Após o transcurso de dois dias, nenhum sinal dos terráqueos foi detectado. Os delinquentes, em sua busca por uma resposta, engendraram um plano que envolvia a detonação controlada de uma ponte, não com o intuito de causar danos significativos, mas sim de emitir um aviso enérgico aos terráqueos.

A estratégia, meticulosamente concebida, parece ter alcançado seu propósito, resultando na aparente falta de reação por parte dos terráqueos.

Olivia permanecia imóvel do lado de fora do acampamento, seu olhar perdido no horizonte distante. Um suspiro profundo escapou de seus lábios, uma tentativa silenciosa de absorver a sensação reconfortante de respirar o ar puro da Terra. A realidade da presença deles naquele lugar ainda não se assentara completamente em sua mente, uma verdade difícil de aceitar.

A jovem lançou um breve olhar de soslaio quando Bellamy se aproximou, o silêncio pairando entre eles. O rapaz deteve-se ao seu lado, soltando um suspiro carregado de significado. Num instante, Olivia virou-se para encará-lo.

— Não deveria estar aqui fora sozinha, princesa — proferiu o rapaz, dando de ombros, enquanto seus olhos encontravam os dela em um elo silencioso. — Algum sinal dos terráqueos?

Olivia balançou a cabeça em negação, a ausência de sinais dos terráqueos a deixava inquieta.

— Já se passaram dois dias — pronunciou a morena após um breve período de silêncio, cruzando os braços e franziu o cenho ao esquadrinhar as árvores ao redor — Pode ser que a explosão os tenha afastado.

Bellamy franziu o cenho, observando os olhos distantes da garota e sua expressão distraída.

— Você realmente acredita nisso? — ele indagou, buscando entender sua perspectiva.

— Sinceramente? Não — ela afirmou, dando de ombros e desfazendo o cruzamento dos braços. — Mas uma garota pode sonhar. E eu sei que eles virão — acrescentou, deixando escapar um sorriso inseguro ao voltar sua atenção para o garoto ao seu lado.

Bellamy assentiu com a cabeça, demonstrando sua compreensão e concordância com as palavras da garota.

— Jasper conversou com Raven, e ele acredita que podem preparar mais pólvora. — retomou Bellamy, inclinando a cabeça em direção ao acampamento, indicando implicitamente que era hora de retornarem — Raven disse que pode montar minas terrestres. Portanto, tenha cuidado onde pisa, princesa. — alertou, preocupado com a segurança da garota.

Olivia captou a mensagem de Bellamy e seguiu-o pelo caminho de volta ao acampamento, mas a conversa entre os dois continuou.

— Pode ficar tranquilo, pistoleiro, você não vai se livrar de mim — brincou Olivia, lançando um olhar divertido na direção de Bellamy, mesmo que ele estivesse à frente dela.

Um sorriso amplo se formou nos lábios de Bellamy, revelando sua satisfação diante da leveza da conversa, embora permanecesse invisível aos olhos de Olivia.

— Que bom, não estava nos meus planos — retrucou Bellamy com uma risada suave, acompanhando Olivia até o acampamento.

Ao chegarem lá, Bellamy soltou uma piscadela na direção dela antes de retomar o tom sério.

— O que realmente está nos meus planos são mais mil das bombas de lata, para lançarmos no campo dos terrestres, e mandá-los direto para o inferno. — declarou ele, deixando claro seu determinado plano de ação.

— Você realmente acredita que pessoas que sobreviveram a um apocalipse nuclear vão sucumbir diante de um grupo de delinquentes? — Olivia questionou, franzindo a testa com ceticismo diante da estratégia proposta por Bellamy.

Bellamy deu de ombros, adotando uma expressão determinada nos lábios, como se já tivesse convencido a si mesmo da validade de sua estratégia, mesmo diante das dúvidas expressas por Olivia.

— Recebemos alguma notícia da Arca? — Bellamy perguntou, tentando abordar o assunto com delicadeza.

Ele sabia que Olivia não havia mencionado nada sobre seu pai a ninguém, e essa falta de comunicação o preocupava. Até então, ele havia evitado tocar no assunto, mas sentia que era hora de abordá-lo.

— Não, nada — respondeu Olivia de forma breve, sua voz revelando uma leve tensão. Ela sentiu suas mãos começarem a suar frio ao relembrar os eventos passados. — Provavelmente estão se preparando para o próximo lançamento da nave, não é? — acrescentou, tentando desviar o foco do desconforto causado pela ausência de notícias da Arca.

Bellamy assentiu com a cabeça, compreendendo a necessidade de tranquilizar Olivia diante da incerteza que pairava sobre eles.

Ele se sentia impotente diante da situação, sem saber exatamente o que dizer ou fazer para ajudá-la. No entanto, ele permanecia ao seu lado, sua simples presença já era reconfortante para ela, mesmo que ele não estivesse ciente disso.

Poucas horas se passaram desde a conversa dos dois, quando o acampamento foi subitamente tomado por gritos de alarme. O som estridente do fogo se alastrando ecoava no ar, anunciando o desastre iminente.

Olivia, concentrada em afiar suas flechas, foi abruptamente interrompida pelo caos que se desencadeava. Rapidamente, ficou claro que a casa de defumação, onde armazenavam sua preciosa comida, estava sendo consumida pelas chamas vorazes.

Bellamy correu para o lado de sua irmã, Octavia, que emergiu tossindo da casa quase envolta em fumaça. Atrás dela, surgiu John Murphy, imediatamente envolvido em uma briga acalorada com um dos delinquentes próximos. O garoto, visivelmente frustrado, havia sido acusado pelo delinquente de ser o responsável pelo incêndio, desencadeando uma troca de palavras e golpes entre eles.

Bellamy rapidamente interveio, posicionando-se entre os dois delinquentes em conflito e dissipando a briga iminente. Gritos exasperados foram direcionados a Murphy e ao outro delinquente, enquanto a tensão no acampamento continuava a crescer.

— Bell, o que vamos fazer? — Octavia perguntou, sua expressão desolada refletindo tristeza e desespero — Esta era toda a comida que tínhamos. — a gravidade da situação pesava sobre eles enquanto confrontavam a realidade de perderem seu suprimento crucial de alimentos.

Bellamy passou a mão direita pelo rosto, sentindo o peso do desespero que se abatia sobre eles. Ele bufou, sua frustração transparecendo em cada gesto. Não havia solução imediata à vista; perderam tudo em questão de dois dias.

O que antes parecia um problema secundário agora se revelava como uma ameaça iminente - a falta de alimentos talvez se tornasse o maior desafio que enfrentariam. O temor de que, se os terrestres não os matassem, a fome certamente o faria, começava a se instalar em suas mentes.

Com o trabalho árduo de alguns dos delinquentes, o fogo já estava apagado. Olivia avistou Bellamy agachado perto dos destroços carbonizados e se aproximou dele, colocando-se ao lado do garoto enquanto observava a cena. Bellamy levantou sua cabeça em seguida, seus olhos encontrando os dela em um momento de silenciosa comunicação entre os dois.

— Alguma pista do que aconteceu? — Olivia perguntou, desviando seu olhar para o chão, onde agora jaziam apenas cinzas e os restos do que antes eram seus alimentos. A incerteza pairava no ar, e ela buscava desesperadamente por qualquer indício que pudesse explicar a tragédia que se abatera sobre eles.

— Murphy diz que Del continuou alimentando o fogo, principalmente porque Octavia disse que era má ideia — explicou Bellamy, sua expressão gradualmente se transformando em uma expressão de dúvida enquanto tentava compreender o motivo por trás do incidente.

— E acreditamos em Murphy? — Olivia perguntou, suas sobrancelhas se juntaram em uma expressão de confusão.

— Você não acredita? — ele questionou, erguendo-se. Seus braços fortes se cruzaram sobre o peito, enquanto ele adotava uma expressão séria.

— Não — respondeu Olivia, estranhando a atitude do garoto. Sua resposta foi direta e refletia a hesitação em confiar nas palavras de Murphy.

— Bom, eu acredito, sim — afirmou Bellamy, dando de ombros enquanto descruzava os braços e deixava-os baterem contra as laterais do corpo. Sua confiança nas palavras de Murphy era evidente em sua postura descontraída.

— Enfim, dei uma olhada na nave — disse Olivia, ignorando a atitude de Bellamy e balançando a cabeça levemente — Temos cebolas e castanhas. É suficiente apenas para uma ou, no máximo, duas semanas. — sua voz carregava um tom preocupado, consciente das limitações dos recursos que tinham à disposição.

Bellamy suspirou alto, sentindo a frustração aumentar dentro de si. A perspectiva de ter que sair em busca de comida enquanto estavam envolvidos em uma guerra com os terráqueos era uma preocupação constante e angustiante.

— O que sobrou aqui? — Olivia perguntou, já antecipando que a resposta seria desanimadora.

— Nada. Está tudo queimado — respondeu Bellamy, desviando o olhar para o chão. A gravidade da situação pesava sobre ele enquanto enfrentava a realidade da devastação ao seu redor.

— Então, teremos que caçar — afirmou Olivia, cruzando os braços e respirando fundo, uma expressão determinada em seu rosto. Ela compreendia os perigos envolvidos, mas sabia que era a única opção viável diante da escassez de alimentos.

Bellamy voltou seu olhar para a garota, preocupação evidente em seus olhos. Ele observou com apreensão as ações impulsivas de Olivia, consciente do motivo por trás delas. Sabia que ela estava agindo no automático, e isso o deixava aflito com a ideia de que ela poderia se colocar em perigo.

— Qualquer um que possa ser dispensado vai — ela falou por fim. Antes de sair do local, Bellamy agarrou o braço dela, fazendo com que a garota olhasse para ele.

— Com todo o exército terráqueo lá fora? — ele perguntou, sua voz alterada, com um tom que antes nunca tinha sido direcionado a Olivia. A preocupação e a tensão na situação refletiam-se em sua expressão e em suas palavras.

— Já pensou em como vamos nos defender se estivermos morrendo de fome? — indagou ela, com autoridade, soltando seu braço do firme aperto de Bellamy. Sua expressão refletia uma mescla de determinação e aflição ante a urgência da situação.

Bellamy se calou, reconhecendo a veracidade das palavras de Olivia, as quais ele não podia refutar. Engolindo em seco, seus olhos vagaram pelo rosto dela. Ele ficava impressionado com a maneira como seu rosto mantinha uma aura angelical, mesmo em meio à irritação. Um pequeno sorriso surgiu nos lábios de Bellamy, mas logo se dissipou.

— Está certa — ele admitiu. A garota, embora já soubesse disso, relaxou os ombros ao ouvir as palavras do moreno — Vamos escolher os grupos. — a determinação retornava ao semblante de Olivia enquanto eles se preparavam para organizar a busca por comida, enfrentando juntos os desafios que se apresentavam à sua frente.