Parte de Amélia se sentia tranquila, por saber que seu marido não lhe traia, que Claire não era uma ameaça para seu casamento e nunca havia sido e o fato de Aidan reafirmar que jamais a trairia, por repudiar tal  ato , era reconfortante , contudo também a deixava mais confusa, pois uma suposta amante era a explicação mais logica para a ausência de seu marido por quase dois anos , para o fato dele ser frio com ela e nada atencioso durante aquele período , afinal essa era  verdade que realmente importava, o porque não havia tido um marido ao seu lado ou um casamento normal .

—É ....— murmurou Aidan fechando e abrindo suas pálpebras repetidas vezes , engolindo sua saliva rapidamente e soltando um longo suspiro , enquanto se recompunha , levando suas mãos até seus olhos e secando as lágrimas que ainda encontravam—se dentro de seus olhos – Havia até me esquecido disso – confessou ele em um tom baixo – Alguém poderá me ajudar a explicar melhor  tudo a você – disse enquanto se punha em pé – Vamos , que ele nos espera – terminou estendendo a mão a sua esposa

—Vamos – respondeu Amélia se pondo em pé e dirigindo—se até o carro, ignorando o gesto de seu marido .

Não que Amélia estivesse chateada com ele ou qualquer outra coisa, apenas estava confusa com toda aquela verdade, sua cabeça ainda não se fazia capaz de processar com clareza tudo que seu marido lhe havia dito, já se fazia possível aceitar a verdade , mas ainda não a havia digerido por completo e sabia que necessitaria de algum tempo para processar tudo , mas temia ainda o que estava por vir, esperava saber a verdade rapidamente e não que seu marido tivesse tantos segredos ocultos, e toda confissão dele a minutos atrás a impossibilitava de pensar o que poderia estar por vir e quem séria a pessoa que Aidan queria que encontrassem .

Ambos adentraram o automóvel  e em completo silêncio andaram pelas ruas de Madrid, Amélia pousou sua atenção em seus pensamentos e na tentativa de entender tudo , mas o que mais persistia em seus pensamentos era  o fato de Aidan em nenhum momento haver ousado  contar a verdade e apenas permitir que ela acreditasse que ele tinha uma amante, porque por mais que ele afirmasse ser fiel, nunca esclareceu quem era Claire em sua vida, em nenhum momento durante  uma briga ou alguma conversa cotidiana ousou lhe dizer a verdade que acabará de confessar .

Para seu desespero mais uma vez seu marido a confundia , trazia fatos inesperados e começava a cambiar seu mundo , afinal nem ela se imaginava ali a alguns meses atrás ,ela, Aidan e Madrid ,sinceramente sempre lhe parecia uma ideia improvável e um tanto quanto absurda , mas havia se tornado realidade e lá estava ela, com seu marido . Amélia pousou a cabeça no encosto do banco atrás de sua cabeça , seus olhos estavam atentos ao caminho em sua frente, contudo sua atenção estava voltada para seus pensamentos e toda aquela revelação , não sabia mais o que pensar ou achar, creia que a ausência de seu marido por quase dois anos se devia a Claire, contudo estava enganada, poderia ser talvez outra amante, entretanto Aidan havia lhe afirmado que era contra a infidelidade , por mais que pensasse nada vinha em sua mente para elucidar qual séria tal segredo ,qual séria o motivo de Aidan haver passado tanto tempo naquela cidade, principalmente o porque dele ser um marido tão omisso em seus primeiros anos de casados .

A atenção dela estava voltada a cidade ao seu redor, só regressou quando se deu conta que  a paisagem em torno de si não se movia mais , indicando assim que haviam parado, ela ousou pousar o olhar em seu lado direito, mirando por meio a janela ao seu lado , naquele instante pode constatar que encontrava—se em um estacionamento , contudo era o estacionamento de uma construção grande, que possuía cerca de uns 5 andares, ela constatou isso pois rapidamente contou as janelas com o olhar , mas mesmo sem ter conhecimento que lugar era aquele, ela sabia , pois sua estrutura era inconfundível , era um hospital, que certamente deveria ser o Hospital Universitário de Madrid , onde supostamente Aidan havia gasto quinhentos mil euros .

—Vamos ?— indagou Aidan em um tom calmo

Amélia rapidamente levou seu olhar para seu marido que a fitava, não podia negar que temia o que estava por vir, afinal era algo desconhecido e como não temer o que não conhecemos , ou seja se fazia aumentar  tal temor que acometia seu peito ,que criava mariposas em seu estômago , que iniciava novamente aquele suor insistente em sua mão , instintivamente ela cerrou suas pálpebras , as abrindo novamente em poucos segundos .

—Vamos— respondeu Amélia respirando fundo e apenas observando seu marido deixar o automóvel

Naquele dia ela não estava disposta ou com vontade de cordialidades de seu marido , então antes que ele alcançasse sua porta , saiu do automóvel sozinha , provocando uma expressão de desgosto no rosto de seu marido , pela petulância de sua esposa .

Em silêncio Amélia andou ao lado de seu marido, sem contato algum ,logo estavam em frente a enorme porta daquele hospital ,onde rapidamente adentraram e andaram pelos corredores ,para o espanto de Amélia o lugar estava até que vazio, apenas caminhavam pelos corredores ,médicos , enfermeiros ou pacientes , era um lugar calmo , contudo certamente a noite deveria ser nada agradável , já que o prédio era uma construção antiga , apesar de estar bem conservada .

—A pessoa que disse que nos espera , trabalha aqui – disse Aidan em um tom baixo , pousando rapidamente seu olhar sobre sua esposa

Amélia encontrou o olhar de seu marido, mas rapidamente voltou a observar o caminho a sua frente, nada respondeu perante a afirmação de seu marido , apenas continuou a dar seus passos que não era nem muito longos, nem muito curtos , adentraram um  elevador e subiram até o terceiro andar , aquele andar estava completamente vazio , contudo não parecia como os demais andares era mais silencioso e quase ninguém transitava por ali , rapidamente ela pode perceber que em cada porta havia uma placa, com o nome de um médico e sua especialiadade , quase todo o corredor que adentraram era assim , Amélia apenas acompanhava os passos de seu marido , então quando ele por fim parou em frente a uma porta ela também fez  o mesmo , se obrigando a rapidamente levar seu olhar até a placa de latão que continha  o nome do médico  que era António Fernández Vallejo , institivamente desceu seu olhar constatando sua especialidade que era cardiologia  .

Amélia se sentia cada vez mais confusa , afinal o que um cardiologista tinha haver com os segredos de seu marido , naquele instante inúmeras indagações invadiram sua cabeça , mas a que mais ecoava em sua cabeça era se Aidan tinha alguma doença, contudo aquela ideia parecia absurda, uma vez que nunca havia percebido qualquer expressão ou sinal de alguma enfermidade em seu marido , bom também mal o via para constatar algo de diferente nele .

—Podemos entrar? – indagou Aidan em um tom um tanto quanto temoroso

Ela levou seu olhar até o de seu marido, se permitindo assim constatar que ele tinha uma expressão distinta , como se estivesse nervoso com o que estava preste a fazer , contudo ela também sentia tal nervosismo, o que aquela verdade poderia lhe causar, mas já que estava ali , estava a um passo de toda a verdade, não poderia recuar, por mais que algo dentro de si ansiasse por tal ato , não poderia fazer , tinha que chegar até o fim daquilo , independentemente das consequências que aquilo traria .

—Si...— tentou pronunciar ela, contudo sua voz se fez escassa – Sim –respondeu em um único tom .

Aidan levou sua mão até a porta , batendo com seu dedo contra a madeira que dividia o corredor do consultório , causando um suave som , não muito alto, mas perceptível o suficiente naquele ambiente silencioso .

—Pode entrar ! – ordenou uma voz masculina de dentro da sala

Com aquele anunciou o olhar de Amélia encontrou o de Aidan , que a fitava com uma expressão de como se perguntasse se poderiam entrar , ela apenas assentiu com a cabeça enquanto levava seu olhar até a mão esquerda de Aidan que já agarrava a maçaneta da porta .

Lentamente a porta se abriu , permitindo assim que Amélia pudesse constatar parte da sala, que possuía uma enorme estante cheia de livros , um sofá na cor preta  , Aidan gentilmente lhe deu passagem , como sinal que queria que ela adentrasse aquele lugar , lentamente ela se pôs a mover seus pés e adentrou aquele consultório , pode encontrar um senhor de certa idade, pele clara e cabelos brancos se pondo em pé e indo em direção a eles .

—Aidan ! – disse o médico em um tom de entusiasmos e alegria

—António – respondeu Aidan , dando um forte abraço naquele senhor que era consideravelmente mais baixo que ele

Amélia permaneceu ao lado, apenas observando aquela cena , com aquele gesto de ambos se fez capaz de constatar que possuíam certa intimidade, ou seja Aidan conhecia bem o suficiente aquele homem, como o médico a ele , mas seus pensamentos foram interrompidos, quando aquele homem se dirigiu até ela com um sorriso enorme nos lábios e sua mão direita esticada .

—Você deve ser a famosa Amélia – disse ele apertando a sua mão

—É.... – aquela afirmação a pegou de surpresa – Sim , sou eu – respondeu com um sorriso gentil nos lábios .

—Fico feliz em conhece—la – afirmou ele – Vamos nos sentar – disse ele se dirigindo até sua cadeira e tombando seu corpo nela

Amélia pode sentir a mão de Aidan pousar em suas costas, como se a guiasse até uma das duas cadeiras que encontrava—se logo na frente de ambos, lentamente ambos se dirigiram até as cadeiras ,do lado oposto da do médico e pousaram seus corpos nela , o silêncio imperava naquele ambiente , contudo Amélia não ousava a proferir nada, pois sinceramente nada estava compreendendo de toda aquela situação .

—Amélia – começou Aidan roubando a atenção de sua esposa – Este é António , ele é cardiologista , um dos melhores que existe na área  — afirmou ele a fitando

Amélia formou uma expressão de confusão em seu rosto , não entendia porque seu marido estava lhe contando aquilo ou como aquele fato podia ter relação com o seu segredo ,para seu desespero seu marido só a estava deixando mais confusa .

—Percebo que você não contou nada a ela ainda Aidan – constatou o médico ao perceber a expressão de confusão no rosto de Amélia .

Ela se sentiu aliviada pelo médico constatar aquele fato, afinal não estava entendendo nada, rapidamente ela pode perceber Aidan se ajeitar na cadeira, roubando sua atenção ,ele a fitava com uma expressão confusa, como se procurasse as palavras a serem ditas  .

—Amélia – disse Aidan em um tom baixo – Quando estava para completar meus vinte anos , fazia um curso aqui em Madrid e em um desses dias cotidianos de minha vida passei mal , estava a caminho entre uma aula e outra quando senti uma forte dor no  peito , era uma dor que nunca havia sentido antes em minha vida , para minha sorte alguns colegas me trouxeram até aqui , praticamente inconsciente devido a dor , e quando aqui cheguei tive a sorte de ser rapidamente atendido pelo António – continuou Aidan levando o olhar até o médico em sua frente e logo  voltando a fitar sua esposa – Ele rapidamente constatou que o que estava tendo era um ataque cardíaco – ele fez uma pausa e inspirou o ar, como se buscasse folego para continuar – Naquele dia ele constatou que eu tinha uma doença cardíaca grave – terminou ele levando seu olhar até António

Amélia não sabia o que pensar com aquela revelação , sua cabeça apenas se indagava como que Aidan tinha uma doença e ela nunca houvera percebido , como era possível ele ter conseguido e sido capaz de omitir algo tão sério de sua vida, de sua saúde , ela se sentia um tanto quanto zonza e com os pensamentos confusos, mas a voz calma e suave do médico lhe trouxe novamente a realidade , roubando assim sua atenção

—Bom Amélia acho que o Aidan desejava que te explique melhor  — afirmou António —  Eu diagnostiquei que o Aidan tinha um problema a coarctação da aorta esse problema dificulta a irrigação das partes inferiores , isso causa um esforço excessivo ao coração, provocando infartos que podem chegar de leves a avançados – explicou  o médico – O Aidan quando chegou aqui estava sofrendo o inicio dessa anomalia , mas ela evoluiu com o passar dos anos a ponto dele necessitar de um transplante de coração – terminou

—A primeira tentativa de transplante ocorreu no dia da nossa noite de núpcias – disse Aidan roubando a atenção de Amélia – Por isso eu sai daquela forma aquele dia , sem dar explicações , mas infelizmente o transplante não ocorreu e minha saúde apenas passou a piorar , por isso evitava voltar para casa ,porque era evidente minha piora , minha aparência vivia abatida e os infartos estavam ficando cada dia mais frequentes, claro que eram amenizados pelos medicamentos, mas não era suficiente – afirmou Aidan

—Mas a alguns meses finalmente conseguimos um coração compatível  e pudemos realizar o transplante – se pôs o médico a afirmar assim que Aidan terminou de falar 

Amélia não sabia o que pensar, estava incrédula, era muita informação para sua cabeça , jamais havia imaginado que Aidan tivesse algum problema de saúde , muito menos que havia passado por uma cirurgia , era difícil de aceitar tudo , toda aquelas afirmações, não sabia o que sentir

—Co...— murmurou Amélia – Como .... – disse ela voltando seu olhar para o médico e levando rapidamente a Aidan —  Como você não tem nenhuma marca ? – indagou Amélia fitando seu marido

—Seu marido é vaidoso demais para permitir que deixasse marcas – afirmou António roubando a atenção de Amélia  – Assim que constatamos que não houve rejeição ele exigiu que fosse feita uma plástica para retirar a cicatriz 

Amélia se sentia completamente confusa, seus pensamentos encontravam se em uma desordem total ,a única coisa que se fazia possível sentir era o que aquela revelação estava lhe causando em seu corpo , sentia suas mãos suadas ,seus dedos trêmulos e com as pontas geladas , seu coração parecia nem bater , a saliva mal descia por sua traqueia , seu estomago estava mareado , a fazendo se sentir enjoada , enquanto o ar se fazia totalmente escasso naquela sala , não sabia o que pensar, o que proferir, apenas podia sentir os olhos daqueles dois homens pousarem em cima de si e aquilo a estava deixando mais acuada e atordoada .

—Eu....—murmurou Amélia fechando e abrindo rapidamente suas pálpebras , enquanto levava sua mão ao apoio de braço da cadeira – Desculpa ,eu necessito de ar, com licença  – anunciou ela se pondo em pé e rapidamente se ponto porta afora .