2. divergência
Olá!!! Será o último capítulo desse ano então já desejo boas festas pra vocês! Obrigada por me acompanharem, de coração ❤️ começo de janeiro tô aqui de volta.
Usem a tag #anterostk no twitter!! adoro essa interação, quero muito ver vocês por lá.
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O resultado de determinada ação pode causar um efeito inesperado. A reação de Taehyung não foi a esperada por Anteros. O deus do amor agia sozinho, na maior parte do tempo, e separar casais não era algo incomum. Não somente separar, mas negar o pedido das bençãos, algo que era sua especialidade.
O esperado era que Taehyung se retraísse. Ora, Anteros era um deus, nenhum humano o contrariava.
Mas Taehyung não só o contrariou, como o desafiou e o rebaixou.
Ter atrito com os humanos também era algo que Anteros estava acostumado. Porém, tinha algo a mais nos olhos de Taehyung que atormentou o deus por dias.
Além disso, os demais Erotes não se agradaram da postura do irmão. Eros ficou profundamente magoado, e não é como se isso importasse para o deus do amor correspondido. Entretanto, para a surpresa dos irmãos, Anteros não fugiu como costumava fazer, após o incidente com Hayun e sua família, trancou-se em seu quarto dentro do templo e não saiu.
O primeiro a tentar falar com ele foi Pothos. A conexão entre os irmãos era além da compreensão humana, se eles eram capazes de ler emoções, em família eram transparentes uns para os outros. Infelizmente, esse era o motivo de Anteros não abrir a porta para ninguém.
Himeros não tentava. Respeitava o espaço de seus irmãos, e esperaria se Anteros quisesse falar. Teve uma conversa com Eros, visto que o irmão ficou abatido.
— Ele não devia ter feito isso na frente da criança, Himeros – Eros disse, revoltado.
— Eu sei – concordou, suspirando. — Senti a dor dela no mesmo instante que ele negou, um coração magoado não passa despercebido.
— Eu também senti, principalmente o da mãe.
— Você também viu, não é? – Himeros o encarou, sério. — Viu o mesmo que Anteros.
— Eu não sei o que ele viu ou sentiu, sinceramente. – ficava tenso só de lembrar. — Saber que o sentimento não é igual, nós todos sabemos. Mas não é como se o humano não sentisse nada.
— A ira dele não foi pelo sentimento. – Himeros pontuou. – Ele foi confrontado. Percebe-se que nem ele nem a esposa sabem nada sobre nós.
— Para não ter medo de Anteros, com certeza não sabe nada. Mas… eu não consigo compreender, ele parecia estar com raiva antes mesmo de tudo acontecer, parece que quis despejar neles de propósito.
— Acha que aconteceu algo com ele?
— Eu sei que aconteceu, o problema é ele dizer. Some com frequência porque sabe que somente dessa forma consegue esconder algo de nós.
— Não sinto nada vindo dele – Himeros era o que lia melhor as entrelinhas. — É como se ele estivesse se esforçando a não sentir. Será que…
— Não. – Eros o cortou. — Ele é como nós, não foi corrompido, eu sei que ele sente.
— Então acha que ele vai se desculpar?
— Ele deve ir.
— Para isso, você precisa falar com ele. Não sai daquele quarto há uma semana, deve nem estar se alimentando.
— Ele saiu. – Pothos se juntou aos irmãos. — Está na sala das armas.
Eros e Himeros olharam o irmão, aflitos. Aquela sala era a menos visitada por eles, estar lá significava, no mínimo, caos. Então, Eros preparou seu arco e flecha, certo de que a conversa não seria fácil.
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Na sala das armas, Anteros disparava as flechas sem parar em alvos espalhados pelas paredes.
Estava sem camisa, transpirando por cada poro. Perdeu a noção do tempo, querendo só levar seu corpo ao limite, sabendo que precisaria se esforçar por horas intermináveis para alcançar isso.
De costas para a porta, não viu quando Eros entrou e disparou uma flecha, passando de raspão no seu braço. Nem ao menos pensou duas vezes quando virou e disparou de volta, mirando no peito do irmão, mas Eros segurou.
— Saia! – Anteros ordenou. — Quero ficar sozinho.
— Se quisesse, não teria ficado no templo. Qual o seu problema em falar o que sente, irmão?
Posicionando outra flecha, Anteros o mirou.
— Saia.
— Saio se você for se desculpar com Hayun.
Outra flecha foi disparada por Anteros, e foi o que Eros pensou ter visto, mas não. Anteros era o mais habilidoso em combate, e conseguia disparar mais de uma flecha sem o oponente perceber, Eros conseguiu segurar uma, mas outras duas o atingiu, uma no ombro e outra no peito.
Irritado, disparou de volta, mesmo não tendo a mesma habilidade que seu irmão, conseguia ser mais letal em sua mira, suas flechas eram mais poderosas que as de Anteros. Dessa forma, conseguiu atingir o rosto do irmão de raspão, deixando uma cicatriz em sua bochecha e cortando um pouco do seu cabelo.
Ambos ficaram com os machucados expostos, sangrando, porém não se importaram, iria cicatrizar em instantes.
Anteros respirou fundo, jogando o arco com força no chão, andando até o irmão.
— Eu não fiz nada de errado, por que deveria me desculpar?
— Por que a fez chorar no aniversário dela?! – Eros falou, levantando uma sobrancelha, mostrando o que era óbvio. — Por que magoou os três e ainda zombou de um casamento?!
— Então, grande Eros – Apertou o ombro machucado do irmão. — deus do amor, diga-me, aquele humano é apaixonado pela esposa?
— Esse não é o ponto. – fuzilou o irmão com seu olhar, querendo o fazer sangrar de novo.
— É, é sim.
— Você sabe que sentimentos são subjetivos, Anteros. – Tirou a mão dele de seu ombro, agarrando o pulso. — Ele pode sentir, e não sabemos. Quando vai parar de ir atrás de casais e separá-los por birra?
— Birra? – Retrucou, ofendido. — Não há subjetividade, irmão, o amor é o que enxergamos, ou existe ou não existe. Os humanos têm esse péssimo costume de sentir qualquer coisa superficial e nomear como amor.
— Anteros… – O agarrou mais forte. — Eu penso o mesmo que ele, será que você já sentiu amor?
Anteros o segurou tão forte pelo pescoço que tirou os pés de Eros do chão. As brigas entre ambos eram frequentes, mais do que deveria, resultando em anos, ou até décadas, afastados um do outro.
Para conseguir se soltar, Eros o golpeou com um chute enquanto segurava o braço preso no seu pescoço, o fazendo desequilibrar. Anteros, mesmo sem ar pelo golpe, o derrubou e ficou em cima do corpo do irmão, pronto para imobilizá-lo, mas Eros conseguiu escapar, buscando seu arco e o segurando contra o pescoço do irmão, puxando forte contra si, tentando sufocá-lo.
— Você esquece que eu sou mais forte que você. Mais forte do que qualquer um. – Sorriu. — Se eu quisesse, te machucaria de verdade.
O sorriso de Eros diminuiu quando não viu suas palavras afetarem Anteros, e sentiu algo afiado na cintura. O deus do amor correspondido segurava uma flecha contra o irmão.
— Você me subestima. – Pressionou a flecha. — E esquece que precisa de mim.
A famosa lenda de Eros como uma criança que não crescia.
Afrodite, inconformada pelo filho não se desenvolver, procura ajuda de outros deuses e é aconselhada a ter outro filho, pois o amor precisava de companhia para crescer. Assim, teve Anteros, sendo tão semelhantes que chamavam-os de gêmeos.
Percebendo que sua utilidade se restringia à dar poder a Eros, Anteros começou a se afastar assim que ambos atingiram a idade adulta. Eros enfraquecia, porém conseguia viver por ser um deus primordial, e durante toda sua vida imortal tentou se aproximar emocionalmente do irmão, e não conseguiu.
A relação melhorou com a chegada de Himeros e Pothos, mas Anteros permanecia distante.
Eros tinha absoluta certeza que essa distância dos irmãos e da humanidade foi o que provocou a indiferença de Anteros ao amor, o fazendo enxergar apenas preto no branco.
Por causa dessa relação que dependia do irmão para as bençãos mais poderosas. Eros não gostava de admitir, mas Anteros era seu lado racional, o justo. Eros acreditava que as pessoas podiam melhorar, que os relacionamentos precisavam de tempo, que todo mundo merecia uma segunda chance. Anteros pensava exatamente o contrário.
— Nunca esqueci. – Largou o arco, saindo de cima do irmão. — Agradeço sempre por você existir, irmão, mas você nunca me ouve…
— Por que você não vai até a família se desculpar? – Voltou o assunto, desviando do rumo que Eros seguia. — É tão culpado quanto. Sai abençoando qualquer casal e todos acabam querendo.
— Porque eu sou Eros! – Levantou a voz para o irmão. — Eu sou o amor, eu sou o motivo de você existir. Eu faço os casais darem certo porque eu entendo a motivação deles, os humanos precisam de amor em suas vidas. Eu poderia fazer ele se apaixonar, e você impediu!
— O amor deve ser forçado, então? – riu com escárnio. — Esse é o amor que não conheço?
— Irmão… – não adiantava para Eros assumir uma postura ofensiva. Anteros não ligava. — Você não dá sequer uma chance. Os humanos são complicados, são diferentes de nós. Os sentimentos são confusos, parece que há sempre mais do que conseguimos ver. E eu sei que você entende isso porque você ainda está aqui!
— Eu preciso de um motivo para estar aqui? – Anteros não baixava a guarda.
— Seu motivo é Hayun! Você ficou triste por ela, e por mais que você não assuma, eu conheço você mais do que imagina.
A imagem de Hayun chorando assombrou o deus por toda a semana. Isso, e as ofensas proferidas pelo pai dela, Taehyung.
— Não há desculpa que apague aquilo, Eros. – passou a mão pelo cabelo molhado, o jogando para trás, cansado. — Não há nada que eu possa dizer.
— Seja sincero, assim como sempre é.
— Minha sinceridade que causou isso.
— Seu orgulho. – Corrigiu.
— Não sei onde eles moram. – Inventou qualquer coisa que lhe veio à mente.
— Sabe, sim.
Anteros e Eros trocaram olhares íntimos, querendo ou não, confidentes um do outro.
O deus do amor correspondido levantou do chão, vendo a sala das armas revirada. Não dava mais para redirecionar sua confusão, precisava enfrentá-la.
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Anteros chamaria atenção de qualquer forma, seja usando suas asas, ou caminhando. O divino era algo notável, seja em seu modo de andar, sua postura, cada parte era diferente dos demais. Escolheu ir andando até a casa de Hayun, mesmo sabendo que receberia olhares, ignorou cada um pois sabia que ninguém se atreveria a chegar perto, o deus construiu sua imagem como alguém intocável e queria manter assim.
Pensou uma, duas, três vezes no que falaria, e todas as ideias pareciam incabíveis. Deuses não eram isentos de emoções, a vergonha estava ali, bem escondida, mas estava.
E estar ali, de frente para a porta, fez Anteros questionar se não deveria dar meia volta. Suas desculpas não mudariam o que fez, era racional demais para entender essa sensibilidade humana em tentar reparar seus erros com meras palavras.
Apesar de ser contra suas convicções, bateu na porta. Jieun quem o atendeu, e a dureza no olhar dela era o que Anteros esperava.
— Oh, é você… – A decepção era perceptível. — Não sabia que os deuses faziam visitas.
— Precisei abrir uma exceção. – Nada adiantaria. Quebrar o gelo, desconversar, forçar uma simpatia. Deveria ir direto ao ponto. — Podemos conversar?
— À vontade. – deu espaço para o deus passar, e só então fez uma curta reverência. — Não esperava a visita, então a casa está meio bagunçada, estava brincando com Hayun.
Era uma casa bem acima da média. Anteros reparou desde a fachada, uma casa grande, de primeiro andar, ainda mais bonita e espaçosa por dentro. Só parecia neutra demais, sem muita cor e detalhes, tirando os brinquedos de Hayun.
E por falar nela, assim que viu o deus entrar, se escondeu atrás do sofá.
— Quer um café…? – Jieun ponderou o que poderia oferecer para o deus. — Quer dizer, você come?
— Não quero nada, obrigado. – Anteros respondeu de imediato, mas sentiu que a humana continuava com dúvida. — Sim, eu como, só não quero nada agora.
— Então… a que devo a honra da visita? – Jieun perguntou, encostando-se na parede, se afastando ao máximo do deus.
— Eu vim pedir desculpas. – Soltou de uma vez, triste por ver Hayun escondida e por sentir o desconforto da mãe. — Pelo meu comportamento no templo. Era o aniversário da sua filha, eu podia ter reagido melhor, eu sei que deve ter gerado um… incômodo.
— Oh… – Jieun achou inesperado. — Então, o que você disse é mentira?
É claro que ela perguntaria. Só pelo modo que ela se portava, deveria ter sido uma semana e tanta para o casal, porém não parecia ser algo que Jieun quisesse falar sobre.
— Talvez eu tenha errado. – A probabilidade era inexistente, mas ainda arriscou dizer. — As bençãos são poderosas, precisamos ter cuidado. Eu disse que não era recíproco apenas pela minha interpretação, mas acho que não fui capaz de desvendar tudo o que ele sente. Eu não tenho… tato com os humanos.
— Isso é perceptível. – deu um riso soprado. — Está com pena de mim? Por isso veio aqui?
— Não é bem assim. – na verdade, era sim. — Eu só quero dizer que estava em um dia ruim e talvez eu tenha o interpretado mal, peço desculpas por isso, e por ter feito sua filha chorar.
— Eu ainda pensei que você pudesse estar falando de mim, sabia? – olhou para cima, suspirando. — Pensei “nossa, ele está dizendo que eu não sinto o mesmo?” Mas você nem precisou dizer quem era. Taehyung se entregou. Eu sei o que eu sinto, e sei que o problema não era comigo.
— Não há um problema. – Anteros sentia cada parte do corpo doer por se contradizer tanto. — Ele ficou nervoso, é normal.
— Ele me ama?
Ah, Anteros queria desaparecer. Não era uma pergunta simples, parecia carregar um peso, ela queria a certeza. Sua resposta podia mudar o curso de uma situação, sabia bem disso.
— Ama.
Não era de todo mentira, por isso Anteros conseguiu responder. Existia amor, a questão era qual.
A resposta pareceu acalmar Jieun, mesmo que sua postura continuasse na defensiva. Ela notou Hayun os espiando por trás do sofá, ainda encolhida.
— Hayun ficou bem triste, mesmo… – resolveu mudar o foco para a filha. — Ela não quis ir para a creche durante essa semana, por isso tenho tentado brincar com ela de todos os jeitos, ela só está interagindo mais agora.
Essa era a informação que faltava para Anteros se sentir um miserável.
Se desculpar não mudaria nada, já sabia. Mas não queria dizer que não tentaria, devia isso a ela.
— Hayun… – Chamou, mas ela continuou escondendo o rosto. — Eu quero pedir desculpas para você.
— Sai! – tentou empurrá-lo. — Não quero falar com o Joguk! sai!
— Hayun, não fale assim! – Jieun ia repreendê-la, mas o deus impediu.
— Está tudo bem, ela pode sentir essa raiva. – continuou ao lado dela. — Eu sei que machuquei você, sabia que os adultos fazem isso? Falam coisas sem pensar e acabam machucando os outros. É um defeito muito feio, você não acha? – Hayun o olhou de canto, balançando a cabeça em confirmação.
— P-por que… – Hayun olhou para Anteros escondendo parte do rosto com a almofada. — Por que disse que o papai não ama a mamãe?
— Eu não disse isso… – Em suas interações com as crianças, Anteros aprendeu o que devia ou não dizer, isso incluía as pequenas mentiras que eram permitidas. — Eles se amam, sim. Seu pai ama sua mãe.
A dor que Anteros sentia era diretamente no coração. Nenhum dos Erotes conseguia explicar de uma forma racional, mas parecia ser uma dor mais emocional do que física. Eles sentiam na alma um incômodo forte, como se o corpo rejeitasse a mentira. A sensibilidade para ler as emoções alheias acontecia com a leitura sobre as próprias emoções.
Os Erotes não eram nada sem honestidade.
Ler as pessoas como livros abertos e ser um livro aberto era um custo alto. Ver e saber para além do que diziam, do que mostravam, causava mais dor do que alívio.
Por isso, Anteros, mesmo sentido a dor, a ignorou, mantendo-se firme diante de Hayun. Ela não precisava saber do que ele sabia, ela não entenderia, nem precisava entender naquele momento. Era só uma criança, e Anteros queria que ela acreditasse no amor.
— Ama mesmo? – Abaixou a almofada, demonstrando mais confiança no deus.
— Sim. – respirou fundo, sabendo que precisava mudar o assunto para continuar aguentando. — Por isso estou aqui me desculpando com você, também pedi desculpa para sua mãe. Eu prometo que nunca mais vou fazer o que fiz naquele dia.
— Nunca? Mesmo? – Hayun questionou, um pouco chorosa.
— Nunca mais o Joguk vai magoar você.
Anteros nunca havia se mostrado tão vulnerável diante de um humano, porém, sabia que Hayun merecia.
Foi com a confirmação da promessa, que Hayun deu um sorriso.
— Tá bom! Vou desculpar o Joguk!
Soltando um suspiro de alívio, o deus sorriu para ela, verdadeiramente feliz.
— Sabia que eu também trouxe um presente? – viu os olhos de Hayun brilharem com a informação. — Foi seu aniversário, eu precisava trazer alguma coisa.
— O que é, Joguk? O que é? – Levantou, pulando no sofá.
O deus estendeu a mão e levantou o dedo indicador. Em um segundo, não havia nada, e então surgiu uma borboleta.
Uma borboleta da mesma cor das suas asas, parecendo uma linda miniatura.
— Eu vi o quanto você gostou das minhas asas, então vou deixar essa borboleta com você. – aproximou o dedo de Hayun, que também estendeu a mão para a borboleta pousar nela.
— Que linda! Como você fez isso, Joguk? – olhou maravilhada para a borboleta em seu dedo.
— As borboletas são minhas amigas. – explicou de um jeito que Hayun entendesse. — E essa vai ser sua amiga, vai ficar do seu lado para sempre.
— Olha, mamãe! – Hayun correu até a mãe. — É linda!
— É sim, meu amor. – Jieun não podia mensurar sua surpresa com toda a atitude do deus. Apenas ficou em silêncio vendo como ele conseguiu conduzir a conversa com Hayun, a ganhando tão fácil. — Qual nome vai dar pra ela?
— Hum… – analisou a borboleta em sua mão. — Vou pensar!
— Tá certo – sorriu. — E você agradeceu ao… – ia chamar por Anteros, mas decidiu que não. — Joguk?
— É mesmo! – Hayun saltou, percebendo que ficou tão eufórica que esqueceu de agradecer.
Correndo de volta, inesperadamente, abraçou Anteros.
— Obrigada, Joguk!
Com certeza a guarda de Anteros estava baixa. Hayun o abraçou forte, aproveitando que ele ainda estava agachado, ficando na mesma altura que ela. Por um momento, o deus não soube o que fazer. Deveria abraçar de volta? Esperar Hayun soltar? Teve um conflito interno que perdurou longos segundos.
Definiu que não faria mal abraçá-la de volta. Então, envolveu o corpo pequeno de Hayun em seus braços, devolvendo o mesmo aperto.
— O que ele faz aqui?
A voz de Taehyung.
Primeiro, Anteros descobriu o nome dele quando Jieun falou. Depois, questionou-se internamente por que ele não estava em casa, mas não cabia ao deus perguntar, até preferia que ele não estivesse.
A felicidade de Hayun pareceu aumentar ao escutar o pai, soltando o deus e correndo para ele.
— Olha, papai! Joguk me deu uma borboleta!
— Suba com ela, Jieun.
Jieun. Agora, Anteros conhecia toda a família.
Taehyung só fez um carinho em Hayun, não querendo dar atenção à tal borboleta mágica. A expressão dele não era nada boa, Anteros nem precisava usar seus poderes para saber o que ele sentia.
Não tinha medo do tom de voz ou de como ele o olhava, por isso só ficou de pé e o encarou de volta. Sustentou o olhar com a mesma raiva.
Enquanto acontecia esse embate sem palavras, Hayun estava alheia, admirando a borboleta. Jieun não queria repetir o que houve no templo, então pegou na mão de Hayun para subir com ela. Porém, precisou falar algo antes.
— Ele pediu desculpas para mim e para Hayun.
Não sabia se isso mudaria algo para Taehyung, mas quis verbalizar por ter visto o esforço do deus.
No meio das escadas, Hayun virou-se.
— Joguk, você vai vir de novo pra brincar comigo? Brincar com a borboleta?
— Eu… – alternou o olhar entre um Taehyung raivoso e Hayun ansiosa. — Talvez.
Hayun fez um biquinho, sendo colocada no braço pela mãe e finalmente indo para o primeiro andar, sendo acompanhada pela borboleta voando ao seu lado.
— Eu pensei que você tinha mais o que fazer do que ir até a casa de humanos. – Taehyung jogou a bolsa que carregava no sofá, e Anteros notou um crachá pendurado, mas não conseguiu ler.
— Sua esposa já explicou, eu vim me desculpar. Você mesmo pediu para eu fazer isso.
— E por que estava abraçando minha filha? – chegou mais perto do deus. — Quem disse que podia encostar nela?
— Ela me abraçou! – Anteros se defendeu, começando a ficar incomodado com o olhar de Taehyung. — Eu abracei de volta para ser educado.
— Educado? – forçou uma risada. — Achei que você não conhecia essa palavra.
— Eu já me desculpei, o que mais você quer? – Não conseguia ler Taehyung naquele momento.
— Eu quero que você não toque na minha filha. Quem você acha que é? Eu chego em casa e vejo um homem abraçando ela. Eu não conheço você, não sei nada sobre você. Por que deu aquela borboleta pra ela? Tá tentando ganhar algo de volta? Não tenho a menor ideia das suas intenções, deus.
Anteros estava lendo Taehyung. A repulsa era o que ele sentia, tanta que fez o deus se sentir mal, enojado.
— O quê? Eu… – Não conseguiu nem pensar direito com o que ele insinuou. — Eu nunca faria isso! Ela é só uma criança, eu não sou um monstro! Eu disse que vim me desculpar, dei a borboleta porque ela gostou das minhas asas, a abracei porque ela estava feliz, como pode sugerir que eu estava com más intenções?
— O que quer que eu espere de você? É um deus, um dos piores, pude ver isso de perto.
— Você não viu metade do que eu realmente faria com você, seu idiota! – Levantou a voz. — Como… como pode sugerir algo tão asqueroso? Como acha que eu teria coragem de fazer isso?
Era difícil Anteros se ofender. Não se abalava facilmente, mas havia assuntos delicados, e aquele era um deles.
— Eu sou o pai dela, tenho todo o direito de confiar em ninguém. Seja humano, deus, eu não dou a mínima, não confio, não tenho motivo algum para confiar em você, Anteros. Era o aniversário dela e você a tratou daquela forma, e ainda desrespeitou minha esposa com seus poderes estúpidos!
— A culpa é sua! – cuspiu as palavras, porém com um tom bem mais baixo, quase sussurrando para Jieun nem Hayun escutar. — A culpa é sua por ousar pisar no meu templo e deixar sua filha pedir uma benção para um casamento que você nem queria ter! E quer falar sobre desrespeito? Eu e meus irmãos priorizamos e cuidamos das crianças há milênios, para um humano qualquer insinuar essa barbaridade sobre mim, você adora perguntar quem eu penso que sou, mas você mesmo devia se perguntar quem você é, e eu mesmo respondo: você nem sequer faz ideia, é tão cercado de mentiras que não se reconhece mais.
À medida que despejavam todos seus pensamentos um sobre o outro, se aproximavam. Estavam tão perto que Anteros escutava o coração de Taehyung bater rápido, o rosto meio avermelhado, olhos bem abertos, incrédulos.
— Saia da minha casa! Não quero você aqui. Saia!
Anteros esperava que Taehyung ficasse sem resposta, e não era para menos, expôs algo que ele escondia em seu coração, e que todos os Erotes notaram: ele não queria estar casado.
Deu um meio sorriso em resposta, carregado de deboche.
— Sua sina vai te perseguir, independente se eu estiver perto ou não.
— E qual é a minha sina? – Estava por um fio de agarrar o deus pelo pescoço.
— O desejo que você não consegue satisfazer.
A respiração de Taehyung falhou por um mísero segundo. Sentiu a boca secar, e toda sua postura para cima do deus cedeu, dando espaço apenas para uma troca de olhares intensa.
— Saia. – O pedido foi mais fraco, mais quebrado. De repente, Taehyung não tinha mais forças.
O deus não esperaria ele mandar uma terceira vez, então encaminhou-se para a porta, não olhando para trás.
— Hayun pediu para você vir de novo, nem ouse! Eu já disse que não quero você aqui. – disse, tentando manter-se firme enquanto respirava pesadamente.
— Não se preocupe, Taehyung… – o nome dançou entre seus lábios. — Eu já fiz minha parte…
Taehyung nem desviava o olhar da porta, vendo o deus sair. Anteros o mirou mais uma vez só para dizer:
— Agora, você vai fazer a sua.
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