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──── Instanciação Perversa – Parte 1

Bellamy afastou suavemente os fios de cabelo que voavam contra o rosto de Olivia. Ela estava sentada no banco do motorista do Rover, o olhar perdido no horizonte salpicado pela espuma do mar. Ainda estavam presos àquele pedaço isolado de praia. Bellamy havia se encarregado de carregar a bateria do veículo.

Sem Luna, estavam à deriva. A missão, já quase impossível, parecia agora uma sentença. Não havia outro Sangue da Noite à vista, nenhuma alternativa clara.

Olivia fechou os olhos, inspirando fundo como se pudesse reorganizar os próprios pensamentos. Quando os abriu novamente, seus olhos encontraram os de Bellamy, que a observava com um sorriso fraco, quase tímido. Era desconcertante como as coisas entre eles haviam mudado.

Ela jamais imaginara que Bellamy, o falso guarda que tanto a irritara nos primeiros dias, acabaria ao seu lado. Amigo. Confidente. Um porto seguro em meio ao caos. Antes, tudo o que sentia por ele era pura irritação, mas, agora, olhando para os olhos escuros e intensos dele, sabia que aquilo tinha mudado. Não era apenas irritação. Não era apenas afeto.

— Você está bem? — perguntou ele, a voz suave, quase hesitante, enquanto retirava a mão do rosto dela e deixava o braço cair ao lado do corpo.

Olivia sorriu de leve, os lábios curvados em uma linha tênue, quase imperceptível. Piscou devagar antes de assentir.

— Estou. E você?

— Considerando as circunstâncias, estou bem — respondeu ele, erguendo as sobrancelhas em uma tentativa de leveza.

Seus olhos se voltaram para o teto do veículo, e ele esfregou as mãos antes de coçar a garganta, chamando a atenção de todos com um tom mais firme.

— O veículo está quase carregado. Vamos nos aprontar. Logo estaremos em casa.

Mais adiante, Octavia e Jasper estavam distraídos com alguma coisa desinteressante, enquanto Clarke andava de um lado para o outro, o rosto tenso. Seus passos ecoavam na areia, e sua voz cortou o ar como uma lâmina.

— E então? Vamos fugir? — indagou Clarke, arqueando as sobrancelhas.

Bellamy e Olivia trocaram um olhar rápido, cúmplices, antes de ele se afastar do veículo e posicionar as mãos nos quadris.

— Não vamos fugir, Clarke. Vamos nos reunir com os outros e encontrar outro modo de derrotar...

— Não há outro modo! — interrompeu Clarke, os olhos faiscando. — Precisamos de outro Sangue da Noite.

Olivia franziu as sobrancelhas, exausta, e se levantou do Rover. Caminhou até ficar ao lado de Bellamy, enquanto Octavia, abanando a cabeça, também se aproximava.

— Temos que desbloquear a Chama. É a única forma de deter Alie — insistiu Clarke, categórica.

— E o que espera que façamos, Clarke? — Jasper retrucou, entediado, a voz carregada de sarcasmo. — Vasculhar aldeias em busca de um Sangue da Noite?

— Se for preciso! — Clarke respondeu, os lábios apertados.

— Não, Clarke — Octavia a cortou, firme. — Se Alie nos encontrou na plataforma de Luna, nos encontrará em qualquer lugar.

Olivia assentiu com a cabeça, o maxilar travado.

— Octavia tem razão — sua voz saiu firme, mas carregada de cansaço. — Não vamos ajudá-la a destruir outra aldeia inocente de terráqueos.

Bellamy ergueu a mão instintivamente, tocando de leve as costas de Olivia. O gesto foi quase inconsciente, um reflexo de preocupação ou talvez uma tentativa de confortá-la. Ela não reagiu, mas o calor do toque parecia falar mais alto do que qualquer palavra.

— Se não encontrarmos um Sangue da Noite, não restarão aldeias de terráqueos — Clarke rebateu, a voz grave. Ela engoliu em seco, franzindo a testa antes de lançar um olhar incisivo para Bellamy e Olivia. — Nem um lar para onde voltar.

— É por isso mesmo que precisamos verificar se nossos amigos estão bem — respondeu Bellamy, a voz firme, encerrando o assunto.

O olhar de Clarke percorreu os rostos de cada um ali, detendo-se por breves instantes em cada amigo. Um a um, ela percebeu a verdade dura: ninguém estava ao seu lado. Nenhum deles concordava com seu plano. Era como um golpe, mas não havia tempo para lamentar. Tinham feito tudo o que podiam com Luna. Agora, precisavam seguir em frente.

Clarke baixou a cabeça, os ombros pesados, os olhos fixos nos próprios pés como se procurasse respostas na areia. Então, sem dizer uma palavra, começou a se afastar. Seus passos a levaram em direção à linha escura da floresta que se erguia a poucos metros dali, um contraste frio contra o céu cinzento.

Olivia, que observava em silêncio, virou o pescoço em direção à loira, seu rosto se contraindo em uma expressão de preocupação. Sabia que momentos como aquele testavam mais do que a resistência física — testavam os laços, as diferenças e os limites de cada um.

Entender Clarke era fácil. Entender Octavia, também. O problema era que Olivia compreendia todos ali. Via o mundo pelas lentes de cada um e, no processo, sentia o peso da própria neutralidade. Mas havia uma linha clara que ela não podia ignorar: a diferença entre fazer o necessário para sobreviver e cruzar o limite em um desespero que acabaria custando mais vidas.

— Ela vai ficar bem. Só precisa de um tempo para se acalmar — disse Jasper, rompendo o silêncio com um tom monótono, arrastado pelo cansaço.

Bellamy pressionou os lábios em uma linha fina, balançando a cabeça em negação. Ele sabia que não era tão simples assim, mas não disse nada. Sem mais discussões, ele e Octavia se moveram em direção ao veículo, ocupando-se em organizar as coisas que precisavam levar.

O olhar de Olivia pousou em Jasper, e por um instante, nenhuma palavra foi dita. Mas o silêncio entre eles dizia mais do que qualquer conversa poderia. O moreno balançou a cabeça levemente, entendendo o que a expressão dela transmitia: preocupação com Clarke. Apesar de tudo, Olivia sabia que não era seguro deixá-la sozinha. Clarke estava vulnerável, e naquele momento, qualquer separação era um risco que não podiam se dar ao luxo de correr.

— Não vale a pena ir atrás dela, Liv — argumentou Jasper, com um tom de resignação. Ele deu de ombros, tentando minimizar a tensão. — Ela sabe se cuidar. Sempre soube.

Olivia sacudiu a cabeça em negação, uma resposta silenciosa e carregada de frustração. Ela sabia que Jasper estava errado. Clarke podia ser forte, mas até os mais fortes quebravam quando o peso do mundo recaía sobre eles. Suspirando fundo, ela se virou.

— Bellamy — chamou, sua voz firme, mas contida.

Bellamy ergueu o olhar imediatamente, girando o pescoço na direção dela. Sua expressão carregava uma mistura de alerta e curiosidade, as sobrancelhas levemente arqueadas, como se já soubesse que havia algo importante por trás daquele tom. Olivia inclinou a cabeça em direção à floresta, indicando o caminho por onde Clarke havia desaparecido.

— Vem comigo.

[...]

A floresta estava silenciosa, exceto pelo som de galhos secos quebrando sob os pés de Bellamy e Olivia. Não havia muito a dizer em meio àquele vazio opressivo, e ambos caminhavam em um ritmo calculado, o silêncio sendo interrompido apenas pelo farfalhar ocasional das folhas ao vento. Bellamy havia aceitado o convite de Olivia sem questionar. Agora, seguiam juntos, a alguns metros de distância de Clarke, que caminhava à frente, longe o suficiente para não perceber que era seguida.

O silêncio entre eles parecia carregar mais peso do que qualquer conversa. Bellamy coçou a garganta, sua expressão franzindo por alguns segundos enquanto um pensamento o consumia. A tensão no ar não vinha apenas da missão ou do cansaço; havia algo mais, algo que o incomodava profundamente.

— Você acha que Octavia vai me odiar para sempre? — perguntou ele, a voz baixa, quase um sussurro.

Olivia, focada em onde pisava, torceu o nariz de leve antes de erguer o queixo, lançando-lhe um olhar de soslaio.

— Você é a família dela, Bellamy. Ela não te odeia — respondeu, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

Bellamy franziu os lábios, um suspiro escapando antes que pudesse segurá-lo.

— Não. Eu quero saber se, algum dia, ela vai me perdoar, Liv.

Foi o suficiente para fazer Olivia parar de andar. Ela congelou no lugar, tão de repente que Bellamy, surpreso, parou logo atrás dela, franzindo a testa. O silêncio entre eles se tornou ainda mais pesado.

— O que foi? — perguntou ele, desconfiado.

Olivia virou-se para encará-lo, sua expressão séria, mas com um brilho de compreensão nos olhos.

— Ela vai te perdoar, é claro que vai — respondeu com firmeza, mas sem pressa, como quem ponderava cada palavra. — Mas como eu já disse, não vai ser agora. Vai demorar. E você sabe disso. Ela está com raiva, e tem todo o direito. Nós dois sabemos disso.

Bellamy permaneceu em silêncio, mas algo em seu olhar parecia implorar por mais respostas, mais certezas. Olivia respirou fundo, sua expressão suavizando enquanto buscava as palavras certas.

— É no tempo dela, Bellamy. Perdão não é algo simples, muito menos rápido. E esquecer... bom, esquecer será ainda mais difícil. Mas você precisa entender que isso não está no seu controle. Não adianta gastar energia pensando em algo que só ela pode decidir.

As palavras pairaram entre eles, carregadas de uma verdade que Bellamy sabia ser inegável. Perdão, como muitos acreditavam, era quase divino — algo que trazia leveza e paz à alma. Mas, para Octavia, o perdão não parecia nem divino, nem simples. Não quando seu irmão havia apoiado o tipo de regime que tirou tudo dela, até mesmo o homem que amava.

Olivia encarou Bellamy por mais alguns segundos antes de voltar a caminhar, mais devagar agora, como se quisesse deixar que ele digerisse suas palavras.

O silêncio, tão desejado e raro, foi interrompido abruptamente. Enquanto caminhavam, Olivia franziu a testa ao captar vozes à frente. Clarke... e alguém mais. Alguém desconhecido. Ela virou-se para Bellamy, que, em um movimento instintivo, sacou a pistola de sua cintura. Ele inclinou a cabeça em direção a Olivia, um gesto claro para que ela permanecesse atrás dele.

Olivia obedeceu, seu corpo tenso enquanto seguiam os sons com passos lentos e calculados. Quando se aproximaram, a cena ficou clara. Havia um homem alto, com uma mochila de flechas pendurada nas costas e um arco firme em uma das mãos. Ele estava ao lado de Clarke, cuja respiração estava irregular, denunciando o nervosismo. Eles discutiam algo, as palavras indo e vindo rápido demais para Olivia captar tudo, mas a menção à chama fez seu estômago revirar. O homem parecia determinado a não devolvê-la a Clarke.

Sem hesitar, Bellamy avançou, interrompendo a conversa com firmeza.

— O que estava dizendo? — sua voz soou autoritária enquanto ele mantinha a pistola apontada. O movimento foi preciso, calculado. Clarke e o homem se voltaram para ele no mesmo instante. — Mãos ao alto.

Olivia, mantendo a atenção fixa no estranho, aproximou-se de Clarke com passos cautelosos. Seu olhar oscilava entre a loira e o homem, cada movimento seu estrategicamente calculado. Bellamy avançou mais alguns passos, a arma ainda focada no alvo.

— Você está bem? — Olivia perguntou suavemente para Clarke, mantendo a voz baixa, mas carregada de preocupação.

— Estou — respondeu Clarke, oferecendo um sorriso fraco, breve.

Bellamy interrompeu qualquer outra troca de palavras, seu tom curto e direto.

— Então vamos. — Ele olhou para o homem com desconfiança, sua postura rígida, o dedo tenso no gatilho.

Mas Clarke foi rápida em responder, a firmeza voltando à sua voz.

— Ele vem com a gente.

Olivia franziu as sobrancelhas quase imediatamente, como se a ideia fosse absurda.

— Não mesmo! — rebateu Bellamy sem sequer disfarçar sua desconfiança.

O homem, aparentemente indiferente à tensão, também franziu o rosto, sua expressão uma mistura de ceticismo e irritação.

— Por que eu faria isso? — perguntou, o tom seco e desafiador.

Clarke virou-se lentamente em sua direção, o olhar calculado e decidido.

— Porque nós dois queremos a mesma coisa: colocar a chama em Ontari.

Houve um momento de silêncio, um instante pesado em que Bellamy e Olivia trocaram olhares rápidos, avaliando as implicações das palavras de Clarke. Finalmente, Olivia endireitou os ombros, ajustando sua postura como se tentasse se preparar para o que quer que viesse a seguir. Ela voltou seu olhar para o homem, analisando-o cuidadosamente.

— E como você sabe que ele não foi chipado? — perguntou Olivia, sem esconder o ceticismo em sua voz.

Clarke respondeu de imediato, a confiança em sua voz como uma lâmina afiada.

— Se ele tivesse sido, você acha que ele teria me salvado? — ela arqueou as sobrancelhas, desafiando qualquer dúvida.

Olivia mordeu levemente o lábio inferior, ponderando. Bellamy estalou os lábios, um som que expressava sua clara discordância. Ele balançou a cabeça, a expressão carregada de desconfiança.

— Ainda assim, temos que ter certeza.

Antes que Clarke ou Olivia pudessem reagir, Bellamy puxou o gatilho. O som do disparo ecoou pela floresta, e o homem rugiu de dor ao ser atingido no braço. Mas Bellamy não parou por aí.

Com movimentos rápidos, ele se aproximou e desferiu uma pancada firme na cabeça do estranho, derrubando-o no chão. O impacto foi forte o suficiente para deixá-lo inconsciente.

Houve um instante de silêncio absoluto.
Apenas o som da respiração pesada de Clarke e Olivia preenchia o ar. Olivia suspirou fundo, quebrando o silêncio com um comentário seco.

— Agora temos certeza — ela lançou um olhar para o homem caído no chão antes de erguer as sobrancelhas para Clarke. — Quem era esse, afinal?

Clarke desviou os olhos do homem no chão, encarando Olivia com um misto de seriedade e resignação.

— Roan, rei de Azgeda.

[...]

A noite havia caído completamente quando os portões da garagem de Arkadia se abriram, rangendo sob o peso do tempo e da urgência. O Roover entrou devagar, os pneus arrastando a areia acumulada na entrada. Assim que estacionaram, Olivia foi a primeira a sair, quase como se o confinamento dentro do veículo a sufocasse. Bellamy a seguiu de perto, com os outros logo atrás.

Raven estava esperando, a expressão aliviada se abrindo em um sorriso largo ao vê-los entrar. Sua voz ecoou pelo espaço com energia característica.

— Estávamos ficando preocupados! — exclamou, como se tudo estivesse bem. Ela, de fato, não fazia ideia do que havia acontecido.

Monty, Harper, Bryan e Miller também estavam presentes, postados ao lado dela. Mas o sorriso de Raven rapidamente se dissipou quando ela percebeu algo errado. Suas sobrancelhas se ergueram em desconfiança, a ausência de alguém evidente.

— Onde está Luna? — perguntou, a voz carregada de tensão.

Octavia foi rápida e direta, sua postura rígida e o tom breve.

— Luna recusou.

Enquanto os outros absorviam a informação, Olivia se afastou, o olhar vasculhando o espaço à procura de Violet. A inquietação em seus olhos era perceptível, mas ela não disse nada, deixando o diálogo seguir.

Foi Harper quem quebrou o silêncio com uma voz autoritária, apontando para a figura desconhecida entre eles.

— E quem diabos é esse?

Todos os olhares recaíram sobre Roan, o homem com a postura altiva, mesmo ferido. Um curativo improvisado cobria a ferida no braço onde o tiro o atingira, mas o pano firmemente amarrado ao redor de sua boca deixava claro que não estavam dispostos a correr riscos com ele.

Bryan, sempre desconfiado, travou o maxilar, a hostilidade visível em seu semblante.

— Ele é da Nação do Gelo.

Clarke, no entanto, deu um passo à frente, o olhar direto e o tom controlado, como quem já esperava a reação.

— Ele é o Rei da Nação do Gelo, na verdade. — Suas palavras caíram como uma pedra no ambiente. — E ele é a nossa passagem para Polis.

O silêncio foi cortado pela voz de Bellamy, que segurou firmemente o braço de Roan. Sua postura era rígida, mas carregada de sarcasmo enquanto ele o conduzia.

— Por aqui, vossa alteza. — Ele pronunciou as palavras com uma ironia afiada, seus olhos fixos em Roan — Vocês dois, me sigam.

Bryan e Miller seguiram Bellamy imediatamente, levando Roan em silêncio para um local onde ele não pudesse escapar. A tensão entre eles era palpável, mas ninguém disse nada enquanto desapareciam pelos corredores. Olivia, por outro lado, permaneceu onde estava, seus olhos recaindo sobre Raven. Aproximou-se da amiga com passos tranquilos, a voz baixa ao chamar sua atenção.

— Onde está Violet? — perguntou, com uma calma estudada.

Raven ergueu os olhos para Olivia, sua expressão neutra, antes de responder com clareza.

— Mostrei a ela o seu quarto. Não saiu de lá desde então.

Um quase imperceptível sorriso passou pelos lábios de Olivia, mais um gesto interno do que algo que pudesse ser visto. Ela assentiu, agradecendo com um movimento de cabeça antes de se virar e sair da garagem em direção aos dormitórios.

Os corredores de Arkadia estavam quietos, o eco de seus passos preenchendo o vazio. Era estranho caminhar por ali, onde tantos momentos de caos e sobrevivência haviam acontecido, mas o silêncio também carregava um peso de nostalgia. Quando criança, Olivia costumava vagar pelos corredores da Arca, escapando de seu quarto à noite para observar o pai. Ele sempre a flagrava, interrompendo suas aventuras com um sermão, mas ela nunca deixava de tentar.

Ao parar diante da porta do quarto, ela hesitou brevemente. Estava fechada, o que não era comum, mas fazia sentido; talvez a garota estivesse assustada ou apenas queria se isolar. Com cuidado, Olivia girou a maçaneta e abriu a porta devagar.

— Oi, Violet, cheguei! — anunciou ela em um tom suave, fechando a porta atrás de si com um movimento rápido.

Seus olhos imediatamente procuraram pela menina, e logo encontrou Violet deitada de barriga para baixo na cama. Sua respiração era tranquila, o rosto relaxado, com a boca levemente aberta. A menina estava dormindo. Olivia suspirou, o alívio suavizando sua expressão enquanto caminhava até a cama.

Ajoelhando-se ao lado da garota, Olivia afastou delicadamente os fios de cabelo loiro que caíam sobre o rosto de Violet. O movimento foi o suficiente para despertar a criança. Sua testa franziu levemente antes que seus olhos começassem a piscar, ajustando-se à luz suave do quarto. Quando finalmente abriu os olhos por completo, encontrou o rosto familiar de Olivia diante dela, com um pequeno sorriso repousando em seus lábios.

— Ollie? — Violet murmurou, a voz rouca pelo sono. Esfregou os olhos com uma das mãos antes de se sentar na cama, ainda sonolenta.

— Oi, Violet — respondeu Olivia, sentando-se ao lado dela com cuidado. — Como você está?

A menina bocejou e piscou mais algumas vezes antes de responder com um tom despreocupado.

— Eu estava com sono... Acho que dormi enquanto lia seu livro.

Foi só então que Olivia notou o livro sobre o travesseiro, aberto em uma página cheia de desenhos e anotações. Reconheceu-o imediatamente. Era seu, mas antes disso, havia pertencido à sua mãe. As páginas carregavam as histórias de seus avós sobre o planeta Terra, de um tempo antes das bombas.

— Eu não sabia que você já sabia ler — comentou Olivia, surpresa, arqueando as sobrancelhas enquanto observava a menina.

Violet deu de ombros, um sorriso tímido curvando seus lábios.

— Bom... Eu não sei ler. Mas os desenhos são bonitos.

Olivia riu baixinho, divertindo-se com a sinceridade desarmante de Violet. Sua expressão, já tranquila, suavizou ainda mais enquanto observava a pequena. Havia algo de confortante naquela interação, um instante de paz em meio ao caos.

— Vocês conseguiram fazer o que queriam, Ollie? — Violet perguntou, levantando os olhos para Olivia, a curiosidade infantil misturada com uma inocência genuína.

Antes que Olivia pudesse responder, o corpo de Violet relaxou de forma automática, sua cabeça encostando no ombro da mais velha. O gesto a pegou de surpresa, seus olhos arregalando-se levemente antes de suavizarem de novo. Com um sorriso discreto, Olivia levou a mão aos cabelos dourados da criança, brincando com os fios por alguns segundos.

— Na verdade... não conseguimos o que queríamos — respondeu com honestidade, sua voz baixa, mas firme. — Mas não vamos desistir.

Violet a escutava com atenção, como se pudesse compreender cada palavra, mesmo que o peso do que estava sendo dito estivesse além de sua idade. Olivia fez uma pausa, procurando as palavras certas, enquanto continuava a passar os dedos pelos cabelos da menina.

— Agora, vamos achar outra forma de vencer tudo o que está acontecendo — completou, com uma determinação calma.

Violet ergueu o rosto, seus olhos grandes fixando-se nos de Olivia. Mesmo sem dizer nada, havia uma confiança ali, uma certeza de que, de alguma forma, Olivia e os outros dariam um jeito. Isso fez a mais velha sorrir novamente, sentindo-se, pela primeira vez em horas, um pouco mais capaz de carregar o peso da responsabilidade.

Duas batidas suaves interromperam o silêncio confortável do quarto. Olivia e Violet ergueram o olhar ao mesmo tempo, apenas para encontrarem Bellamy encostado na batente da porta. Sua postura era casual, mas seus olhos entregavam um cansaço que ele não fazia questão de esconder. Ainda assim, sua expressão neutra suavizou ao ver Violet, e um sorriso mínimo curvou os cantos de seus lábios.

— Bellamy! — exclamou a pequena, a alegria evidente em sua voz enquanto abria os braços devagar e caminhava em direção a ele.

O moreno inclinou-se levemente para ficar à altura dela, permitindo que Violet o envolvesse em um abraço caloroso. Bellamy fechou os olhos por um instante, retribuindo o gesto com um cuidado protetor. O toque breve pareceu reconfortar ambos, mas foi Violet quem se afastou primeiro, piscando os olhos castanhos com uma leve curiosidade antes de dar mais um passo para trás.

Endireitando a coluna, Bellamy manteve o sorriso mínimo ao encará-la.

— Estávamos com saudade de você, Violet — ele disse, sua voz baixa e gentil, antes de desviar o olhar para Olivia, que o observava com um sorriso discreto no rosto.

— É, estávamos mesmo — Olivia concordou, desviando o olhar para Violet, que agora ajeitava os lençóis da cama com os pequenos dedos. — Você ficou bem sozinha?

A pequena apenas assentiu, sem dizer nada, antes de se sentar novamente na cama. Olivia observou a expressão serena da menina por mais um instante, um leve sorriso brincando em seus lábios, até que seu olhar encontrou o de Bellamy. Ele fez um breve gesto com a cabeça, indicando que precisava falar com ela. Sem precisar de mais explicações, Olivia sorriu para Violet.

— Eu já volto, tá? — garantiu ela, sua voz suave e tranquilizadora. Violet respondeu com um aceno distraído, enquanto Olivia saía pela porta, acompanhando Bellamy.

Assim que estavam sozinhos no corredor, Bellamy deixou escapar um suspiro, apoiando as mãos na cintura. Sua expressão era quase indiferente, mas o tom de voz entregava o sarcasmo que ele adorava empregar quando as coisas não estavam sob controle.

— Vim te chamar para falarmos com o Senhor Gelo — disse ele, as palavras carregadas de ironia, enquanto balançava a cabeça de leve.

— Senhor Gelo? — Olivia arqueou as sobrancelhas — De onde você tirou isso?

— Achei apropriado — Bellamy deu de ombros. — Ele é literalmente o rei da Nação do Gelo, e, sinceramente, a postura dele não ajuda a mudar essa impressão.

— Bem, espero que a majestade esteja com um bom humor hoje — Olivia comentou, cruzando os braços enquanto seguiam pelos corredores.

Bellamy lançou-lhe um olhar de lado, os cantos dos lábios se curvando em um sorriso contido.

— Bom, então você vai adorar essa conversa. Aposto que vai ser uma troca muito civilizada.

[...]

A porta da cela foi aberta com um clique seco, ecoando no ambiente silencioso. Clarke entrou primeiro, com Olivia e Bellamy logo atrás, seus passos firmes mas cautelosos. Sentado no banco improvisado no canto do espaço apertado, Roan ergueu o olhar, as mãos cruzadas sobre os joelhos e a postura imponente, apesar da contenção que o local impunha.

O olhar de Olivia foi parar no curativo no braço do rei. Seus olhos se estreitaram levemente, e ela inclinou a cabeça em direção a Bellamy, como quem não precisava dizer em palavras o que estava pensando. Bellamy, por sua vez, apenas franziu o cenho, confuso por um instante, antes de seguir o olhar de Olivia até o ferimento de Roan. Ele pressionou os lábios, claramente ponderando suas palavras antes de falar.

— Sinto muito pelo seu braço — disse Bellamy, com um tom hesitante, mas direto.

Roan inclinou a cabeça ligeiramente, seus lábios curvando-se em um sorriso irônico, o tipo que não transmitia humor, mas desdém. Sua risada baixa preencheu o silêncio por um momento antes de ele responder.

— Estamos quites agora. — a voz era fria, carregada de sarcasmo.

Olivia levantou uma sobrancelha diante do comentário, mas decidiu ignorar, mantendo o foco no que realmente importava. Antes que o silêncio se prolongasse, Clarke avançou um passo, sua postura tão firme quanto sua voz ao falar.

— Gostando ou não, precisamos uns dos outros. — Clarke ergueu ambas as sobrancelhas, esperando que Roan captasse a seriedade em sua expressão.

Roan, entretanto, estreitou os olhos e balançou a cabeça levemente, interrompendo-a.

— Vá direto ao ponto, Clarke. Você disse que queríamos a mesma coisa. Quero um comandante da Nação do Gelo. — Sua voz era incisiva, exigindo respostas claras.

Clarke não hesitou. Ela ergueu a mão, revelando a pequena chama, cuja superfície brilhava suavemente sob a iluminação da cela.

— E posso lhe dar um — respondeu ela, sua voz carregada de uma determinação fria.

Roan a observou com desconfiança. Sua expressão endurecida revelava ceticismo, mas havia um brilho de curiosidade em seus olhos.

— E por que eu faria isso, sabendo que Ontari jurou acabar com vocês? — ele questionou, mantendo um tom de voz firme, mas ponderado.

— Porque não temos escolha. — as palavras de Clarke palavras saíram firmes. — Esta guerra não é só nossa. O inimigo que estamos enfrentando não distingue clãs. Ele está atrás de todos. Inclusive da Nação do Gelo. O único jeito de detê-lo é descobrir o que está escondido na chama. E para isso, precisamos colocá-la na cabeça de Ontari.

Roan desviou o olhar para Bellamy, e depois para Olivia, seus olhos avaliando cada um deles com cuidado, como se tentasse decifrar suas verdadeiras intenções. Finalmente, ele voltou sua atenção para Clarke, mas sua expressão continuava indecifrável.

— A Nação do Gelo não teme esse inimigo — retrucou ele, suas palavras carregadas de orgulho.

Bellamy soltou uma risada seca, que estava longe de expressar qualquer diversão. Ele deu um passo à frente, cruzando os braços, seus olhos fixos no rei.

— Deveria temer — rebateu Bellamy, sua voz grave e carregada de intensidade.

Roan arqueou uma sobrancelha, intrigado, mas não disse nada, permitindo que Bellamy continuasse.

— Essa coisa não liga para clãs, alianças ou reis. — A voz de Bellamy ganhou um tom ainda mais duro. — Ela não conquista territórios, ela conquista pessoas. E vai dominar a Nação do Gelo da mesma forma que nos dominou, uma pessoa por vez, até que não sobre ninguém. Então, a questão não é se vocês terão escolha — completou Bellamy, sua voz afiada como uma lâmina. — É se vocês vão lutar ao nosso lado antes que seja tarde demais.

Clarke fixou os olhos em Roan, o peso de suas palavras pairando no ar entre eles. A tensão na cela parecia ter aumentado, como se cada palavra tivesse o poder de mudar o curso de tudo.

— Essa coisa já dominou Ontari — ela disse, a voz grave, carregada de urgência.

Roan não reagiu imediatamente. Ele engoliu em seco, uma expressão de compreensão começando a tomar conta de seu rosto. A postura do rei se ajustou, como se finalmente sentisse a gravidade da situação. Sua expressão se fechou, mas havia um traço de algo mais profundo nos olhos dele, algo que se parecia com reconhecimento.

— Estou ouvindo.

[...]

Ninguém ousava dizer que o plano era simples, e isso porque ele estava longe de ser. O que se pretendia fazer não era uma tarefa qualquer. O objetivo era raptar Ontari, uma figura chave que estava chipada, em uma cidade inteira dominada pela mesma manipulação mental. O que um via, todos viam. O que um escutava, todos escutavam. Cada movimento era um risco.

A garagem estava repleta de tensão, todos se preparando o melhor que podiam. A Roover estava sendo abastecida com tudo o que precisariam: armas, equipamentos, e o inesperado. Raven, sempre prática, falava sobre a pulseira que antes havia dado um choque em sua própria mente para forçar ALIE a sair. Agora, ela dizia que precisavam usar o mesmo truque para desativar Ontari.

— Achei que Jaha tivesse destruído todas as pulseiras — Jasper questionou, sua expressão desconfiada.

Olivia estremeceu quando sentiu uma pressão em sua cintura. Violet, pequena e silenciosa, havia se agarrado a ela como se fosse a última coisa que faria. Surpresa, Olivia não sabia que a garota estava ali, na garagem, até aquele momento.

— Ele destruiu todas, mas então eu voltei para casa — Raven respondeu, um sorriso mínimo nos lábios, orgulho evidente em seus olhos antes de sua expressão se endurecer novamente. — Só temos uma para construir. Então, usem-na com sabedoria. Fiz algumas melhorias, por sinal.

— Nada disso vai importar se não nos der acesso ao código de ALIE — Clarke interveio, suas sobrancelhas se erguendo enquanto se aproximava de Raven.

Bellamy, que estava ao lado de Miller, ajudando a abastecer a Roover, se aproximou de Olivia, apoiando as mãos nos quadris. Ele soltou um suspiro profundo, como se sentisse o peso da situação e, ao mesmo tempo, a necessidade de estar ali.

— Cuide do sangue da noite, que eu cuido de ALIE — Raven disse com uma expressão séria, voltando sua atenção para os detalhes do dispositivo.

— Como você pode acessar um código que não está mais aqui? — Jasper perguntou, atraindo a atenção de todos.

Olivia franziu a testa, seus olhos percorriam o rosto de Jasper antes de se desviarem novamente, focando em Monty.

— Temos um plano — Monty respondeu, o tom de sua voz confiável e assertivo.

Roan e Octavia se aproximaram, os passos firmes ecoando pelo chão. O peso da tensão entre eles era quase palpável, carregado por tudo o que já haviam enfrentado e pelo que ainda estava por vir.

— O que estamos esperando? — Octavia indagou, a voz firme, a impaciência evidente no olhar afiado.

Bellamy observou a irmã por um instante, como se procurasse algo além da dureza em sua expressão. Então, coçou a garganta e assentiu para si mesmo.

— Vamos logo — declarou, sem hesitação.

Violet, que antes estivera ao lado de Olivia, se moveu rapidamente na direção de Bellamy. O Blake abaixou-se para ficar na altura da garotinha, e ela soltou uma risada suave quando ele a ergueu no colo, envolvendo os braços pequenos ao redor de seu pescoço.

— Você vai demorar? — a voz de Violet saiu quase num sussurro, carregada de um receio infantil que, de alguma forma, parecia ecoar o sentimento de todos ali.

Bellamy sorriu para ela, tentando mascarar qualquer sombra de preocupação.

— Não vou, não, pequena — ele garantiu, o tom suave, mas firme. — Quando você perceber, já estarei de volta.

Olivia se aproximou dos dois, e a preocupação que havia se instalado em seu rosto há instantes se dissipou, dando lugar a um sorriso sutil.

— E você, Ollie, por favor, cuide do meu amigo — Violet pediu, os olhos grandes e esperançosos voltados para Olivia.

A Kane soltou uma risada leve, arqueando as sobrancelhas em fingida indignação.

— Ah, então é assim? Você prefere ele? — colocou a mão no peito, como se estivesse profundamente ofendida.

Bellamy fez uma careta para Violet, fingindo surpresa, antes de dar de ombros com um meio sorriso.

— Ela tem bom gosto.

Violet assentiu com convicção, como se não restassem dúvidas sobre sua escolha. Bellamy, ainda rindo, a colocou no chão com cuidado. Assim que seus pés tocaram o solo, a garotinha se afastou, seu olhar sendo rapidamente capturado por Monty, que parecia entretê-la com alguma conversa ou brincadeira.

Olivia observou Violet por um instante, garantindo que ela estivesse bem, antes de girar nos calcanhares e atravessar a garagem. Seu destino era Jasper, que já a esperava de braços abertos e um sorriso largo no rosto. Sem hesitar, ela o abraçou.

— Cara, é melhor você se cuidar, ouviu? — Jasper tentou soar sério, mas a preocupação real por sua amiga transparecia em sua voz.

Olivia afastou-se um pouco para encará-lo e sorriu, o toque de leveza escondendo a tensão do momento.

— Você também.

[...]

Eles haviam chegado ao ponto exato de Polis, estavam um pouco afastados da cidade, e a noite já havia caído sobre a cidade. Assim que o Roover parou, todos desceram com pressa, os passos rápidos ecoando no chão de terra e pedra.

— Certo, vamos nos separar — Roan foi o primeiro a quebrar o silêncio, a voz firme e autoritária — A entrada do túnel fica por aqui.

— Sabemos onde fica — Bellamy rebateu de imediato, lançando um olhar de soslaio para o Azgeda.

A necessidade de aliança era clara, mas confiar em um guerreiro da Nação do Gelo ainda exigia um esforço maior. Depois de tudo o que haviam enfrentado, baixar a guarda não era uma opção.

Olivia, ao contrário de Bellamy, não desviou o olhar. Parada ao lado de Roan, de braços cruzados e apenas alguns centímetros de distância, ela o encarava diretamente, como se pudesse decifrar seus pensamentos. Infelizmente, não podia.

Roan sustentou o olhar da Kane por alguns segundos, as sobrancelhas se franzindo sutilmente, antes de desviar a atenção para Clarke.

— Vou precisar da Chama. Só vai funcionar se Ontari for enviada para pegá-la. Se não a virem, não vão cair na armadilha. Sem uma isca, não há armadilha.

Clarke travou o maxilar, seu olhar pousando primeiro sobre Bellamy e depois sobre Olivia, como se silenciosamente pedisse a opinião dos dois. Bellamy apertou os dentes, desviando o olhar em frustração. Olivia apenas balançou a cabeça negativamente.

Mesmo assim, Clarke retirou a Chama do bolso, erguendo-a na direção de Roan. No instante em que ele a segurou, ela não soltou de imediato.

— Tudo bem. Mas eu vou com você — declarou.

— De jeito nenhum — Bellamy torceu o nariz, falando com firmeza — Esse não era o plano!

— Agora é — Clarke retrucou sem hesitar — Não vou me afastar da Chama. E sou a única que sabe a frase de acesso. Se eu não estiver lá, Ontari não vai ascender.

Roan analisou-a por um instante antes de afirmar:

— Precisa parecer minha prisioneira.

— Tudo bem — Clarke concordou sem hesitar.

Olivia esfregou o rosto com as mãos, claramente frustrada. Depois, ergueu o queixo, encarando Clarke com intensidade.

— Não, espera um segundo — ela disse, sua voz carregada de incredulidade. Descruzou os braços, voltando o olhar para Roan. — Nos dê um minuto.

O Azgeda trocou um olhar significativo com Clarke, mas não questionou. Apenas deu um passo para trás, se afastando do trio. Olivia e Bellamy se aproximaram ainda mais da loira.

— Você não pode estar achando que isso é uma boa ideia — Olivia afirmou, os olhos arregalados em uma mistura de espanto e irritação.

— Qual é, Clarke? Vai mesmo confiar sua vida a esse cara? — Bellamy ergueu as sobrancelhas, a tensão evidente em sua expressão.

Clarke os olhou, alternando o olhar entre os dois antes de respirar fundo.

— Não. Mas eu confio em vocês. E vocês vão me dar cobertura o tempo inteiro.

[...]

Pela manhã, Já posicionados nos túneis, o grupo certificou-se de que estava preparado. Das grades enferrujadas que lhes serviam de cobertura, tinham uma visão clara do ponto exato onde Clarke e Roan se encontrariam com Ontari.

Pólis não era mais a cidade que Olivia lembrava. Havia passado tempo suficiente desde sua última visita, mas agora parecia um lugar completamente diferente. Ruas vazias, apenas algumas figuras ajoelhadas no chão, imóveis, os olhos vidrados como se estivessem em transe. ALlE. Cruzes e manchas de sangue manchavam os muros, as marcas visíveis da dominação cruel da IA.

Bellamy e Olivia não hesitaram em posicionar as armas contra as grades, ajustando a mira enquanto seguiam cada movimento do Azgeda e da Arkadiana pelo escopo.

— À esquerda — Bellamy murmurou, avistando Clarke e Roan surgirem na rua deserta — Ao meu sinal. Vamos esperar até Ontari estar bem à frente deles. Então, liberamos o gás.

— Eles vão prender a respiração — Bryan alertou, lançando um olhar para Miller enquanto entregava-lhe a lata do gás — Precisamos ser rápidos.

Olivia manteve os olhos na mira, mas sua mente estava em outro lugar. Em seu pai. Se Pólis estava assim, ela só podia rezar para que ele estivesse seguro. Que tivesse fugido enquanto ainda era possível.

Respirou fundo, enterrando a preocupação para manter o foco. Agora não era o momento para distrações.

— Se alguém tentar nos impedir, usamos força não letal — Bellamy declarou em tom firme, sua voz cortando o silêncio abafado do túnel — Eles não são nossos inimigos. Estão sendo controlados. Nosso alvo é ALIE, e apenas ela. Está claro?

Um murmúrio de assentimento percorreu o grupo. Estavam prontos.

O silêncio tenso que pairava sobre Pólis foi rompido quando Roan iniciou seu discurso. Suas palavras eram diretas, carregadas de intenção. Ele mencionou ter aquilo que a Comandante desejava— a chama.

Por um breve momento, a cidade permaneceu imóvel. Mas então, como se um interruptor tivesse sido acionado, as figuras ajoelhadas começaram a se levantar, seus movimentos sincronizados e mecânicos.

Eles estavam esperando Ontari. Mas a figura que emergiu da escuridão fez o sangue de Olivia ferver.

Jaha.

O nome ecoou na mente dela antes mesmo que Bellamy o pronunciasse.

— É Jaha — murmurou ele, a incredulidade evidente em sua voz.

— O que ele está fazendo aqui? — Octavia indagou ao lado do irmão, a desconfiança estampada em seu rosto.

Olivia engoliu em seco, as palavras saindo baixas, mas carregadas de rancor.

— Foi ele quem começou tudo isso.

Bellamy lançou-lhe um olhar rápido, antes de desviar a atenção para Miller e Bryan, que já estavam em posição.

— Estão vendo Ontari? — Miller perguntou, mantendo a arma firme.

— Ainda não... Esperem — Bellamy ordenou.

A distância impedia que escutassem claramente o que era dito, mas não precisavam de palavras para entender que algo estava errado. Roan, que antes segurava a chama à vista de todos, agora fechava a mão sobre ela, os músculos retesados. Jaha continuava falando, gesticulando com aquela calma inquietante que sempre parecia esconder algo.

— Isso não está certo — Bellamy rosnou, cerrando os dentes.

E então, aconteceu.

Roan moveu-se rápido, agarrando Clarke e pressionando uma lâmina contra seu pescoço. Um refém. Uma isca. Os olhos de Olivia se arregalaram.

— Vamos! O gás, agora! — ela ordenou, girando nos calcanhares para encarar Miller.

Mas antes que qualquer um pudesse agir, a armadilha se fechou sobre eles.

Mãos rudes os agarraram, puxando-os para trás. Guardas de Polis, rápidos e coordenados, surgiram das sombras. Miller foi arrastado primeiro, seu grito abafado pelo impacto contra a parede.

Um a um, os membros do grupo foram dominados.

Olivia arfou ao sentir a superfície áspera do concreto contra seu rosto, os braços sendo puxados para trás com brutalidade.

Eles haviam caído direto na armadilha.

[...]

O som seco do punho contra a pele ecoou mais uma vez pelo túnel sombrio. Miller já não tentava se esquivar — não havia para onde ir, nem como lutar. O sangue escorria de um corte acima de sua sobrancelha, pingando lentamente no chão de pedra.

Olivia fechou os olhos, engolindo a frustração e a raiva que borbulhavam em seu peito. Quantos socos mais ele precisaria aguentar? E quanto tempo mais eles ficariam ali, impotentes, assistindo àquela tortura silenciosa?

Bellamy mantinha o olhar baixo, o maxilar trincado, como se se forçasse a ignorar a cena diante dele. Mas Olivia não. Quando abriu os olhos novamente, encontrou os guardas com um olhar duro, desafiador.

Foi então que um deles se moveu abruptamente.

— Vamos — disse ele, a voz monótona, quase robótica. — Ela quer Bellamy.

O nome do Blake reverberou no espaço frio como uma sentença. Dois guardas avançaram de imediato, agarrando-o pelos braços e puxando-o para longe.
Octavia reagiu no mesmo instante.

— Para onde estão o levando? — ela exigiu, a voz carregada de fúria. Tentou se erguer, mas um dos guardas a atingiu violentamente no estômago.

Ela engasgou com a dor e caiu de joelhos, arquejando. Olivia arregalou os olhos, o estômago se revirando em revolta. Ela puxou os pulsos amarrados, forçando contra as amarras com toda a força que tinha, mas era inútil.

— Deixem ela em paz! — Bellamy gritou, debatendo-se contra o aperto dos guardas.

Octavia ainda tentava recuperar o fôlego, as mãos tremendo contra o chão frio.

— O... Está tudo bem, O — Bellamy continuou, tentando acalmá-la, a própria voz oscilando entre a raiva e a preocupação. — Está tudo bem.

Mas Olivia sabia que não estava.

Nada estava.

Bellamy queria acreditar no que dizia, queria que fosse verdade. Mas, no fundo, sabia que as palavras "vai ficar tudo bem" eram mais para si mesmo do que para as garotas que agora o olhavam, desesperadas.

Os guardas não deram tempo para despedidas. Arrastaram-no pelo túnel escuro, os passos ecoando pelas paredes frias. Mas então, uma voz surgiu da escuridão.

— Se eu fosse vocês, me jogaria no chão.

Olivia franziu a testa, trocando um olhar rápido com Octavia. Ambas reconheceram a voz no mesmo instante.
O feixe de uma lanterna se moveu no corredor, revelando uma silhueta familiar.

— Murphy? — Bellamy piscou, confuso, os olhos se ajustando à penumbra.

Sua expressão, entretanto, se transformou rapidamente quando percebeu o que estava para acontecer.

— Todos para o chão!

O grito do Blake veio no momento exato.

Antes que os guardas pudessem reagir, tiros ressoaram pelo túnel. As balas atravessaram o ar e encontraram seus alvos com precisão mortal.

Os corpos caíram pesadamente no chão.

O silêncio que se seguiu foi cortado pela voz de Murphy, carregada de ironia.

— Legal encontrar vocês aqui!

Ele se aproximou de Bellamy, cortando as amarras que o prendiam. Mas não estava sozinho. Ao lado dele, emergindo da escuridão, estavam Indra e... Pike.

Olivia cerrou os dentes ao vê-lo. Seus músculos ficaram tensos no instante em que ele se aproximou. Por um momento, ela quis recuar, se afastar. Mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, Pike já estava cortando suas cordas. A sensação aspera da corda se desfazendo fez um arrepio percorrer seus pulsos.

Sem uma palavra, ele seguiu para Bellamy.

Olivia girou nos calcanhares, esfregando os pulsos enquanto tentava ignorar a repulsa que sentia.

— Estão vindo mais. Temos que nos apressar — Indra alertou, ja libertando
Octavia.

Bellamy observou Pike com desconfiança, a testa franzida enquanto o ex-chanceler cortava suas amarras.

— E o que você está fazendo aqui? — perguntou o Blake, o tom carregado de incredulidade.

Murphy bufou, revirando os olhos.

— De nada — resmungou.

Murphy seguiu em direção a Miller e Bryan, enquanto Olivia aproveitou o momento para se aproximar de Bellamy.

— Você está bem?

As palavras escaparam dos dois ao mesmo tempo, fazendo com que trocassem um olhar surpreso antes de piscarem e responderem, quase em sincronia.

— Sim — Olivia disse primeiro.

— Estou bem — Bellamy respondeu logo depois, soltando um suspiro pesado.

— Bom. Muito bom — ela assentiu, o alívio momentâneo suavizando sua expressão. Mas não por muito tempo. Quando seu olhar recaiu sobre Pike, sua postura se endureceu novamente. O homem uma das armas que haviam usado momentos antes e a recarregou com um movimento firme. — Só não é bom terem trazido um fascista para acabar com outro.

Bellamy franziu as sobrancelhas, desviando o olhar para Pike antes de voltar para Olivia, processando suas palavras. Mas antes que pudesse responder, Octavia se adiantou, sua voz carregada de indignação.

— Você está com Pike? — ela se virou para Indra, os olhos brilhando com incredulidade.

A Trikru manteve sua postura firme, seu tom seco e resoluto.

— A única forma de sairmos daqui é juntos.

— Ele matou Lincoln — Octavia rebateu, sua voz carregada de dor e ódio. O impacto de suas palavras foi imediato. Indra arregalou sutilmente os olhos, sua atenção agora presa em Pike. Mas Octavia não parou por aí. — Ele o fez se ajoelhar. E atirou na cabeça dele.

O silêncio que se seguiu foi tenso, pesado como o ar frio do túnel. Bellamy, tentando evitar que a situação explodisse ainda mais, se adiantou. Seu tom era baixo, cuidadoso.

— O. Indra tem razão. Precisamos de mais soldados.

Octavia soltou um riso curto, descrente, enquanto balançava a cabeça. Antes que pudesse responder, Murphy se pronunciou, sua impaciência evidente.

— Vocês não entenderam que temos que ir? — ele perguntou, seus olhos varrendo o grupo.

Todos se viraram em sua direção.

— Não vamos embora — Bellamy foi direto.

Murphy riu, um som amargo.

— Acabamos de salvar suas vidas. Por que acho que vou me arrepender disso?

— Clarke está em perigo, Murphy — Olivia interveio, sua voz firme.

Murphy ergueu uma sobrancelha.

— Clarke sempre está em perigo.

— Levaram-na com a Chama para a torre. Tenho quase certeza de que Ontari está lá também — Bellamy argumentou. — Temos tudo para deter ALIE no mesmo lugar.

Octavia cruzou os braços, sua expressão ainda dura.

— Se subirmos a torre, não vamos conseguir sair de lá.

— Se pararmos ALIE, não teremos que sair — Bellamy rebateu.

Murphy soltou um longo suspiro, passando a língua pelos dentes antes de olhar para Pike. O ex-chanceler ponderou por um momento, então ergueu a arma na direção de Bellamy, como um gesto de rendição.

— Subir a torre. Ótimo — um sorriso irônico surgiu no rosto de Murphy. — Depois disso, não quero mais saber de fazer a coisa certa.

[...]

A civilização dos Terráqueos, desprovida de tecnologia avançada, utilizava métodos rudimentares para operar o elevador da torre. Sem eletricidade, a estrutura dependia exclusivamente da força humana: cordas eram puxadas manualmente para erguer ou baixar a plataforma entre os andares. Embora primitivo, o sistema era eficaz, garantindo o transporte de pessoas e suprimentos pelos níveis superiores do edifício.

O estalido seco de dois disparos rompeu o silêncio pesado do ambiente. Os homens que operavam o elevador tombaram no mesmo instante, seus corpos caindo inertes ao chão. Olivia prendeu a respiração, seu olhar se voltando, alarmado, para Pike. O ex-chanceler abaixou a arma sem qualquer vestígio de hesitação ou arrependimento.

— Ei! Eu disse que não faríamos desse jeito! — Bellamy exclamou, movendo-se rapidamente para encarar Pike de frente.

— Eles estavam no caminho — foi a resposta fria, pragmática.

Olivia cerrou os dentes, respirando fundo para conter a frustração que ameaçava transbordar.

— Eles estavam sob o controle de ALIE — Bellamy rebateu, seu tom carregado de indignação. — Podíamos salvá-los.

— Se não nos apressarmos, enfrentaremos muitos outros pelo caminho — Murphy interveio, impaciente, alguns metros atrás. — Vamos logo.

Indra avançou até a roldana que regulava o mecanismo do elevador, seus lábios se movendo em um resmungo inaudível enquanto se preparava para girá-la. Antes que pudesse fazê-lo, Pike assumiu o controle, puxando as cordas com firmeza para baixar a plataforma até o nível em que estavam.

— Assim que estivermos lá em cima, destruam o elevador e subam — Bellamy instruiu, a urgência evidente em sua voz.

— Cortar nossa própria rota de fuga? — Bryan questionou, já se posicionando para agir.

— Exatamente — Indra assentiu, sem perder tempo. — Descemos depois de lidar com ALIE.

Murphy arqueou as sobrancelhas, cético.

— Isso se ainda houver um "depois".

O elevador finalmente se aproximou o suficiente, rangendo sob o esforço das cordas. Bellamy lançou um último olhar ao grupo e fez um gesto de chamado.

— Vamos. Nossa carona chegou.

Murphy não perdeu tempo. Com um movimento rápido e determinado, usou a força dos braços para puxar as portas do elevador, forçando-as a se abrirem o suficiente para que passassem. Olivia foi a primeira a entrar logo atrás dele, e Bellamy seguiu seus passos. No entanto, antes de cruzar completamente a soleira, o Blake mais velho hesitou, seu olhar oscilando entre Pike e sua irmã.

— Você vem, O? — sua voz carregava tanto uma pergunta quanto uma súplica velada.

Octavia avançou até a beira do elevador, mas balançou a cabeça com firmeza.

— Se algo der errado aqui, vão precisar de mim. — Sua expressão era resoluta, determinada. — Nós cuidamos disso.

Bellamy abriu a boca para responder, mas não teve tempo. Antes que qualquer palavra escapasse, Octavia tomou a iniciativa e fechou as portas.

Quase imediatamente, o elevador começou a se mover, rangendo sob o peso e a tensão da subida. O balanço sutil fez Olivia se segurar na parede metálica, enquanto Murphy apenas soltou um suspiro carregado de exasperação.

— Vocês sabem que estamos ferrados, certo? — ele comentou, encarando a porta de metal como se pudesse ver através dela. — ALIE já sabe que estamos vindo.

Bellamy desviou o olhar para ele, a expressão determinada.

— O plano vai funcionar.

Murphy sustentou o olhar do amigo por alguns instantes, como se buscasse alguma fissura naquela confiança inabalável. Por fim, apenas assentiu e desviou a atenção. Olivia, que até então permanecia em silêncio, cruzou os braços, abraçando-os contra o peito coberto pela jaqueta da Guarda. Seu olhar se voltou para Murphy, a curiosidade evidente em sua expressão.

— Por que está aqui, Murphy? — Sua pergunta não veio carregada de julgamento ou ironia, apenas de um interesse genuíno.

Murphy não demorou a responder, como se já tivesse a resposta na ponta da língua.

— Só estou tentando sobreviver.

Bellamy e Olivia trocaram um olhar sutil, um breve instante de comunicação silenciosa entre os dois. Eles não estavam convencidos. E Murphy percebeu.

Soltando um suspiro resignado, ele acrescentou, quase a contragosto:

— Vocês não são os únicos que querem proteger alguém que amam.

Um pequeno e quase imperceptível sorriso se formou nos lábios de Olivia. Ela abaixou o olhar por um momento, como se processasse aquelas palavras, antes de finalmente murmurar:

— É bom saber que até baratas têm sentimentos.

Murphy arqueou uma sobrancelha, franzindo o cenho.

— Como é?

Bellamy soltou um riso curto, quase inaudivel. Apesar da situação extrema em que se encontravam, a presença dos três juntos parecia amenizar, ainda que minimamente, o peso sufocante da morte iminente.

— Nada — Olivia rebateu, desfazendo rapidamente o sorriso.

Murphy a observou de canto de olho, mas não disse nada. Apenas voltou sua atenção para as paredes metálicas do elevador, o silêncio preenchendo o espaço entre eles.

Então, sem aviso, o elevador parou com um solavanco violento. Os três se sobressaltaram, seus corpos enrijecendo com o impacto repentino.

— Ah, não... Isso não é bom — Murphy murmurou, o tom carregado de alerta.

Olivia arregalou os olhos ao perceber sombras se movendo do lado de fora. Homens começaram a forçar a abertura das portas do elevador. Seguidores de ALIE.

Bellamy foi o primeiro a reagir, avançando para tentar impedir que a porta cedesse. Usou toda a força que possuía, os músculos de seus braços tremendo com o esforço, mas não seria suficiente. Eram muitos.

— Olivia, prepare o bastão! — Bellamy ordenou, a urgência transbordando em sua voz.

Sem hesitar, Olivia ativou o bastão elétrico, observando a corrente de eletricidade percorrer a arma. Assim que o primeiro homem conseguiu forçar uma fresta na porta, ela não pensou duas vezes: golpeou-o diretamente no peito. O choque o fez cambalear para trás, mas não o derrubou por completo.

Eles continuavam vindo. Mais mãos surgiram, tentando puxar Bellamy para fora. Olivia descarregava a eletricidade contra cada um que ousava se aproximar, mas parecia uma batalha perdida.

Então, um dos homens agarrou Bellamy pelo colarinho e começou a arrastá-lo para fora. Murphy reagiu no mesmo instante, desferindo um chute seco no estômago do agressor.

A confusão se intensificou quando, de repente, o elevador voltou a se mover. Por um breve instante, eles acreditaram que o pior havia passado. Mas um dos seguidores de ALIE conseguiu se impulsionar e saltou diretamente para dentro do elevador, caindo sobre Murphy com violência.

Bellamy concentrou-se em fechar as portas enquanto Olivia partia para o combate corpo a corpo. Ela agarrou a camiseta do homem e desferiu um soco certeiro em seu maxilar. O impacto, no entanto, não foi suficiente para detê-lo. Quando ele revidou, ela tentou se esquivar, mas o golpe desviou e acertou
Bellamy em cheio.

Murphy, lutando para se livrar do inimigo, conseguiu se erguer e avançou para ajudar. Mas o homem não demonstrava dor. Não hesitava. Ele não iria parar.

Com um movimento brutal, agarrou Murphy e começou a socá-lo repetidamente no estômago, cada golpe arrancando um grunhido de dor. Olivia, percebendo que precisavam de uma solução definitiva, ajoelhou-se rapidamente ao lado da mochila de Bellamy, suas mãos tateando o tecido em busca da arma.

— Atire nele! Atire nele, Bellamy! — Murphy implorou, sua voz entrecortada pela dor.

Mas não foi Bellamy quem pegou a arma. Foi Olivia.

O disparo ecoou pelo pequeno espaço metálico, abafado e ensurdecedor ao mesmo tempo. O corpo do homem caiu pesadamente contra o chão, sem vida.
Murphy desabou junto, arfando, tentando recuperar o fôlego. Bellamy foi rápido em estender a mão para ajudá-lo a se levantar.

Murphy aceitou, cambaleando ligeiramente ao se pôr de pé.

— Obrigado — murmurou, ainda ofegante.

Olivia, porém, não respondeu. Ela permanecia imóvel, os olhos arregalados fixos no corpo caído. Mas não era choque. Não era surpresa. Era medo.

Ela havia matado um homem.

Sim, ele estava sob o controle de ALlE. Sim, era uma ameaça. Mas... ainda era um ser humano.

Bellamy notou seu estado e, com um gesto cuidadoso, retirou a pistola de sua mão trêmula. Foi o suficiente para fazê-la erguer o olhar, encontrando os olhos dos dois homens à sua frente.

O silêncio pesava no ar. Então, Murphy, sempre ele, quebrou a tensão.

— Foi um tiro e tanto.

Olivia piscou, tentando afastar o torpor, e apenas assentiu.

— Valeu.

[...]

Quando o elevador parou novamente, indicando que haviam chegado ao topo, os três se prepararam para o inevitável confronto. Olivia franziu a testa ao ver Murphy esticar a mão para uma pequena escotilha no teto do elevador.

— O que você está fazendo? — ela questionou, observando-o com cautela.

— Quando essas portas se abrirem, vai ter mais daqueles caras esperando por nós. Se subirmos e pegarmos eles de surpresa, evitamos levar uma surra — Murphy explicou, como se a resposta fosse óbvia.

Com esforço, ele conseguiu se impulsionar para cima, desaparecendo pela abertura. Olivia lançou um olhar incerto para Bellamy, que apenas assentiu em concordância.

— Vamos — ele disse.

Sem hesitar, Olivia agarrou a borda da escotilha e, com um impulso auxiliado por Bellamy, conseguiu subir. Ele veio logo em seguida, fechando a portinhola com cuidado para não fazer barulho.

Bellamy abriu sua mochila e retirou um pequeno cilindro prateado. Olivia reconheceu de imediato: era o gás que haviam usado em Mount Weather. Sem perder tempo, ele também pegou três máscaras e distribuiu para ela e Murphy.

Assim que os três ajustaram a proteção no rosto, ouviram o som característico das portas do elevador se abrindo.

O silêncio do outro lado durou apenas um instante.

— Para onde eles foram? — a voz confusa de um dos seguidores de ALIE ecoou pelo espaço.

— Fique aqui — outro ordenou, e o som de passos ecoou quando um dos homens entrou para verificar.

Era o momento perfeito.

Bellamy abriu a escotilha e, com precisão, lançou a lata com o gás para dentro do elevador. O recipiente se chocou contra o chão e se abriu, liberando uma nuvem densa e tóxica.

Os três esperaram apenas alguns segundos até que os seguidores de ALIE sucumbissem, seus corpos desabando um a um.

Assim que o último caiu, Bellamy desceu primeiro, certificando-se de que o caminho estava livre. Olivia e Murphy o seguiram logo depois.

Murphy foi o primeiro a se mover, assumindo a liderança sem hesitação.

— Sigam-me. Eu sei onde fica a sala do trono.

Olivia e Bellamy apenas trocaram um olhar antes de seguirem o caminho indicado. Não havia tempo a perder.

Caminharam por menos de três minutos antes de Murphy parar abruptamente e sussurrar:

— Chegamos.

Sem perder tempo, retiraram as máscaras. Bellamy ergueu uma arma na direção de Olivia. Ela hesitou por um momento, mas, ao notar a urgência no olhar do mais velho, aceitou.

Com passos firmes, os três avançaram até a porta imponente da sala do trono. Sem cerimônia, Bellamy ergueu a perna e desferiu um chute forte, escancarando-a de imediato.

A cena diante deles era caótica.

Clarke estava amarrada no centro da sala, os olhos arregalados ao vê-los. Jaha se erguia sobre Ontari, a lâmina em sua mão prestes a finalizar a golpeada comandante. Do outro lado, Abby estava pendurada, sendo enforcada, embora ainda estivesse viva.

— Bellamy, impeça-o! — Clarke exclamou, sua voz tomada pelo desespero.

Olivia não pensou duas vezes antes de correr até Clarke, puxando a lâmina da cintura para cortar as amarras. Murphy se lançou em direção an Abby, enquanto Bellamy ergueu a arma e disparou sem hesitar.

O som do tiro ecoou pela sala. Jaha caiu para trás, a lâmina escapando de sua mão.

Olivia rasgou as cordas que prendiam Clarke.

— Você está bem? — perguntou, mas a loira sequer lhe deu atenção. Seus olhos estavam fixos na mãe.

— Ela está respirando? — Clarke questionou Murphy, a voz trêmula.

— Está tudo bem, está respirando — ele garantiu, ainda segurando Abby.

Clarke soltou um suspiro pesado antes de virar-se subitamente para Bellamy.

— Jaha está com a Chama! Peguem-na!

Bellamy já estava ajoelhado ao lado do homem caído, vasculhando seus pertences com urgência. Olivia, por sua vez, seguiu Clarke até Ontari, que jazia no chão, o sangue se espalhando ao seu redor.

— Não podemos deixar Ontari morrer.
Precisamos estancar o sangramento — Clarke disse, sua mente já formulando um plano.

Olivia se abaixou e pressionou dois dedos contra o pescoço da comandante caída. Seu maxilar enrijeceu ao perceber a pulsação fraca e irregular.

— O pulso está fraco — informou, levantando o olhar para Clarke.

— Pelo menos ela ainda está viva — Bellamy comentou, aproximando-se rapidamente com a Chama nas mãos.

Clarke jogou um pedaço de tecido para
Murphy.

— Pressione isso contra o ferimento.

Murphy hesitou. Ele olhou para Ontari, depois para Clarke.

— Espera... O que exatamente vamos fazer?

— Primeiro tiramos o chip, depois colocamos a Chama — Bellamy explicou, impaciente.

— Preciso de uma lanterna — Clarke pediu, a voz firme.

Bellamy rapidamente puxou uma de sua mochila e entregou a ela. Clarke apontou a luz diretamente nos olhos de Ontari.

O silêncio que se seguiu foi sufocante.

— As pupilas dela estão inertes — Clarke constatou.

Olivia fechou os olhos por um breve momento, soltando um suspiro pesado ao deixar os ombros caírem.

— O quê? — Bellamy foi o primeiro a perguntar, a apreensão evidente em sua expressão. — O que isso significa?

Olivia reabriu os olhos, seu tom agora mais duro.

— Significa que ela teve morte cerebral — disse, pausadamente. — E também significa que ela não pode nos dar o código de desligamento.

O peso das palavras caiu sobre o grupo como uma sentença de morte. Bellamy desviou o olhar, sua expressão endurecendo. Murphy passou a mão pelo rosto, como se absorver a gravidade da situação fosse difícil demais.

— Acabou — Clarke murmurou, sacudindo a cabeça em negação.

— Estamos presos aqui — Murphy concluiu, a frustração evidente em sua voz.

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