
05 • Durma comigo.
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#teOdeiomaisqueabacate
Capítulo 05: 🐱
Kim Taehyung
Eu estou começando a surtar. De verdade.
Minha cabeça tá um liquidificador de desgraça — e o botão do turbo ficou preso.
Meus pensamentos giram em torno daquele idiota, daquele infeliz, daquele — argh! — nojento do Jeon Jungkook.
Sabe o que é pior? Não é o beijo. Nem as mãos dele percorrendo a minha cintura como se ele tivesse algum direito sobre mim. Não é nem o gemido baixo que escapou dos meus lábios e que eu jurei nunca ter emitido. O pior é que... eu gostei. E admitir isso é como beber água direto da privada. Eu me odeio por isso. Mas odeio mais ainda o fato de ele saber exatamente o efeito que tem sobre mim.
Certo, Taehyung... respira. Você foi bem. Não transou com ele naquele armário de limpeza imundo. Quase, é verdade. Mas não aconteceu. Isso já é um avanço... pequeno, insignificante, mas ainda assim um avanço.
Inclusive, fui exemplar hoje. Ignorei o ser. Passei por ele no corredor como se fosse uma alma penada, dessas que ficam vagando sem importância. Nem olhei. Nem um mísero segundo. E ele notou. Porque é claro que notaria. Jeon Jungkook vive da atenção alheia — e eu estava tirando isso dele. Uma pequena vingança poética.
Mas a vida, essa desgraçada debochada, não me deixa saborear nem um segundo de paz. Porque eu me lembrei.
Tenho que estudar com ele no sábado. O universo não sabe brincar.
Sábado. Dia oficial do apocalipse emocional.
E, como se meu cérebro quisesse me torturar, ele ainda joga outro lembrete na minha cara: Hoseok.
Sim. O Hoseok. O garoto com o sorriso mais doce de Denver, com a voz que parece um cobertor quentinho em manhã de inverno. Eu tenho um encontro com ele no mesmo dia.
E, obviamente — óbvio como o fato de que eu vou morrer virgem e frustrado — eu vou ao encontro. Porque se tem uma escolha que eu posso fazer certo, é essa.
Vou ao encontro. Não por amor. Nem por tesão. Mas por necessidade. De provar pra mim mesmo que posso olhar pra alguém que não seja o Jungkook e sentir alguma coisa. Qualquer coisa. Tesão. Carinho. Interesse. Vontade de fugir junto pra uma ilha deserta. Tanto faz. Qualquer fagulha de sanidade que me lembre que ele não é o centro do meu universo.
Mas no fundo — bem no fundo, onde moram os segredos mais vergonhosos — eu sei que no sábado, mesmo estando com Hoseok, meu pensamento vai estar lá. Trancado com Jungkook naquela sala abafada. O corpo lembrando o toque. A pele clamando por outro beijo. E isso, meu caro, é um pesadelo com gosto de céu.
....
Casa de Taehyung.
17:06 p.m. Denver, Colorado.
— Já é a décima roupa que você tira daí, Charlotte. — Minha voz saiu entediada, e ainda assim carregada de um certo incômodo teatral. Acompanhei com os olhos o furacão loiro que insistia em transformar meu guarda-roupa num campo de guerra estilístico. Ela nem sequer me lançou um olhar, apenas continuou sua escavação obsessiva entre cabides e tecidos, como se o traje perfeito fosse uma relíquia rara escondida entre minhas roupas meticulosamente dobradas.
— E você acha que dá pra escolher qualquer coisa, quando se é convidado pra um encontro sendo... você? — Sua voz veio carregada de deboche fraternal, o tipo de provocação que só alguém que te ama muito pode se permitir. — É um evento praticamente histórico, Tae. Você tem que parecer alguém impossível de esquecer. — E então sorriu, daquele jeito que só ela sabe, exibindo os dentes um tanto amarelados que ela sempre esquecia de clarear, mas que não a impediam de ser absurdamente carismática.
Pensei em responder. Algo ácido, espirituoso. Mas a verdade... é que ela tinha razão. Terrivelmente certa.
Ser convidado para um encontro, assim do nada, sem rituais sociais prévios, sem mensagens indecisas ou indiretas nas entrelinhas? Isso era como presenciar um eclipse solar. Bonito, raro, e, com sorte, não danoso à saúde mental.
Então... era melhor aproveitar. Ou, no mínimo, não sabotar a sorte.
Peguei minha régua — minha companheira inabalável — e comecei a dobrar com precisão cirúrgica cada peça que ela descartava. Os tecidos formavam montinhos organizados enquanto Charlotte, finalmente vencida pela indecisão e pela própria energia caótica, levantou-se do chão e veio em minha direção. O sorriso que ela trazia nos lábios era largo, quase maternal, e um pouco convencido.
— E então? O que separou pra mim? — Perguntei, sem esconder a curiosidade, mas tentando parecer blasé. A estética do desinteresse exige disciplina.
— Tcharam! — Ela revelou, como se tirasse uma joia de um baú secreto, uma jardineira preta de tecido encorpado, ajustada na medida certa. Acompanhando a peça, uma camisa listrada em tons frios, com mangas medianas e uma vibe levemente retrô. — O que acha?
Analisei por um segundo, como um crítico de arte diante de uma obra duvidosa. Mas, contra todas as expectativas...
— Gostei. — O sorriso escapou antes que eu pudesse controlar. Um meio sorriso, é verdade, mas o suficiente para fazê-la soltar um gritinho abafado e pular no lugar, como se tivesse vencido alguma guerra silenciosa.
— Sabia que ia amar. — Ela disse, toda satisfeita, como se tivesse acabado de ganhar um prêmio de styling. — Vou deixar tudo dobradinho na cama, tá? Quando terminar de se vestir, me chama. Quero dar um jeito no seu cabelo. — Plantou um beijo rápido e estalado na minha bochecha antes de sair saltitante, como a fada madrinha que ela insiste em ser.
Como eu já tinha tomado banho mais cedo, limitei-me a reforçar o perfume, borrifando com precisão em pontos estratégicos. Sim, eu disse precisão. É quase uma coreografia invisível: pescoço, nuca, atrás das orelhas, pulsos. Pequenas zonas aromáticas de defesa emocional.
E, bem... resolvi trocar a cueca. A jardineira era ajustada demais pra ignorar esse detalhe. Não quero me preocupar com marcas indesejadas ou constrangimentos futuros.
Vesti tudo com cuidado — quase reverência — tentando não amassar as peças recém escolhidas. Depois, mais perfume. Mais garantia de que, pelo menos, eu estaria cheiroso caso todo o resto desse errado.
Recoloquei os cabides vazios no guarda-roupa e segui para o quarto de Charlotte. O templo rosa pastel com cheiro de hidratante de morango.
— E aí? — Entrei já girando no próprio eixo, como um modelo não-remunerado desfilando sua primeira campanha.
— Uau! Você tá belíssimo, Tae. — Ela exclamou, batendo palmas com entusiasmo puro, desses que são difíceis de encontrar no mundo adulto. — Agora vamos arrumar esse cabelinho fofo, porque né... não adianta estar bem vestido com esse topete de esquilo assustado.
Deixei que me guiasse até a penteadeira. Ela posicionou-se atrás de mim, como uma escultora em frente à sua obra inacabada.
— Não tem muito o que fazer... cortei ele há pouco tempo. — Murmurei, quase pedindo desculpas pela ausência de matéria-prima.
— É, mas dá pra brincar um pouco com o pouco. — Ela sorriu com malícia. — Vamos separar a franja e deixar umas pontinhas curvadas. Seu rosto vai agradecer.
Minhas bochechas, traidoras como sempre, esquentaram.
Elogios sempre me desconcertam. Talvez porque eu esteja mais acostumado a lidar com críticas e estranhamentos. As pessoas normalmente me observam com aquele olhar de quem espera o espetáculo do colapso. Mas quando alguém olha e vê beleza... é diferente. Me desarma.
— E então, o que achou? — A voz dela me puxou de volta. Encarei o espelho.
Por um instante, não me reconheci.
Charlotte havia deixado as pontas levemente onduladas, dando volume e suavidade ao corte. A franja caía sobre a testa com um desleixo esteticamente calculado. E por algum motivo estranho... funcionava.
— Ficou... legal. — Falei, ainda surpreso, colocando os óculos e me levantando apressado. Como se, de pé, o encanto fosse quebrado.
— Awn, você tá tão lindinho, mano... — ela disse, com aquela voz melosa de propaganda de margarina. — Ele já deve estar chegando. Vai terminar o que falta, eu espero lá embaixo.
— Tá certo.
Voltei ao meu quarto, respirei fundo. Mais perfume — sim, eu sou exagerado. Peguei minha carteira com os documentos, dinheiro, celular, calcei meus Vans e desci.
— Estou pronto!
— Oh! Vem aqui pra eu te ver, filho. — A voz da minha mãe veio da sala como um abraço morno.
Fui até lá, parando estrategicamente na entrada da sala com as mãos na cintura. Um modelo posando para aprovação da matriarca.
— Taehyung... você está lindíssimo. — Ela se levantou e me observou com um sorriso emocionado, como se visse seu bebê pronto para enfrentar o mundo. — Vai conquistar o coração desse rapaz.
— Ah, se vai. Ele vai ficar gamadinho. — Charlotte completou, piscando pra mim como se tivesse armado uma emboscada emocional.
— Parem com isso... — Tentei parecer incomodado, mas minhas bochechas me traíram de novo.
— E lembre-se... nada de ficar na rua até tarde. Antes da meia-noite, quero você em casa. — Ela segurou meu queixo como se ainda pudesse me moldar com as mãos.
— Pode deixar, mãezinha. — Dei um beijo estalado na bochecha dela. — Eu prometo.
Batidas na porta.
Meu coração deu um salto. Daqueles que avisam que algo está prestes a mudar.
— E se algo acontecer... qualquer coisa, qualquer sinal de crise, você volta. Sem vergonha, sem hesitação. Entendeu? — Ela segurou meu rosto com ambas as mãos, séria, firme, amorosa.
Assenti. E ela abriu a porta.
Hoseok sorriu. Simples assim.
Calça jeans preta rasgada, camisa branca, casaco cinza e tênis coloridos que pareciam contar histórias próprias. O tipo de pessoa que exala liberdade sem precisar gritar.
— Boa noite, senhora Kim. — Ele estendeu a mão.
— Que jovem simpático, Tae... — minha mãe apertou a mão dele como se estivesse selando um acordo. — Cuide bem do meu filho, está me ouvindo?
— Pode deixar, senhora. Eu vou cuidar muito bem dele. — E então me lançou aquele olhar lateral, discreto, mas cheio de promessas.
Saí pela porta e caminhei ao lado dele.
— Sua mãe é linda, sabia? Agora entendi de onde vem a sua beleza. — Disse, me lançando um sorriso sem vergonha.
— Hobi... para! Eu fico com vergonha. — Cobri o rosto com a mão, lutando pra manter minha compostura.
— Então fique. Fique com vergonha, fique corado, fique aqui. Eu gosto de ver você assim. — Ele parou de repente e se virou pra mim.
E então... segurou minha mão. Simples, sem aviso, sem pedido. Apenas entrelaçou os dedos nos meus e continuou andando como se fôssemos um casal há séculos.
— Estamos num encontro, certo? Então vamos agir como um. — Disse, com aquela voz serena que me desmonta.
Sorri. Aquele sorriso idiota que escapa quando você tenta resistir, mas o coração já decidiu por você.
Hoseok era doce, direto, cuidadoso. Um contraste perfeito para o caos que era Jeon Jungkook... que, aliás, nem me saía da cabeça.
— Pra onde quer ir? — Perguntou, me olhando de lado.
— Não sei... — respondi, sincero. — Escolhe você.
— Isso é um perigo... — ele sorriu de canto, cúmplice. — Mas tá bem. Vou te levar pra um dos meus lugares favoritos.
[...]
Punch Bowl Social Denver.
18:38 p.m. Denver, Colorado.
ㅡ Nossa... ㅡ soltei, com os olhos arregalados e o queixo quase tocando o chão.
O lugar parecia saído direto de um clipe dos anos 2000 com toque futurista. As luzes roxas e azuis mergulhavam as paredes em uma espécie de névoa brilhante, os reflexos dançavam nos rostos das pessoas, e o som de bolas de boliche derrubando pinos se misturava à música ambiente, criando uma batida que fazia o peito vibrar.
ㅡ Já veio num boliche antes? ㅡ Hoseok perguntou, com um sorriso de canto enquanto folheava um catálogo de sapatos com a mesma atenção que um alfaiate escolheria um tecido raro.
ㅡ Nunca... Esse lugar é lindo. Parece que entrei em um universo paralelo onde tudo é mais... vivo. ㅡ Sorri e, sem perceber, deixei minha mão cair sobre seu ombro, como se ele fosse meu ponto de apoio naquele novo mundo.
Ele virou o rosto devagar e me encarou, seus olhos refletindo as luzes coloridas como se também estivessem dançando.
ㅡ Vamos escolher sapatos combinando? Quero que fiquemos estilosos até no pé.
Assenti, quase bobo, e ele mostrou alguns pares. Acabamos escolhendo uns azul-marinhos com detalhes prateados. Descobri ali, entre risos e toques de dedos distraídos, que azul também era a cor favorita dele.
Depois de calçarmos, Hoseok me levou até a pista com um entusiasmo que me fez esquecer do resto do mundo por alguns minutos. Ele explicou como jogar, usando gestos largos e uma didática carinhosa que me fez sorrir de canto.
ㅡ Mire sempre no centro... mantenha o pulso firme e o braço solto. Como se você estivesse entregando um segredo à pista. ㅡ Sua voz saiu baixa e perto demais.
Ele se posicionou atrás de mim, o corpo colado ao meu com uma gentileza premeditada. Senti cada ponto de contato, como se meu corpo tivesse sido desenhado para se encaixar no dele.
Minhas pernas ficaram bambas. A concentração evaporou.
E ele notou.
ㅡ Relaxa, Tae... você vai conseguir. ㅡ Sussurrou em meu ouvido, e o arrepio que percorreu minha espinha me fez quase deixar a bola cair.
ㅡ V-vou tentar sozinho. ㅡ Digo, numa tentativa de me recuperar.
Afastei-me e, determinado a não fazer feio, mirei nos pinos como se fossem meus maiores inimigos. Joguei a bola com força. Ela correu pela pista com elegância e... quase! Só dois pinos ficaram de pé.
ㅡ É isso! ㅡ Comemorei, girando nos calcanhares e correndo até Hoseok, que me ergueu com facilidade, como se eu fosse leve feito uma pluma, e me girou como nos filmes de romance antigos.
Ao me colocar no chão, ele deslizou uma mão para minha cintura e me puxou com delicadeza para mais perto.
ㅡ Você foi incrível!
ㅡ Suas dicas foram melhores ainda. ㅡ Respondi com um sorriso tímido, sentindo o calor do toque dele se espalhar pela minha pele.
Tudo parecia perfeito... até meu olhar se desviar, quase sem querer, para a entrada.
E lá estava ele.
Jungkook.
Encostado com a expressão indecifrável e o corpo travado ao lado de Giselle, mas os olhos... os olhos estavam cravados em mim. Nos meus lábios, nos dedos de Hoseok que ainda seguravam minha cintura.
E algo dentro de mim se partiu — ou se libertou.
Num impulso tão rápido quanto inconsequente, agarrei o colarinho de Hoseok e colei nossos lábios. Beijei com força, com urgência, com raiva e desejo misturados, como se o meu beijo fosse uma resposta. Ou uma provocação.
Ele pareceu surpreso por alguns segundos, mas logo correspondeu, os lábios quentes e ágeis, as mãos apertando com mais firmeza minha cintura.
Jungkook não se moveu. Mas seus punhos cerrados, os olhos em chamas e a língua passando lentamente pelo lábio inferior me disseram tudo.
Quando nos separamos, ambos ofegantes, Hoseok sorriu como se tivesse ganhado uma aposta.
ㅡ Uau... isso foi... inesperado.
ㅡ Eu... desculpa. Eu devia ter avisado.
ㅡ Que nada! Se for pra ser assim... pode me surpreender mais vezes. ㅡ Disse antes de selar com um beijo o canto da minha boca.
Sorri, contido, com a mente dividida entre o toque quente e o olhar gelado que ainda sentia mesmo à distância.
ㅡ Tae! ㅡ Giselle acenou e se aproximou arrastando um Jungkook tenso como uma mola.
ㅡ Que coincidência gostosa. ㅡ Hoseok disse com naturalidade, sem largar minha mão. ㅡ Não sabia que boliche era o passatempo do casal.
ㅡ Foi escolha dela. ㅡ Jungkook respondeu, ríspido.
Ele me encarava com olhos carregados de tudo que não conseguia dizer. E eu, por mais que tentasse desviar, era sugado por aquele olhar.
ㅡ Já que estamos aqui... poderíamos aproveitar juntos. Em casalzinhos. ㅡ Giselle sugeriu, animada.
ㅡ Tudo bem pra você? ㅡ Hoseok me perguntou, com uma expressão doce.
ㅡ C-Claro...
E assim, fomos para a área de lanches. Sentamos numa mesa de banco único. Hoseok pediu hambúrgueres e milk shakes, enquanto eu tentava fingir que não notava a forma como Jungkook me devorava com os olhos — e não de um jeito bonito.
Senti o ar ficando denso, minha garganta seca. Me levantei, dizendo qualquer desculpa sobre precisar tomar um ar, e desapareci por uma porta lateral.
E é aqui que tudo muda.
Caminhei rápido, quase tropeçando nos próprios passos, como se o movimento bastasse pra fugir daquilo que queimava dentro de mim — ou dele. O ar frio da noite cortou minha pele assim que a porta rangeu e se fechou atrás de mim. Um silêncio pesado, espesso, como um cobertor sufocante, caiu sobre o estacionamento dos fundos. Lá dentro, as luzes coloridas piscavam, a música vibrava, a vida seguia. Aqui fora, tudo era breu, e eu era só mais um corpo tentando respirar.
Me encostei na parede de concreto com o peito arfando, puxando o celular do bolso como se aquilo fosse me salvar. Uma avalanche de ligações perdidas da minha mãe apareceu na tela. O estômago afundou.
ㅡ Que diabos aconteceu... ㅡ murmurei, franzindo a testa. Havia dezenas de mensagens da mamãe não lidas. Um pânico sutil começou a se espalhar.
Tentei retornar, mas o sinal era fraco. Mandei o celular pro alto, tentando achar alguma barra de rede como quem implora por milagre.
ㅡ Vai ter que andar mais se quiser sinal. ㅡ A voz veio arrastada, grave, rouca, como um trovão sussurrado bem atrás de mim.
Quase deixei o celular cair.
Mas eu sabia. Claro que eu sabia.
Me virei devagar, como se já soubesse o que encontraria — e encontrei. Jungkook, meio envolto nas sombras, encostado preguiçosamente na parede oposta. Um cigarro entre os dedos, a fumaça escapando por entre os lábios como se tudo aquilo fosse banal, comum, apenas mais uma terça-feira em que ele fumava enquanto assistia o mundo arder.
ㅡ Que susto... não tinha te visto aí.
ㅡ Continue assim. Eu só falei porque vi você lutando com a barra de sinal como se estivesse tentando invocar um espírito. ㅡ Disse, sem emoção, soltando mais fumaça enquanto fitava algum ponto longe de mim.
Era a primeira vez que eu o via assim. Fumando. E quebrado.
Não no jeito físico, mas naquilo que escapava por entre as rachaduras do olhar dele. Algo dentro dele parecia querer explodir e ao mesmo tempo implorar pra continuar contido.
ㅡ Isso... não faz bem pra um atleta. ㅡ Comentei, tentando esconder minha inquietação com uma frase segura. Guardei o celular no bolso como se ele pudesse me proteger da realidade.
ㅡ Ah... o clássico sermão do escoteiro moralista. ㅡ Ele sorriu, mas não tinha brilho algum naquele riso. Só cinzas. ㅡ Eu sei que não faz bem. Mas tem dias que ou eu fumo ou eu surto. E, sinceramente? O cigarro tem me tratado com mais gentileza do que muita gente ultimamente.
ㅡ O treinador sabe?
ㅡ Sabe. ㅡ Ele deu de ombros. ㅡ Mas finge que não. Porque no fundo ele precisa de mim mais do que se importa comigo. E é sempre assim. Ninguém realmente liga se eu tô me destruindo, contanto que eu continue entregando resultado.
As palavras ficaram suspensas no ar, como fumaça densa. Me encostei na parede ao lado dele, num impulso. Não era busca por proximidade. Era tentativa de entender. De não fugir. De existir no mesmo plano que ele.
Jungkook usava uma camiseta preta que colava em seus ombros largos, delineando cada músculo com precisão dolorosa. A calça escura, os coturnos surrados, a ausência da jaqueta deixada com Giselle. Os cabelos bagunçados pela brisa, os olhos apagados demais pra quem costumava incendiar qualquer ambiente.
Jungkook era um veneno bonito demais pra ser ignorado. Uma droga de luxo vendida no beco dos sentimentos errados.
ㅡ Tá olhando muito... ㅡ ele sussurrou, o tom arrastado, a voz misturada com fumaça e desejo. ㅡ Limpa a babinha, Tae.
Virei o rosto rápido demais. Senti o rubor subir como um incêndio pelas bochechas, pescoço, até os ouvidos.
ㅡ Eu não estava olhando para você.
ㅡ Aham. E eu sou a fada do dente. ㅡ Ele riu, dessa vez com deboche. Se afastou da parede com um movimento quase felino e em segundos estava na minha frente, os braços encostados na parede atrás de mim, cercando minha fuga com o próprio corpo. ㅡ Não consigo te decifrar, Taehyung. E isso tá me deixando maluco.
ㅡ Do que você está falando?
ㅡ Uma hora me odeia, me trata como se eu fosse uma peste que você quer erradicar. E na outra, age como se... como se importasse. Como se fosse meu. Você não tem ideia do quanto isso tá me deixando fodido.
ㅡ Eu só... não gosto de ver as pessoas mal. ㅡ Declarei.
ㅡ Ah, não vem com esse papo de Madre Teresa. ㅡ Ele segurou meu queixo, me obrigando a encarar aqueles olhos escuros, famintos. ㅡ Você não é tão bom assim, Taehyung. E eu te conheço mais do que você gostaria. Eu vejo você tentando se esconder atrás dessas máscaras, dessas piadinhas, dessas poses. Mas quando você me beija... você se entrega. Inteiro.
ㅡ E-Eu estou sendo verdadeiro agora...
ㅡ Não, não tá! ㅡ A voz dele subiu, junto com a tensão. ㅡ Porque se estivesse, não me beijava como se eu fosse seu ar e depois ia lamber o Hoseok como se nada tivesse acontecido. Não me olha desse jeito e depois tenta agir como se eu não fosse nada.
ㅡ Isso é a minha vida, Jungkook! Você não manda nela. Você não tem esse direito. ㅡ Soltei num impulso, sentindo a raiva me proteger da vulnerabilidade. ㅡ Eu tenho o direito de escolher quem eu beijo.
ㅡ Claro que tem. ㅡ Ele se inclinou, colando nossos corpos perigosamente. ㅡ Mas você também tem que aguentar as consequências de cada beijo, cada toque, cada mentira que conta pra si mesmo.
ㅡ M-Mantém distância...
ㅡ E se eu não quiser? Vai fazer o quê, hein? Vai correr pro seu namorado? ㅡ Ele segurou minha cintura com força, o olhar brilhando como fogo molhado. ㅡ Vai fingir mais quanto tempo?
A respiração entre nós virou um só ritmo desgovernado. Eu ouvia meu coração nos ouvidos, nos pulsos, em tudo. Era um jogo sujo e perigoso. E eu... eu era viciado na adrenalina.
ㅡ Duvido que o beijo dele tenha o mesmo gosto que o meu. ㅡ Murmurou, antes de puxar minha nuca e colar nossos lábios de novo.
Foi um beijo que doeu. Que rasgou. Que implorou. Um beijo que dizia "fica" e "me esquece" na mesma intensidade. Era raiva, mágoa, saudade, desejo. Um turbilhão que me arrastou sem piedade.
As mãos dele seguravam minha cintura com domínio. A língua encontrou a minha com fome. Meus joelhos fraquejaram, e ele percebeu. Sorriu entre o beijo, como se vencesse uma batalha secreta.
Me afastou só o suficiente pra morder meu lábio inferior. Arfei, ofegante.
ㅡ Queria te beijar toda hora... ㅡ sussurrou contra minha pele, descendo os lábios até meu pescoço. ㅡ Esse teu cheiro atrás da orelha... porra. Me deixa fora de mim. Você é um vício, Taehyung. Um vício que eu nem sei se quero largar.
Então, num gesto cruel e sensual, deu um tapa firme na minha bunda.
ㅡ Caralho... ㅡ sussurrei, sem fôlego.
Ele riu. Não aquele riso leve que alguém solta quando está feliz. Era um riso carregado de certeza, de prazer malicioso. Como se ele tivesse acabado de provar uma tese pessoal que vinha nutrindo há semanas — e o meu corpo tivesse dado a resposta que ele sempre soube.
Como se eu fosse dele, mesmo quando me forçava a ser de outro.
ㅡ Eu tenho uma proposta pra você... ㅡ disse com a voz rouca, ainda um pouco ofegante, o olhar pregado na minha boca como se ela ainda pertencesse à dele.
ㅡ Outra? ㅡ Rebati num sussurro, o coração batendo descompassado dentro do peito. Eu ainda não tinha voltado totalmente à realidade. O gosto dele ainda estava grudado na minha língua.
ㅡ Dorme comigo.
As palavras caíram como uma pedra no meu estômago.
ㅡ Quê?
ㅡ Isso mesmo que você ouviu. ㅡ Ele não hesitou, não titubeou. Cada sílaba saiu firme. ㅡ Uma noite. Só uma. Sem drama, sem plateia, sem a porra do mundo pra nos interromper. Você, eu... e o que a gente tá evitando encarar desde aquele primeiro dia no laboratório.
ㅡ Você só pode estar brincando... ㅡ minha voz falhou na tentativa de soar firme, mas eu sabia. Sabia que ele não estava.
ㅡ Tô falando sério pra caralho! ㅡ Ele se aproximou mais um passo. O suficiente pra que eu sentisse o cheiro dele de novo. O cigarro, o perfume, a raiva, o desejo. Tudo misturado. Tudo me puxando. ㅡ Uma noite, Taehyung. E eu prometo que te deixo em paz depois. Sem jogos. Sem chantagem emocional. Sem mais beijos roubados, toques escondidos ou olhares que queimam no corredor.
ㅡ Por quê? ㅡ Minha voz saiu baixa, como um pedido de socorro. ㅡ Por que você quer isso?
ㅡ Porque eu tô à beira do colapso! ㅡ Ele cuspiu as palavras com mais raiva do que eu esperava. ㅡ Porque cada vez que você me olha e finge que não sente nada, eu sinto vontade de quebrar alguma coisa. Porque cada vez que você se entrega pra outro cara, sabendo que quem te faz tremer sou eu... eu perco um pedaço da porra da minha sanidade.
Ele aproximou o rosto do meu, encostando a testa na minha, a respiração quente batendo contra minha pele.
ㅡ Eu quero você. ㅡ Ele murmurou, e o jeito que disse "você" me destruiu. Não era uma fala qualquer. Era um pedido. Um aviso. Uma confissão. ㅡ Não por vaidade. Não pra competir. Eu quero porque você me deixa vivo. Porque o gosto da sua boca me persegue. Porque nenhuma outra pessoa me deixa tão fora de controle. E se eu não tiver isso nem que seja uma vez... eu vou continuar surtando cada vez que você sorri pra outro, como se aquele sorriso não tivesse sido feito pra mim.
Meu peito doía. Eu estava dividido entre o impulso de beijá-lo de novo e o instinto de sair correndo dali.
ㅡ E depois disso...? Você vai sumir?
ㅡ Se for isso que você quiser, sim. ㅡ Respondeu rápido demais. Como se já tivesse ensaiado. ㅡ Te deixo em paz. Finjo que você nunca existiu. Mas você vai poder me olhar no olho e dizer que não quer mais, com a certeza de quem já experimentou o que tem medo de sentir. Só isso que eu tô pedindo. Uma chance. Uma noite. Uma verdade nua, crua e inevitável.
A garganta apertou.
ㅡ Eu... não posso.
ㅡ Pode. Você só não quer admitir. ㅡ Ele se afastou, um sorriso amargo esticando os lábios. ㅡ Porque sabe que uma noite comigo vai te foder de um jeito que nenhum Hoseok conseguiria.
ㅡ Você é um idiota.
ㅡ Talvez eu seja. Mas sou um idiota que te conhece melhor do que você gostaria. ㅡ Inclinou a cabeça, os olhos em chamas. ㅡ E você pode se enfiar em quantos braços quiser, Taehyung... no final da noite, é no meu que você pensa.
Silêncio.
Aquelas palavras pesaram tanto que o mundo pareceu diminuir de tamanho. O boliche ficou distante. Hoseok virou lembrança. Só existia eu, Jungkook e aquele maldito espaço entre nós que a qualquer segundo podia se transformar em cama.
ㅡ Eu... preciso pensar.
ㅡ Pensa. Mas pensa sabendo que, quando você aparecer, eu vou te possuir como se o mundo fosse acabar na manhã seguinte. ㅡ Ele mordeu o lábio inferior, me analisando como quem escolhe onde vai cravar os dentes primeiro. ㅡ E quando acabar... você nunca mais vai conseguir me tirar de dentro de você.
E então, num movimento casual e cruel, ele pisou na bituca, virou de costas e entrou.
Me deixando ali, sozinho. Com as pernas bambas, o coração acelerado e o desejo colado nos ossos.
Me deixando com a certeza de que ele era o começo do meu fim.
E que eu... estava doido pra começar.
Puta merda.
Em que inferno eu fui amarrar o meu burro?
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🐱
Foi isso amores, espero que tenham gostado. De verdade 💙.
Eita menino KKKK olha as coisa que o Jungkook propõem pro menino Taehyung.
Será que ele aceita ou não?!
Que relacionamento complicado e confuso KKKKK as vezes fica confuso até pra mim KKKKK
Ouçam kth&jjk💙 no Spotify
É isso pessoal, até a próxima ^^
Um xerão no olho 💙
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