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18

𝑳𝒖𝒄𝒊𝒆𝒏.

Confesso que não sou tão atraente, nem muito menos sou cheio de modos excepcionais — todavia tenho educação e sou gentil sempre que posso.

Não costumo ficar irritado com facilidade, mantenho a calma... Agora situações como as de Tadeu e a da festa são bem difíceis de ser um anjinho amarrado na coleira.

Comporte-se e mantenha a postura.

Já ouvi meu pai dizer isto tantas vezes sobre eu estar diante de pessoas ricas e importantes. Não importa o que eu faça para me esforçar em ser refinado, devem me achar um selvagem.

— Lucien, onde está a Violet? — Ouço uma voz conhecida e uma mão robusta pousa no meu ombro sem pressão.

Unai.

— Está tomando café no refeitório. — Informo tirando o foco da planilha impressa nas minhas mãos.

— Vou viajar esta semana e pretendo ficar muito tempo por lá, preciso informá-la sobre algumas coisas. — Explica gentilmente e retira a mão do meu ombro.

Ele passa a mão sob os cabelos pretos e grossos, escorridos e sedosos.

— Vai viajar para onde? — Unai sorri parecendo gostar de responder à pergunta.

— Amazonas, vou para minha tribo. — Um sorriso justo toma sua face e os olhos se estreitam pouco, formando pés de galinha na lateral dos olhos.

Não deve ter mais que cinquenta anos.

— Pensei que morasse aqui... Tivesse nascido em São Paulo. — Unai nega num movimento sutil e ajeita o terno no peito largo e rústico.

É um homem bem revestido em massa muscular.

— Eu vim bem cedo para cá, mas não esqueci minha origem, nasci no Amazonas na mata, é meu lar lá. — A forma como menciona sua região é cheia de prazer e orgulho.

Não é para menos.

Se eu tivesse oportunidade, estaria num lugar tão bonito e em contato com os animais.

— Vou até ela, tchau Lucien. — Avisa agitado e vai se distanciando.

— Se cuida. — Respondo e ele acena sorrindo rápido, deixando o hall rumo ao elevador que dá até lá embaixo onde fica o refeitório.

O momento de ontem não sai da minha mente, sinto um borbulhamento só de sentir o toque dela — como se estivesse aqui e fazendo de novo.

Aqueles dedos macios, aquele perfume. Me deixam desnorteado só de pensar.

— Bom dia. — Levo um susto tão intenso que derrubo o papel das mãos.

É Kate.

Minha imaginação se misturou com a realidade. Melhor tomar cuidado.

Rapidamente pego os papéis e contemplo o sorriso fechado delicado dela.

— Bom dia. — Devolvo meio sem graça e dou um beijo na bochecha rosada dela.

Esta bem pouco movimentado aqui, menos do que antes às 9:00.

— Está muito ocupado? Queria conversar com você. — Sua mão alisa meu ombro descoberto, eu nego em resposta a sua pergunta.

— Pode ser em outro lugar? Violet pode não gostar de me ver sem fazer minha obrigação. — Kate parece desconfortável.

— Se importa com o que ela acha? — Sua incredulidade exige uma resposta óbvia.

"É claro, ela quem paga meu salário".

— Vem comigo. — Pede pegando minha mão e me conduz até os fundos do hall.

O brilho das janelas vai se dissipando até que chegamos a uma pequena porta de madeira, é um armazém que contém estantes cheias de livros e caixas com documentos.

Escuro exceto pela luz do interruptor perto da porta, cheira a naftalina.

— O que queria me dizer? — Pergunto esperando que ela feche a porta.

Kate vem se aproximando sorrateira, exalando malícia.

Não sei se sou inocente ou burro em não perceber...

No espaço estreito e sufocante entre nós, Kate cola seu corpo ao meu e me beija.

Seus dedos seguram a gola da minha camisa a me puxando para si.

Coloco minhas mãos na sua cintura e pressionou os dedos no quadril.

— Acredito que isto já diz o suficiente. — Kate sussurra em meio a dança dos nossos lábios, sinto aquele calor subindo... Mas não é como o que Violet causou.

Violet, por que tenho que pensa nela justo agora?

— Kate, Kate... — Travo quando sua mão vai de encontro a meu membro por cima da calça.

Não é o momento, aqui não. Não agora.

— O que foi? Não quer? — Sussurra distribuindo beijos em meu pescoço e certamente deixando marcas de batom bem exatas na região.

Não sinto mais a vontade que tive a segundos atrás, quero sair daqui.

Sem ser grosseiro, afasto o corpo dela e acaricio seus braços descendo e subindo.

— Não posso... Desculpe. — Kate apenas balança a cabeça sutil e sorri desanimada.

— Tudo bem. — Profere abaixando o olhar e deixa os braços caírem nas laterais do corpo, frustrada.

Saio do armazém sem dizer mais nada.

— Lucien. — Ouço a voz carregada na irritação.

Sigo na direção do som e dou de frente com Violet, desta vez não caí em cima dela pelo menos.

— Estou aqui. — Faço presença e me aproximo. Violet verifica as unhas impecáveis e suspira enraivecida.

Feito um gato com aquela visão analisadora, Violet mede de cima a baixo minha extensão corporal.

— Onde você estava? — Seu olhar indecifrável para no meu pescoço.

— Estava bebendo água. — Invento a mentira mais esfarrapada que já contei.

— O bebedouro te deixou marcas. — Diz bem baixo e eu finjo não escutar.

A vergonha meu pai.

— Do que precisa? — Violet virou o rosto, como se estivesse decepcionada com alguma questão que não consegue resolver. Buscando respostas.

Eu disse algo errado? Não, só menti, mentir não é errado... Quer dizer, ocultar a verdade.

A abelha rainha não me pediu a verdade, e sim uma resposta.

Lucien: 1

Violet: 0

Isto é tão idiota. Montar um placar na minha cabeça.

— Ei. — A loira repreende, devo ter perdido mais um três chamados dela.

— Preciso que marque uma consulta para mim por favor. — Antes que eu diga a dúvida que tenho, a figura feminina forte aparece.

— Por que descontou o dia de atestado que eu dei. — Branca de neve está realmente furiosa, prestes a voar na Cinderela eu diria.

Disney corre aqui.

Violet se vira devagar e provocativa, mantendo a serenidade.

— Querida, você sabe que atestado não é folga. — A loira diz com desdém — porém com convicção.

Kate fecha as mãos, como se fosse se preparar para socar Violet.

— Sabe muito bem que atestado não justifica descontar salário, ou você se faz de burra Violet. — Kate dispara, se segurando para manter o respeito e a voz normal.

Violet coloca o cotovelo sob o metal da cadeira e os dedos indicadores servindo de apoio ao maxilar delicado.

— Penso que você está muito exaltada querida, tome um pouco de água... ou entre em um armazém com um dos funcionários. — Foi uma provocação, Violet viu nós dois.

Mesmo assim, não lhe dá o direito de pôr na fogueira a compostura da Kate.

Kate ergue a mão, mas antes de desferir um tapa no rosto perfeito da loira, eu impeço me colocando ao seu lado e segurando seu pulso no alto.

Violet parece não ter se tocado do que viria, mas ainda sim, esperava alguma reação do tipo.

Silenciosa.

— Kate, por favor. — Peço que venha comigo, olhando seu rosto que ferve agora de raiva.

— Acho melhor ir com ele. — Outra provocação sugestiva, com o ar de quem não tem nada a perder. Violet manda e desmanda. ABELHA RAINHA.

— E eu acho melhor você ir para o inferno. — Kate fala sem gaguejar, para que a chefe escute mesmo.

Ao que parece não escutou, pois, continua posicionada silenciosa como se estivesse num trono.

Acima das suas abelhas, reinando sob o Império que construiu.

Levo-a para longe a fazendo dar as costas a Cinderela do mal.

Os apelidos são ridículos, mas combinam tanto.

— Vadia. — Dispara Kate enquanto caminhamos rumo à saída, em direção à rua.

Não posso dizer nada a respeito, pois, Violet é ardilosa e muito errada em fazer tal coisa.

Por que sempre tem que agir assim? Mostrar que é imbatível, que ninguém pode contestar pelo seu poder. Que coisa odiosa.

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