11 - Cup of Milk
Copo de Leite.
Já se passavam das duas da manhã e eu ainda estava acordada. Depois de assistir alguns episódios de The Vampire Diaries com Patty e conversado bastante (principalmente sobre o seu amor incondicional por Damon), ela tinha pegado no sono. Mas eu não tive a mesma sorte. Meu corpo estava exausto, assim como a minha mente, mas eu simplesmente não conseguia dormir. Então me levantei, deixando Patty dormindo no seu lado da cama, e caminhei calmamente para fora do quarto. Descendo as escadas e indo até a cozinha. Não liguei nenhuma luz ou fiz algum barulho, não queria acordar ninguém. E como eu conhecia aquela casa na palma da minha mão, foi fácil chegar até a cozinha no escuro, sem tropeçar em nada. E já na cozinha, a porta de vidro que dava para o quintal, ajudou a iluminar levemente o ambiente. Graças à luz da lua, e a luz dos postes da rua de trás.
Abri a geladeira e peguei o galão de leite, colocando-o em cima do balcão da cozinha e indo até o armário para pegar um copo. A luz da geladeira aberta me ajudou a agilizar o processo. Me servi de um copo de leite e guardei o galão de volta na geladeira, a fechando em seguida, pois se ficasse muito tempo aberta começaria a apitar um sonzinho irritante.
Novamente no escuro, me encostei no balcão da cozinha e bebi alguns goles do leite, aproveitando o completo silencio para pensar em como eu fui parar nessa situação que eu me encontro. No meio de uma investigação federal. Quanto tempo até o F.B.I. bater na minha porta querendo saber o que eu estava fazendo em duas das cenas de crime do Enigma? Eu me tornaria uma suspeita também? Só de pensar que se eu não tivesse ido aquela festa do Niall, tudo isso poderia ter sido diferente...
Niall. Eu não penso nele a tanto tempo. Eu nem sabia se ainda sentia alguma coisa por ele. Afinal, agora tem o Justin... e o Harry. Bufei. Por que eu não consigo tirar ele da minha cabeça? Meu encontro com Justin foi perfeito, e eu adorei o nosso beijo. Mas lá estava eu, tendo segundos pensamentos com um cara que eu nem conhecia e podia ou não ser culpado por todas essas mortes.
Terminei de beber todo o leite e deixei o copo na pia, mas ao me virar para voltar para o quarto, encontrei uma sombra de um homem parado atrás de mim. E eu já conseguia sentir o grito subindo pela minha garganta, mas ele foi mais rápido e tampou minha boca.
– Não grita. – Ordenou.
Eu conhecia aquela voz. E quando ele viu que eu não iria gritar, ele deixou sua mão cair da minha boca, se aproximando mais um pouco até que as formas do seu rosto ficassem visíveis para mim no escuro. E assim como sua voz, eu nunca confundiria aqueles olhos verdes.
– Harry... – Eu soltei, ainda me recuperando do susto. Mas ei! Eu não deveria continuar com medo? – O que você está fazendo aqui? Como... como você entrou na minha casa?
– Você me chamou. Disse que era urgente.
Ele mostrou a mensagem no celular. Realmente era do meu número. "Harry, preciso te encontrar urgente. Na minha casa, as três da manhã, a porta da cozinha estará aberta. " E explicava como ele tinha entrado na casa, mas não o que estava acontecendo.
– Eu não mandei essa mensagem. – Disse.
– Então quem mandou? – Perguntou sem paciência.
– Como eu vou saber?
– O celular não é seu? – Ele zombou. Se afastando e dando alguns passos pela cozinha escura. Sem esbarrar em nada ou reclamar do escuro, ele parecia até familiarizado, mas isso não vinha ao caso agora.
– Tem algo estranho nessa história. – Notei.
– Isso é obvio. – Disse sarcástico. E me irritando.
– Dá para você parar de ser um completo idiota e me ajudar a entender o que está acontecendo? – Ele me olhou em silencio, e eu entendi isso como um sim para o meu pedido. – Por que alguém iria querer que você viesse a minha casa?
E então algo estalou em sua mente, eu quase conseguia ver uma lâmpada acesa em cima de sua cabeça. Brilhando em meio ao escuro.
– Acho que a pergunta certa é: Por que alguém se esforçaria tanto para me tirar da minha casa? – Ele disse, já se dirigindo a porta da cozinha.
– Onde você está indo?
– Para casa. Alguém se esforçou bastante para me tirar de lá e eu vou descobrir o porquê.
– Eu vou com você! – Disse, decidida.
E mesmo no escuro, eu pude sentir os olhos dele percorrerem o meu corpo de cima abaixo. Então eu me lembrei de que estava vestindo apenas um pijama babylook, curto e fino. Senti os pelos da minha nuca se arrepiarem e eu corei, ficando pouco aliviada por, ao menos, ele não poder ver.
– É melhor não. – Ele disse, depois de longos segundos em silencio. E então se virou para ir embora. Estava alcançando a maçaneta da porta quando e o chamei.
– Harry... – Ele parou, mas continuou de costas para mim. E em parte, isso facilitava o que eu iria perguntar. – Por que você veio? Quero dizer, a mensagem, era como se fosse uma mensagem minha... você não é meu amigo nem nada, na verdade, está longe disso... eu nem confio em você, nós nem se quer conversamos... – Fiz uma careta e me repreendi por ter me perdido completamente da minha pergunta. Eu estava nervosa e gaguejando que nem uma idiota! Respirei fundo, me acalmando. – O que eu quero saber é, por que você veio? – Perguntei por fim.
Longos segundos se passaram, onde só eram possíveis ouvir as nossas respirações no silencio. E mesmo no escuro, eu podia ver que os ombros de Harry estavam tensos. Talvez ele não quisesse me dizer a resposta, ou até mesmo, estivesse se perguntando a mesma coisa. Por que ele veio? Eu precisava saber. E a cada segundo que se passava eu ficava mais e mais ansiosa. Harry se virou lentamente para mim, e eu finalmente saberia a resposta.
– Porquê você pode até não confiar em mim, Olivia, e com razão. Mas eu me preocupo com você.
E dito isso, ele se virou novamente, passando pela porta da cozinha e sumindo de vista. Sem ao menos de dar o direito de resposta..., mas o que eu sequer iria responder? Que eu tinha ficado mais do que surpresa, e que o meu coração tinha acelerado com aquela resposta? Não! Fora de questão. Eu não iria me expor desse jeito para ele, principalmente quando eu sabia que não teria nada em resposta. Respirei fundo, me recompondo, e fui até a porta e a tranquei, não queria ter mais visitantes por essa noite.
– Liv? – A luz da cozinha acendeu e eu me virei em um pulo.
– Aí que susto, Patrícia! – Ela fez uma careta, odiava quando a chamavam pelo nome inteiro.
– Se divertindo? – Foi a minha vez de fazer careta. Do que ela estava falando? Será que ela tinha visto Harry?
– Como assim?
– Aff, esquece! – Ela tirou um travesseiro de não sei onde e jogou em mim. – Anda logo ou vai se atrasar para a aula! – O que? Ela endoidou?
– Mas são três da manhã.
– Só nos seus sonhos!
Ela riu e tirou outro travesseiro de sabe-se lá onde (serio, o que estava acontecendo? Os travesseiros estavam simplesmente brotando como mágica nas mãos dela?), e o arremessou na minha direção. Mas antes que o travesseiro me atingisse, eu abri os olhos. Encontrando o teto do meu quarto completamente iluminado pela claridade da manhã.
– O que...
– Se divertiu nos seus sonhos? – O rosto de Patty entrou no meu campo de visão, ela estava em pé ao lado da minha cama com um sorriso maldoso no rosto. – Você vai ter que me explicar direitinho por que estava sussurrando o nome de Harry enquanto dormia.
Me sentei na cama totalmente atordoada, e pelo meu bem, decidi ignorar a exigência de Patty.
– Que horas são?
– Vai dar sete horas. É melhor se apressar de quisermos chegar antes das oito horas no colégio. – Ela alertou. Me levantei da cama e fui para o banheiro. – Eu ainda vou querer uma explicação!
– Claro. – Concordei sem o total animo, antes de fechar a porta do banheiro e encarar o espelho em cima da pia.
Tinha sido apenas um sonho? Parecia ter sido tão real... mas ao mesmo tempo, não parecia. A mensagem que veio do meu celular que eu não enviei, e Harry dizendo que se importava comigo, mesmo quando estava claro que ele não sentia nada nem sequer parecido com isso em relação a mim... ou será que ele só era uma pessoa fria e vazia de emoções quando estava comigo? Ele disse que iria para casa, isso quer dizer o quarto que ele dividia com o meu irmão no campus da Universidade? Ou a sua casa mesmo? Será que ele tem alguma família aqui em Londville? Família... isso me lembra de Louis, e da conversa que eu fiquei de ter com ele. Seria melhor eu fazer algumas perguntas sobre Harry para ele, e aí sim mostrar os registros... os registros! Como eu os mostraria a Lou se eu nem os tinha mais? Tudo parecia ainda mais complicado, principalmente quando eu não tinha ninguém para conversar sobre isso. Suspirei e decidi deixar todo esse drama que minha vida tinha se tornado de lado por alguns minutos, enquanto escovava os dentes e tomava um banho.
Depois do banho, eu vesti uma calça jeans e uma blusa de alça roxa, só faltava os pés, pois eu não estava conseguindo encontrar minha sapatilha.
– Patty? – Chamei de dentro do closet.
– Hum? – Ela respondeu sem dar muita atenção. Quando eu saí do banheiro para o closet, ela estava deitada na minha cama mexendo em seu celular.
– Você viu a minha sapatilha? Não estou achando.
– Não... Espera, qual das?
– A preta. A rosa está aqui.
– Não, não vi. Sorry.
– Ok...
Suspirei, olhando para a sapatilha rosa sem a menor vontade de usa-las. Por fim, decidi usar o meu all-star preto e para falar a verdade, não sei por que não o escolhi primeiro. Eles são maravilhosos e confortáveis. Os calcei e sai do closet, me sentando em frente a penteadeira e pegando um pente para pentear os cabelos. Eu os tinha lavado ontem à noite, ao chegar do lago, o que significa que eles estavam bagunçados agora. Penteei o cabelo e optei por deixá-lo solto mesmo. Passei um pouco de perfume e estava terminado de passar o batom, quando ouvi Patty falar:
– Pronta? Eu estou morrendo de fome!
Guardei o batom de volta na gaveta de maquiagem e me levantei.
– Vamos logo!
Ela se levantou da cama, e assim como eu, pegou sua mochila no chão do quarto, saindo e descendo as escadas. O café da manhã já estava servido na mesa da sala de jantar.
– Bom dia. – Dissemos juntas, nos sentando a mesa e deixando a mochila no chão ao lado das nossas cadeiras.
– Dormiram bem? – Mamãe perguntou, tomando um gole do seu suco de laranja. Me servi de um copo também, pronta para responder um belo "sim", mas Patty foi mais rápida.
– Mais ou menos. Liv ronca demais! – Brincou.
– Engraçadinha. – Disse, levando na brincadeira. – Cadê a Taylor? - Perguntei, estranhando ela não está presente.
– Na sala. – David respondeu. Sem tirar o olho do jornal ou sua xicara de café.
Terminei de comer e me levantei, levando o meu prato e copo para a pia. Mas parei, estranhando o copo vazio que estava lá. Coloquei o meu prato e copo de um lado, e peguei aquele copo vazio, ainda tinha um restinho de liquido branco que parecia ser.... leite. Não... será que era possível?
Senti uma mão no meu ombro e me virei assustada, quase deixando o copo cair.
– Ei, calma. – Era a minha mãe. Ela franziu a testa, sorrindo. – Você está estranha esses dias, Olivia. – Comentou, colocando o prato que segurava na pia ao meu lado.
– A senhora bebeu leite? – Perguntei, concentrada naquele copo.
– Não. Eu acordei e esse copo estava aí, imaginei que tivesse sido você, por isso perguntei se dormiu bem. – Explicou. – Está tudo bem?
Ela segurou levemente o meu rosto, olhando nos meus olhos. E por mais que eu tenha mentido bastante nos últimos dias, eu não conseguiria mentir olhando nos olhos da minha mãe. Então desviei o olhar para o copo em minhas mãos.
– Não. Claro. Eu apenas... meio que esqueci. Nada com o que se preocupar. – Sorri fraco. Torcendo para que ela não insistisse no assunto.
– Ok. Boa sorte na escola. – Ela beijou minha testa e se afastou, indo até a geladeira.
Deixei a cozinha e depois de apressar Patty, que comia sua terceira fatia de bolo, eu segui para a sala, perdida em pensamentos. Aquele copo. Eu tinha tomado um copo de leite e o deixado na pia no meu sonho. Se é que foi mesmo um sonho. Do modo que eu vejo, esse copo é a prova de que tudo tinha sido real. Mas se tudo foi real, então como explicar Patty? Ela estava presente, jogando travesseiros em mim, mas como eu já sabia, isso nunca tinha acontecido.
Ao chegar na sala, encontrei Taylor que estava deitada no sofá, toda enrolada em lençóis e com uma aparência horrível. A TV estava ligada no noticiário local, mas ela mexia no celular como sempre.
– Você está doente?
– Sim. – Ela respondeu com a voz fraca. – Você pode fazer anotações das aulas de hoje? – Pediu, e eu a olhei surpresa.
– Hm, claro! – Respondi, sem saber se ficava feliz eu estranhava seu pedido. Ela só podia estar doente mesmo!
Me sentei na poltrona vazia, com minha mochila no colo para esperar por Patty, quando David apareceu na porta, me olhando sério.
– Podemos conversar? – Perguntou.
– Claro. – Me levantei, deixando minha mochila no poltrona e o segui até o seu escritório improvisado ao lado da sala. Ele foi até a sua mesa e pegou um saco plástico, daqueles que os peritos usam para guardar evidencias de crimes, só que esse era um pouco maior. Maior o suficiente para que coubesse uma sapatilha dentro. – Minha sapatilha? O que...
Ele me interrompeu.
– Eu as peguei no seu quarto ontem. – Ele explicou. Minha mente quase estalou.
– Ontem à noite? Depois que eu cheguei do encontro? – Teria sido David que tinha entrado no meu quarto ou pior, no meu banheiro? O quão perturbador seria isso? Será que ele também estava com os registros.
– Não. Você não tinha chegado ainda.
Ele colocou as sapatilhas em cima da mesa e se sentou na sua cadeira. Eu fiz o mesmo, me sentando de frente para ele, um pouco aliviada pela sua resposta. Pois se não foi ele, tinha sido outra pessoa, o que era ainda pior.
– E para o que você precisa das minhas sapatilhas?
– Quando encontramos a garota morta na biblioteca, encontramos também algumas pegadas. Alguém tinha pisado no sangue da vítima.... O nosso perito conseguiu rastrear o tipo de calçado, e qual foi a minha surpresa quando eu descobrir que o solado era compatível com a da sapatilha que eu te dei de presente no natal do ano passado?
Eu congelei onde estava, engolindo seco. Me lembrando de ter pisado no sangue da garota, enquanto corria de Harry, e me esquecido totalmente disso! David virou as sapatilhas em cima da mesa, deixando visível o solado manchado de sangue seco.
– Eu posso explicar, pai. – Sim, eu tenho total consciência de que essa é uma das piores frases para se começar uma explicação. Mas com sorte, ele não se importou com isso.
– Eu estou contando com isso. – Disse. Os olhos grudados em mim, me analisando a cada movimento.
Eu nunca pensei que estaria nessa posição algum dia, sendo questionada, e não por David o meu padrasto, mas sim por David o delegado de polícia. E tenho que confessar que, ele é bom no que faz. Estar sentada ali, sendo analisada por ele, me fazia sentir como se até um movimento natural como piscar os olhos, fosse algo suspeito. Mas eu não podia continuar com isso. Eu tinha que confiar em alguém, e quem melhor do que o meu padrasto e delegado da cidade? Sem mais delongas, eu respirei fundo, pronta para falar tudo o que tinha acontecido.
– Eu...
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