Capítulo 5
- Tem certeza que eu não preciso contatar o seu irmão, Tyler? –A diretora perguntou pela milésima vez.
- Tenho. Só retire os cartazes e finja que não aconteceu. Tá tudo bem. Não quero preocupá-lo.
- Se algo mais acontecer, pode vir me contar, tudo bem?
- Tudo bem.
- Estamos trabalhando para achar o responsável.
- É claro que estão. –Respondi, sem querer soar irônico, mas não dava, ironia era o meu estado natural.
- Se soubermos de algo, avisamos, ok?
- Ok. Liberado?
- Liberado. Pode ir assistir aula. Mas se mudar ideia...
- Já sei. Ligar para o meu irmão. Ok.
Sai e fui em direção a sala 104. Hora de combater os demônios.
Entrei com sangue nos olhos e pedi licença para o professor. É claro que teve os olhares, mas fingi não ligar. Me sentei na frente de Rafael, no fundão, com Chul e Akin ao nosso lado. Anna Raylla, a garota nova, estava do outro lado da sala e me deu um sorriso simpático quando eu a encarei, e então voltou a copiar.
- O que está fazendo aqui, cara? –Rafa perguntou e os meninos também me encararam curiosos.
- Eles que se fodam. Não vou me esconder. Meu pai está preso, e daí? –Falei bem alto para que o resto da sala ouvisse. –Se tem algum problema com isso, fale diretamente comigo e não fique criando fofoca por aí. Eu, hein. Gente sem o que fazer.
Por dentro eu só queria chorar porque eu estava caótico.
- Falando de coisa boa...- Rafael esfregou as mãos uma na outra. –Você não vai acreditar no que aconteceu.
- Rafael, não.... –Akin já o estava impedindo, mas o professor encarou nosso grupinho com olhos ferozes, então Rafael falou bem baixinho mesmo com a cara emburrada do nosso amigo.
-A garota com quem Akin perdeu o bv nas férias, está aqui. É a novata. Anna, Anna Raylla.
-Cala a boca, Rafael.
-Sério? Conversei com ela no banheiro feminino. Ela é super gente boa, Akin. Que coincidência! –Comentei.
- O que você estava fazendo no banheiro feminino, cara? –Chul perguntou.
- Surtando um pouco, eu acho. O banheiro masculino estava impregnado daquele cartaz.
- Foi mal cara, não olhamos as cabines... –Rafa já estava se desculpando, mas eu o parei.
- Não ligo. Sério, tá tudo bem agora.
- Pelo menos sabemos que deve ser um garoto agora... –Chul comentou, alegre por ter uma pista.
- Sinceramente? Não quero saber.
- Não? –Rafa perguntou desconfiado.
- Não. É procurar agulha no palheiro. Isso passa. Deixa para lá. Semana que vem já estão comentando os podres da primeira festa do terceirão mesmo. Quem liga.
Os meninos me encararam desconfiados. Rafael, que me conhecia melhor, por mais tempo, mas o ignorei e me concentrei em copiar a matéria.
***
Não se pode confiar em mais ninguém nos dias de hoje, meu Deus!
A diretora, contra a minha vontade, ligou para o meu irmão para falar do ocorrido e eu chego em casa e Thomas está surtado.
Tudo bem que ele fez lasanha e comprou chocolate para mim, mas não quero comida de consolo.
Ok, talvez eu queira.
- Tyler, se você quiser sair da escola... -Tom comenta enquanto comemos, depois de ter xingado a diretora e a escola de todos os nomes possíveis. E eu um pouco também, por ter pedido para ela não contar a ele.
- Não quero, Thomas. Eu estou de boa com isso.
Ele para por um momento.
- Eu deveria ter processado aquele jornal quando tive a chance... Eles só publicam bosta de extrema direita hoje em dia também.
- Não, Tom. Sério, não pensa nisso. Tá tudo bem.
- Quando aconteceu, eu prometi a mim mesmo que seria tudo sigiloso, Ty. Justamente para não afetar a gente, não afetar você... Quem diria que iam lembrar disso só agora?
- Foi como você disse, o ensino médio é cruel. Acontece. Não temos culpa da serraria do papai ter sido famosa na cidade. Merdas acontecem.
- Olha a boca.
- Qual é, vou fazer 15.
Ele ri.
- É mas eu tenho que fingir que te ensino alguma coisa, né? Mas tem certeza que tá tudo bem? Não faz ideia de quem foi? Olha, eu não tenho nada contra os seus amigos, mas...
- Não. Eles não fariam isso, Tom. A internet tá ai para isso. Qualquer um pode ligar os pontos hoje em dia. Só dei má sorte que fui o primeiro. Tenho uma leve impressão que foi alguma brincadeira de mau gosto do terceiro ano, e além do mais, Chul não fazia ideia que o papai havia sido preso, só descobriu hoje, e se mostrou preocupado. Akin já tinha uma ideia e também me ajudou. O Rafa, bem...
- O Rafael você não precisa nem comentar, né?
Fico vermelho e não falo mais nada.
Rafa entendia, talvez melhor do que ninguém. O pai o havia abandonado, ele e a mãe dele, quando ainda era um bebê. Nunca o conheceu. Não sei o que é pior. Nunca saber, ou saber e se decepcionar.
- Não entendo porque ainda o chama de papai. -Thomas tenta comentar levianamente, mas sinto o rancor e reprovação na sua voz.
Me sinto murcho.
- Eu também não sei.
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