01⠀𝄄⠀CAPÍTULO UM
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✦.˚ 𝓑𝐀𝐃⠀𝐅𝐎𝐑⠀𝓑𝐔𝐒𝐈𝐍𝐄𝐒𝐒 ❜ ⌗
©sweetinacai
C A P Í T U L O
︵𝄄⠀um⠀𝄄︵
CINCO ANOS DEPOIS
2020
Acordar atrasado para o seu primeiro dia de trabalho não foi algo que Aryan imaginou, especialmente agora que trabalha para Reed Richards.
Quando notou que eram dez para as oito, ele levou um choque, suando frio e quente ao mesmo tempo. Pulou da cama com tanta força que sentiu os ossos estalarem e, na corrida até o banheiro, bateu o dedinho na batente, catapultando qualquer ideia de tomar banho antes do expediente. A mente corria tão rápido e de forma tão agressiva que ele quase atropelou Kirby duas vezes no corredor.
─ Desculpa, amor, te machuquei? ─ Recebendo apenas um abanar de rabo e batidas animadas das patinhas dele no chão, sabia que ele estava bem e apenas o pegou no colo para dar vários beijos em seu focinho.
O pequeno corgi foi uma surpresa na vida de Aryan, uma surpresa da qual ele não conseguia viver sem. Aryan adotou Kirby quando ele já era adulto, com sua vizinha querendo entregá-lo ao primeiro que passasse no corredor como se fosse uma mercadoria barata.
─ Sra. Travis, está tudo bem? Por que está dando o seu cachorro?
─ Justamente, é um cachorro, não mais um filhote.
Se Aryan acabou mexendo com alguns fios dos eletrodomésticos do apartamento ao lado, sabe, em um experimento ou outro para o seu PhD, realmente não foi culpa dele. Erros fazem parte do desenvolvimento da equação. E Aryan, felizmente, os cometeu enquanto entregava a melhor ração e o melhor sachê de carne que encontrou para o novo mini dono do apartamento.
Kirby tinha Aryan em suas patas, como Rüya tanto adorava dizer.
Lembrando-se do horário, Aryan apenas passou desodorante e perfume, colocando a roupa que já tinha deixado preparada no dia anterior. Uma camiseta social, o seu colete de lã feito por sua tia-avó, calça jeans e um tênis confortável. Nada de extravagante, mas nada que demonstrasse desleixo.
Antes de atender o telefone, que tocava freneticamente ao som de Destiny's Child - não foi uma escolha de música de Aryan - e com a imagem de Casey brilhando na tela, Aryan apanhou alguns de seus pins e colocou o celular entre o ombro e a orelha.
─ Alô? ─ Parou em frente à sua mochila, colocando os pins em ordem totalmente aleatória.
Arrancou um pedaço de papel do caderno em sua cabeceira, buscando uma caneta que pudesse estar perdida por ali. Fez um rabisco rápido, legível o suficiente em sua pressa, dizendo "vou chegar tarde" e correu até a sala, colocando o bilhete na mesa de centro para que sua tia-avó pudesse ler.
Ele não iria precisar se preocupar com Rüya, bastaria apenas uma mensagem de texto e estaria tudo bem. Aquela garota vive com o rosto enfiado no celular, seria fácil receber uma resposta imediata.
─ Quase nove horas e você me vem com "alô"?! ─ Casey gritou tão alto que por pouco Aryan não ficou surdo. Antes mesmo de Aryan abrir a boca para responder, uma buzina o cortou ─ Dá seta, filho da puta!
─ A educação é realmente algo de família ─ murmurou enquanto colocava a mochila e ajeitava a comida e a água de Kirby ao mesmo tempo. O celular por muito pouco não deu um mergulho no pote de água.
─ Deixa eu falar pra Annie que você chamou ela de boca suja.
Fechou a porta do seu apartamento, andando apressado até a porta que dava acesso às escadas. O elevador está quebrado, e o dono do prédio está prometendo o conserto há alguns meses.
─ Falar de mim pra ela não vai fazer a gente voltar a conversar, Ace ─ Aryan quase pulou os últimos degraus, mas foi o suficiente para chegar ao térreo e escutar um barulho alto vindo do lado de fora.
Antes de abrir a porta do prédio, reparou que havia algo na sua caixa de correio, mas apenas balançou a cabeça e focou no horário. Abriu a porta num rompante e logo viu o que estava causando aquela barulheira toda, rindo baixinho ao ver o carro velho que Casey dirigia. Seu amigo dizia que era um clássico, mas Aryan pouco acreditava.
─ E quem disse que eu quero? ─ O carro de Casey estava na frente do prédio, estacionado de forma torta e com o motor roncando alto por toda vizinhança ─ Agora, será que a gente pode falar mal da minha irmã no carro?
Aryan apenas riu, guardando o celular assim que escutou Casey desligar na cara dele. Entrou no carro num baque, sua mochila agora jogada aos pés enquanto ele puxava o cinto. Casey começou a dirigir, tirando o carro de sua vaga torta, e então abriu a boca. Para reclamar, como era esperado.
─ Você está atrasado, sabia? ─ Aryan começou a procurar as balinhas de menta que Casey guardava no porta-treco, mas não encontrou. Ele apenas se encostou no banco, olhando pela janela, ignorando o que seu melhor amigo disse.
─ Como está a Sylvia?
Aryan não precisava saber que estava atrasado. Poderia não parecer em sua expressão, mas um nó de nervosismo na garganta o fazia querer vomitar.
Aryan puxou o celular do bolso, mandou mensagem para Rüya e procurou o contato do mecânico para saber qual seria a situação do seu carro. Pelas poucas mensagens que recebeu, sabia que era um caso perdido, e isso o fez afundar ainda mais no banco.
Sua irritação palpável pareceu ter surtido o efeito necessário, pois Casey mostrou um sorriso solidário enquanto estendia uma bala de menta na sua direção. Aryan pegou a bala da mão de Casey e continuou a falar enquanto tirava a embalagem: ─ Ela pegou o avião ontem, não é?
Seu celular vibrou sobre a barriga e a tela acendeu, mostrando o contato de Rüya. Abaixou a barra de notificações para ver a enxurrada de mensagens seguintes:
Rünamite
Blz <3
eu querp comida tailandesa
passei no hospital hj cedo
mamãe te desejou boa sorte
mas vc n precisa, sei q vai dar td certo
Aryan apenas riu, suspirando enquanto guardava o celular e finalmente voltava sua atenção para Casey, que parecia animado para dizer algo que ele havia deixado passar. Aryan pegou a frase no meio do caminho.
─ Não sei quem chorou mais, eu ou o Blue ─ Casey entrou na frente de um carro e quase que Aryan engoliu a bala no susto, seus olhos arregalados e lacrimejantes ─ Acho que foi a primeira vez que vi ele ficar tão vocal, fiquei acordado a noite toda escutando ele cantar o nome dela na gaiola.
Enquanto escutava Casey reclamar, achou ser mais seguro mastigar a bala. Havia uma grande probabilidade de acabar no hospital por causa de um engasgo.
─ Já te avisaram que você é um péssimo motorista?
─ Você fala isso, mas é você que tá com o carro fudido ─ O dedo do meio que mostrou para Casey foi prontamente ignorado quando o mesmo fez uma curva para o lado esquerdo.
─ Foi o Hulk ─ Ironicamente, um banner com a foto promocional do novo lançamento de bonecos dos Vingadores estava preso na entrada de uma loja de brinquedos ─, ele usou meu carro pra bater naquele mini exército com armas brilhantes.
─ Falando nisso, como que tá? ─ Como se o pedido de carona não tivesse sido o suficiente para saber o estado do carro dele. Aryan logo mordeu as palavras que queriam sair pela boca ─ Tem concerto?
─ Quem me dera ─ Ele apenas implorou para chegar logo ao Edifício Baxter e poder finalmente conhecer Reed Richards, mas parece que o trânsito de Nova Iorque tinha outros planos ─, é mais fácil vender a carcaça dele na internet pra um fã bizarro do que tentar fazer aquilo funcionar.
─ Pelo menos você ganharia uma grana por isso ─ Casey começou a batucar no volante e uma buzina cortou o segundo de silêncio que tinham entre eles. Até que Cameron abriu a boca novamente ─ Ou você poderia pedir para as Indústrias Stark.
Meu Deus, de novo não e revirou os olhos com força a ponto de sentir dor de cabeça. Já era a quinta vez que Casey mencionava algo relacionado, desde o dia em que Aryan tinha visto o seu carro se transformar em uma bola de sucata.
─ Incrível, você odeia o Stark e poderia estar usando essa oportunidade pra fazer uma cosquinha na conta bancária dele.
─ O que? Eu não odeio o Stark, eu apenas- ─ Um semáforo vermelho e foi o suficiente para Casey encarar Aryan, mostrando que não estaria acreditando em nenhuma palavra que seria dita a seguir ─ Existem certos níveis de arrogância que um ser humano pode aguentar.
─ E esse nível que você aguenta é o mesmo que o seu?
─ Vai se fuder, eu não sou arrogante.
Casey riu alto, quase que de maneira forçada, enquanto parava o carro em frente ao Edifício Baxter.
Havia duas ou três pessoas em frente ao prédio, literalmente paradas, segurando câmeras em mãos, o que trouxe arrepios à pele de Aryan. Ele não sabia o que seria da vida dele se, por acaso, se tornasse um herói; não seria uma reação boa, não com pessoas o perseguindo por todo lado.
A fama transforma as pessoas em coisas engraçadas ou trágicas; ou você lida com ela ou se perde. Não parece haver algo no meio-termo quando se tem flashes no seu rosto e fotos suas na internet.
─ Acredite no que for te fazer dormir melhor à noite, Ary ─ O carro estava claramente torto e o motor velho roncava como se fosse um trator, Casey olhava para Aryan com um brilho de carinho nos olhos ─, por que agora você e sua arrogância são problemas do Reed, não meu.
─ Obrigado ─ Recebeu um erguer de ombros, como se não fosse nada e, por causa disso, resolveu dizer logo em seguida ─, pela carona e não pela conversa.
─ É isso que dá não dar gorjeta.
─ Na próxima eu dou a gorjeta para sua noiva.
Saiu do carro o mais rápido que pôde, quase esquecendo sua mochila no carro se Casey não a tivesse jogado em Aryan. Ainda sorridente, entrou no Edifício Baxter com algumas câmeras apontadas para ele, fazendo o estômago de Aryan revirar.
Já fazia alguns anos desde que o Quarteto Fantástico se revelou para o mundo, estampando capas de revistas, sendo manchetes de jornais e entrevistas reproduzidas em sites. Aryan diria que talvez fosse dois ou três anos atrás, mas nem ele poderia ter certeza. Conhecer super-heróis nunca foi seu foco, apenas seus poderes e as dúvidas relacionadas a eles.
Sua tolerância estava diminuindo, principalmente depois de ver um homem gigante verde usando seu carro como um taco de beisebol. Talvez ele realmente devesse arrancar dinheiro dos Vingadores.
Ao entrar pela porta, foi cumprimentado pelo porteiro do Edifício Baxter, um homem de sorriso amigável, Sr. O'Hoolihan, que pediu para ser chamado apenas de Jimmy - ele agradeceu, pois seu sobrenome era um trava línguas. Aryan mostrou seu cartão de identidade e foi autorizado a usar o elevador, ouvindo as instruções de Jimmy. Havia um elevador específico que levava diretamente ao andar onde o Sr. Richards operava o laboratório.
─ Seu cartão está sendo cadastrado. Assim que terminar seu expediente, por favor, passe na recepção para pegá-lo ─ Jimmy mostrou o cartão, passando-o em um leitor abaixo do símbolo conhecido do quarteto ─ Isso ajuda a evitar visitantes curiosos invadindo o laboratório.
─ Isso acontece com frequência? ─ Aryan ajustou sua roupa pela quinta vez desde que entrou naquele hall.
─ Mais do que eu gostaria, Sr. Hawkins ─ O homem riu, as rugas abraçando os olhos claros da mesma forma que sua tia-avó.
Ele entrou no cubículo, tentando afastar o nervosismo ao enxugar o suor das mãos na calça que usava. A alça da mochila logo se tornou seu novo foco, apertando e soltando-a. Tudo o que ele queria era correr até o último andar o mais rápido possível ou talvez sair daquele prédio com a intenção de voltar para casa.
─ Por favor, me chame de Aryan.
─ Tenha um ótimo dia, Aryan.
─ Você também, Jimmy ─ E as portas do elevador se fecharam, mostrando seu próprio sorriso nervoso nas portas de metal.
Estando sozinho, agora ele conseguia sentir suas pernas como gelatina. Em poucos segundos, estaria trabalhando no laboratório, mas não era qualquer laboratório... Era o laboratório de Reed Richards. Apenas o pensamento fazia Aryan querer rir sozinho, incrédulo como aquilo parecia mais um sonho. Ele ajeitou o cabelo e questionou a escolha da roupa.
Antes que pudesse entrar em combustão ficando muito tempo sozinho com seus pensamentos, Aryan pulou no lugar ao ver as portas se abrirem e xingou baixinho. Não poderia demorar um pouco mais? Ele não estava completamente preparado para o que viria a seguir.
Saiu do elevador em passos lentos, olhando ao redor como se temesse sua própria sombra, com o coração batendo forte no peito. Mais alguns minutos e Aryan estava certo de que, de alguma forma muito estranha, havia se tornado o protagonista de um filme de terror.
O corredor era limpo, tipicamente branco com detalhes azuis, lembrando Aryan de um hospital. Mais à frente, havia uma grande janela e uma sala aberta, onde ele podia ver um sofá largo de cor cinza escuro. Tentou avançar, para procurar alguém, sentindo-se um intruso ali, mas logo ouviu passos pesados vindo da esquerda e ficou imóvel. A última coisa que ele queria era ter problemas com um super-herói.
Aryan logo se surpreendeu ao ver O Coisa virando a esquina do corredor, vestindo suas calças azuis e segurando um pote de barrinhas de cereal em um braço. Ele era observado, da cabeça aos pés, enquanto Aryan retribuía o olhar do herói de pedra, que simplesmente jogava as barrinhas goela abaixo sem se preocupar.
─ Quem é você? ─ a voz grossa perguntou com um desdém apenas superficial, pois o brilho nos olhos azuis de O Coisa revelava sua verdadeira curiosidade ─ Por acaso está aqui por causa do Johnny? Porque, eu digo, você seria o primeiro cara a vir atrás dele.
O nome fez Aryan se confundir por alguns segundos, prendendo a respiração. Parecia familiar demais, mas ele balançou a cabeça em um riso sem graça e olhou ao redor, tentando encontrar as palavras que pareciam morrer na ponta da língua.
─ Acho que o ego desse tal Johnny vai ficar ferido se eu disser que não estou aqui por ele, não é? ─ Aryan observou O Coisa rir, um som que ressoou pelo corredor. Era evidente que O Coisa gostava de implicar com ele ─ Meu nome é Aryan Hawkins, o Dr. Richards me contratou como assistente de laboratório.
─ Bom, hoje é seu dia de sorte... Susan obrigou Reed a ficar na sala de recreação, ele deve estar se contorcendo pelas paredes ─ O Coisa apontou para o elevador, e Aryan prontamente o seguiu, sentindo-se pequeno ao lado do homem de pedra, suas costas pressionadas contra a parede ─ E você pode me chamar de Ben, se quiser. "O Coisa" é só quando estou quebrando as coisas.
Aryan queria brincar, perguntar se alguém já havia processado O Coisa por destruir algum carro, mas ele apenas ficou quieto enquanto O Coisa falava sobre cada andar.
─ O primeiro andar é onde ficam os quartos, cozinha, sala... Basicamente, um apartamento normal. Já o segundo andar é a sala de recreação, onde Reed está. Acho que ele preferirá te mostrar o lugar todo. Ei, quer uma barrinha de cereal? É de aveia com mel.
─ Não, valeu Ben.
O elevador logo emitiu um "ding!" e Ben deixou Aryan sair primeiro. Eles se depararam com o que parecia ser uma academia, chamando a atenção de Aryan para a parede de vidro que dava acesso à porta. Enquanto Ben terminava sua última barrinha, ele apontava para algumas portas e explicava o que havia atrás delas, até chegarem à sala de recreação.
A linha de pensamento de Aryan logo foi interrompida quando ele lembrou que iria encontrar Reed Richards ali; suas mãos começaram a suar e suas pernas pareciam perder o equilíbrio a cada passo. Porra, ele estava prestes a conhecer o homem que praticamente mudara sua vida.
Ben pareceu notar o receio de Aryan e empurrou a porta, chamando Reed pelo nome. Aryan não saltou com o grito de O Coisa; na verdade, ele se assustou com a cabeça que apareceu pendurada do teto.
─ Ah, finalmente você apareceu!
Reed Richards era um homem de olhos castanhos com um sorriso carismático, mas nem isso impediu a expressão surpresa de Aryan ao vê-lo retorcer e alongar o pescoço, expandindo seu corpo que ocupava a sala de recreação em larga escala. Aryan mordeu a língua, questionando até onde ele poderia se expandir. Seus ossos poderiam ser afetados permanentemente se ele fosse ferido? Ele mesmo poderia causar danos a si próprio?
Antes que pudesse abrir a boca para perguntar, tremendo dos pés à cabeça de excitação, Reed Richards o surpreendeu ao voltar ao seu estado normal e encará-lo, seu uniforme azul-marinho brilhando sob a luz branca do corredor.
─ Seu tema de PhD foi incrível. Já havia visto alguns artigos sobre o uso de nanotecnologia, mas nunca um com foco específico na área da saúde. Como a funcionalização de nanoestruturas melhora a interação e a eficiência terapêutica em células humanas modificadas?
Por um momento, isso atingiu Aryan em cheio. Informação atrás de informação, ele se perguntava como conseguiu processar tudo tão rapidamente, sentindo suas mãos suarem ainda mais. Ele temia tropeçar nas palavras, dizer algo sem sentido ou explicar de forma incorreta. Todas aquelas horas praticando diante do espelho, fingindo falar com Reed Richards, pareciam agora inúteis comparadas à realidade.
─ Bom, seria uma maneira de maximizar a interação com células humanas modificadas ─ Ele coçou a garganta e esfregou as mãos nervosamente na calça, desviando o olhar por todo o rosto de Richards ─, isso melhoraria os resultados terapêuticos. Ela permitiria a criação de sistemas de entrega de medicamentos mais seguros, eficazes e direcionados... Além, é claro...
─ ...proporcionar novas ferramentas para o diagnóstico e monitoramento de doenças ─ Um alívio tomou conta de Aryan, concordando levemente sem parecer excessivamente entusiasmado com a interrupção de Richards ─, incrível. Como não pensei nisso antes?
Qualquer pergunta seguinte foi interrompida por uma tosse forçada e uma risada vinda de Ben.
─ Ok, vou pegar uns pesos, fiquei zonzo só de ouvir vocês ─ Ben logo dispensou o balde vazio que carregava, deixando-o em cima da pequena poltrona próxima à porta, dando a volta em Aryan e Richards, arrastando os pés até a academia enquanto ria ─ Qualquer coisa, é só gritar!
Aryan por um momento entrou em pânico. Sendo deixado sozinho com Reed pareceu aumentar seu nervosismo, com o coração batendo rápido e o rosto esquentando cada vez mais. Ele iria errar algo, tropeçar, fazer de si mesmo como a porra de um idiota e ele não estava preparado para isso.
E o Dr. Richards, alheio ao turbilhão de pensamentos que passavam pela cabeça de seu novo assistente, apenas sorriu brilhantemente para o rapaz mais novo. Estendeu a mão e segurou o pulso gelado de Aryan, guiando-o para um aperto de mão formal.
─ Seria bom começarmos direito ─ disse Reed, sorrindo ainda mais. Isso fez Aryan se sentir um pouco menos aflito, embora ainda sentisse as palmas das mãos suadas. ─ Eu sou Reed Richards, mas pode me chamar apenas de Reed.
Por um momento, Aryan pensou em rir. Por que se apresentar? Ele conhecia Reed Richards desde o primeiro dia em que entrou no mundo da ciência. Richards pode não ter tido muito apoio no início, especialmente em termos financeiros, mas, como cientistas, ideias extraordinárias são frequentemente limitadas pelo dinheiro. E foi isso que Aryan viu, foi isso que o fez se apaixonar pelo trabalho de Reed.
─ Acho que é meio impossível não conhecer o senhor ─ disse Aryan com a voz trêmula, puxando o ar para tentar conter a risada nervosa que queria escapar. ─ Aryan Hawkins.
Ele foi levado para outras salas naquele andar, mas nada chamou a atenção de nenhum dos dois. Nem mesmo Reed falou com entusiasmo ao abrir a sala de transmissão e mostrar cada equipamento de rádio e TV. Quando chegaram ao elevador, Aryan não conseguiu segurar o sorriso ao ouvir Reed dizer:
─ Agora vamos para o que realmente importa.
Ambos se despediram de Ben, que segurava algo que parecia ser uma barra romana, mas que estava aparentemente presa ao chão, talvez para ter mais peso, Aryan teorizou. Ele não se aprofundou em seus pensamentos ao ver Reed apertar o botão para o 33º andar.
Parecia que Reed estava contando com a reação de Aryan, pois assim que as portas se abriram, eles deram de cara com o laboratório de pesquisa biológica. Aryan não sentiu um pingo de vergonha ao encarar a estufa de esterilização que se exibia a poucos metros dele. Ele lutou contra a vontade de abrir as gavetas das bancadas e descobrir cada tesouro, suspirando e olhando ao redor como se tudo fosse um pedaço de museu. Se eu pegasse emprestado uma balança analítica, o Dr. Richards iria perceber?
Reed mostrou a Aryan o laboratório de química e, em seguida, o laboratório eletrônico, um campo no qual Aryan nem mesmo tinha se especializado. Ele parecia uma criança em uma loja de brinquedos, fascinado enquanto escutava Reed explicar cada detalhe. Aryan queria mexer e brincar com tudo, mas com muito esforço, se segurava na presença de Richards. Isso arrancava algumas risadas baixas e sinceras do mais velho, que prometeu deixá-lo explorar depois de apresentarem todos os andares.
Quando chegaram ao hangar, Aryan viu a verdadeira especialidade de Reed. Observou como o homem se iluminava ao mostrar cada detalhe de suas criações, apontando para o carro que a própria equipe de super-heróis utilizava em missões do outro lado do hemisfério.
Aryan se sentiu pequeno e questionou sua função. Ele não é um matemático ou engenheiro de grande calibre; é ótimo em fazer suas contas e montar uma coisa ou outra, mas sua área é a nanobiologia. O que faria se Richards precisasse que ele criasse algo totalmente mirabolante, uma curva bruta direcionada de forma contrária ao seu conhecimento? Provavelmente perderia o emprego.
─ Que tal um primeiro teste? ─ Reed virou para ele, pelo menos o tronco, já que as pernas se moviam rapidamente à frente. Era uma visão que Aryan não estava acostumado a ver.
O mais novo apenas riu, quase sentindo seu estômago revirar junto. ─ Contanto que não seja para criar nada do zero, acho que aceito.
─ Ah, a gente vai, mas não hoje ─ disse em um tom de promessa, algo que fez Aryan sorrir com expectativa. Até que ambos chegaram à lateral de um dos automóveis que Reed apontou como sendo o primeiro do Quarteto Fantástico. ─ Que tal me ajudar a arrumá-la?
Desviou o olhar de Reed para o automóvel que ele tocava, com batidas fracas em cima da logo. Aryan tinha visto algumas imagens nos jornais quando o carro fez sua primeira aparição. O design era bruto, aparentemente compacto, mas não tinha a beleza comparada com os automóveis que ele bisbilhotava pelo canto do olho.
Havia diversos arranhões e amassados na lataria, sem contar que um banco estava com sua capa queimada e o último estava rasgado, com pedaços enormes faltando. Aryan diria que os únicos bancos intactos são o do motorista e o da lateral esquerda que ficava no meio, dividindo espaço com o banco queimado. Isso já dizia muito sobre a personalidade de cada passageiro.
Reed ergueu as sobrancelhas, procurando a resposta de Aryan naquele silêncio, e Hawkins logo percebeu que havia deixado de responder por alguns segundos, o que o fez temer ter dado a entender que não estava disposto a ajudar.
─ Não é minha área, e se eu estragar?
─ Vou me divertir arrumando.
Aryan deixou sua mochila cair no chão e arregaçou as mangas da camiseta.
Eles não viram as horas passarem, muito menos quantas peças tiraram e colocaram de volta na "Banheira Voadora", como Reed muitas vezes murmurava, arrancando risadas de Aryan. Poucas horas foram suficientes para Reed compartilhar alguns fatos sobre sua esposa e o próprio quarteto, enquanto Aryan dividia algumas histórias sobre sua família.
─ Espera, Rüya descobriu que a vizinha é uma velha preconceituosa e resolveu roubar as plantas que ela tem na varanda?
─ Ela acusou a Rüya de ter roubado as plantas ─ Aryan ergueu o dedo, como se fosse um ponto extremamente válido ─, na realidade, ela nunca encontrou provas. Se o quarto dela é uma floresta é apenas uma coincidência.
Isso arrancou uma gargalhada de Reed, com o som ecoando por debaixo do carro onde ele estava concentrado em arrumar. Quando menos esperava, Aryan observou a mão de Reed se esticando para o outro lado, na intenção de puxar alguma ferramenta da bancada de trabalho. Aryan voltou a tentar tirar os amassados na parte traseira do carro, o lado que logo descobriu ser o de Ben. Ele evitou mostrar uma expressão risonha, não estando nem um pouco surpreso com o estado daquela parte específica.
O silêncio e seus esforços duraram apenas alguns minutos, pois o som do elevador soou como um grande alarme por todo o espaço. Isso foi o suficiente para Reed parar de mexer as mãos e esticar a cabeça até onde Aryan estava, com o rosto contorcido em uma expressão que Aryan não conseguiu decifrar.
─ Acho que deve ter me escapado que minha esposa me deixou de castigo ─ Reed encarou Aryan como se estivesse contando um segredo internacional, para logo sussurrar qual seria o verdadeiro temor ─, e que não era para eu subir com você para o laboratório ou o hangar logo no primeiro dia...
Aryan deixou sair um som da boca, sorrindo nervosamente sem mostrar os dentes e com um franzir de cenho entre as sobrancelhas. Qualquer que fosse a razão, Dr. Richards sente medo da própria mulher e Aryan achou que seria de bom tom também ter.
Quando cliques de salto alto começaram a soar por todo o lugar, Aryan já estava observando Reed voltar à sua estatura normal com olhos pidões. "Eu sou o convidado aqui," é o que seus olhos diziam, e Reed apenas revirou os olhos disfarçadamente. Aryan convive com duas mulheres, e a última coisa que ele gostaria é de carregar a raiva de mais uma nas costas.
Coçando a garganta, Reed caminhou apressadamente para encontrar sua esposa e rompeu o silêncio mortífero com um "Oi, meu amor!" tão saudoso que Aryan sentiu pena do homem mais velho. Puxou as mangas arregaçadas de volta para o lugar, xingando baixinho ao ver que suas mãos estavam sujas e agora mancharam a manga branca de graxa.
─ Aryan! ─ Ainda de cabeça baixa, Aryan foi ao encontro de seu chefe com passos lentos, carregando sua mochila e visivelmente desconfortável com a camiseta agora manchada ─ Quero te apresentar para o resto do Quarteto.
A primeira pessoa que viu foi uma mulher loira de olhos azuis, vestindo um suéter vermelho e calça jeans, com um sorriso amigável nos lábios. Ela usava salto alto preto nos pés e se aconchegou ao lado de Reed, abraçando sua cintura enquanto ele fazia o mesmo, mas com um braço estendido para enrolá-la pelo menos duas vezes.
─ Essa é Sue, minha esposa.
Susan Richards estendeu a mão e Aryan retribuiu com um grande sorriso ─ Oi Aryan, Reed me falou um pouco sobre suas pesquisas.
─ É um prazer te conhecer, Sra. Richards ─ E terminando de falar, Aryan logo recebeu uma expressão de desdém e Aryan riu, colocando em mente que deveria chamá-la apenas de Susan ou Sue.
O elevador soou novamente e isso fez Reed sorrir, dando um beijo na têmpora de Sue.
─ Acho que deve ser o Johnny.
─ Ele estava colocando as compras na cozinha, por isso que ele não veio antes ─ explicou Sue rapidamente, enquanto Reed se afastava para cumprimentar Johnny, como se devesse uma explicação a Aryan.
Aryan estava prestes a abrir a boca, querendo dizer que estava tudo bem e que não precisava de explicar nada pra ele. Isso até ele escutar passos atrás de si e uma risada. Isso fez o corpo todo de Aryan gelar e se arrepiar ao mesmo tempo.
Eu conheço essa risada.
─ E esse é o Johnny, irmão da Sue e meu cunhado.
Ao se virar, Aryan o fez lentamente. Sua garganta se fechou abruptamente enquanto o sangue pulsava em seus ouvidos, uma orquestra de tambores ressoando em seu peito. Foi difícil desviar o olhar dos ombros largos e imponentes do homem, que combinavam com seus braços e tronco robustos. Se não estivesse na presença de seu chefe, Aryan certamente teria desviado os olhos para baixo, até seus pés.
Cabelos loiros, semelhantes aos de Sue, penteados com o que ele presumia ser uma camada de gel, e um sorriso fácil que se alargava em sua boca, revelando dentes brancos e perfeitos. Uma barba rala começava a crescer, mas Aryan notou a pele branca, levemente marcada por algumas pequenas cicatrizes. Tive problemas de espinha quando mais novo, uma voz desconhecida disse em sua cabeça.
Quando ele observou aqueles olhos azuis e notou a familiar marca de nascença, sua respiração ficou estagnada.
─ Johnny... ─ Aryan escutou um barulho em seu ouvido, sentindo seu corpo se mover enquanto o homem abaixo de si se mexia, procurando uma posição confortável ─ Isso que você tem no seu olho, o que é?
Ele riu, fazendo Aryan se movimentar como se estivesse em um terremoto. O moreno ergueu a cabeça, pronto para encará-lo torto por ter tirado o estado de sonolência que ele finalmente alcançara
─ Marca de nascença, as mulheres gostam ─ Aryan não conseguia enxergar muito bem; eles esqueceram de acender a luz, e a única coisa que refletia luz era a lua. Mesmo assim, ele sabia que Johnny conseguia ver a careta que ele fez.
─ Você é muito cheio de si, sabe.
─ Bom, você gosta né?
Eles estavam esperando alguma resposta, Hawkins sabia e por muito ele estaria fazendo papel de bobo. Tudo isso por que ele lembrou de uma noite a cinco anos atrás com o cunhado do seu chefe, que provavelmente nem deve lembrar dele. Tudo dentro dos conformes, Aryan trincou o maxilar, os conformes pra eu me fuder-
As mãos de Aryan tremiam e a língua parecia uma lixa, mas ele ergueu a mão em cumprimento, sentindo o peso do mundo em seus ombros. Um sorriso trêmulo se formou em seus lábios, e por um momento, ele temeu que não conseguisse conter as lágrimas de nervoso até encontrar o primeiro banheiro disponível.
─ Aryan Hawkins, prazer em conhecê-lo.
Sua mão estendida doía a cada milissegundo que o sorriso de Johnny se desmanchava, a expressão endurecendo enquanto o brilho em seus olhos azuis se apagava. Uma pressão na boca do estômago foi suficiente para Aryan entender: Johnny realmente lembrava de Aryan, mas acabara de agir como se não o tivesse reconhecido.
Deus, eu nunca falei com você, mas seria presunçoso demais da minha parte pedir um ataque alienígena de última hora?
─ De todos os nerds por aí, você escolheu justamente o que mais parece um para ser seu assistente?
Ele tentou não demonstrar que o comentário o afetou, algo bastante infantil, considerando que já ouvira coisas piores vindo de adolescentes na internet. Pelo menos Rüya mostrou que podiam ser piores, então por que doeu um pouco ouvir aquilo? Foi apenas uma foda, apenas uma foda.
Sue enfrentou Johnny de frente, apontando o dedo da mesma maneira que Evrim faz quando está prestes a brigar com Aryan por esquecer de comer. Uma mãe prestes a dar um sermão. Enquanto Evrim tem uma expressão preocupada, Sue parecia vermelha e pronta para pular em cima do próprio irmão.
─ Jonathan Lowell Spencer Storm... ─ Aryan viu como Reed crispou os lábios, olhando para baixo como se estivesse envergonhado pelo cunhado. Ele não olhou para Johnny, não queria ver como estaria o rosto dele ao ser chamado pelo nome completo ─ Você vai se desculpar agora.
─ Tudo bem, Sue. De verdade ─ Ele acrescentou ao notar o olhar incrédulo da mulher. Abriu a boca, percebendo tarde demais como ela se movimentou mais rápido que seu próprio pensamento e logo disparou uma resposta olhando Johnny nos olhos ─ Eu não sou do tipo que se deixa levar pela aparência, mas... É melhor ter alguém que se encaixe no perfil do que uma montanha de músculos arrogante.
Ele viu vermelho. Não no sentido de estar bravo, foi no sentido literal mesmo. Johnny praticamente explodiu em chamas, queimando sua roupa no processo e fazendo o cheiro de queimado arder os olhos de Aryan. Ele viu Reed se enrolando em volta do loiro, puxando-o para longe de Aryan enquanto gritava com ele.
─ Teu ajudante responde assim e sou eu que levo bronca?
─ Você começou, Johnny ─ Reed retrucou de forma ríspida, fazendo as chamas de Johnny se abaixarem um pouco ─ Foi mais do que merecido!
Um suspiro alto e um olhar cansado de Sue foram o suficiente para Aryan se sentir culpado ─ Eu sinto muito, nós não queríamos que... seja lá o que isso for, acontecesse.
Ele imaginava que rumo tomaria se tivesse dito que conhecia Johnny, ou que, pelo menos, desse a entender que já o vira antes. "Ei, eu lembro de você, cinco anos atrás, e bem que você me disse, sua garganta profunda é realmente inesquecível". Aryan sentia-se envergonhado e nem conseguia visualizar como seria a conversa dali em diante.
O tumulto que ocorria alguns metros adiante foi se acalmando, apenas para uma conversa que deveria ser privada aumentar o tom, até que Reed pôs um fim nisso com um simples olhar. Aryan realmente não gostaria de estar na pele de Johnny, o que apenas o fez acreditar ter agido corretamente ao fingir que nada havia acontecido entre os dois.
Johnny e Reed logo apareceram trajando seus uniformes azul-marinho com o logo do Quarteto Fantástico no peito e expressões enfurecidas. Aryan mordeu a boca, sentindo o dente arrancar um pedaço de pele, e apenas esperou os dois homens se aproximarem dele e de Sue. Seu coração batia forte no ouvido enquanto contava os passos de Johnny.
─ Agora que está calmo ─ pelo tom de Sue, parecia não haver muita escapatória ─, que tal pedir desculpas?
O loiro crispou os lábios e desviou o olhar, bufando como um touro depois de uma tourada enlouquecida atrás de um pedaço de pano esvoaçante. Aryan, particularmente, sentia-se como um maldito toureiro ao ver aquele homem encará-lo como se quisesse erguê-lo pelos ares e jogá-lo na primeira parede que encontrasse por perto.
Exatamente como Aryan tinha feito com ele naquela noite. Meu Deus-
─ Sinto muito, foi um comentário... ─ Olhos azuis cristalinos o encararam como adagas, e Aryan estava suando por debaixo do colete de lã ─ Idiota.
Aryan não disse nada. Ser chamado de mesquinho ou não, ele não se sentia inclinado a responder com algo como "aceito suas desculpas"; isso pareceria vazio. Mas diferente dele, Johnny parecia capaz de dizer algo sem realmente querer, e essa pausa foi proposital. Aryan foi chamado de idiota na cara dura.
─ Que tal a gente descer e jantar? Acho que vocês ficaram aqui por muito tempo e se esqueceram de comer.
─ Eu agradeço o convite, Sue, mas eu tenho que ir ─ Um sorriso genuíno apareceu na boca de Aryan, sentindo-se horrível ao recusar. Ele enfiou a mão no bolso para pegar o celular e conferiu as horas ─ Já está na minha hora, preciso buscar a Rüya.
Sue não sabia quem era Rüya, mas mostrou um sorriso lateral com um brilho persuasivo no olhar: ─ Uma próxima, então.
Apenas sorriu, sem buscar confirmar ou negar sua presença. Puxou a alça da mochila e ignorou o loiro, por mais difícil que fosse, já que Johnny parecia se colocar à frente de tudo que Aryan tentava encarar.
Entrou no elevador respirando profundamente, como se tivesse estado debaixo d'água minutos antes. Ao se virar, encontrou Sue com postura contida, o braço de Reed envolvendo seus ombros, e um Johnny tenso, como se estivesse prestes a sair correndo dali para evitar o que viria a seguir.
─ Eu te vejo amanhã?
A forma como a pergunta saiu de Reed não parecia certa, como se houvesse um tom de dúvida e não de certeza. Este é o emprego dos sonhos de Aryan, por que ele iria arriscar... Sua linha de raciocínio se perdeu ao ser encarado por Johnny. Trincou o maxilar e respondeu:
─ Até amanhã, Dr. Richards.
Olhou para Johnny como um aviso. Ele não perderia o emprego por causa dele. Porém, com o estômago roncando enquanto pegava seu cartão de acesso com Jimmy no térreo, Aryan achou que deveria ter provocado mais Johnny e aceitado comida de graça.
Aryan fechou os olhos com força, desejando que aquele dia acabasse logo, ou que de alguma forma ele batesse a cabeça e realmente esquecesse quem era Jonathan Storm.
Ao sair do edifício, Aryan pôde respirar normalmente, encarando o céu escuro como se fosse um ex-prisioneiro, tão apressado que quase trombou com uma ou duas pessoas pelo caminho. Seus passos largos e rápidos o levaram até o restaurante tailandês onde eles geralmente pediam comida, e enquanto esperava na fila, ele verificou as mensagens que recebeu durante o dia.
Evrim
Eu entrei na minha conta
Ary vc assistiu rupaul sem mim??
Aryan
Eu não sei do que você está falando
Antes que Evrim pudesse terminar de digitar com os xingamentos mais criativos em turco, ele voltou para a aba de conversas e clicou para ver as mensagens que Rüya mandou, notando que eram várias delas, sendo a última levemente preocupante. Ao abrir, ele soltou apenas uma risada baixinha ao ver o drama que ela fazia.
Rünamite
lembra quando eu disse que n precisava se preocupar cmg na escola?
que eu n daria trabalho?
retiro tudo que eu disse
eu vou matar esse moleque
se juntar eu, vc e a vovó - até o kirby!!! - dá um bem bolado e a gente dá um fim nele
ele é ruim em espanhol
eu sou ótima em espanhol
então pQ CARALHOS ELE TEVE A NOTA MAIOR QUE A MINHA NA PROVA???????????
é só pq a mãe dele tem espanhol como primeira língua?????
isso se chama favoritismo
baba, eu vou me matar
Aryan
Então
Rünamite
então o q?
Aryan
Se respondeu não tá morta
E caixinha. 50 centavos a mais, por que você está na escola
Rünamite
ha-ha
como vc é engraçado
aprendeu esse humor quando o senhor visitou a rainha elizabeth I quando ela tinha sete anos de idade?
Aryan
Isso foi específico
O que houve?
Você é azeda, mas não é pra tanto
Já está em casa?
Rünamite
miles morales, é isso que me aconteceu
meu inferno astral encarnado em pessoa
ainda não, tô perto da escola, a professora segurou a gente
a de teatro, sabe, a maluca
pq eu me inscrevi pra essa peça mesmo?
ei eu acabei de encontrar um pin com o símbolo do capitão américa
quer um?
Aryan
Me recuso
Eu estou no restaurante que a gente compra comida tailandesa
Acabei de pegar o pedido
Rünamite
seria mil vezes melhor se fosse do hulk
vou perguntar pra moça da loja
Aryan pensou em mandar mais uma mensagem para Matteo, mas a raiva que antes fora enterrada voltou com força ao ver que suas mensagens nem sequer foram visualizadas.
Ele não podia dizer com todas as palavras se odiava ou apenas suportava Matteo. Além disso, ele era o ex-namorado de Evrim e pai biológico de Rüya, mas quando ambas mais precisaram dele... Foi Aryan quem estendeu a mão.
Rünamite
ELES TEM DO HULK
Bom, Aryan apenas riu segurando a sacola com o pedido de comida, azar o dele.
Enfiou o celular de volta no bolso da calça jeans, tomando cuidado para não derrubar o que estava na marmita e tentando não trombar em mais ninguém. Sua mente carregava um milhão de informações, correndo como se estivesse pegando fogo e martelando sua testa, o que se tornaria uma baita dor de cabeça no dia seguinte.
Aryan viu Johnny e isso deixou um embrulho no estômago. É o cunhado do meu chefe, irmão mais novo da esposa do meu chefe, pensou Aryan, sentindo-se à beira de abrir um buraco no chão para se esconder, apenas para não sair de lá. Ele não conseguia tirar da cabeça que Johnny parecia estar mais bonito do que há cinco anos, e só Deus sabe o que ele falaria se estivessem sozinhos.
Diferente, é claro; ninguém é o mesmo depois de cinco anos. Foi uma surpresa completa reencontrar Johnny e perceber como ele havia mudado para melhor. Notando como seus pensamentos se direcionavam para os ombros musculosos de Johnny, Aryan balançou a cabeça envergonhado.
Lembrou-se de todas as vezes que Casey o chamava de fácil quando se tratava de homens bonitos, e Aryan, infelizmente, não poderia concordar mais.
Com a têmpora latejando e os olhos cansados, Aryan chegou à estação próxima à escola de Rüya e esperou alguns minutos até que a garota aparecesse, saltitando ao vê-lo finalmente. Seu cabelo castanho longo estava preso em um laço vermelho, um dos diversos que Aryan comprou no seu último aniversário de 8 anos, trajando o uniforme da escola e segurando um pequeno saquinho pardo.
Sem muita cerimônia, ela logo empurrou o saquinho para ele ─ Abre, abre, abre!
─ Não vai deixar eu ao menos adivinhar? ─ Foi uma pergunta retórica que Rüya respondeu com um simples revirar de olhos enquanto ele abria o presente que recebeu.
Ele já sabia o que seria: um pin verde com desenhos de um grande punho cerrado detalhado no centro, um símbolo que fazia referência ao grandalhão verde do grupo dos Vingadores.
─ Devo dizer, esse é o melhor presente que já recebi na vida.
A garota empinou o nariz, orgulhosa de si mesma, fazendo com que a luz amarelada da estação iluminasse seu rosto cheio de sardas com mais clareza, mas também revelando a antiga cicatriz de um pequeno corte no queixo. Ele ergueu a mão, puxando levemente o queixo dela para frente, e ouviu-a resmungar enquanto esperavam o trem chegar.
Aryan bocejou alto, sentindo o corpo amolecer de cansaço mesmo estando em pé. Sentia-se um velho e tinha apenas 27 anos; se Rüya o ouvisse admitindo isso, seria o seu fim.
O trem chegou e, pelo horário, conseguiram lugar para sentar. Ambos se ajeitaram e se esparramaram no assento, brincando ao cutucar a barriga um do outro com os dedos quando um tentava invadir o espaço pessoal alheio. Dando a vitória para a garota ao seu lado quando ela o empurrou levemente com as pernas, Aryan suspirou cansado e fechou os olhos por alguns segundos.
─ O dia foi difícil? ─ Rüya perguntou, caçando algo dentro da mochila até retirar duas barrinhas de cereais e entregar uma para Aryan, que aceitou de bom grado. Isso o fez lembrar de Ben, e com isso em mente, Aryan disse rapidamente: ─ Ben, sabe, O Coisa, ele consegue comer uma bacia cheia de barrinhas de cereais.
─ Sozinho? ─ Aryan apenas assentiu. Rüya logo soltou um suspiro exasperado. ─ Eu sabia que meu headcanon estava certo, eu sabia! Aquela burra do Twitter dizendo que ele comeria como um humano normal. Ele é a porra de uma pedra-
─ Caixinha.
─ Espera, não muda de assunto... O que aconteceu? ─ Aryan tentou achar uma resposta para desconversar. Não queria tocar no assunto com Rüya, especialmente porque ela é muito nova. ─ Qual é, baba, desembucha.
Aryan sorriu com o termo carinhoso, achando uma oportunidade para mudar realmente de assunto. Quando ia abrir a boca para dizer que sabia qual era a tradução de "baba", ele logo a fechou. A possibilidade dela parar de chamá-lo de pai seria muito grande e apenas isso foi o suficiente para quebrá-lo.
─ Não foi nada demais, eu apenas tive um desentendimento com alguém ─ Se for tirar o fato de que dormi com esse alguém, mas foi algo que ele apenas pensou consigo mesmo.
Rüya fez um bico com os lábios, pegando o celular do bolso da mochila ─ Quem eu vou ter que cancelar?
─ Guarda essa arma aí ─ Ele pegou o celular dela, abaixando-o em direção ao colo. Rüya continuava o encarando em busca de respostas, e Aryan quase cedeu, mas mordeu os lábios. ─ Ei, tá tudo bem, eu já me resolvi.
Levantou o braço e a abraçou, mantendo-a ali mesmo e dando o assunto por encerrado. Aryan ficou observando-a jogar e depois entrar no Twitter para falar com a garota que disse que O Coisa comia porções pequenas. Rüya logo explicou que ambas eram amigas há anos, quando Aryan começou a frear a quantidade absurda de palavrões em menos de duas linhas.
Quando chegaram em casa, entraram pela porta da frente aos tropeços. Aryan retirou os sapatos com dificuldade, deixando-os ali na entrada, enquanto Kirby pulava e arranhava as pernas descobertas de Rüya.
Pendurou a chave no chaveiro que tinha pregado ao lado da entrada, espiando pela porta da cozinha ao lado para ver se sua tia estava lá. Ao perceber que o cômodo estava às escuras, Aryan seguiu atrás de Rüya enquanto ela se dirigia para a sala de estar e logo encontrou quem estava procurando.
Margareth Hawkins estava deitada no sofá, com um lençol roxo escuro cobrindo o estofado, os pés afundados em pantufas e um livro nas mãos. A TV estava ligada apenas para trazer som, pois Aryan sabia que sua tia não gostava de ficar sozinha em casa e precisava de algum barulho.
Ao escutar os passos no corredor, Margareth ergueu os olhos para ambos.
─ Quando vi o bilhete ─ disse, retirando os óculos e deixando o livro de lado ─, achei que só o Aryan chegaria tarde.
─ Boa noite, vovó ─ Rüya largou a mochila no chão da sala e foi abraçar Margareth, beijando-lhe o rosto ─ Foi minha professora de teatro, ela está nos fazendo ficar mais tempo nos dias de ensaio.
Kirby correu na direção de Aryan e o homem não pensou duas vezes. Pegou-o no colo, afundando o rosto na pelagem e começou a fazer carinho na cabeça do cachorro, enquanto ouvia as duas conversarem. Até que se lembrou da sacola de comida que segurava e de como Kirby parecia ansioso para cheirá-la.
─ Ru, vai lavar as suas mãos ─ Deixou Kirby no chão e caminhou em direção à sua tia-avó, dando-lhe um beijo rápido na bochecha ─ Boa noite, tia.
Caminhou em passos apressados até a cozinha e, logo atrás dele, as pantufas deslizavam pelo piso de madeira. Aryan colocou a sacola na bancada para procurar uma panela que usaria para esquentar a comida, parando alguns segundos ao passar pelos desenhos que Rüya fez quando era mais nova e que estavam pendurados na geladeira.
─ Se Rüya não tivesse me ligado ─ Aryan fez uma careta de dor, virando-se para sua tia-avó com pesar no olhar ─, teria feito um jantar que só eu teria comido.
Ele suspirou, aproximando-se da mulher e segurando-a pelas mãos.
─ Me desculpe, tia, não foi por querer.
Margareth soltou uma de suas mãos para segurar o rosto de Aryan, acariciando a bochecha do homem com um ar brincalhão, mas com um pingo de sinceridade.
─ Hm, só vê se lembra da próxima vez ─ E então deu um beliscão na bochecha dele, fazendo-o gemer baixinho com o ardor na pele. ─ Não é porque eu não sei mexer nessa porcaria de celular que não sei atender uma ligação.
Aryan apenas riu, sendo enxotado da cozinha por sua tia quando ela o fez lavar as mãos e tirar um pouco do cansaço do rosto. No meio do caminho, foi buscar Rüya, que estava brincando com Kirby no chão de seu quarto. Ele notou um vaso novo no parapeito da janela dela. Aryan apenas encarou Rüya com a sobrancelha erguida, mas ela não disse nada ao passar por ele.
Os três se juntaram na cozinha: Margareth remexendo a panela no fogão, Aryan colocando os pratos na pequena mesa encostada na parede, e Rüya distribuindo talheres ao lado de cada um deles. Depois de alguns minutos ouvindo Rüya e Margareth falarem sobre seu dia, eles rapidamente terminaram de comer a comida do restaurante. Aryan deixou de fora intencionalmente seu relato do dia.
Logo após perder no pedra-papel-tesoura contra Rüya para decidir quem lavaria a louça, Aryan sentiu-se exausto da cabeça aos pés e pronto para dormir em pé. Enxugou as mãos geladas, dirigiu-se ao corredor e bateu na porta do quarto da mais nova da casa, encontrando-a apagada na cama em uma posição qualquer, ainda segurando o celular.
Com muito cuidado, retirou o aparelho das mãos dela, colocando-o para carregar antes de sair do quarto, arrumando delicadamente o cobertor fino sobre seu corpo. Encontrou sua tia na cozinha, preparando chá, e embora estivesse tentado a algo similar, optou por pegar uma garrafa de cerveja na geladeira.
Arrastou os pés até o sofá, abarrotando o lençol. Sua tia colocava esse lençol por causa de Kirby, mas de nada adiantava, pois o cachorro subia no sofá com a ajuda de alguns puffs que ficavam no chão e começava a cavar o sofá para tirar o lençol.
Foi assim que sua tia os encontrou: Kirby cavando o sofá e Aryan com a cabeça jogada para trás, segurando ainda fechada a garrafa que havia pegado, criando uma pequena poça de água no lençol. Margareth balançou a cabeça.
─ Como foi seu dia? ─ Aryan piscou os olhos, que ardiam de tanto mantê-los abertos.
─ Foi um dia longo...
Margareth sorriu de leve enquanto se sentava ao lado dele, batendo no joelho com uma mão e segurando sua xícara de chá com a outra. Kirby se cansou e pulou para o colo dela.
─ Ah, eu tenho tempo.
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Finalmente entramos para o primeiro capítulo, sendo assim, primeiras impressões oficiais, o que vocês acharam? Já temos visões concretas sobre o futuro do casal ou somos apenas emocionados igual o Johnny logo na primeira foda?
Além do mais, tenho que admitir que utilizei o ChatGPT como revisor (uso apenas para CORREÇÃO) e de quando eles estavam falando sobre o tema de PhD do Aryan. Se alguém que faz parte da área e percebeu que é uma explicação sem pé nem cabeça, releva pelo amor de Deus. Gente eu sou burra e tô escrevendo com personagens inteligentes: quem não tem cão, caça com gato.
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