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646 palavras
— Boa Leitura —
— PAREM! — gritou a Túnia, assustando-nos. — Eu só aprecio romance depois de ter o meu estômago cheio. Vamos comer?
— Vamos! — dissemos ao mesmo tempo.
O Keb levantou-se e ajudou-me a fazer o mesmo. Agradeci-lhe e corri para perto da sua irmã, deixando-o sozinho para trás.
— Ainda bem que chegaste. — comentei ao seu lado.
— Vou fingir que acredito. — respondeu a Túnia, destrancando a porta e entrando. — Espera aí!
O Keb fechou a porta atrás de mim e as luzes acenderam-se.
— Mais tarde, o Keb mostra-te a cada. Agora, vamos é jantar.
Sentámos-nos todos à mesa e começámos a devorar a deliciosa pizza vegetariana.
— Com quem vives? — indagou a Túnia, engolindo um pedaço de comida que estava na sua boca.
— Sozinha! — afirmei e quatro olhos admirados caem sobre mim.
— Bom, se calhar é melhor deixar esta conversa para depois... — anunciou o Keb ao fim de uns segundos de silêncio.
•••
— Vamos? — perguntou o Keb com uma manta sobre o braço esquerdo.
Assenti e dirigi-me para a praia ao seu lado. Sentámos o mais possível juntos e ele passou a manta por cima dos nossos ombros.
— Tu já sabes a minha história. Agora, é a minha vez de descobrir a tua. — iniciou ele, olhando na direção do mar.
— Eu fui abandonada pelos meus pais à nascença e logo fui dada para a adoção. Como podes imaginar, as pessoas só vão lá para adotar bebés ou recém-nascidos, elas não querem saber das crianças ou adolescentes que vislumbram todos os dias esse desprezo. — fiz uma pausa. — Com apenas cinco meses fui adotada, cuidada e amada. Eu podia até dizer que a minha vida era perfeita, ou melhor, ela foi perfeita até aos meus sete anos de idade. Eu já não era a bebé que eles queriam mas a criança que cresceu. — respirei fundo. — E numa noite de inverno, elas pediram-me que fosse deitar o lixo no contentor é assim fui. Quando voltei para casa, a porta estava trancada. Eu toquei à campainha, gritei, bati na porta mas nada. Eles apagaram as luzes e deixaram-me ao frio. — uma lágrima molhou o meu rosto. — Nessa noite, dormi ao relento num banco de jardim, porém, sobre a madrugada, uma senhora muito pobre de idade avançada, acordou-me e acolheu-me na sua humilde residência. Ela cuidou de mim até morrer no ano passado. Agora, vivo na casa dela sozinha e as minhas únicas visitas são os meus vizinhos que trazem comida porque sabem da minha situação.
— Lamento imenso...
— Tudo bem, não tinhas como adivinhar... — deitei a minha cabeça sobre o ombro dele e chorei o que havia guardado durante alguns anos.
•••
— Entramos juntos? — indagou o Keb, quando paramos em frente à porta branca de madeira.
— Sim! — afirmei e demos as mãos. — Nem acredito que esta é a última vez que estarei aqui...
Arrumei todas as minhas coisas com a ajuda do Keb e saímos.
— Tens mesmo a certeza que não tem problema em eu ficar a viver lá em casa? E a Túnia? — perguntei-lhe, enquanto caminhávamos.
— Absoluta! E a minha irmã vai amar ter-te lá em casa. Alssim, ela já pode desabafar sobre rapazes com alguém que realmente tenha interesse. — ri. — Não te rias! Cada vez que ela fala "Keb, podemos conversar sobre um rapaz?", eu só tenho vontade de apanhar um foguetão para a lua e nunca mais voltar.
— Dramático! — chamei-lhe.
— Linda! — corei de imediato.
Quando chegamos à minha casa, a Túnia estava sentada no sofá da sala de estar.
— O que aconteceu? Por que não a levaste a casa?
— Surpresa?! Desculpa, mana! Mas eu queria fazer-te uma surpresa, por isso menti-te e disse que a ia levar para casa. — explicou o Keb.
— Fica à vontade, Cira! Keb, podemos falar os dois a sós? — indagou a Túnia, fazendo o irmão engolir em seco.
Continua...
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