26
Continuação.
🖋️
𝐕𝐢𝐨𝐥𝐞𝐭.
O moreno parece querer me fuzilar com os olhos agora. Não duvido que faria se pudesse realmente.
Acredita que estou mentindo. Por isto nem sequer acredita que posso dar uma explicação verdadeira.
Qualquer palavra que sair minha boca será um emaranhado de combinações superficiais e fúteis.
— Lembra quando me perguntou sobre aquela mulher da foto? — Balbucio mal conseguindo sustentar o peso desta lembrança. O rosto da Raquel se forma na minha mente e a toma por inteiro.
Abaixo o olhar evitando-o.
Ele apenas fica firme e perplexo escutando atenciosamente.
— É minha irmã, Raquel. — A garganta se fecha e eu mal consigo dizer mais palavras.
— E está de volta. — As palavras saem feito um raio e atingem as paredes da sala uma por uma até ricochetear em mim se voltando contra a feiticeira.
O olhar do moreno se paralisa numa onda estranha que não consigo decifrar... Arrisco dizer que está surpreso. Arrependido talvez.
Não tinha como saber... Porém, poderia ter sido mais cuidadoso.
— Foi por isto que fez aquilo? Os olhos vermelhos... — Reflete a análise mental que constrói sobre as respostas que estavam "ali o tempo todo", sinto um ar gelado subir pelo peito.
Seu olhar se encontra perdido vagando confuso e distante pela sala.
Parece que cometeu um crime.
— Desculpe. Não foi sua culpa. — Consigo destravar e dar o primeiro passo para melhorar minhas atitudes em relação a meu secretário.
As íris castanhas feito as montanhas me alcançam e parecem ficar atraídas por mim...Um ímã.
— Faz tantos anos que Raquel foi embora, pode parecer imaturo, mas a ferida não cicatrizou... — Sinto dor só de tocar no assunto.
As paredes claras me espremem a medida que as batidas aceleram, o suor das mãos as torna escorregadias e geladas, e a cabeça dói — surgem pontadas irritantes num lugar específico.
— Fui indelicado, idiota... Grosseiro. Perdão. — Seu pedido é realmente sincero saído da voz que vai sumindo aos pouquinhos até virar um fiapo.
Evito olhá-lo.
— Está tudo bem. — Mentir virou hábito em minha vida.
Lucien se aproxima casualmente.
— Não, não está tudo bem Violet. — Concretiza analisando meticulosamente minha expressão que certamente está péssima.
Massageio as têmporas apoiando os cotovelos sob a mesa escura.
Parece que a qualquer momento este teto vai desabar sobre mim.
— A quanto tempo não dorme? Seus olhos... — É bem nítido notável as minhas olheiras enormes que a maquiagem não conseguiu disfarçar.
Quero fugir, chorar. Tirar de mim este sentimento ruim.
Sinto a mão de Lucien repousar sob meu ombro direito. Leve e firme.
— Tenho tido pesadelos horríveis desde que aconteceu... Acordo gritando, sem noção de que realidade vivo, com medo angústia e um vazio enorme. — Explico libertando o peso disto dentro de meu coração.
Sinto-me até mais livre. Liberta.
O espaço da sala parece menor entre nós agora.
— Se sente sozinha. — É uma convicção, parece que já conhece a sensação ou passou por isto.
Dirijo o rosto até ele e paro nos botões castanhos que me encaram fixos. Profundos.
— Paralisia no sono, a ansiedade de saber o que bem pela frente no dia seguinte... Tanta coisa. — Não vou relevar tudo, ainda não.
Lucien permanece calmo e misterioso.
Sua outra mão pega a minha que está na perna e entrelaça os dedos aos meus.
— Deixe-me ajudá-la. — Palavras tão sensíveis e boas, confortantes.
Nem tudo é o que parece ser...
Não preciso que ninguém pegue minha mão e depois solte pelo mundo desamparando... Como Raquel fez.
Meus pais fizeram. Inconscientemente, mas fizeram.
— Não quero que se dê ao trabalho. — Sem jeito. Lu se agacha um pouco ficando a minha altura.
Me fazendo olhar para ele sem tocar.
— Não é nenhum trabalho. Você precisa de ajuda. — Soam tão acolhedoras e compreensivas que são como uma cama quentinha e confortável.
Quero tocá-lo, de alguma forma doce — serena e profunda.
Não sou digna.
Mesmo depois de tudo que fiz, Lucien ainda insiste em me transformar... Fazer com que eu possa deixar que ele me entenda.
Será difícil esta missão.
— Como pode me ajudar? Já fez bastante. — Estou sendo sincera. Lucien tem seus próprios problemas para se preocupar comigo.
Ele retira a mão do meu ombro e passa nos meus cachos loiros bem devagar.
— Posso te escutar, suponho que é isto o que quer... É? — Uma vontade muito forte de chorar quase derruba meu instinto pose automaticamente confiante.
Sim, Lucien. Eu preciso desabafar.
Não tem mais aquele ódio estampado nas suas íris, agora tem o brilho da gentileza... Empatia.
Não entendo. Ainda continua aqui depois do que fiz. Por quê?
Me perco nas suas íris e quando vejo já estou quase tocando seu rosto com o meu próprio.
— Me conta... Sobre a Raquel, talvez assim se sinta melhor. — Sorrio desanimada ao perceber que é real... E não é ao mesmo tempo. Ele está aqui, mas não o tenho.
Desperdicei o tempo que poderia tê-lo. Como amigo.
━━━━━━━ ◆ ━━━━━━━
Antes da reunião, tenho fisioterapia e o que me deixa mais agoniada é ver o jeito que Lucien trata o doutor Goulart.
— Força Violet, se esforça um pouco mais. — Sua voz é rígida, mas ele é o médico aqui e sabe o que é melhor para mim.
Eric é um homem bonito eu admito, talvez futuramente possamos ter algo... Talvez.
Falta nele, o que têm em Lucien.
Só não sei descrever o que é esta coisa.
Encaro o loiro a minha frente e ele sorri gentilmente, me trazendo confiança.
Consigo dar mais um meio passo, é muito difícil e minha coluna dói pelo esforço feito.
— Você conseguiu, conseguiu Violet! — Ele se empolga com minha progressão e recebo um beijo rápido na bochecha. Finjo não ter mexido muito comigo, mas por dentro meu peito está ardendo... Eu gostei do seu toque.
Gosto de vê-lo se preocupar comigo.
Eric fingi não ver, não gosta muito da nossa proximidade pelo visto.
— Pode fazer alguns exercícios em casa, são leves e não exigiram tanto esforço. — Eric informa calmo e continua focado em segurar meu pulso e me ajudar a continuar.
Lucien torce o nariz reprovando, ele está com... Ciúmes?
— Vai à reunião comigo. — Questiono olhando para ele enquanto esforço para dar mais um avanço.
Meus pés não querem obedecer a meus comandos hoje.
O loiro vira para mim e sorri ainda incomodada com algo.
— Sim, só preciso ver minha família antes. — Estou dando alimentos e o gás a família dele por estes dois meses, não irá me fazer falta e eles são pessoas afetadas pela desigualdade. Não faço mais do que queria que fizessem por mim.
O celular dele toca e Lu atende, ouço a resmungona da Kate encher o ouvido dele de reclamações. Que possessiva ciumenta.
Fico até sem palavras vendo Lucien dar explicações a ela, todo nervoso e desconfortável. Um anjinho literalmente.
— Se continuar progredindo assim, não vai demorar muito para poder andar de muletas. — Goulart garante. Não vejo sinceridade nos seus olhos escuros.
— Não faça afirmações precipitadas porquê está com dó, não preciso de pena ou mentiras. — Eric desvia o olhar e fica em silêncio.
Odeio que tentem me iludir com mentiras só para agradar ou deixar mais feliz. Não sou uma criança e nem burra.
Sei muito bem que vai demorar muito, muito mesmo para conseguir mover o corpo sem a cadeira de rodas.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro