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Capítulo 34

A Bia já tinha procurado em todos os quartos e estava a ponto de descer para checar se a Alícia não tinha dado um jeito de passar de fininho pela sala e fugido de casa, quando a encontrou dentro do closet do seu quarto, sentada no vão vazio onde as camisas do Diego costumavam ficar penduradas.

Ela estava encolhidinha, os ombros balançando com o choro silencioso e a cabeça enfiada nos joelhos dobrados, uma posição que a Bia conhecia bem. E ela daria qualquer coisa para pegar aquele sofrimento todo para ela mesma, tirar as lágrimas e devolver o sorriso para aquela pessoinha que não parava de receber duros golpes da vida.

— Meu amor — a Bia chamou suavemente e tentou pegar a Alícia no colo, mas ela se encolheu, se grudando na parede do armário se afastando o mais que podia dela.

— Não! — ela disse por entre os soluços. — Eu não quero! O meu pai é o meu pai... eu não quero o tio Lôro... eu quero que ele vai embora!

— Vai ficar tudo bem, meu amor. Se você não quer o tio Lôro aqui em casa, a mamãe pede pra ele ir embora.

Não era como se a Bia estivesse fazendo muita questão da presença dele.

Ela tentou pegar a Alícia de novo e, daquela vez, a filha não se esquivou e se agarrou ao seu pescoço, chorando. A Bia sentou com ela ali mesmo no chão do closet, passando a mão pelos cabelos compridos presos num rabo de cavalo. Cabelos da mesma cor do pai.

A Bia respirou fundo.

Ela não podia deixar o que tinha acontecido entre ela e Lourenço influenciar no que ela precisava dizer para a filha. Engraçado como quando ele tinha perguntado se ela seria capaz de separar o relacionamento dos dois, do dele com a Alícia, ele tinha garantido que não ia dar merda de novo.

Bem-feito! Bem-feito para ela aprender que confiança quebrada uma vez, não merecia segundas chances, muito menos terceiras. Bem-feito por ela achar que podia ser aventureira. Mas ela não podia pensar naquilo. Ela precisava se concentrar na filha.

— Se acalma, meu amor.

— Eu não quero que o tio Lôro seja meu pai. Eu já tenho pai. Eu não quero ele!

— Presta atenção no que eu vou te dizer: existem dois tipos de pai, um é que coloca o filho dentro da barriga da mãe. Você lembra da nossa conversa de como o homem coloca uma sementinha na barriga da mulher? — A Bia esperou a filha responder, aliviada por a Amanda não estar ali. Ela já tinha precisado responder a clássica pergunta 'de onde vêm os nenéns' para a filha mais velha, mas esperava ter alguns anos até precisar repetir a conversa com a caçulinha. A Alícia não respondeu, e a Bia continuou. — Então, o tio Lôro colocou a sementinha dele dentro da minha barriga, por isso, não tem como mudar que ele é seu pai. Mas também existem os pais de coração. E o Diego é seu pai de coração, minha filha, ele te ama muito, e isso não vai mudar por causa do Tio Lôro. O Diego é seu pai e vai ser pra sempre.

— Você mentiu pra mim! Você disse que o tio Lôro era seu amigo.

Tecnicamente, a Bia não tinha mentido, o Lourenço tinha sido seu amigo, além de namorado. Mas omissão não era um tipo de mentira? Não foram as omissões do Lourenço que causaram todos os problemas entre eles? Ele tinha omitido vender drogas, ele tinha omitido ter voltado a vender drogas e, por último, ele tinha omitido estar envolvido com alguém em Porto Alegre. Não, a Bia não ia se esconder atrás de uma omissão e ensinar à filha que existiam graus aceitáveis de mentira.

— Você tá certa. Eu devia ter te contado que eu e o Lourenço fomos namorados. Eu não devia ter convidado ele pra vir aqui em casa sem te contar quem ele era. Eu achei que ia ser melhor vocês se conhecerem primeiro e você ver como ele é bacana. E ele é, não é? Você mesma falou ontem que gostava dele?

— Eu não gosto mais. — A Alícia limpou o rosto. — Ele nem quis me conhecer antes?

— Oh, meu amor. Não é verdade. — A Bia apertou o abraço na filha. A incerteza e insegurança na vozinha da Alícia foi como uma mão que entrou nela e apertou seu coração, fazendo suas próprias lágrimas caírem. — Quando o tio Lôro foi preso, ele não sabia que você estava na barriga da mamãe. Ele ficou muito tempo preso, e quando ele saiu, ele veio aqui em casa e te conheceu. Eu sei que você não se lembra, mas vocês fizeram bolinha de sabão juntos... E ele precisou ir embora, é verdade, a casa dele era em Porto Alegre, mas ele só foi porque ele viu que você tinha uma mãe e um pai que te amavam muito e estavam cuidando de você. Mas ele sempre quis te conhecer melhor, e foi pra isso que ele veio aqui.

— Eu quero ir pra casa do meu pai. — A Alícia saiu dos braços da Bia e ficou de pé na frente dela.

— Você vai. Mais tarde ele vem te buscar.

— Eu quero ir agora. Ele pode vir me buscar agora?

A Bia respirou fundo. Naquele momento, a necessidade da Alícia pelo Diego era maior que a necessidade de ouvir explicações da Bia. Ela estava precisando se sentir segura no amor de pai do Diego e ver que tudo continuava igual entre eles. E se era dele que a Alícia precisava, era para ele que a Bia ia levar a filha.

— Vai arrumar suas coisas. Eu te levo. Eu vou lá embaixo avisar a Amanda.

A Alícia mal esperou o fim da frase e saiu correndo para o quarto dela.

A Bia parou no alto das escadas, se agarrando à alça da bolsa pendurada no ombro. Se ela não tivesse deixado o celular lá embaixo, ela teria mandado uma mensagem para o Fred subir com a Amanda, porque a última coisa que ela queria era se tornar o centro das atenções e enfrentar a avalanche de perguntas de todo mundo. Sem contar que ela não seria responsável pela sua reação se o Lourenço não tivesse atendido o seu pedido e sumido com a noiva.

O silêncio que vinha da sala encorajou a Bia a dar uma espiada rápida, e ao ver só o Fred com a Amanda enroscada no colo e a Mariana ao lado dele no sofá, ela limpou o rosto e desceu.

Os dois adultos a olharam curiosos, mas continuaram em silêncio ao ver a Bia indo direto até a filha.

— Meu amor, tá tudo bem viu? — A Bia deu um beijo nos cabelos loiros. — A mamãe vai levar vocês na casa do papai. Vai pegar o que você quer levar.

— Posso levar minha casinha nova?

— Pode. Tá no seu quarto, mas não desce a escada com ela. Me chama que eu te ajudo.

— Tá bom. — Ela pulou do colo do Fred e subiu correndo.

— Tão ruim? — ele perguntou.

— Pior — a Bia respondeu, caindo sentada ao lado do irmão. — Foi todo mundo embora? Sem almoço?

— Não tem ninguém com apetite pra almoçar, Bia, mas pode ficar tranquila, eu mandei um monte de comida com eles.

— E o Lourenço foi levar a Nicole no aeroporto — a Mariana acrescentou. — De volta pro buraco de onde ela nunca devia ter saído. Ela não é noiva dele.

— O Lourenço pode ser noivo de quem ele quiser. Eu não tenho nada com isso. Eu só tô preocupada com a Alícia, e eu sei que o que eu vou te pedir é muita falta de educação, mas eu tô fazendo por causa dela. Eu vou levar as meninas pro Diego, mas elas devem voltar amanhã, e seria melhor se você e o seu irmão não estivessem aqui.

— Bia! — o Fred se indignou. — Eu entendo você não querer o Lourenço aqui, mas não precisa expulsar a Mariana também.

— Sem problema. — A Mariana estendeu a mão para aplacar o Fred. — Eu entendo, Biatriz. Você tá totalmente certa em se focar na Alícia. É só nela que a gente tem que pensar. Eu vou arrumar as minhas coisas e quando o Lourenço voltar do aeroporto, a gente vai embora. Hoje mesmo.

— Eu sei que não vai ser fácil pro seu irmão. Ele não é o tipo de pessoa de se afastar e não fazer nada, mas lembra a ele que eu e a Alícia precisamos de espaço. Ela precisa de tempo pra absorver todas essas informações. Forçar uma conversa agora, vai fazer mais mal do que bem. Ele vai ter a chance de se explicar pra ela, depois.

— Deixa o Lourenço comigo — a Mariana garantiu.

— Mamãe? — a Amanda chamou do alto da escada com a casinha na mão.

— Eu vou. — O Fred levantou e foi ajudá-la.

A Mariana aproveitou e chegou mais perto da Bia.

— Eu tô querendo te dizer isso desde que eu cheguei, Biatriz. Eu te devo um pedido de desculpas por aquele almoço. O Lourenço tinha o hábito, que eu odiava, de ficar pegando meninas no bar e quando eu soube que você era uma delas, eu te julguei mal. E você foi lá em casa, toda arrumadinha, toda patricinha, e eu achei que você estava fazendo hora com a cara dele porque como uma menina rica, podia querer alguma coisa séria com um garçom?

— Bem preconceituoso da sua parte, né? Além de injusto com o seu irmão.

— Eu sei, e é por isso que eu tô te pedindo desculpas. Eu quis proteger a minha família e foi sempre a gente que te fez mal. Naquele almoço, no dia em que o Lourenço foi preso e hoje, de novo, você foi prejudicada por nossa causa.

— Eu aceito as desculpas pelo almoço, mas o resto não foi culpa sua. E me desculpa também, mas eu preciso ir.

A Bia ficou de pé e encerrou a conversa, quando o Fred parou do lado do sofá com a Amanda de um lado e a Alícia escondida atrás dele.

— Você quer que eu vá com você? — ele ofereceu.

— É uma coisa que eu preciso fazer sozinha — a Bia respondeu e se virou para a Mariana. — Apesar da confusão de hoje, foi um prazer ter você aqui em casa. Eu disse pra sua irmã, ontem, e eu vou repetir pra você, você sempre vai ser bem-vinda aqui.

Para sua surpresa, a Mariana levantou e a abraçou.

— Obrigada. E qualquer coisa que você precisar, eu vou deixar meu telefone com o seu irmão. Pode me procurar. Eu quero ajudar, se eu puder.

— Obrigada. — A Bia sorriu e se virou para as filhas. — Dá um beijo na tia Mariana? Ela tá indo embora.

A Amanda não hesitou em obedecer, mas a Alícia, sem surpresa, continuou escondida atrás das pernas do tio.

— Alícia? — a Bia chamou.

— Não tem problema. — A Mariana tocou o ombro da Bia e a voz dela saiu apertada como se ela estivesse com um nó na garganta. — Outro dia. Eu vou ter que voltar, você ainda não me ensinou a fazer aquela trança, lembra?

Com um sorriso de agradecimento pela compreensão da Mariana, a Bia tentou pegar a casinha da mão do Fred.

— Eu vou com você até o carro. Só um minutinho, Mariana, eu já volto.

A Bia pegou o celular em cima do móvel e foi andando com o irmão, a Amanda saltitando e a Alícia arrastando os pés, na frente.

— Liga pro Diego pra mim, e avisa que eu tô indo? Mas não conta o que aconteceu, por favor, Fred, não fala nada — ela pediu.

— Você tem certeza que você quer ir sozinha?

— Eu preciso.

— Eu sei o que você tá pensando. — Ele colocou a casinha no banco do passageiro e fechou a porta, falando baixo enquanto as meninas se ajeitavam no banco de trás. — Não deixa ele te maltratar. Eu sei que você acha que você tá merecendo porque você tá se sentindo culpada, mas não foi culpa sua!

— Não mesmo, Fred? Se eu não tivesse trazido o Lourenço pra cá, isso não tinha acontecido.

— Não faz a inconveniência daquela mulher ser culpa sua. — Ele a abraçou forte.

— Mais uma coisa. — A Bia deu um passo para trás. — Eu tenho quase certeza que o Diego tá almoçando na casa do tio João Carlos. Confirma com ele pra mim e, se ele estiver em outro lugar, me avisa?

— Beleza. — Ele fechou a porta do carro para a Bia e, como era hábito dele, foi checar o cinto de segurança das meninas.

Na vez da Alícia, ele murmurou no ouvido dela e ganhou um abraço apertado. Quando ele se soltou, a Bia pôde ver as lágrimas nos olhos dele também.

Ela colocou os óculos escuros e deu um tchauzinho para o irmão.

Os pais da Vivi moravam no Leblon, e com o trânsito fácil do feriado, meia hora depois ela estava estacionando na porta do prédio. O caminho foi feito em silêncio. A Alícia de olhos fechados o tempo todo, embora a Bia soubesse que ela não estava dormindo, e a Amanda, parecendo perceber que o clima não estava para conversa, se distraiu sozinha com uma bonequinha que tinha levado na mão.

Assim que a Bia desceu do carro, o Diego e a Vivi saíram pela porta de vidro da portaria, como se estivessem esperando por ela. A Bia se fortificou, respirando fundo, um separado do outro, era difícil, os dois juntos era dose para dinossauro.

— O que aconteceu? — O Diego se aproximou com passos largos, o rosto ansioso. — Por que você veio mais cedo?

A resposta da Bia foi abrir a porta de trás do carro. A Alícia já tinha soltado o cinto e passou por cima da cadeirinha da irmã, pulando na calçada e correndo para ele.

— Papai!

Ele só teve tempo de se abaixar e pegá-la no colo. Ela se agarrou nele, braços e pernas, o rosto enfiando no pescoço, aos prantos novamente.

— Biatriz, o que aconteceu? Me fala!

— Uma pessoa da família do Lourenço fez um comentário que não devia e...

— Eu sabia! Eu te avisei que eu não queria aquele cara perto das minhas filhas.

— Foi um acidente, Diego. Você acha que eu queria que tivesse acontecido assim?

— Acidente, Bia? — a Vivi se meteu na conversa. — Você já reparou que tudo na sua vida é um acidente agora? E você se considera capaz de cuidar das suas filhas?

— Vivi, sobe com as meninas, por favor? — o Diego pediu. — Não vamos estragar o Natal mais do que tá estragado. Deixa que eu converso com a Bia.

A Bia voltou ao carro, ajudou a Amanda a descer e entregou as mochilas e a casinha para a Vivi, que estava com os lábios apertados um no outro com o esforço de atender o Diego e não falar nada.

— Oi, papai — a Amanda falou, e recebeu um beijo na cabecinha.

— Oi, amor. Sobe com a tia Vivi que o papai já vai. Tem um montão de presentes lá em cima pra vocês.

Mas quando o Diego tentou colocar a Alícia no chão, ela se agarrou mais a ele.

— Não, papai — ela soluçou. — Eu quero ficar com você!

— Tá certo. — Ele desistiu e olhou para a Vivi. — Pode ir subindo, eu já vou.

A Bia se despediu da Amanda e ficou escutando a vozinha entusiasmada, contando sobre os presentes que o papai Noel tinha deixado, ir diminuindo conforme ela ia se afastando com a Vivi. Era covardia ficar feliz com a presença da Alícia que impedia o Diego de soltar toda a sua raiva nela? Com certeza, mas ela tinha passado por tanta coisa naquele dia, qualquer pequena benção era apreciada.

— Diego, eu não vim aqui pra brigar. — A Bia fez uma pausa, a presença da filha também censurava o que ela precisava dizer, e ela escolheu as palavras com cuidado. — Aconteceu, e a única coisa a fazer é lidar com as consequências. Eu trouxe ela aqui porque ela tá precisando de você. Eu não preciso explicar, você conhece ela tão bem quanto eu. Cuida dela pra mim?

— Você não precisa pedir. — Ele deu um beijo na Alícia. — Essas meninas são a minha vida. Ao contrário do que você acredita, elas estão sempre em primeiro lugar pra mim.

A Bia se aproximou e passou a mão pelas costas da Alícia.

— Tchau, meu amor. A mamãe liga depois, pra saber como você tá. Eu te amo.

O Diego esperou que a filha respondesse, o que ela não fez, e se despediu com um aceno de cabeça, antes de ir andando para o prédio, conversando baixinho com ela.

A Bia esperou eles entrarem e voltou para o carro. Com as duas mãos apoiadas no alto do volante e a testa encostada nelas, ela finalmente deu vazão ao choro que ela tinha feito de tudo para segurar na frente da Alícia. Ela queria estar consolando a filha. Doía demais não poder estar perto dela numa hora em que ela estava sofrendo tanto. E ela só podia imaginar como o Diego e a Vivi iam lidar com a situação, a prima aproveitando a oportunidade e envenenando mais as filhas.

Você já reparou que tudo na sua vida é um acidente agora?

As palavras da prima não paravam de ecoar na sua cabeça. Não era como se a Bia procurasse por encrenca, pelo contrário, tudo o que ela fazia e planejava, era com o único objetivo de evitar problemas ou aborrecimentos, mas era verdade que, nos últimos tempos, não importava o quanto ela fosse cuidadosa, tudo acabava explodindo na sua cara, de uma maneira ou de outra.

A situação com o Lourenço, por exemplo.

Ela tentou se precaver por todos os lados. Ela foi bem clara com ele que a Alícia não podia saber de nada, e ele garantiu que tinha avisado à toda família. O Fred e o doutor Lemmer tinham chegado ao extremo de assuntar sobre a vida dele em Porto Alegre. A Bia tinha tido coragem de enfrentar a Vivi através do Diego, quando ela ensaiou se meter em como as informações sobre o Lourenço iam ser passadas para as meninas. E aí, vinha alguém que a Bia nem sabia que existia e, em menos de dez minutos, virava tudo de cabeça para baixo. Como ela podia ter prevenido aquilo?

Seu pai costumava dizer que quando muitos erros aconteciam com uma pessoa, que não adiantava a pessoa culpar os outros, ou o mundo. Que o mais certo era que o problema era com a própria pessoa, que continuava a fazer tudo igual esperando resultados diferentes.

Talvez, fosse hora da Bia fazer um exame de consciência profundo, procurar dentro de si mesma a razão de tantas coisas dando errado na sua vida. Ser bem-intencionada, claramente, não estava sendo suficiente. Ainda mais quando suas filhas, por quem ela seria capaz de morrer, sofriam com suas ações.

E você se considera capaz de cuidar das suas filhas?

Talvez, fosse o momento de encarar que ela não era a pessoa mais indicada para cuidar das próprias filhas? Desistir da batalha pela guarda e deixar as meninas com o Diego, pelo menos por um tempo, e usar aquele tempo para melhorar. Uma terapia alternativa, com remédios, se fosse o caso. Um retiro espiritual. Uma clínica para pessoas com problemas psicológicos. Qualquer coisa. Ela estava disposta a tentar qualquer coisa para interromper aquele ciclo de sofrimentos que parecia nunca ter fim.

Um motivo impediu a Bia de ligar para o doutor Lemmer e pedir para ele cancelar o processo de guarda. Na verdade, dois, era Natal, ela não ia incomodar o advogado no feriado, mas a razão principal, era a Vivi.

Se o Diego estivesse sozinho, ou com uma mulher em que a Bia pudesse confiar o cuidado das filhas sem se preocupar com a lavagem cerebral que seria feita nelas, ela poderia ter desistido da batalha judicial ali, naquele momento. Mas ela acreditava, com todas as suas forças, que por pior mãe que ela fosse, ela ainda era melhor para a Alícia e para a Amanda que a poluição tóxica em forma de fumaça colorida com que a prima envolvia as pessoas.

E então, ela ia continuar lutando, sem saber de onde viria a força, mas ela não ia desistir.

O celular tocou dentro da bolsa, e a Bia virou tudo no banco do carona, para não deixar o irmão mais ansioso com a sua demora em responder, mas a tela acesa no meio das tralhas espalhadas em cima do couro preto mostrava outro nome.

Lourenço.

Com as mãos entrelaçadas no colo, a Bia esperou a ligação ir para a caixa postal. Ele tentou outras duas vezes, e só depois de ter certeza que ele tinha desistido, ela teve coragem de pegar o telefone.

Uma noite, sentada dentro de outro carro, ela tinha bloqueado o número dele, disposta a tirá-lo de vez da sua vida, mas aqueles eram outros tempos. Tempos onde não havia um vínculo eterno entre eles. Um vínculo que não podia ser quebrado com um simples deslizar de opção na tela do celular. Por bem, ou por mal, ela ia ter que lidar com ele, mas não precisava ser naquele dia.

Ela mandou uma mensagem para o irmão, dizendo que estava tudo bem e pedindo que ele a avisasse quando as visitas fossem embora, para ela poder voltar para casa. Com um pacote de lencinhos de papel que ela achou no porta-luvas, a Bia limpou a maquiagem escorrida do rosto, tentando não lembrar em como ela estava ansiosa pela chegada do Lourenço ao colocar aquela mesma maquiagem, se arrumando para ele. Ela se remexeu no banco, ajeitando a porcaria da calcinha fio dental que, de repente, estava apertada e incômoda, e ela só não tirou porque ficar sem calcinha seria um lembrete muito pior de tudo o que tinha acontecido no quarto do Lourenço naquela manhã.

Depois de guardar tudo de volta na bolsa, ela colocou os óculos escuros e saiu do carro. Se era para matar tempo, que fosse num lugar melhor que no calor abafado do interior do veículo e com uma bebida gelada. Chorar era exaustivo e ela estava com sede.

Andando em direção à praia, as calçadas estavam vazias, mas era Natal, todo mundo estava em casa almoçando com a família. Nas areias da praia, poucos cariocas e muitos turistas, que com o tempo limitado para aproveitar as férias, não queriam perder nem um minuto de diversão.

Debaixo do guarda-sol de um quiosque, com uma água de coco na mão, a Bia tentou se distrair com um jogo de futevôlei, até receber uma notificação de mensagem. E novamente não era o Fred.

Ela se obrigou a contar até mil de trás para a frente, devagar, antes de desbloquear a tela. Era uma daquelas longas mensagens, tipo corrente, que ela costumava apagar sem ler, mas ela não seria capaz de não ler o que o Lourenço tinha a lhe dizer. Colocando o celular debaixo da mesa para diminuir o reflexo do sol, ela começou:

Lourenço: Então, minha mala está pronta e eu estou sentado na mesma cama onde agora mesmo você estava abafando o seu orgasmo no meu pescoço. Eu não quero ir, Bia. Eu queria ficar e conversar e consertar tudo, mas eu sei que o que vc e a Alícia precisam de mim é tempo. E é só por isso que daqui a pouco, eu vou levantar e sair da sua casa.

O que me dá forças é saber que vc deve estar se sentindo como eu. Deixando a Alícia com o Diego quando tudo o que vc queria era ficar com ela. Fazendo o que ela precisa que vc faça por ela, e não o que vc quer fazer. Uma vez vc me disse que é assim que um bom pai ou uma boa mãe fazem, então eu não podia esperar outra coisa de vc.

Na volta do aeroporto pra cá, eu me lembrei de como vc queria dar a notícia pra Alícia: pequenas doses de verdade pra ela ter tempo de ir se acostumando com a ideia, e como aconteceu exatamente o contrário. E eu sei que vc não deve estar querendo ouvir isso agora, que a preocupação com a Alícia é o principal na sua cabeça, mas vai me matar por dentro se eu não me explicar.

A Nicole não é minha noiva. Nunca chegou nem perto de ser. É verdade, ela estava comigo naquele dia que vc me ligou, e eu acabei me abrindo e conversando com ela, mas não porque esse é o tipo de relacionamento que nós temos, mas pq ela é da família, eu confiei nela. Eu não vou mentir, ela sabia que não era pra contar nada pra Alícia e fez de propósito. Minha única explicação é que ela se sentiu ameaçada, o que me faz acreditar que de alguma maneira ela esperava mais do que sempre foi considerado por mim, um relacionamento casual.

Eu nunca fiz nenhuma promessa pra ela nem dei a entender que algum dia nós podíamos ir além de dormir juntos de vez em quando. Anel na minha gaveta? Não existe nenhum anel na minha gaveta! E os meus planos pro ano novo são só de trabalho e não incluem nenhuma proposta de casamento. Se em algum momento, eu pudesse ter considerado que ela seria capaz de quebrar a minha confiança e usar a Alícia pra me atingir, eu teria sido o primeiro a alertar vc a nunca deixar ela chegar perto da NOSSA filha. Eu peço mil, mil, mil desculpas por não ter conseguido proteger vcs dela.

Eu não menti pra vc, quando vc me perguntou se eu tinha alguma namorada, ou alguém especial em Porto Alegre. E eu vou repetir. Eu não tenho namorada. Eu não tenho namorado. A única pessoa especial na minha vida, a única com quem eu tenho vontade de me casar, se algum dia eu tiver essa sorte, não mora em Porto Alegre. Ela é essa mulher linda, forte, corajosa e gostosa, de quem parece que eu vou morrer cada vez que eu preciso me afastar dela. Mas é melhor não falar muito dela. Eu não quero correr o risco de deixar vc com ciúmes.

E eu sei que eu não tenho direito de te pedir nada, mas pfv, não me deixa sem notícias da Alícia. Eu prometo ler as suas mensagens, sem tentar usar isso como uma desculpa pra falar com vc, mas eu preciso saber como ela está. Eu sei que vc vai me atender pq vc é a pessoa mais generosa que eu conheço (desculpa, eu esqueci de acrescentar generosa na minha lista, ali em cima).

Acho que já falei demais, mas a culpa é sua, quanto mais eu escrever, mais eu posso ficar aqui, sentindo o cheiro de nós dois no ar.

Eu vou embora, Bia. Por enquanto. Mas eu vou voltar pra me explicar pra Alícia e conversar com vc, e não vai ser em dez ou cinco anos. Nem cinco meses. Eu acho que eu não vou conseguir esperar nem cinco semanas, pra ser sincero.

Fica firme. Vai dar tudo certo. Pra sempre seu, Lourenço.

A Bia precisou procurar outro lencinho de papel dentro da bolsa. Quem passava pelo calçadão devia achar que ela era louca, rindo e chorando ao mesmo tempo. E talvez, ele estivesse dizendo a verdade e a Nicole não passasse de uma distração que se tornou inconveniente. Aquele breve flash de pânico que ela tinha visto nos olhos do Lourenço pode ter sido apenas um reflexo da sua própria posição defensiva, esperando pela reação dele.

Por mais que a sua vontade fosse pegar o telefone e ligar para ele, esclarecer tudo, ouvir se a voz dele iria soar com a sinceridade do que ele tinha escrito, ela não ia fazer aquilo. Dois dias e ele ia precisar ir embora de qualquer jeito, e ela ia viajar. Tinha acontecido tudo tão rápido entre eles, menos de uma semana e ela tinha caído na cama com ele e ainda queria mais.

Um tempo separado iria ser bom. Na verdade, ia ser uma merda, mas iria lhe dar perspectiva, um entendimento melhor de tudo o que ela tinha sentido por ele, e com ele, naqueles últimos dias.

A Bia pegou o celular e respondeu.

Bia: A Alícia está confusa e assustada. Eu te disse que ela não gosta de mudanças inesperadas, então é uma reação normal, eu acho. Eu acabei de deixar ela com o Diego, e mais tarde, depois que eu ligar pra ter notícias dela, eu aviso como ela está passando. Obrigada por entender a nossa necessidade de tempo e espaço.

Um pouco formal e frio, mas era o que ela precisava naquele momento para continuar a manter distância. Menos de um minuto depois, ela recebeu a resposta. Ele não tinha problema em parecer afoito demais para responder.

Lourenço: Obrigado

Simples e direto, também. Nenhum emoji de beijinho ou coração. Não que ela esperasse um. Ele tinha prometido não transformar a troca de mensagens em mais do que deveria ser e ele era um homem de palavra. 

Por isso, ela precisava se preparar para a volta dele, porque, a julgar pelo tom da mensagem, ele ia vir com tudo


***

Promessa cumprida.

Espero que as unhas tenham sobrevivido e s cabelos não tenham sido arrancados desde o último capítulo.

Quinta-feira tem mais. Espero vocês 💕

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