais até à uma da manhã, sem sono.
Ouço um barulho familiar, olho pra janela. Chuva. Me levanto e abro a janela. O vento e o cheiro de asfalto molhado entram, trazendo certo sossego.
Num impulso, pego o casaco mais grosso que tenho, ponho meu celular numa gaveta do armário, tiro os anéis e brincos que uso e desço as escadas.
So-hee está dormindo, se não estiver, não ligo. Ponho os sapatos e saio. Sinto alívio quando atravesso a rua e começo a ficar encharcado.
Ando um pouco até parar na pracinha mais próxima e me sento na calçada. Fico lá, até o primeiro raio cortar a céu, silencioso, sem nenhum trovão.
Me levanto e volto a andar. Pra qualquer lugar, pra longe daquela casa. Que não é minha.
Quando chego num bairro maior que o meu, decido ir até lá, a ponte. Caminho devagar, mas piso com força nas poças que vejo.
Vejo as astes de proteção da ponte antes de chegar nela. Ando pelo acostamento, com cuidado.
É Domingo, mas passa um carro à cada 5 minutos, eu acho.
Quando finalmente chegou no meio dela, tiro as mãos do bolso e me impulsiono pra sentar na aste. Dois carros passam, fazendo a estrutura da ponte estremecer.
Queria ter trazido o celular e fones, mas eles não são à prova d'água. Uma moto verde e preta passa.Resolvi olhar o rio e me viro pra ele.
Quando a chuva é só uma garoa, um carro para perto de onde estou e o motorista desce e vem até mim.
- Ei, rapaz.- ele me chama - O que está fazendo aí?
- Nada. - respondo, indiferente.
- Não pode fazer isso, você sabe, né? - olho pra ele, isso o que? - Olha garoto, eu não te conheço, não sei o que está acontecendo contigo, mas não vale a pena.
Silêncio. Ele chega mais perto da aste.
- Todos nós temos problemas e você também deve ter os seus, mas não é assim que vai resolvê-los. Não pode desistir. Eu sei que é difícil, mas se você desistir, do que vai adiantar? Se você resover tentar, lá na frente, vai olhar pra trás e vai perceber que tudo isso serviu pra te deixar mais f-
- Eu não vou me matar não, moço. - eu não quero me matar. Olho pra ele. - Só tô aqui porque tive um dia ruim e gosto de olhar o rio. Só isso.
- Mesmo? - o cara não parece acreditar muito, mas não insiste.
- Mesmo. Mas obrigado, você ajudou, de qualquer forma.
- Bem, de nada. Fica... Fica bem garoto.
Ele volta pro carro, e vai embora, e logo em seguida a chuva engrossa. Sorrio.
As vezes, ainda dá pra acreditar na humanidade.
[...]
Canso de olhar o rio e ouvir a chuva e levanto, mas não vou embora. Caminho por toda a extensão da ponte e chego à outra metade da cidade. Não paro.
Ando até sentir a conhecida dor nas pernas e pés. Olho ao redor. É um lugar bonito. Estou no centro da cidade.
Ando mais um pouco e chego a um grande parque, onde a grama é verdinha e os postes iluminam bem.
Deito na grama, abro os braços e as pernas e fecho os olhos. A chuva bate direto no meu rosto.
Já são quase três da manhã. Não ligo. Gostei daqui. Fico deitado um tempão, até ouvir passos perto. Fico quieto.
A pessoa para e deita do meu lado. Não está grudada em mim, mas consigo sentir o valor corporal que ela emana.
- De longe parece que você tá morto.
É ele. O Cara da chuva. JungKook. Estranhamente, fico animado.
Solto uma lufada de ar pelo nariz em resposta, sem abrir os olhos.
- Vida ruim? - ele pergunta, sorrio por dentro. Ele lembra.
- Noite horrível. - Falo, ele ri. - Dia ruim?
- Semana péssima. - a voz dele é calma.
Silêncio. Um trovão. Outro. E outro.
- Vem tempestade por aí - ele diz.
Assinto, sem saber se ele pode ver ou não. Silêncio. JungKook está perto, quero ver o rosto dele.
Outro trovão.
Me sento e olho pro céu e tiro o casaco. Deito de novo.
- Você adora a chuva, né? - O ouço peguntar.
- Uhum.- murmuro.
Silêncio. Não é ruim. Paz. Suspiro.
- Tenho que ir pra casa, daqui a pouco amanhece. - digo, sem quer ir, de fato.
- Eu também.
Levanto da grama, deixo o casaco no chão e devagar, dou alguns passos.
- Ei. - JungKook me chama, me viro, ele está sentado, me olhando. - Se amanhã sua vida também estiver horrível, vem pra cá. Eu estou aqui todo dia. A partir de hoje.
- Eu não te conheço - falo, neutro e me afasto. Ainda sem querer ir.
Ando de volta pra casa, estou com sono.
Abro a porta de casa, o dia está amanhecendo. Tiro as roupas molhadas, ma não tomo banho, visto roupas limpas e vou dormir. Apagando sem perceber.
[...]
São 23:19 da noite agora, e eu estou a caminho do centro. Estou atravessando a rua pra chegar à ponte.
Choveu mais cedo, as ruas estão úmidas e com poças. So-hee não percebeu que sai na madrugada passada, se percebeu, não disse nada.
Sinto frio. Mas deixei meu casaco preferido com o Cara da chuva. Então, resolvi usar, uam camisa de manga longa azul escuro, uam calça moletom e tênis preto. Espero que chova, preciso chorar.
Ando devagar, pisando nas poças.
Acordei tarde hoje, por ter chegado tarde e hoje não trabalho.
" - Dormiu tarde ontem? Você não é de acordar tarde. - So-hee comentou.
- Como você sabe? - pergunto, ela sempre sai cedo, antes das sete da manhã, como sabia que eu acordei tarde?
- Sai às 08 e você ainda não tinha descido.- explica.- Aconteceu alguma coisa?
Olho pra ela por sob os cílios .Estamos sentados à mesa, jantando. Nego com a cabeça, e volto a comer.
- Vai sair hoje? - ouço, quando levanto pra lavar a minha louça. Saio da cozinha.
- Vou.- digo, antes de me afastar totalmente, ouvindo ela suspirar."
Meus pés doem. Agora, estou quase chegando ao parque. Algo dentro de mim se agita. Deixei meu celular carregando, no quarto trancado, pro caso de chover, por mais que a previsão diga o contrário.
Suspiro quando piso na grama gelada. Do parque. A mesma que estive deitado de madrugada. Essa que ainda está úmida.
Vejo o Cara da chuva sentado no mesmo lugar de mais cedo. Olhando pra um ponto específico, parado e com os olhos levemente arregalados.
Em silêncio, me aproximo e me sento do lado dele. Ele não me olha.
- Vida ruim? - pergunta, ainda olhando pra longe.
- Horrível. Dia ruim?
- Melhor. Tô aqui desde cedo, não sabia que horas ou se você viria.- fala. Apoio as mãos atrás do corpo e olho o céu nublado
- Esqueci meu casaco. - falo.
- Esqueceu? - ele pergunta e me olha, com um olhar divertido, assinto. - Bom, levei ele pra casa e esqueci lá.
O encaro. Nós dois sabemos que ninguém esqueceu nada. Ficamos em silêncio. Ele sorri. Meu rosto esquenta.
A grama não tá tão úmida, me deito e apoio a cabeça nos braços. Pouco me importo de vai sujar minha roupa.
Eram duas da tarde quando choveu.
- Acho que você vai ter que vir amanhã buscar seu casaco. - JungKook diz, de deitando também. Mais perto do que ontem.
- É o meu preferido- falo, fecho os olhos quando ele me olha .
- É bem bonita. Seria mais se fosse preta.
- Gosto mais de azul.
Silêncio.
- Você também gosta de chuva? - pergunto.
- Gosto.
Silêncio. É bom.
Começa a garoar.
Os pingos gelados caem no meu rosto e me fazem arrepiar. Quando percebo, estou chorando. Ele também percebe.
- Você tá chorando. - diz - Sempre chora quando chove?
- Não - sussurro. - Sempre chove quando eu estou mal.
Ele ri e chega mais perto, sinto seu ombro tocar o meu. Ainda choro.
- Acho que vi você semana passada. - Jung Kook diz, pra me distrair. Agradeço mentalmente.
- Onde? - não me importo com minha voz embargada.
- Numa cafeteria. Você estava de costas, pegando um livro pra uma garota. Você não me viu.
- Vi sim. Você estava indo embora, de costas. - abro os olhos e fito o rosto do Cara da chuva. - Trabalho lá.
- Acho que vou passar lá.
- Acha?
- Uhum. Não curto muito café.
- E vai passar lá pra quê?
- Pra você não chorar. Vai chover o mês todo. - diz simples.
Sorrio. E mudamos de assunto. Conversando por um bom tempo.
Agora, estou voltando pra casa de So-hee.
JungKook tem dezenove anos, gosta de preto e amarelo, tem uma moto, que está quebrada. Mora com num apartamento perto do parque e odeia mostarda. Vive com o pai e o padrasto. Trancou a faculdade de Engenharia à dois meses.
É, conversamos muito.
Falei que voltaria amanhã, ou melhor, hoje mais tarde. São quase duas da manhã. Ele é legal. Muito aleatório.
Ainda chove que ele possa ser um lunático, e pode me sequestrar. Mas não importa. Minha mãe nunca pegaria um resgate, ainda mais o meu.
JungKook é legal.
[...]
São 19:00 da noite. Em ponto.
7.
Sete.
Gosto desse número.
Passei o dia inteiro fora de casa. So-hee não foi trabalhar. Hoje ela estava insuportável.
Ela saiu pra trabalhar, mas aconteceu alguma coisa e ela voltou. De mal humor.
Almocei cachorro-quente. Achei que faria mal, mas não fez.
Infelizmente, tenho que voltar, preciso tomar banho, andei o dia todo, estou suado.
Ainda preciso voltar ao centro da cidade. Recuperar meu casaco.
So-hee está em casa, e não está sozinha. Merda.
- Filho, você chegou! - ela exclama, ao me ver passar pela porta. - estava ficando preocupada. Onde esteve?
O mais falsa possível.
- Oi, mãe. - me forço a dizer. - Estava dando uma volta.
- Poderia ter avisado, querido. - ela diz, como se si importasse. - Diga olá para Jinah, filho.
Olho pra mulher sentada no sofá da sala. Ela é mais "normal" das amigas da minha mãe.
A comprimento educadamente, até me curvo e subo para o meu quarto, depois de pedir licença.
Tomo banho e ponho uma blusa azul bebê, uma bermuda cargo, um tênis cinza e arrumo o cabelo. Finalizo pondo anéis nos dedos das duas mãos e brincos.
Pego meu celular, totalmente carregado e desço as escadas. Passo na sala pra pegar meus fones de ouvido e infelizmente, minha mãe ainda está lá com Jinah.
- Vai sair de novo?
- Sim. Não demoro.
- Está arrumado. Vai sair com Areum?
Travo.
Areum é uma antiga... Ficante(?) minha. Faz tempo que não a vejo, mas So-hee insiste em dizer para as amigas que eu namoro a garota.
So-hee adorova Areum. Dizia que era a namorada perfeita. Ela era de família rica.
"- Essa garota é perfeita, filho, a única escolha certa que você fez. Fico feliz."
- Não, mãe. - digo por fim, finalmente achando os fones.
- Ué filho, vocês brigaram?
Respiro fundo.
- É. Meio que... Terminamos. - por mais que não tivéssemos nada.
Mas em vez de me deixar em paz, So-hee se levanta e vem até mim, me impedindo de sair. Respiro fundo.
Ela toca meu rosto, sussurrando um " Ah, meu bem" .
- Não fique tão triste, tente falar com ela, se resolvam, vocês são um casal tão lindo.- Jinah diz.
- Isso, certeza que vão se resolver, se gostam tanto. - So-hee beija meu rosto, com se me consolasse. Tenho ânsia de vômito.
Assinto e praticamente corro lá de dentro.
Uma vez aqui fora, tento respirar direito. Fecho os olhos e puxo o ar com força.
Mais calmo, ponho os fones e dou play na música e começo a andar até o centro da cidade.
Cansa muito, mas gosto de andar até lá.
Quando finalmente chego, piso na grama verdinha, e suspiro.
Vejo o Cara da chuva no mesmo lugar dos outros dias. Vou até ele e me sento.
JungKook está deitado, olhando o céu, que hoje está estralado. Ficamos em silêncio. Não passo a música, apena abaixo o volume.
- Hoje você não está mal.- o outro diz, depois de um tempo e seu que sta sorrindo, por mais que não veja seu rosto.
- Como sabe?- pergunto.
- Hoje não choveu.- ele diz, simples, se sentando. - Nem vai chover.
Ele está perto, sinto seu corpo esbarrar de leve no meu.
- É, não vai chover. - digo e ele sorri.
- Hoje eu trouxe seu casaco. - ele diz, passando a mão nos cabelo, que inclusive, algumas mexas foram retocadas.
Então, percebo que ele está usando meu casaco.
- Mas está frio, só vou entregar depois.
O olho e arqueiro uma sobrancelha, ele ri de lado, afrontoso.
- Você só veio pra pegar ele de volta, então, se eu devolver agora, você vai embora. - ele dá de ombros.
- Tira isso. - digo, me deitando na grama. - Tá calor, você vai suar e pode passar mal.
O céu tá lindo.
Ouço a risadinha dele e o vejo tirar meu casaco, mostrando a regata branca que usa e algumas tatuagem que tem no braço esquerdo. Ele deita também.
Lindo. Intenso.
- Dia ruim? - pergunto.
- Razoável. Vida ruim?
- Melhor.
Silêncio. Olhamos o céu em silêncio. Mas acho que ele não consegue fazer isso por muito tempo.
- Jimin, você é daqui? Digo, nasceu na cidade?
- Não, sou de Busan. - digo, ele me olha, sorrindo. - O que?
- Meu pai é de lá.
- Legal.
O assunto segue. É bom falar com ele. Mas é bom ficar em silêncio também. Do lado dele.
Seguimos assim até às 01 da manhã. Falamos de tudo um pouco, mas as vezes em silêncio também, apenas admirando o céu.
Decido ir embora.
- Amanhã devolvo seu casaco. - JungKook diz, quando me levanto.
- Hum? Por que?
- Porque amanhã vai chover. - ele diz e me olha sorrindo. Dentes grande, nariz franzido, sorriso lindo.
Pondero um pouco.
- Traga meu casaco amanhã as oito. - digo por fim. - Não esqueça.
Então, me viro e vou embora.
[...]
Me arrendo assim que ponho os pés dentro de casa.
- Onde estava? - So-hee pergunta.
- Oi, mãe.
- Onde estava? Achei que tivesse deixado claro o horário que tem que chegar.
- Desculpe, meu celular descarregou, perdi a hora.
- Onde estava? - ela insiste, me esforço pra não revirar os olhos
- No centro.
- Com quem? Fazendo o que? - respiro fundo, em silêncio. - Onde você estava, Jimin?
- Caramba! Eu já falei que estava no centro, andando, chega So-hee!- quando percebo, já falei.
- Como é que é? Ficou louco? - ela grita. - Não me respeita mais? Eu sou sua mãe exigo que me trate como tal!
A voz de So-hee foi ficando cada vez mais alterada.
- Desculpe. - cuspo a palavra e subo pro quarto.
Ela continua a crise estérica, para que qualquer pessoa à um raio de cem metros daqui possa ouvir.
Dez minutos depois, ela para e as paz retorna. Só aí consigo dormir.
Aliás, nesses últimos dias, toda vez que encontrei o Cara da chuva, consegui dormir e até sonhar, depois de quase dois anos sem conseguir fazê-lo.
[...]
JungKook tinha razão.
Choveu o mês inteiro. Ou na maior parte do tempo . E nós nos vimos todos os dias. Ou melhor, todas as noites.
Ele até me levou em casa num Domingo.
Não tinha chovido aquele dia e ele estava de moto. Então me deixou na porta de casa.
Foi legal, senti falta da adrenalina na minha vida. Segundo ele, eu devia estar cansado, já que trabalhei o dia inteiro, e não podia voltar andando.
Aceitei a carona, pois estava mesmo cansado e JungKook me levou até minha casa.
Sim, minha casa. Um pequeno apartamento que comprei, depois de anos economizando e planejando.
É pequeno, mas é meu. Gosto de lá.
Quando So-hee soube, surtou.
Cheguei na casa dela, depois de passar a primeira noite noite na minha casa, pra pegar minhas coisas da casa dela pra levar.
"- Como assim sua casa?
- Minha casa. O lugar que comprei e vou morar.
- Quê? Comprou? Quando? Sem me avisar?
- É. Comprei essa semana. Vou me mudar hoje. - respondo, passando por ele indo até o banheiro, pegar minhas coisas.
- E o que custava me avisar? Por que não me falou?
- Se eu falasse, você não me deixaria comprar. - repondo simples, voltando ao quarto, terminando de arrumar a mala que vou levar.
- Que tipo de mãe você acha que eu sou?
Até parece.
- Não é nada, So-... Mãe- engulo em seco - Só comprei porquê preciso do meu lugar. Eu já tenho 21 anos. Preciso de independen-
cia.
- Ah. Então você só vai pra lá quando quiser ficar sozinho? - So-hee pergunta, enquanto bagunçou o quarto, procurando meus fones.
- Não, vou morar lá, definitivamente. - ouço ela suspirar.
- Ah, mas você poderia ter pelo menos me avisado. - ela diz, parecendo... chateada? Merda. - Mas tudo bem, você é adulto, sabe o que quer.
Respiro fundo e a olho. Franzo o cenho. Nunca vi So-hee assim. Nunca. Ando até ela,
Não a abraço, mas é como se o fizesse.
- Desculpe. Estive ocupado organizando tudo, e também não quis encomodar você.
- Mas não ia encomodar. Eu sei que as vezes, nós brigamos e eu falo coisas pesadas, mas apesar de tudo, você ainda é meu filho.
Me desculpei de novo e sai do quarto. E então, tudo voltou ao normal.
- Bom, pelo menos agora você vai poder levar seu amigos pra sua casa, e não trazê-los pra badernar aqui, não é?"
À partir daí, brigamos novamente. Ela disse que só ando com " marginais" e mais um monte de atrocidades.
Acho que, no fundo, ela está feliz que estou me mudando. Finalmente vou sair da asa e da casa dela.
Mas quando ia sair de vez, ela diz que vou fazer falta.
Olho So-hee e ela está com aquela expres-
são de mais cedo, no quarto. Num impulso, volto e a abraço.
Porquê, como ela mesma disse, no fim das contas, ela ainda é minha mãe.
[...]
Outro dia, vi JungKook na rua. Ele estava com dois cachorros, um grandão de pelo curto preto e um menorzinho peludo.
Ele me viu também e acenou pra mim.
Hoje, terça-feira, não trabalho, por isso sai pra andar.
Sinto falta da chuva, desde o mês passado, não choveu mais. Faz mais ou menos duas semanas que me mudei e nunca estive tanto tempo em paz.
Depois de andar a manhã inteiras, voltei pra casa. Do nada, decidi fazer meu almo-
ço, chega de comida de delivery.
Faço a única comida que posso dizer que faço bem: arroz, farofa, um feijão branco que não sei o nome e carne assada.
É um prato latino, eu acho, não sei de onde exatamente.
So-hee odiava. Por isso não fazia muito. Mas eu gosto. Agora posso fazer sempre que quiser.
[...]
São oito da noite agora e estou a indo encontrar JungKooK, que com certeza já está no parque. No nosso parque.
Ele sempre chega primeiro.
E estava certo, o vejo mesmo antes de chegar até ele.
Me sento ao seu lado e apoio minha cabeça em seu ombro. Ele ri.
- Oi. - ele diz.
- Oi - respondo fechando o zíper da jaqueta preta que uso. Jaqueta essa que pertence ao cara do meu lado.
Ele teimou em não me devolver meu casa-
co, então me deu sua jaqueta preferida.
É preta.
- Vida ruim? - ele pergunta. Virou mania.
- Melhor. Dia ruim?
- Melhor - ele responde. E com melhor queremos dizer " melhor agora".
Conversamos deitados, olhando o céu. Ele é engraçadinho, me faz rir. Nem percebi quando nos deitamos na grama. Outra mania.
Falamos do novo trabalho dele, ele é bar-
man e tatuador, num bairro rico da cidade.
Falamos dos dois cachorros dele, da minha vontade de ter um gato, do hamster dele que morreu.
Não falamos de assuntos pesados. Gostamos assim.
Falamos de tudo um pouco, nunca falta assunto e quando falta, não tem problema,
gostamos de ficar em silêncio.
Ele chega mais perto e nossos corpos de se tocam. Por algum motivo, todos os meus pelo eriçam quando ele me olha.
- Você também sente? - JungKook pergunta, com os olhões brilhando.
- O que? - finjo.
Ele sorri pequeno, murmura um "esquece" e volta a olhar o céu. Eu sorrio de lado, numa lufada de ar.
- Sim - falo, os olhos dele brilham. - Eu também sinto. Não sei porquê, ou como.
- Apenas sente. - ele completa e vira o rosto pra mim, sorrindo grande e seu sorriso alcança os olhos, escuros como o céu a noite, mas que brilham como uma constelação inteira.
Em silêncio, observamos a estralas de novo.
É bom. Jeon JungKook. Dezenove anos. O Cara da chuva. Que conheço a dois meses, mas parece um eternidade. É bom.
Quando tão bom quanto andar (chorar) na chuva.
Aliás, faz tempo que não o faço. Não choveu por esses dias, e não vai chover por um bom tempo.
Gelo quando a mão gelada e tatuada do outro "esbarra" na minha e a segura depois.
Sorrio quando começa a garoar. Em silêncio, vemos a chuva engrossar e sentimos ela nos encharcar. É bom.
[...]
Uma hora depois, ainda chove e eu preciso ir pra casa. Está tarde.
Olho JungKook. Ele não me olha de volta, mas seus olhos brilham, e acho que é pra mim.
Me levanto e devagar, ando em direção a minha casa. Antes do 10° passo, me viro e o Cara da chuva está de pé, me olhando.
Mesmo de longe, ele é lindo.
Ainda chove. O poste de luz mais próximo ilumina a rua e o pedaço de grama em que ele está. A luz é amarela.
JungKook anda e fica mais perto do foco da luz.
O contraste da chuva com a luz amarela do poste faz ela ficar dourada. Essa luz ilumina JungKook.
E em fim percebo que me apaixonei quando vejo o Cara da chuva sendo iluminado por chuva dourada.
Sorrio e ele retribui.
É, acho que não preciso voltar pro meu apartamento agora. Aqui, na rua, perto de um parque no centro da cidade, olhando o Cara da chuva, me sinto em casa
Então, eu não sei se alguém vai realmente ler isso aqui, mas fiz o meu melhor.
Se você gostou, por favor, vota comenta, pra eu saber.
E qualquer coisa pode comentar, algum erro, uma crítica, estou aceitando tudo, desde que seja pra minha melhora.
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