•Capítulo Vinte•
Quando as pessoas falavam que não lembravam de nada da noite anterior por conta do álcool, eu julgava como mentira, por ter vergonha de lembrar do que fez, mas hoje sou a prova viva de que isso é realmente verdade. Depois do Otis ter caído no chão do bar, eu não me lembro de mais nada, era como se eu tivesse caído ali também, mas sei que não.
Esse fato ocupou um pouco os meus pensamentos quando acordei com minha cabeça latejando de dor, mas logo, tudo o que eu evitei pensar ontem de noite, veio a tona. Passei a manhã toda trancada no quarto, sem vontade de fazer nada. Nem quando eu descobri que Harry, meu ex namorado, só estava namorando porque queria transar comigo, quando ele terminou comigo dias depois, eu me senti tão traída dessa forma.
Acho que foi pelo fato de eu confiar cegamente no Owen, que fez o tombo ser mais alto. A decepção foi grande e o medo também. Eu nunca estive tão sozinha antes. Eu preciso achar uma forma de passar por isso.
Pedir demissão do Waffle foi a primeira coisa que eu fiz, pois já imagino o quão difícil seria ter que vê-lo todos os dias e fazer as coisas que costumavam ser normais para nós, depois de tudo estar acabado.
Sem falar que... eu não iria ficar desempregada.
Naquele dia, para mudar um pouco os costumes, resolvi sair de casa com minha bicicleta e me perguntei o porquê de eu não ter tomado essa decisão antes, é tão mais rápido e fácil de chegar nos lugares...
Depois de muitas pedaladas, chego em frente ao Sunset, me questionando se essa era coisa certa a fazer. A conclusão que cheguei foi que não era a coisa certa, mas era minha única opção. Prendo minha bicicleta do lado de fora e entro, com uma certa vergonha dos garçons que me viram noite passada, pois eu não tinha certeza do que tinha feito. Assim que começo a procurar o Sean com o olhar, o encontro sentado em uma das mesas com uma garota ruiva e com o Otis. Penso seriamente em ir embora, pois o nervosismo falava mais alto do que, mas respiro fundo, tomando coragem para me aproximar. Quando me encosto na mesa, os três me olham.
“Wendy!” Otis grita com um sorriso no rosto. “Você é a garota legal de ontem! Que bom te rever!”
“Fico feliz também, Otis! Que bom que não se machucou quando sabe... se espatifou no chão.” Falo tentando descontrair, incomodada pelo olhar do Sean fixo em mim.
“A minha querida, já tive piores. Preciso sofrer uma queda muito forte para realmente me machucar. Eu sou de aço.” Ele brinca me fazendo rir. Otis realmente parecia um cara legal. Sortudo o cara que um dia namorar ele.
“O que veio fazer aqui, Wendy? Beber novamente?” Sean questiona de forma seca, enquanto dá a última mordida em seu sanduíche.
“A verdade é que eu preciso falar com você. Podemos ir lá fora um pouco?” O loiro apenas balança a cabeça concordando e se levanta, andando em minha frente até o lado de fora.
“Aquela proposta que você me fez, ainda está de pé?” Pergunto com um certo receio de sua reação.
“Mudou de ideia, Miller?” Um sorriso sarcástico se forma em seu rosto. “Está sim. Você aceita?”
“Quatro vezes o meu antigo salário e eu estou dentro.” Ofereço com um sorriso sacana nos lábios e cruzo os braços.
“Duas vezes e folga no fim de semana.” Ele retruca, não se deixando abalar e com uma postura tão confiante quanto a minha naquele momento.
“Três vezes e folga aos domingos.”
“Feito.” Sua resposta rápida e nosso aperto de mãos, me deixam sem reação naquele momento. “Começamos amanhã. Esteja aqui as três, para ensaiarmos um pouco com a banda. E treine a música Senõrita, do Shawn Mendes, sabe?” Afirmo com a cabeça, sem condição de responder nada. “Ótimo, creio que você consiga alcançar as notas, mas treine e me fale.”
Eu odiava receber ordens e muito menos que alguém escolhesse o que eu iria cantar, mas até que Senõrita foi uma boa escolha, o que fez eu naquele primeiro momento ficar quieta.
“Sean! Mais uma coisa...” O chamo um pouco antes de ele entrar, fazendo-o voltar no mesmo instante. “Ontem eu... fiz algo de errado? Não consigo me lembrar de quase nada.”
“Você só bebeu, chorou, riu e bebeu de novo, mas relaxa, eu acertei as contas pra você antes de te levar pra casa.”
“Me passa o valor, que eu te pago agora mesmo.” Tiro minha carteira do bolso, já pegando o dinheiro na mão, com vergonha por não ter pago o que consumi.
“Relaxa, Wendy, não precisa.”
“Claro que precisa! Não quero que você saia pagando as coisas para mim.” Cruzo os braços.
“Aceite como um presente de boas vindas do seu novo emprego.” Reviro os olhos e sorrio de leve, sendo obrigada a concordar com ele. eu não podia negar um presente.
“Tá bom, mas nunca mais faça isso.” Ele ri.
“Não será um problema, Miller. Agora posso ir?”
“Tem mais uma coisa....” Ele cruza os braços me encarando, parecendo estar impaciente, mas gostando dessa minha insistência. “Obrigada por ter me levado para casa ontem. Quando acordei eu nem sabia como tinha ido parar lá e fiquei até preocupada, então obrigada por isso.”
“De nada, Miller. Com o tempo você vai ver que eu não sou tão ruim quanto você pensa.” O seu convencimento e seu sorrisinho de lado, me fizeram revirar os olhos, passando por ele.
“Isso ainda não mudou o que eu penso de você, Parker!”
“E o que você pensa de mim?”
“Que você é um galinha mimado, que se acha o cara mais gostoso da cidade, por quem todas as garotas são apaixonadas!” Falo na intenção de provoca-lo, mas vejo outro sorriso se formar em seu rosto.
“Mas realmente, todas são apaixonadas por mim!”
“Todas não, pois eu não sou.” Solto uma risada, o deixando sem graça.
“Não é minha culpa que você não tenha bom gosto.” Reviro os olhos rindo de leve.
“Até amanhã, Parker.” O olho sorrindo, antes de sair dali.
Por alguns minutos, eu estava tão entretida em colocar aquele mimado no lugar dele, que esqueci a desgraça que está minha vida, mas por mais que eu tente, não posso fugir disso.
Eu estava pedalando, quando quase capoto no chão ao ver meu ex namorado sentado na calçada, fumando um baseado. Antes que eu pudesse pensar em dar meia volta, ele me olha e vem sorrindo em minha direção.
“Uau, quanto tempo. Pensei que tivesse morrido.” Seu cabelo preto estava platinado e sua pele branca, cheia de tatuagens coloridas. Sem falar que ele estava pelo menos três vezes mais magro e olha que ele já era um magrelo.
“É... graças a Deus não nos vimos mais.”
“O que anda fazendo da vida, cachos de ouro?” Reviro os olhos ao ouvir ele me chamar do apelido que ele havia inventado quando estávamos juntos, mas ignoro respirando fundo.
“Eu terminei o ensino médio e agora estou trabalhando pra conseguir entrar na faculdade. E você?”
“Eu larguei tudo, você se lembra, mas estou feliz. Quando não estou, um pó mágico me faz ficar.” Ele tira um saquinho de cocaína do bolso, me fazendo engolir seco, me lamentando pelo o que ele virou.
“Engraçado você carregar a arma da sua própria morte no bolso, com um sorriso no rosto.”
“Isso está mais para vida, Wendy, você deveria experimentar.”
“Caí fora, Harry. Isso eu não faço, nem que me ameassem de morte.”
“Garota esperta.” Ele sorri, guardando a droga novamente no bolso. “Ainda mora na mesma casa?”
“Nunca me mudei.” Quando termino a frase, percebo que dei informação demais, o que era péssimo, pois eu não sabia quem ele havia se tornado, mas pelos boatos da cidade, coisa boa não é. “Eu tenho que ir. Tchau, Harry!”
“Tchau, Wendy!” Saio pedalando rapidamente, justamente para não dar tempo de ele falar mais nada.
Confesso que estar perto dele me agoniou, era como se eu sentisse que algo ruim iria acontecer, depois desse nosso reencontro.
Assim que chego em casa, pego meu celular, indo diretamente contar para o Owen sobre o Harry, mas então volto para a realidade, me lembrando que eu não tinha mais o Owen para recorrer.
Solto um suspiro tenso e deixo meu celular na mesinha, me deitando no sofá e ligando a TV. Liguei no primeiro canal de filmes que vi, mas nem estava prestando atenção na tela. Meus olhos apenas estavam lá, mas meus pensamentos estavam longe. Mais especificamente, no Owen.
Eu estava com raiva, mas mesmo assim... sentia a falta dele. Bem mais do que eu senti nos outros dias. Era como se ele tivesse morrido para mim.
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