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QUATRO

TRÊS HORAS PARA O ANO NOVO

Uma grande quantidade de pessoas se concentrava em frente ao Louvre, inclusive Alanis e Dick.

Tinham concordado em passar por ali apenas para marcar presença em mais um dos pontos clássicos de Paris, mesmo sem entrar, já que o museu estava fechado. Haviam feito o mesmo com a catedral de Notre Dame e o Panthéon.

A cidade estava pulsando com a véspera do ano novo, faltando poucas horas para a virada, as ruas mais movimentadas que antes.

Eles decidiram passar mais tarde pela feira ao ar livre, próxima a Torre Eiffel assim que saíssem da região do Louvre. Iriam procurar lembrancinhas para comprar e ouviram dizer que lá vendia o melhor vinho local da cidade.

Provavelmente, passariam a virada sob os pés do monumento mais icônico de Paris, apenas para completar a lista dos locais clássicos e irritar Dick com todo aquele papo de superestimado, quando, na verdade, ele parecia estar fascinado pela cidade.

— Vim aqui na primeira vez em que estive em Paris com minha família — Alanis revela, enquanto caminham pela lateral do museu. — E confesso que se visse a pintura da Mona Lisa hoje, não sei se teria o mesmo efeito de quanto vi quando tinha 16 anos.

— Acha que hoje seria algo... superestimado? — Um sorriso provocativo surge no canto da boca dele.

— Não queria usar essa palavra — ela revira os olhos. — Mas sim, acho que se fosse hoje, talvez, teria perdido um pouco do encanto para mim. Entendo toda a grandeza, mas hoje em dia é tudo tão fácil de se encontrar online e acaba perdendo um pouco toda aquela expectativa, sabe?

Ele concorda em silêncio. Entendia perfeitamente o ponto de Alanis. Ela conseguiu resumir o que ele achava da cidade. Mas isso foi antes de passar o dia com ela.

Talvez fosse o clima de fim de ano, as luzes natalinas, ou até o efeito do álcool das cervejas que havia tomado. Ou, talvez, fosse algo maior: o fato de ele estar cada vez mais encantado por Alanis. Tudo parecia lindo e intenso demais. Até o gorro de Natal que ele ainda usava – presente da vidente desconhecida – parecia ter algum tipo de significado.

Inclusive, o boné dele, que agora estava na cabeça de Alanis e parecia muito mais bonito nela. Por um instante, Dick se pegou imaginando-a com uma camiseta larga dele e acordando ao lado dele.

Era só um boné, mas ele já estava perdido até demais nos próprios pensamentos.

— Fique aqui — ele diz, parando de andar e colocando as mãos nos ombros de Alanis. — Vai dar uma ótima foto.

Ela franze as sobrancelhas, tentando entender o que ele repentinamente decidiu fazer.

Dá um passo na direção dela, cortando a distância entre eles, estão tão próximos que Alanis consegue sentir o calor do corpo dele, mesmo com o frio que está fazendo.

Lentamente, ele ergue as alças da câmera instantânea que estava pendurada no pescoço dela, pegando-a para si.

— Vou tirar uma foto sua.

— Você já tirou várias fotos minhas.

Ele ajusta o visor na altura do olho.

— Mas não em frente ao Louvre. Agora, sorria para mim.

A forma como ele disse aquelas duas palavras – para mim – fez Alanis sorrir instantaneamente. Na verdade, ela teve que se controlar para não pular nos braços dele e beijá-lo.

Para mim, ela pensou. Queria ele para mim.

O clique ecoa entre eles, seguido pelo ruído suave da foto sendo impressa na parte frontal da câmera. Dick pega o registro e a encara, esperando ganhar forma.

Alanis se aproxima mais que o necessário e sente o perfume dele invadir seu olfato. Se perguntou como ele continuava lindo e cheiroso depois de terem passado o dia explorando a cidade.

Uma curva surge nos lábios dele quando a foto é revelada: uma Alanis sorrindo, os olhos quase se fechando, os cachos caindo sobre os ombros, o boné dele na cabeça dela, a vidraça discreta do museu ao fundo.

— Vou guardar essa pra mim — ele diz, encarando-a. — Você é tão linda que deveria estar ali dentro do Louvre.

Alanis não consegue conter a risada tímida e vira o rosto. Ele percebe as bochechas dela corarem, o que faz com que o sorriso dele aumente. Se as palavras dele tiveram esse efeito nela, ele se pergunta o que um beijo faria, como ela reagiria ao sentir as mãos dele em sua pele.

Seus pensamentos são interrompidos quando nota que o olhar dela parece perdido em um ponto próximo de onde estão. Alanis encara uma família tirando uma foto em frente ao museu. Dois adultos e duas crianças tentando encontrar a pose perfeita. Um outro estranho captura o momento para eles.

— Você sente falta deles? — Dick questiona, sabendo que não conseguiu conter a pergunta e a curiosidade.

Ela leva alguns segundos até responder:

— Todos os dias.

Ele estava prestes a fazer outra pergunta, mas Alanis foi mais rápida. Segurou o braço dele e entrelaçou os dedos em sua mão com naturalidade.

Por um instante, Dick ficou paralisado pelo simples toque, o calor inesperado daquele gesto. Antes que pudesse reagir, ela o puxou, guiando-o pela rua. 

— Vamos para a feira perto da Torre. Daqui a pouco já é Ano Novo. 

Dick não contestou. Apenas a seguiu, desejando em silêncio que o pouco tempo que restava para o ano acabar se estendesse o máximo possível.

UMA HORA PARA O ANO NOVO

Depois que passaram na feira, Dick e Alanis encontraram um espaço mais afastado no Champ de Mars, mas que ainda conseguia ter uma vista perfeita para a Torre Eiffel.

A praça estava repleta de pessoas, algumas acomodadas em um canto como eles, outras em grupos de amigos e famílias, algumas dançando e cantando, e outros bebendo escondido dos guardas da rua, já que era proibido circular com garrafas de vidro.

Eles tinham dado um jeito de esconderem o vinho que haviam comprado na feira. Alanis pediu dois copos plásticos para que pudessem tomá-lo sem preocupações.

Também passaram por uma barraca de itens artesanais, onde, curiosamente, escolheram o mesmo presente um para o outro: um pequeno pingente de prata em forma de Torre Eiffel. Concordaram com a coincidência, pois queriam guardar uma lembrança de Paris exatamente como a viveram durante dia: diferente, inesperada, explorada por dois desconhecidos, mas com um significado que seria apenas deles.

— Me conta um segredo que você nunca contou pra alguém — pede Dick, após servir os dois copos plásticos com o vinho tinto que compraram.

Alanis o encara enquanto ele lhe entrega o copo.

— Se é um segredo, eu não deveria contar pra alguém — ela retruca.

— Mas é quase isso — ele dá de ombros. — Pense que depois de amanhã, provavelmente, nunca mais nos veremos. Então, não teria problema, seu segredo estará a salvo comigo a milhares de quilômetros de distância.

Ela não consegue evitar um aperto desconhecido que surge no peito. Não tinha pensado sobre isso. Amanhã ambos seguiriam suas vidas, mas ainda não haviam verbalizado como se despediriam depois da virada do ano.

— Você acha que a gente nunca mais vai se ver? — Ela questiona, desviando o olhar para o copo em suas mãos.

— Não sei. Mas eu estaria mentindo se dissesse que não gostaria.

Alanis volta a erguer o olhar até ele e encontra o par de olhos azuis de Dick a encarando com uma intensidade maior que antes. Ela também gostaria de vê-lo de novo, havia passado um dos melhores dias do ano ao lado desse desconhecido recém-conhecido.

Bebe um gole do vinho e olha para frente, mas sente os olhos de Dick ainda fixos nela.

— Quer mesmo saber um segredo meu?

— Adoraria.

Ela respira fundo, pensando se deveria mesmo se abrir com ele. Não entende por que parece ser a coisa certa a se fazer agora.

— Não sei se é um segredo que ninguém saiba. Quer dizer, você não sabe, então pode ser que isso conte como um — ela começa, virando-se brevemente para encará-lo de novo. — Mas é algo que tentei fugir por um tempo e ainda estou fugindo.

Ela bebe mais um gole, buscando coragem para falar sobre o assunto. Dick não comenta nada, apenas espera que ela encontre seu tempo.

— Fui muito injusta com todos que amo. Minha família, meus amigos, comigo mesma... Eu troquei tudo isso porque acreditava em uma pessoa, e em troca, essa pessoa só me afastou de tudo aquilo que amo sem que eu percebesse. Até que eu percebi, e mesmo assim, continuei defendendo porque achei que valia a pena.

Alanis observa Dick dar um gole do vinho no copo que está nas mãos. Mesmo com o olhar intenso, a expressão dele é serena, acolhedora, como um bom ouvinte. Então, ela continua:

— Eu estava em um relacionamento manipulador, tóxico, nada saudável. Todos me alertaram disso desde o começo, mas não quis dar ouvidos. Estava em uma fase da vida em que eu queria me descobrir por si só. Apesar dos meus pais nunca terem me pressionado para ser a filha perfeita, eu sentia que devia isso a eles e, indiretamente, eles meio que esperavam isso também. Mas é cansativo querer agradar a todos e ser alguém que querem que você seja o tempo todo. A minha vida inteira foi assim. Com a minha família, meus amigos, meu trabalho... e nesse relacionamento.

Ela faz uma pausa e encara o copo em suas mãos.

— O nome dele é Ryan. Nos conhecemos na faculdade, mas só começamos a namorar no último ano. — Ela continua, desviando o olhar para frente. — Ficamos juntos por pouco mais de um ano. Logo nos primeiros meses, meus amigos viviam me perguntando se era algo sério. Ryan tinha uma fama meio... complicada. Algumas garotas que já tinham saído com ele vieram falar comigo depois. Eu acabei ficando de saco cheio de todo mundo tentando se intrometer na minha vida. Ele nunca tinha sido grosseiro comigo nem com nenhum dos meus amigos, então eu não entendia por que não gostavam dele. 

Ela respira fundo antes de prosseguir: 

— Isso foi se acumulando com toda a pressão que eu já estava sentindo, e, aos poucos, me afastei de todo mundo. Ryan dizia que nenhum deles me merecia por não aceitarem quem eu era. Demorei para perceber que, no fim das contas, ele estava me influenciando a evitar contato com todos, inclusive com minha família. Quando comecei a enxergar as coisas, ele mudou completamente. Se tornou alguém irreconhecível.

Alanis engole em seco, sentindo o peso daqueles dias voltarem com tudo sobre os ombros. Ela volta a olhar para Dick e, agora, a expressão dele é outra: fechada, séria, a mandíbula tensa.

— Ele te machucou? — A voz dele sai mais grave que antes, forte, concisa.

— Não — ela responde, balançando a cabeça. — Confesso que tive medo nas últimas semanas que passamos juntos. Ele ficou muito agressivo, todas as nossas discussões terminavam em gritaria, e ele socava o primeiro objeto que via pela frente. Dizia que se culpava, que não prestava e que eu deveria deixá-lo. Depois, me pedia mil desculpas e prometia melhorar. Demorei para aceitar, mas um dia finalmente o deixei. Ele não me machucou fisicamente, mas fez um estrago emocional que eu não sei quando vou conseguir superar. 

Dick olha para frente, a expressão ainda tensa. Ele leva o copo à boca mais uma vez, tomando outro gole. Alanis faz o mesmo. 

— A pior parte disso tudo — ela continua, aproveitando o impulso de coragem por já ter começado — é que eu não pedi desculpas para ninguém depois que terminei com ele. Na verdade, nem consegui falar nada. Estava morrendo de vergonha. Poucas semanas depois, um estúdio de fotografia aqui em Paris entrou em contato comigo, oferecendo uma oportunidade de trabalho. Não pensei duas vezes e aceitei. Fui embora sem me despedir, sem falar nada pra ninguém. Enviei uma carta para minhas duas melhores amigas e para a minha família, explicando tudo superficialmente e contando sobre a mudança. Até hoje, eles não entraram em contato comigo, e eu também não procurei por eles. E eu os entendo. Não sei se me perdoaria tão fácil. A culpa é toda minha. 

— Alanis, a culpa não é sua — Dick diz de imediato, os olhos fixos nos dela. — Você estava em uma relação onde sua voz foi silenciada. Te afastaram das pessoas que você ama. Um bom relacionamento une mundos, não os separa. 

— Mas eu escolhi continuar com ele, mesmo com todos os avisos, mesmo depois de perceber... Achei que ele poderia mudar.

Dick coloca a mão livre sobre a dela, que repousa na grama. Alanis olha para o contato por um segundo. 

— A culpa não é sua — ele repete, com a voz firme. — E você conseguiu sair dessa situação sozinha. Deveria se dar mais crédito. Aquela vidente que falou com a gente mais cedo tinha razão: você é mais forte do que imagina e precisa começar a acreditar mais no que sente.

Ela suspira e volta a encarar as mãos deles unidas sobre a grama fria. Algo dentro dela estava causando uma inquietude sempre que Dick ficava mais perto ou simplesmente tocava sua mão. Ela havia acabado de fazer um desabafo sobre um relacionamento conturbado, mas tudo nele causa uma eletricidade boa dentro dela. Parece forte ao mesmo tempo que parece leve. É diferente.

— Você parece ser um cara legal — a voz dela soa mais baixa do que gostaria.

Dick ergue a mão e ajeita uma mecha de cabelo dela atrás do ombro. Em seguida, desliza os dedos suavemente até a lateral do rosto de Alanis, acariciando sua bochecha macia. O toque faz com que ela feche os olhos por alguns segundos.

— Eu tento.

Quando Alanis reabre os olhos, percebe que Dick está mapeando todo seu rosto, como se quisesse memorizar cada detalhe.

Ela engole em seco, se forçando a sair daquele magnetismo viciante.

— Agora é a sua vez — ela diz quando as mãos de Dick deixam o rosto dela. — Me conta um segredo seu que ninguém sabe.

Ele comprime os lábios, pensativo. Ali, naquele momento, eles estavam vulneráveis um ao outro, envolvidos em uma intimidade rara de se alcançar. Dick sentiu isso e começou a perceber que não tinha nada a ver com o clima de ano novo, nem com os meses que passou afastado de relacionamentos ou interações mais profundas. Era algo diferente. O que quer que fosse essa conexão com Alanis, era algo que ele não queria perder. Pelo menos, não agora.

E, por isso, não hesita em contar o que o levou a estar aqui neste exato momento.

— Acho que temos muito mais em comum do que você imagina — ele diz, deixando um sorriso fraco surgir no rosto, mas logo o fecha, encarando o parque movimentado à frente. — Também andei fugindo das minhas escolhas. O segredo é que decidi voltar para a vida que tinha antes. Ainda não tinha verbalizado isso nem pra mim mesmo, então, você é a primeira a saber.

Um sorriso fechado passa pelos lábios de Alanis.

— Me sinto lisonjeada. Mas que tipo de vida você tinha?

— Uma vida complicada. Não sei se você vai acreditar, mas vou te dar o contexto e aí você me diz.

Ela se vira mais para ficar totalmente de frente para ele e cruza as pernas.

— Passei toda a minha vida lutando pelo que acredito ser o certo — Dick continua, e serve mais vinho para eles, despejando o líquido nos copos plásticos. — Desde que meus pais morreram, quis lutar para que outras pessoas não se sentissem da forma como me senti, impotente, sem rumo, perdido. Bruce me ajudou a lutar contra meus próprios demônios por um tempo. Deu certo, mas não foi fácil, ainda não é.

Alanis franze o cenho, ainda sem entender muito bem onde ele quer chegar.

— Falamos antes sobre sacrifícios, abrir mão da própria vida, tentar fazer justiça com as próprias mãos...

Ela ergue as sobrancelhas, abrindo mais os olhos e tentando encaixar as peças.

— Minha vida inteira foi baseada em uma única missão: proteger as pessoas. — Ele continua, com o olhar fixo no dela. — Fiz o possível e o impossível inúmeras vezes. E faria de novo, se a vida permitir.

Alanis abre a boca, começando a ficar incrédula à medida que a ficha começa a cair.

— Ai, meu Deus. — A voz dela sai quase como um sussurro. — Você é... um herói?

Dick não assente e nem responde confirmando. Em vez disso, continua sua história:

— Aconteceu um acidente pouco mais de dois anos atrás. Não foi bem um acidente, eu fui atacado intencionalmente em uma missão que estava fazendo, só que, bem, não estava atento o suficiente. Fui baleado na cabeça, era pra eu ter morrido, mas por algum milagre ainda estou aqui.

Com os olhos mais abertos que antes, Alanis repousa o copo ao lado do corpo e leva as duas mãos à boca.

— Meu Deus, Dick.

— Pois é — ele deixa um sorriso breve cruzar os lábios. — Mas estou bem agora. Foi por isso que disse antes que foi um ano difícil. Eu não me lembrava de nada. Passei quase um ano sem saber quem eu era. Bruce contratou os melhores neurologistas do mundo para cuidar de mim, mas não adiantou nada. Decidi deixar todos para trás, tentar começar uma vida nova do zero. Só que era difícil demais, porque minha antiga vida dupla me perseguia por todos os cantos. Fui injusto com Bruce, com Alfred, com os meus irmãos, com os meus amigos, com alguém que eu amava... Até que, há uns oito meses, tudo voltou à tona. Foi uma confusão enorme dentro de mim. Então, decidi fazer a viagem que fiz. Precisava me encontrar, mas em lugares distantes de casa. Acho que, às vezes, no meio de um caminho que não é o nosso, podemos reencontrar o que achávamos ter perdido.

Alanis o encara por longos segundos, como se estivesse segurando a respiração.

— Acho que estou meio... sem palavras? — ela arrisca, arrancando uma risada fraca de Dick.

— Foi... muita coisa. Tentei dar uma resumida, não quero colocar o clima de ano novo para baixo.

Dick olha para o relógio em seu pulso e diz com surpresa:

— Faltam vinte minutos.

Eles não haviam percebido o tempo passar. Era como se o ambiente ao redor tivesse congelado, e apenas eles existissem ali, presos nas confissões um do outro.

— Dick, eu... Caramba. — Sem se importar com o que ele possa pensar, ela leva uma mão à lateral do rosto dele, deixando os dedos deslizarem pela bochecha. — Os meus problemas são nada perto dos seus. Me sinto até uma idiota por reclamar de algo tão fútil.

— Claro que não — ele interrompe, antes que ela pudesse dizer outra coisa.

Pega a mão dela que está na lateral de seu rosto e busca a outra, unindo com as dele. Ele leva ambas as mãos à boca, deixando um beijo demorado nos dedos de Alanis.

— Não existe isso de problema maior ou menor — continua, erguendo o olhar até o dela. — A sua dor é tão importante quanto a minha. O que você passou foi tão difícil quanto o que eu passei. Por isso, disse que somos mais parecidos do que você imagina. Estamos tentando recomeçar.

Ela assente lentamente, tentando absorver as palavras dele. Pareciam mundos opostos – e, de fato, eram –, mas ambos estavam apenas tentando superar seus traumas à sua maneira.

— Posso te fazer uma última pergunta?

Alanis encara Dick com um brilho curioso no olhar, o que faz com que ele não se oponha.

— Você é tipo... o Batman? — Ela pergunta com um tom de voz mais baixo.

Dick deixa uma risada alta escapar.

— Não, não sou o Batman.

— Mas você é alto demais pra ser o Robin. E mais velho também.

Dick não diz nada, deixa que ela tente adivinhar sua outra identidade. Alanis estreia o olhar, tentando lembrar dos heróis que conhece.

— Superman?

Ele ri de novo.

— Também não.

— Você tem algum superpoder?

Ele nega novamente.

— Que sem graça — ela faz uma careta de frustração.

— Bom saber que não sou tão conhecido assim. Fica mais difícil se tentarem saber quem eu sou.

— Calma, ainda não desisti — ela leva uma mão à testa, tentando lembrar de outros super-heróis. — Você usa arco e flecha?

— Não.

Alanis cruza os braços, indignada por ainda não ter acertado.

— Você disse que é de Gotham, mas em Gotham só tem o Batman e o Robin... — sua expressão de suaviza, como se ela tivesse lembrado de algo. — Já sei! Você é aquele outro herói que trabalha com eles de vez em quando. Asa... Asa da Noite.

Dick ri.

— Não! — Ela continua. — Asa Noturna!

Alanis leva as mãos à boca mais uma vez, percebendo que falou alto demais. Olha rapidamente para os lados, mas ninguém estava prestando atenção neles.

— Desculpa — pede ela, baixinho.

— Tudo bem — ele responde, também em um sussurro. — Você sabe guardar segredos?

Ela assente, com uma expressão divertida no rosto.

— Promete que, quando conhecer outro estranho em um trem e ele pedir pra você contar um segredo, você não vai falar esse?

A pergunta faz com que Alanis solte uma risada fraca.

— Prometo.

A verdade é que ela não queria conhecer outro estranho no trem. Esse lugar já pertencia a Dick, e ela estava feliz por ter sido ele.

O olhar deles se fixa mais uma vez. Há uma intensidade silenciosa no ar, uma conexão que não precisa palavras. Alanis sente o coração acelerar, enquanto Dick parece buscar algo nos olhos dela, talvez uma resposta ou apenas a confirmação de que aquele momento é tão único para ela quanto é para ele.

— Posso te fazer uma última pergunta? — Ele repete o questionamento que ela havia feito para ele minutos atrás.

Alanis apenas assente, como se estivesse prendendo o ar, temendo que o momento pudesse se dissipar caso o deixasse escapar.

— Na verdade, é um pedido — ele se aproxima, levando uma mão ao rosto de Alanis, deixando os dedos descerem para a nuca. — Quero te beijar.

Eles estavam próximos demais. Alanis conseguia sentir a respiração dele em sua boca. E ela não hesita em dar a resposta que realmente quer:

— Estava começando a achar que você nunca iria pedir isso. 

Ela sorri, mas Dick mantém o olhar fixo no dela, a expressão contida, intensa. Ele havia imaginado esse momento diversas vezes durante o dia, e quanto mais a conhecia, mais crescia o desejo de tê-la por perto. 

Se inclinando, ele cola os lábios nos dela, iniciando um beijo lento, sentindo a maciez da boca de Alanis. É muito melhor do que ele havia imaginado, e facilmente poderia se perder apenas com o toque dos lábios dela nos seus. Em um movimento suave, ela entreabre a boca, dando permissão para a língua dele passar, encontrando a dela. Sentem o sabor frutado do vinho, a pressão dos lábios se movendo juntos. É quente, delicado, mas envolvente. 

Alanis o puxa mais para perto, deslizando os dedos pelos cabelos da nuca dele, roçando o polegar na pluma do gorro de natal. A outra mão de Dick desce pelas costas dela sobre o casaco marrom. 

Apesar da temperatura perto de zero graus, ali, eles se aquecem em um beijo que queima até o coração. Alanis tem certeza de que nunca foi beijada dessa forma, com tanta intensidade, com tanta vontade. Pensa que talvez seja o efeito do dia que passaram juntos, do álcool do vinho ou até mesmo da contagem regressiva que começa a ecoar pelo parque.

Cinco.

Dick a puxa para ele, fazendo com que os dois vá ao chão, com Alanis sobre ele, ainda grudados em mais um beijo.

Quatro.

Uma de suas mãos sobe por debaixo do casaco dela, encontrando a barra do suéter verde musgo. Alanis se arrepia no segundo em que as pontas dos dedos dele encostam em sua pele.

Três.

Ela afasta o rosto dele minimamente, o suficiente apenas para sussurrar em seus lábios.

Dois.

— Precisamos fazer um pedido, rápido.

Um.

— Feliz Ano Novo, Alanis.

— Feliz Ano Novo, Dick.

Colando os lábios nos dela mais uma vez, ele acaba deixando um sorriso grande se formar no meio, fazendo-a descolar dele por um segundo.

— Meu desejo acabou de ser realizado.

Ela franze o cenho, sem entender.

— Pedi mais um beijo seu.

Ela morde o interior da bochecha, tentando conter o que as batidas do seu coração estão tentando fazer dentro do peito.

Acalme-se Alanis. Apenas aproveite o momento, diz uma voz sensata na sua cabeça.

— Engraçado, porque eu pedi a mesma coisa — revela.

Dick a beija novamente, com mais intensidade do que antes. Talvez as pessoas comecem a se dispersar e notarem os dois ali na grama, se beijando sem parar, mas ele não se importa. A melhor coisa que poderia acontecer no último dia do ano era algo que ele nem sabia que precisava. Era ela, a mulher que ele se deixou se encantar por um dia. E ela o beijava como se fosse o último beijo deles na vida.


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