A Floresta
Daqui conseguia ver enquanto cercavam parte da floresta com fitas amarelas. Aos poucos minha mente viajava para a infância e conseguia escutar a voz de minha mãe dizer para jamais entrar na floresta. Eu, assim como toda criança da cidade queria saber por que não podia entrar em uma floresta com um nome tão agradável. Agatha significa boa, perfeita, respeitável e virtuosa.
"Se pensar em entrar lá vai ficar de castigo" - dizia minha mãe. "Mas mãe, não é justo, como posso ficar de castigo só de pensar em ir lá?". "O castigo tem que ser dado só se eu for". - eu retrucava. E ela sempre completava a conversa dizendo que não teria como dar o castigo a quem fosse lá porque quem entrava na floresta jamais voltava. Não vivo.
Enquanto ainda estava perdido em meus pensamentos despercebi o telefone tocando. É claro que não demoraram a me ligar.
- Sim, estou ouvindo. - atendi.
- Precisamos de você aqui agora. Outro corpo foi encontrado em Agatha.
- Tudo bem Victor estou indo.
Desde que o corpo de minha mãe foi encontrado na floresta decidi que me tornaria investigador. Ao contrário do que muitos pensam eu sabia que as pessoas ou os corpos eram levados para lá. Minha mãe jamais entraria na floresta.
É claro que muitas teorias e histórias eram contadas na cidade. Os mais velhos contavam que a floresta era mal assombrada, cheia de espíritos e bruxas que faziam sacrifícios dos curiosos que entravam na floresta. Os jovens temiam os animais selvagens que existiam ou podiam existir lá dentro.
- Temos um padrão? - perguntei para Victor.
- As três primeiras vítimas tinham a boca arroxeada por causa do veneno e os cortes nos punhos, mas essa tem uma diferença. O corte é pouco abaixo da nuca, olhe - disse mostrando.
-Deixe-me ver. - Enquanto analisava fiquei pensando o porquê alguém faria cortes depois de envenenar as vítimas, com certeza tratava-se de um psicopata. - O que é isso? - perguntei embora eu já soubesse a resposta.
- Provavelmente era uma tatuagem que foi removida, por isso essa cicatriz.
- Então temos um padrão! As outras vítimas tinham uma marca similar nos punhos e essa tem a marca pouco abaixo da nuca, exatamente onde o corte foi feito.
-Certo. Você sabe quem tatuou e removeu a tatuagem da sua mãe?
- Não! E podem não ter sido a mesma pessoa. Precisamos falar com as famílias das vítimas e descobrir quem as tatuou ou removeu a tatuagem - respirei fundo para conseguir pronunciar as próximas palavras: - Eu vou falar com meu pai.
- Tudo bem. Então eu e os outros vamos conversar com as outras famílias - disse Victor sorrindo. Como se um sorriso fosse me dar mais coragem.
Aproximei-me da oficina receoso. Era estranho falar com meu pai depois de anos sem nenhuma palavra. Observei o letreiro velho e faltando duas letras que podiam ser identificadas apenas por que a tinta ao redor já estava muito desbotada. Angel. "Quem coloca esse nome em uma oficina e desenha uma caveira ao lado?" Tentei ler o restante, mas a entropia já havia feito bem o seu trabalho.
- Você deve estar mesmo desesperado para vir aqui falar comigo - disse meu pai assim que entrei na oficina.
- Na verdade estou investigando uma série de assassinatos e preciso de uma informação que talvez o senhor saiba.
- Não sei como posso ser útil, mal saio da oficina - afirmou sem pausar o serviço.
- Quando a mãe foi encontrada ela tinha cortes em um dos pulsos exatamente onde havia uma marca de uma tatuagem removida. Você sabe quem fez a tatuagem ou a removeu? - perguntei sem rodeios.
Meu pai parou colocando as duas mãos sobre o carro e se inclinou deixando claro que não queria falar do assunto. Olhou-me com olhos amargos.
- Não me lembro de nada da sua mãe. Talvez o amante dela tenha feito.
- Pai...
- Não me chame assim! Nem tenho certeza de que seja realmente meu filho - completou.
- Por que essa munhequeira? Alguma lesão? - eu disse desviando o assunto para não trazer a tona mágoas do passado.
- Desde quando se preocupa comigo? Eu já respondi a sua pergunta. Eu não sei nada sobre a sua mãe. Tenho muito serviço a fazer, se não se importa poderia ir embora?
- Certo. Se lembrar de alguma coisa me avise, por favor. - Saí da oficina rapidamente. Agachei próximo à esquina e segurei para não vomitar ao mesmo tempo em que tentava respirar. Aos poucos o meu ar foi voltando.
- Guilherme? Você não parece muito bem. Quer ajuda para levantar? - perguntou Elisa enquanto colocava uma das mãos em meu ombro e a outra em minha mão.
Se eu já não conseguia respirar naquele momento, sentir Elisa me tocando tornou esse aspecto natural do organismo humano ainda mais complicado.
- Eu estou bem! - a voz quase não saiu e eu limpei a garganta antes de continuar: - Acho que minha pressão baixou por causa do calor.
- Essa época do ano é mesmo muito quente, mas você não precisa mentir pra mim Guilherme, nos conhecemos desde pequenos e eu escutei toda conversa.
- Você anda me espionando de novo garota? Vou ter que conversar com a sua mãe sobre isso.
- Não me trate como criança! Eu sou apenas sete anos mais nova que você. Não é por que você mora na nossa casa desde sempre que pode me tratar como sua irmãzinha.
- Não foi isso que eu quis dizer. Estou em uma investigação importante, você não pode ficar me seguindo e me espionando. É confidencial e perigoso. Fique fora disso.
Ela me lançou um olhar decepcionado enquanto eu me despedia. Voltei à delegacia. O delegado Joel e o meu parceiro Victor já estavam me esperando.
- Guilherme, temos um problema nessa investigação - comentou Joel.
- Cada vítima foi tatuada por um tatuador diferente e ninguém sabe quem removeu as tatuagens, pois nenhum deles faz remoção - explicou Victor.
- E você descobriu alguma coisa? - perguntou Joel.
- Ele diz que não sabe de nada. Talvez a mãe de Elisa saiba por isso pensei em ir para casa - respondi desanimado.
- Você tem que saber uma coisa - afirmou Victor. - A Rose mãe da Elisa está na lista dos tatuadores cadastrados. Ela não fez a tatuagem de nenhuma das vítimas, mas ela já foi tatuadora. Ela fechou a sua loja de tatuagens para se tornar enfermeira.
- Tudo bem, isso é estranho. Eu nunca soube disso. Preciso mesmo ir para casa, já está tarde e preciso investigar melhor isso - disse enquanto retirava o celular do bolso para atender.
- Oi Rose, estou ouvindo. Não precisa se preocupar, eu já estou indo. Tive que trabalhar até tarde hoje por causa do assassinato.
- Guilherme - sua voz parecia apavorada. - Elisa ainda não chegou e não atende o celular.
[***]
Olá pessoal!
Decidi começar a postar um conto curto para vocês.
Esse conto será dividido por capítulos. Até na segunda postarei todos os capítulos.
Espero que gostem. Não se esqueçam de votar e comentar bastante. Quero saber a opinião de vocês, visto que é a primeira vez que me arrisco a escrever um texto sobre investigação policial.
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