C A P Í T U L O 42
Os códigos do paraíso
Aquela conversa não iria ser fácil. Um passo errado, e tudo estaria perdido.
Passei os primeiros segundos tentando decifrar a sua real intenção por detrás daquela pergunta simples e objetiva, pois era óbvio que ele sabia a resposta dela, já que havia mandado rastrear o carro. Certo, ele sabia onde o carro estava, não onde eu estava, e era muito provável que James dera detalhes da sua espera e da minha ausência no Hotel Argwen.
Já os segundos seguintes vieram em forma de uma hesitação movida pela dúvida, enquanto pensava no que responder. Eu não estava certa se poderia falar sobre Aiden sem levantar suspeitas, e por sorte, para a segurança da nossa hierarquia, as localizações das Ilhas sempre foram mantidas com discrição pela nossa espécie, portanto, ele não sabia que havia uma por lá.
Voltei os meus sentidos para o ser ainda parado no canto do quarto. Anton parecia inflexível, e me olhava tão intensamente, que tive que lutar contra a vontade de me encolher sob aquele escrutínio silencioso. Passei os braços ao redor da cintura, cravando os meus dedos na toalha. Eu não queria brigar. Por Aine, não queria, por isso teria de ceder de alguma forma. Talvez um pedido de desculpas aliviasse o clima me dando mais tempo para pensar em algo.
― Não precisa me ameaçar, peço desculpas por ter pegado o seu carro sem pedir, mas saiba que fora isso, não fiz nada de errado ― falei, o que não deixava de ser verdade, mas senti a necessidade de reforçar a ideia. ― Como você deve ter visto, ele está inteiro e sem nenhum arran...
― Foda-se o carro, não foi isso que perguntei. ― O tom brusco e severo impactou em mim me cobrando uma batida exaltada, fazendo-me calar.
Surpresa e confusão me preencheram igualmente, mas também uma pontada de euforia. Era impressão minha ou ele ficara preocupado comigo? Talvez eu tenha subestimado a sua ira e a sua verdadeira consideração por mim. Mordi o lábio retendo um sorriso, eu devia estar louca mesmo, porque estava enfrentando um vampiro raivoso e ainda conseguia me sentir feliz.
Anton deu um passo à frente, e o meu corpo vibrou em expectativa pelo seu toque, mas tão breve ele se deteve como se estivesse em algum conflito interior, tentando se conter de alguma forma. Seu peito se inflou e o maxilar tensionou quando o ar fora expelido, antes que seus olhos voltassem a se estreitar, recriminadores, suspendendo uma ameaça no ar.
― Tsc, tsc... Para quem não estava fazendo nada de errado, você está hesitando demais em uma resposta tão simples ― analisou ele, a sua voz agora tinha uma ondulação muito calma e lenta, mas com uma frieza que me deixou em alerta. ― Por acaso você estava me expondo por aí com algum homem?
Pisquei algumas vezes, não sabendo como interpretar aquela pergunta. Com o coração apaixonado e entupido de esperanças, primeiro pensei que poderia ser ciúmes, mas logo consegui escapar da armadilha que eram os meus sentimentos, e usei a razão para sublinhar a palavra "expondo".
A compreensão primeiro me trouxe a perplexidade e a percepção do ultraje, dado que, se Anton chegara a perguntar algo do tipo, era porque acreditava que eu seria capaz de fazê-lo. Depois veio a decepção, profunda, inevitável, dando um nó em minhas entranhas e soterrando, lentamente, aquela leve felicidade e a vontade de sorrir de segundos atrás, pois era óbvio que ele estava preocupado com a sua reputação, e não comigo.
― Expondo com algum homem? ― A indignação foi expulsa da minha garganta como uma pedra.
Olhei bem no fundo de seus olhos, e dei um passo à frente balançando a cabeça em desânimo. A intenção era evitar um confronto do qual somente eu sairia machucada, mas depois de tudo que havia acontecido nos últimos dias, eu estava no meu limite, sensível, exausta, e a sua ofensa fez transbordar.
― Não sou eu quem chega de madrugada todos os dias, e não sou eu que trago mulheres para dentro de casa ― despejei de uma vez, o nó de ressentimento ameaçando falhar a minha voz, e fazendo os meus olhos e nariz formigarem. ― Você já devia saber que eu não sou uma qualquer, Anton. Eu jamais sairia da sua cama para me encontrar com outro homem, e por mais que você não mereça, por tudo que já fez comigo, eu o respeito.
― Respeito? ― replicou ele em seu tom mortífero realçado por uma sagacidade irônica. ― Você pelo menos sabe o significado dessa palavra? ― Percebi que fora uma pergunta retórica, a qual minha resposta seria inútil. Voltei a abraçar o meu corpo em um gesto de proteção, vendo a fúria inflamando seus olhos. ― Respeito é um sentimento que induz alguém a tratar outras pessoas com atenção e consideração. Agora pergunto, onde estava o seu maldito respeito quando você ameaçou o chefe de segurança, pegou um dos meus carros, e sumiu por fodidos quatro dias sem a porra de um aviso, sem a porra de qualquer satisfação?
― Eu não queria!
Exaltei-me completamente cedendo à pressão do seu julgamento. Se isso era parte do seu castigo, Anton havia conseguido. Lá estava a culpa, o arrependimento, rastejando em mim como um parasita venenoso, desencadeando aquele incômodo no peito e embaçando meus olhos com as lágrimas que falhei em evitar.
― Eu sei que devia ter avisado, mas tantas coisas aconteceram... todos esses dias em Aiden... o meu sumiço... não foi porque eu quis. Eu juro, não foi!
A minha mente e as minhas emoções estavam perdidas em um caos borbulhante, não permitindo meus pensamentos saírem coesos. Entre a confusão e desespero, demorei alguns segundos para perceber que acabara falando demais, e revelado sobre Aiden. Droga, não tinha como engolir as minhas palavras de volta, mas eu ainda podia ocultar sobre o portal, e eu tinha que fazê-lo, porque as suas dúvidas em relação à minha moral e ao meu caráter, só vieram me provar que na primeira oportunidade, Anton colocaria um fim no nosso casamento.
― Eu estava na Ilha de Aiden ― confessei por fim, buscando uma respiração e me virando para o outro lado enquanto limpava minhas lágrimas.
― Eu sei.
O quê?
Instantaneamente olhei para ele, cada músculo do meu rosto petrificado, entregando todo o meu espanto e atordoamento. Até tentei perguntar como ele sabia, mas a apreensão também havia tensionado e travado as minhas cordas vocais, fazendo com que a minha boca se abrisse várias vezes antes que eu desistisse de tentar. De qualquer forma, não era preciso mais para que Anton percebesse a minha inquietação e se enfatuasse com ela, consoante ao que o brilho ostensivo de seus olhos me indicava.
― Eu sempre sei de tudo, fada ― incitou ele com uma sobrancelha elevada, e maldição, claro que ele sabia. "Eu sempre sei de tudo." E isso me deixou ainda mais aflita para saber o quanto ele sabia. ― Não foi preciso mais do que a presença do Howse para arrancar de um dos funcionários do Argwen, a informação de que você foi levada por Morain Emor, trigésimo capitão da Guarda de Aiden América do Sul, para a Ilha situada a És-sueste do litoral.
Por todos os Deuses!
Que os meus olhos se arregalaram e os meus lábios se entreabriram, não era nada se comparado ao salto dado pelo meu coração. Eu não entendia como ainda conseguia me surpreender com o Anton mesmo sabendo que podia esperar qualquer coisa dele, mas o mesmo tinha a incrível e inexplicável aptidão de sempre se superar em suas loucuras. Que ele era controlador, era um fato, mas por que também parecia tão possessivo comigo?
Pelo menos havia uma salvação nos limites no que fora dito, a qual me trouxe um grande alívio. Anton não mencionara o portal, e disso ele ainda não sabia, porque quase ninguém sabia, e muito menos pessoas que Mike pudesse ter tido contato. Naquele momento também percebi o quanto a nossa Ilha estava vulnerável, ou pior, que nunca estivera tão segura quanto imaginávamos. Não que a possibilidade de um ataque fosse uma preocupação imediata, não havia riscos com o Conselho de Ordem operando rigidamente, e muito menos depois da minha união com o Anton, mas a segurança de Aiden teria de ser aprimorada no futuro.
Fixei-me naquelas profundezas azuis e apertei os braços ao redor da cintura tentando ignorar o movimento lento, meticuloso e provocador em que Anton retirava seu paletó. O ar foi ficando escasso, o coração pulsando errático, e aquela tensão em meu ventre se apertando e estremecendo minhas pernas. Céus, tive de voltar as costas para a parede.
― Se... se você sabia esse tempo todo onde eu estava, então por que me perguntou? A sua intenção era fazer algum tipo de tortura psicológica comigo?
― Talvez ― disse ele naturalmente abandonando a peça do terno sobre a poltrona, antes de se virar para mim, e levar as mãos de volta aos bolsos. ― Eu estava te testando, porque sei que você é uma mentirosa, então precisava comprovar se me falaria a verdade.
― Eu não sou mentirosa! ― Sim, às vezes eu contava uma mentira ou outra, mas nunca era por maldade ou dissimulação, pelo contrário, era apenas para proteger alguém ou para um bem maior. ― Não estou mentindo, meus avós me chamaram em Aiden para um assunto urgente, e eu precisei ir, porque agora tenho a responsabilidade de um título e por mais que eu não o queira, ocasionalmente um dia terei de assumi-lo. Além do mais, meus avós são três das pessoas que mais me importo nesta vida, eu faria qualquer coisa por eles independente de tudo.
― Não duvido ― Anton se limitou a dizer, e eu procurei em sua expressão pela sombra de alguma ironia ou desconfiança, mas não havia nada, ele realmente acreditava em mim.
― Ótimo. ― Elevei o queixo e lhe sustentei o olhar.
A sugestão de um sorriso curvou seus lábios fechados, e então, muito devagar, ele começou a andar em minha direção. Os passos e a calma eram a de um tigre ardiloso, e o porte magnífico, elegantemente coberto de preto, calça, camisa, colete. Seus olhos diáfanos me analisavam levemente restritos, nos quais reconheci o desejo, mas também tinha algo mais, muito misterioso para identificar.
A algidez em meu estômago se acentuou, seguida do descompasso de qualquer ritmo ainda existente em meu corpo, e então a efervescência que bulia minhas veias com excitação, sensações e sentimentos. Perto, cada vez mais perto, a sua emanação enérgica, o seu perfume sensual foi me penetrando, despertando e aquecendo. Próximo, tão tórrido, tão alto e dominador.
Quando Anton parou bem à minha frente e o seu calor me transpôs por completo, eu já não respirava e a minha carne era toda arrepio e tremores. Mas ele não me tocou. Toda aquela sofisticada compleição de músculos, controle e superioridade a mínimos centímetros de mim, o suficiente para eu sentir sua expiração rítmica e abrasadora soprar e acender a minha pele como se fosse a sua própria mão. Elevei minha cabeça lentamente, delineando com os olhos cada traço impecável de seu rosto, até me afundar naquelas águas frias.
― Diga-me, fada ― prosseguiu, retirando as mãos dos bolsos e espalmando-as na parede ao lado do meu rosto. Percebi-me em uma total rendição, cercada, acuada pelo seu poder, desejando desesperadamente tocá-lo, mas com aquele medo que eu sempre tinha da sua rejeição. ― Por acaso aquele seu primo stripper estava em Aiden?
― Primo stripper? ― Demorou um segundo, mas a compreensão veio com algumas recordações do casamento, e junto delas, uma vontade incontrolável de rir que me resultou em uma risada. ― Você está falando do Erwan? ― Anton nem se deu ao trabalho de confirmar, pois era óbvio, mas continuou me olhando fixamente, a espera de uma resposta. ― Não, o Erwan não faz parte do Conselho de Aiden, e assim como a maioria dos meus primos, mal aparece na Ilha. Por que você está me perguntando isso?
Ciúmes. O meu coração idiota sussurrou, mas logo o calei, porque naquele mesmo dia eu comprovara o quanto podia ser doloroso me iludir. A maioria das razões do Anton, se não todas, eram egoístas, e eu precisava me esforçar e usar toda a sensatez e consciência para me manter longe das falsas esperanças e me recordar disso sempre. Eu deveria continuar não esperando muitas coisas dele, deveria continuar temendo o seu temperamento adventício e, principalmente, deveria me lembrar que ele seria incapaz de corresponder aos meus sentimentos.
Um silêncio tenso permeou o ar conforme Anton me analisava e igualmente parecia refletir sobre o que iria dizer. Então, outra vez, veio aquela insinuação de um sorriso, antes que a sua cabeça fosse inclinada para baixo e o seu nariz quase tocasse o meu. Tão pouco me distanciava daqueles lábios, e da promessa de um beijo que me fazia perder os sentidos.
― Porque ainda estou avaliando a profundidade da sua transgressão para adequar a melhor consequência ― respondeu baixo, rouco, pronunciando sem pressa cada palavra, e por um momento pensei que ele estivesse zombando de mim.
― Você não está falando sério, né? ― Anton segurou o meu olhar, e lá estava, nítido e deliberado, o cintilar da provocação, mas sobretudo, o da advertência. Sim, ele falava sério tal qual sua obsessão por controle e subjugação reivindicava. ― Não! Você não vai fazer nada comigo! Eu não fiz nada grave, e não vou...
― Shhh...
Eu me calei, mas só porque o meu coração disparou e eu me vi em uma sensação de devaneio quando ele levou sua boca à minha orelha, e os seus lábios macios e abrasados foram esfregados por ela. Mordi meu lábio com força, sentindo sua respiração se intensificar e pesar sobre mim, e a sua língua ardente lentamente provar toda a extensão do meu pescoço. Não era preciso mais. Estremecendo e me desfazendo sob aquela intensa vertigem lúbrica, soltei as mãos e as levei de encontro a ele, tocando e apreciando, deslizando-as pelo algodão acetinado que lhe cobria o abdômen, tórax, subindo e alcançando os seus cabelos.
Como tudo que nos envolvia, o que era apenas uma flama tremeluzente em nossos olhos, se tornava um incêndio cataclísmico quando nos tocávamos, abalando, devastando, destruindo todas as nossas barreiras e pensamentos. E foi assim, em uma efusão brusca, arrancando-me um arquejo chocado, que Anton me puxou para si.
O seu corpo, grande e cálido, foi dolorosamente pressionado contra o meu, e a rigidez tenra da sua ereção cravada em minha barriga enquanto aquelas mãos pesadas se livravam da minha toalha e se apropriavam da minha carne. Marcando-a, moldando-a, exigindo a minha bunda, subindo pelas minhas costas e agarrando os meus cabelos conforme sua boca possessiva reivindicava a minha, como que para me lembrar que ela, assim como todo resto do meu corpo, pertencia a ele e só a ele.
Aquele abraço dominador, tão forte e pressuroso, apesar de sufocante, nunca pareceu tão certo e preciso. Desejei que ele não me soltasse nunca. Apertei os meus braços envolta do seu colarinho, deixando-me ser tomada e reclamada, permitindo que a minha saudade acumulada naqueles últimos dias se expressasse fervorosamente.
Não me solte, por favor, não me solte.
Abri-me para ele, correspondendo avidamente à força erótica e impulsiva dos seus lábios, aceitando a sua língua e fazendo-o sentir a minha. Eu o queria inteiro em mim, não só a sua boca, não só as suas mãos, queria a sua pele, a sua sede, e qualquer coisa que ele pudesse me oferecer, fosse a sua fome, o seu prazer ou a sua loucura.
Anton me guiou até a beirada da cama, enquanto eu, sem interromper o contato dos nossos lábios, o livrei dos meus braços para tentar arrancar-lhe a gravata, mas as minhas mãos tremiam infrenes, e tive a impressão de o estar enforcando ao invés de conseguir afrouxar o maldito nó.
Com um brilho sombrio no olhar, Anton se afastou segurando os meus pulsos e os escorregando para baixo, mas antes que eu pudesse protestar, meu corpo foi virado, e agora eu me encontrava de frente para a cama sentindo a sua respiração em meu pescoço e a solidez do corpo rijo em minhas costas.
A sua língua voltou à minha orelha, e desceu pela minha carne trilhando a delicada linha da minha pulsação, por onde o desejo ia derramando-se quente, forte e apressado, tão entorpecente quanto uma droga. O meu corpo voltou a ser consumido pelas suas mãos, numa exploração muito mais íntima, escarmentando, fustigando os meus seios e reconfortando o meu ventre, me tendo, impulsionando e aninhando a rijeza protuberante do seu membro em minha bunda.
Fechei os olhos entregando-me às sensações. A minha respiração ia se tornando mais densa conforme o meu corpo absorvia a pressão acariciante da sua língua, ainda mais audível sob as escoriações rudes dos seus dentes, e completamente instável à cada centímetro percorrido pela sua mão em direção ao sensível latejar entre as minhas coxas.
Um murmúrio lânguido se arrastou pela minha garganta quando o senti deslizar dois dedos suavemente por entre as minhas dobras, devagar, provocando. Estremeci, arrepiando ao contato frio me abrindo, me expondo e tomando o meu pequeno núcleo latejante em círculos, em apertos, rompendo um remoinho de prazer reprimido que começava a espalhar pelo meu corpo uma avidez tórrida, primitiva, a necessidade iminente por mais.
Céus, aquilo era... delirante.
― Quero foder você de quatro. ― Anton afastou as mãos, mas só para realocá-las na base das minhas costas, de modo a me guiar para frente.
Meio atordoada pela carícia interrompida, e ainda mais ávida pelo que estava prestes a receber, prontamente o obedeci. Acomodei-me de joelhos na beirada da cama e, conduzida pelo seu toque firme deslizando ao longo da minha pele, curvei meu tronco adiante, apoiando-me nas mãos.
― Mais ― ordenou ele alcançando as minhas omoplatas, me forçando levemente para baixo. ― Apoie-se nos antebraços.
E eu fiz, consciente de cada batida frenética do meu coração, sentindo-o se afastar ao dar um passo para trás.
Glory Box – Portishead
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