13
༆𝙻𝚞𝚌𝚒𝚎𝚗༆
Queria poder dizer a Kate que o seu esforço em convencer Violet (que por puro capricho não me deu a vaga) a me dar uma segunda chance, foi em vão.
Queria me desculpar por tê-la feito ter que fazer isto.
Como Violet ainda não chegou, vim até a Gaia para pegar algumas coisas do escritório que eu tinha.
— O que está fazendo? — Ouço a voz doce e aveludada.
— Estou indo embora, pedi demissão literalmente. — Informo me virando para ela e jogando algo na caixa que estou usando para guardar as coisas.
Os olhos pretos de Kate me encaram.
— Sinto muito... Ninguém consegue suportar Violet por muito tempo. — Sorrio achando engraçado seu jeito de falar.
— Não sei como você consegue... Depois do que vivenciei. — Kate se aproxima devagar, fazendo seus saltos fazerem barulho contra o piso.
Sinto seu perfume invadir meu nariz.
— Você é uma pessoa honesta, lutador... Vai conseguir outro emprego... Digno de ti. — As palavras soam como um conselho poético... Confiante em mim.
Largo a caixa sob a mesa e me aproximo pegando suas mãos pálidas e delicadas.
— Você foi um anjo, obrigado Kate. — Agradeço de todo o coração e seguro a ponta do seu queixo delicadamente.
O mundo para nos olhos dela e a tensão diminui.
Dou-lhe um beijo, calmo e harmonioso.
Kate reage na mesma intensidade.
A feição de um anjo. Ela sim, é um anjo.
Exala calma e doçura. Generosidade e empatia.
Meus lábios se desprendem dos seus e deixo os olhos fechados por segundos antes de deixar de apreciar o beijo intenso que tivemos.
Observo os traços delicados do seu rosto e deslizo o dedo por seu nariz delicadamente.
— Então... Te vejo por aí. — Minha voz vai sumindo a medida que falo, Kate me observa com uma chateação no olhar.
Infelizmente não vou mais ficar aqui.
Quando cruzo a porta, vejo ela acenando levemente e devolvo, saindo de vez da empresa.
Vou ir até meu pai e ver se ele precisa de algo.
☾︎☽︎
Pouco depois.
Vim de ônibus mesmo, minha vó me recebeu.
— Vão cortar a luz, filhinho. — Diz ela triste e me abraça, inclino um pouco o corpo para abraçá-la por estar já com a coluna comprometida pela idade.
Suas mãos acariciam minhas costas e eu me sinto confortável como se estivesse num berço.
— Eu vou dar um jeitinho vó, não se preocupa, confia em mim. — Asseguro mesmo sabendo que isto não pode ser verdade amanhã... Posso não conseguir dinheiro e cortarem a luz deles.
Só quero que ela fique tranquila, com a idade, está fraquinha e tudo que eu menos quero é que ela tenha um infarto.
A casa é apertada e escura, as janelas têm cortinas escuras, os móveis de madeira bem velhos, mas tudo organizado.
Eles sempre foram bem limpos e organizados.
Tem a sala que é onde entramos, depois a cozinha e o quarto onde eles dormem ao lado.
É um barraco literalmente, mas está preservado apesar das chuvas fortes.
Eu estava juntando dinheiro para dar-lhes uma casa decente... Ofereci um aluguel, mas eles negaram. Por que se não pagar o aluguel, você será despejado sem pensar duas vezes e a pessoa passará para frente a casa, e eles iriam parar na rua.
Poderia levá-los para meu apartamento, mas mal cabe eu.
— Querido, quer café? Fiz agora. — Sorrio ao ver seu carinho por mim.
Sento no sofá, não escuto muitos sons pela casa. Meu pai deve estar dormindo.
— Como ele está? — Pergunto baixinho enquanto espero que ela pegue o café na cozinha pouco a frente.
— Os remédios amenizaram, mas ele ainda está com dor. — Responde vindo com a xícara em mãos e me entrega.
— E a senhora? A pressão continua alta? — Bebo um pouco do café após perguntar.
Eulália senta do meu lado no sofá marrom.
— Sim, eu tenho feito uma dieta, evitado coisas gordurosas e fritura... Mas não adiantou muito. — A frustração na sua voz é dolorosa. Sinto os olhos encherem de lágrimas e bebo mais café para disfarçar. Não quero chorar na frente dela.
— Assim que eu tiver um tempinho vou levá-la em uma consulta dona Eulália. — Não estou mentindo, sempre que posso a levo às consultas com cardiologista e entre outros médicos.
Um sorriso fofo surge nos lábios finos dela.
O rostinho enrugado fica mais corado.
— Obrigada meu filho, você é uma benção. — Sorrio para a velhinha doce ao meu lado e bebo mais café, preciso evitar ao máximo deixar as lágrimas escorrerem.
Queria poder dar tudo do melhor a eles. Estou correndo atrás de todos os meios possíveis para conseguir dinheiro.
Eu receberia o salário em dias se não tivesse discutido com Violet... Estou me arrependendo disto. Foi egoísmo da minha parte não ter pensado neles quando fiz aquilo.
Só não consegui aceitar que a ricaça me humilhasse daquele jeito.
Perrapado.
Eu ainda sou um perrapado para ela, sempre fui.
Violet não precisa de mim, pode achar um novo ou nova funcionária piscando.
— Ainda está trabalhando com a ricaça? A Maldonado. — Seu olhar é evidentemente esperançoso... Eu disse a ela, e não posso dizer agora que pedi demissão.
A xícara começa a tremer nas minhas mãos e eu a apoio sob a perna, para que ela não perceba.
— Sim, vó, está indo tudo bem. — Respondo colocando meu melhor sorriso no rosto.
Meu coração gela por segundos... Minha vó não percebeu que é mentira.
Não vou contar até arrumar outro emprego.
Hoje a noite tem outra luta, apostaram em mim e ganharei uns 500 reais se contei bem.
Não me importo com a dor passageira e os vários hematomas... Ficarei sem vê-los tempo suficiente para eles sumirem.
— Eu fiz uma blusa para você, não está frio, mas vai fazer, e essas roupas vagabundas que você compra não vão esquentar. — Minha vó fala com desdém das roupas que eu costumo usar, mas tem razão. Não protegem do frio.
Eulália sai animada e anda devagar até o quarto onde pega com cuidado um embrulho transparente que contém uma blusa de tricô azul escura.
— Obrigado, vó. — Agradeço pegando a blusa e tirando do embrulho desejando ver. Tem um cheiro bom e está bem limpa.
— É simples, mas de coração. — O tecido é quentinho, vai me proteger do frio.
Coisas de vó.
— Não tem mais linha? Vó...
Ela poderia ter gasto em uma encomenda — todavia preferiu fazer uma blusa para mim.
— Fica tranquilo querido, se eu tiver encomendas dou um jeitinho de conseguir mais.
— Agora me responde uma coisa. — Resmungo que sim dobrando a blusa pra colocar no plástico de novo.
Eulália faz expressão de desconfiança e pisca forte.
— Por que quando você chegou aqui, sua boca estava borrada de batom? — Uma quentura sobe no meu rosto e eu quase viro uma panela de pressão.
Que vergonha.
— É... Foi uma moça que conheci. — Devolvo envergonhado.
Eulália dá risada.
— Eu imaginei... Você é um rapaz tão bonito filho, jovem, deveria arrumar uma namorada mais pra frente. — Sei que seu tom animado é contraste com o fato dela querer ter netos e uma nora.
Eulália é uma mãe para mim.
— Ah! Vó, eu até penso na ideia... Mas não tenho tempo.
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