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11-Café

Sinto alguém se aproximar e vejo que é Marcos, continuo admirando o estacionamento abaixo do andar em que estamos do hospital.

Victor está em observação sob a cama e ainda não acordou.

— Fique tranquila Le, ele está em boas mãos. — Marcos esfrega sutilmente minhas costas na tentativa de me acalmar.

— Não consigo, levei um susto terrível quando percebi que ele não reagia. — Confesso ainda ansiosa, descascando o esmalte preto do dedo anelar.

Marcos suspira cansado.

— Vou sair para a Júlia entrar, tenta tomar uma copo de água e ficar calma, nervosismo pior tudo. — Aconselha de forma meiga e deposita um beijo molhado em minha bochecha quente por tanta pressão, apenas sorrio fraco em resposta e ele sai.

— Leila. — O sussurro de Victor me atinge em meio ao quarto cinzento, não sei se ele está sonhando ou acordando confuso... chamou por mim, não por Júlia.

— Vim o mais rápido que pude, estava no consultório quando a Carlota me ligou. — A loira entra no quarto aflita observando o namorado que está sob a cama.

Recuo alguns passos hesitando ocupar o lugar que é dela.

— O médico disse que pode ter sido estresse, fez alguns exames e daqui a pouco volta com os resultados. — Comunico a ela, a tensão deixando minha cabeça latejando, bile sobe a minha garganta deixando ânsia presente.

Não aguento esperar tanto.

— Ele teve um colapso nervoso... coitado do meu amor. — Murmura Júlia transparecendo pena por Victor, em seguida aproxima os lábios pintados de rosa pink e beija com ternura a testa dele, afastando os fios desgrenhados do local.
Pena...o conheço bem suficiente para saber que odeia receber tal sentimento de qualquer um.

Agora percebo... a ficha caiu... o que ela sente não é amor, é compaixão.
Amor é sinceridade, é compatibilidade... não consigo ver isto entre os dois, não da parte dela pelo menos.

— Leila. — Outra vez ele sussurra parecendo atormentado por algum pesadelo agressivo, Júlia franziu as sobrancelhas estranhando, sinto um formigamento nas mãos e pontas dos dedos dos pés.

A face angelical de Júlia apenas ignora o ocorrido e acaricia a mão direita dele.
Me sinto mais aliviada o vendo acordar lentamente, mesmo ainda perdido em relação a espaço e tempo que está.
Júlia ameniza a tensão do rosto ao vê-lo despertar aos poucos.

— Amor, estou aqui contigo, fique tranquilo. — Barbie tenta não o deixar ficar alarmado.

Victor não completou a transição para realidade, cada letra proferida parece doer quando entra nos receptores sonoros dele, como se não fosse uma língua conhecida.
Afasto três passos para trás, respeitando o momento exclusivo do casal.

— Por que estou aqui. — Pergunta quase num chiado rouco.

— Você desmaiou e a Leila te encontrou. — Responde Júlia carinhosamente mantendo
toda atenção nele, segurando sua mão.

— Me trouxe para o hospital? — A pergunta soa um pouco revoltada e ríspida.
Júlia dirige o olhar a mim esperando que eu responda.

— Sim, fiquei preocupada demais e achei melhor trazer por precaução. — Digo com um nó enroscado dentro da garganta seca.

Victor suspira insatisfeito.

— Inacreditável. — Resmunga o mal agradecido... não consigo digerir sua ingratidão.

— O que disse? — O questiono sem acreditar que ouvi tal coisa.

— Tenho ranço de hospital, passei mais de trinta dias em um quando fui baleado... os piores dias da minha vida. — Replica de forma agressiva, a voz carregada de nostalgia e repúdio.

Júlia permanece inexpressiva escutando e não interferindo em nada...que absurdo.

— Você é tão... — Embasbaco as palavras iradas que querem sair atropeladas.

— Volto quando o médico der alta para ele, até daqui a pouco Júlia. — Me despeço sem nem olhar novamente o mal agradecido Brito que acaba de achar ruim minha preocupação com ele.

Disparo para a porta, saindo a passos rápidos que quase me tiram do chão de tanto ódio que sinto, o vento frio atinge minha pele negra descoberta, esqueci a blusa no quarto, droga.

Preciso pôr a cabeça no lugar e me recompor...

— Leila, aconteceu alguma coisa? — Marcos me encontra no corredor vazio, estava indo rumo ao quarto do irmão eu sugiro.

— Seu irmão é muito babaca. — Xingo aquele trouxa do Victor sem nenhum espinho impedindo.

Marcos não demonstra surpresa.

— Ele te ofendeu? Porque se sim, eu... — O impeço de seguir feito um raio para o quarto, segurando seu bíceps musculoso na medida proporcional.

— Não, não, eu só... preciso de um café, vem comigo pegar? — Estou com tanta dor de cabeça que aposto mil reais que minha expressão fácil transparece isto.

Marcos aceita meu pedido e movimenta a estrutura, seguindo comigo para o local onde fica a cafeteira expressa.

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"...Fico olhando enquanto ela fica segurando sua mão
Você coloca o braço em volta do ombro dela, agora estou ficando com mais frio
Mas como eu poderia odiá-la? Ela é um anjo..."

|Heather-Conan Gray|

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