10.
A caminhada até o Bunker era permeada por um silêncio tenso, e Olivia sentia-se acanhada diante da atmosfera pesada que envolvia o grupo. Cada passo parecia carregar o peso das emoções não expressas, e Olivia lutava para encontrar as palavras certas para aliviar a tensão. Enquanto seguia atrás de Raven e Clarke, sua mente mergulhava em uma mistura de preocupações e lembranças dolorosas.
O aperto firme em seu arco e flecha era um reflexo físico da ansiedade que a consumia. Seus dedos tremiam ligeiramente devido à tensão, enquanto ela se esforçava para controlar suas emoções. A proximidade de seu aniversário só aumentava a carga emocional, pois lembrava-lhe da perda de sua mãe há tantos anos. A dor da ausência dela ainda reverberava em seu peito, como uma ferida que nunca cicatrizara completamente.
Apesar de tudo, Olivia mantinha-se reservada, relutante em compartilhar seus sentimentos mais profundos com o grupo. A vergonha de parecer vulnerável em um momento tão crítico a mantinha em silêncio, enquanto ela lutava para manter-se forte diante das adversidades que enfrentavam.
À medida que caminhavam até o Bunker, já com o sol despontando no horizonte, Raven foi surpreendida por uma explosão de cores proveniente de uma variedade de flores ao longo do caminho. Na Arca, a vida não era tão vibrante e exuberante como na Terra, e a visão das flores despertou um sorriso genuíno em seu rosto. Ela estendeu a mão para tocar as pétalas, curiosa para explorar o mundo desconhecido ao seu redor.
— São tão lindas. — Disse Raven, seu sorriso irradiando alegria. O sorriso de Raven teve um efeito contagiante, e os lábios de Olivia se curvaram em resposta. Uma expressão de felicidade apareceu em seu rosto enquanto ela observava as flores.
— São lindas mesmo — Murmurou Olivia, sua voz suave ecoando um senso de admiração pela beleza natural ao seu redor. Mesmo em meio à incerteza e ao perigo, o momento fugaz de apreciação da beleza da natureza trouxe um breve instante de leveza e conexão entre as duas garotas.
— Raven, sei que chegou aqui só ontem, mas não temos tempo — começou Clarke, fazendo com que Raven e Olivia virassem seus rostos em direção à loira. A voz de Clarke era séria, refletindo a urgência da situação, assim como a expressão determinada da garota — Venham. — a necessidade de manter o foco na missão sobrepujava qualquer distração, e Clarke estava determinada a garantir que o grupo se mantivesse no curso estabelecido, independentemente das tentações ou distrações ao redor.
Raven soltou um riso nasal, expressando um breve momento de leveza antes de arrancar duas flores. Entregou uma para Olivia com um gesto gentil, e a outra ela colocou em sua própria orelha.
— Apresse-se e salve o mundo — disse Raven, antes de começar a seguir Clarke — É igualzinha a sua mãe.
Olivia olhou para a flor em sua mão, sentindo um sorriso suave se formar em seus lábios em resposta ao gesto de Raven. Ela guardou a flor com cuidado, apreciando a beleza simples do presente. A observação de Raven sobre Clarke e sua mãe trouxe um calor reconfortante ao coração de Olivia, lembrando-a da força e da determinação que sua mãe também possuía. Com um último olhar para as flores e um aceno de despedida, Olivia seguiu Raven e Clarke, pronta para enfrentar os desafios que os esperavam e honrar o legado de sua mãe da melhor maneira possível.
— Não sou nada como minha mãe — disse Clarke, desviando de um galho no caminho. Olivia deu de ombros ao ouvir a fala da garota, enquanto Raven franziu o cenho, surpresa pela reação de Clarke.
— Relaxe. É um elogio. Abby é incrível — explicou Raven, sem compreender a resposta de Clarke — A cápsula foi ideia dela. Ficou de coração partido por não poder vir comigo, mas não deixou de acreditar que você estava viva. — a observação de Raven era um lembrete do legado de Abby na Arca e de sua habilidade em tomar decisões difíceis em momentos cruciais.
— É. A mãe do ano — ironizou Clarke, deixando escapar um lampejo de raiva momentânea em relação à sua mãe. A tensão entre elas era palpável, um reflexo das complexidades de seu relacionamento e das emoções conflitantes que Clarke enfrentava em relação a Abby. Apesar da ironia em suas palavras, a dor subjacente de suas experiências passadas era evidente, deixando claro que as feridas emocionais ainda estavam frescas em sua mente.
— Bom, minha mãe viveu sumida a maior parte da minha vida — disse Raven, ainda sorrindo, tentando aliviar o clima tenso — Quando aparecia, era de mãos vazias. Certeza que me teve para me trocar por rações e bebidas. — sua tentativa de humor contrastava com a dureza das palavras, revelando a dor subjacente de suas experiências familiares. A ironia em suas palavras refletia um mecanismo de defesa, uma maneira de lidar com as decepções do passado através do sarcasmo.
Quando chegaram ao local do bunker, Clarke abaixou-se e passou a mão no chão, removendo as folhas das árvores que estavam ali e revelando a escotilha.
— Como você sobreviveu, então? — perguntou Olivia, demonstrando um genuíno interesse na história de Raven. Sua curiosidade refletia um desejo de compreender melhor as experiências que moldaram a vida de Raven e como ela conseguiu superar os desafios que enfrentou na Arca.
— O vizinho. Finn — respondeu Reyes. Clarke parou de se mexer por alguns segundos ao ouvir aquilo. Raven e Finn se conheciam a vida toda, e Clarke sentia remorso por Finn — Ele compartilhava suas rações comigo. Lembrava do meu aniversário. Salvou minha vida. Ele é minha família. — a revelação de Raven lançou uma nova luz sobre a relação entre ela e Finn, destacando a profunda conexão e gratidão que existia entre eles. Para Clarke, era um lembrete doloroso das escolhas difíceis que Finn havia feito e das consequências que essas escolhas tiveram em seu relacionamento com ele. Olivia notou o desconforto de Clarke e Raven. Ela suspirou fundo, intercalando o olhar entre as duas garotas, antes de começar a falar.
— Bom, meu pai flutuou minha mãe quando eu tinha quatro anos. — as palavras saíram pesadas de seus lábios, como uma bomba explodindo em seu peito. Raven arregalou os olhos por um momento, enquanto Clarke franziu o cenho, visivelmente chocada.
— Que crime sua mãe cometeu? — perguntou Clarke, virando seu rosto para Olivia.
— Teve um segundo filho. — respondeu rapidamente Olivia. Ela observou a boca de Raven se abrir e se fechar diversas vezes, mas nada saía.
— Seu irmão está aqui, então? Assim como Bellamy e Octavia? — Raven perguntou, totalmente confusa.
— Ah, não — soltou uma risada sem graça — Eu sou a segunda filha, mas não fui presa por isso. Na verdade, meu irmão acabou tendo um surto psicótico por conta da morte da minha mãe, e foi flutuado. Acabaram não me prendendo por ser a segunda filha porque ele já não estava mais vivo, então não fazia tanta diferença. — as revelações de Olivia deixaram Clarke e Raven em silêncio, absorvendo a complexidade das experiências de vida de cada uma.
— Nossa... — foi a única coisa que saiu dos lábios de Raven após a descoberta.
— Espera, se você não foi presa por isso, foi pelo o quê, então? — perguntou Clarke, sua testa ainda enrugada pela dúvida.
— Fui presa por agredir um membro do conselho. Meu pai — respondeu Olivia, encarando-as com uma expressão serena, mas carregada de memórias dolorosas. As três ficaram caladas por alguns segundos, absorvendo a revelação que Olivia acabara de fazer — Então... — Olivia recomeçou, tentando dissipar o clima tenso que se instalara — É aqui? — ela perguntou, apontando para a escotilha à frente de Clarke.
— Sim, é aqui — respondeu a loira, confirmando a localização do bunker. Ela se aproximou e abriu a escotilha, revelando a entrada para o interior do bunker. A tensão do momento parecia diminuir à medida que o grupo se preparava para explorar o próximo passo de sua jornada na Terra.
Após entrarem no Bunker, as três ligaram velas, e até mesmo uma lanterna que estava nas mãos de Raven. Enquanto Clarke procurava por alguma caixa que poderia conter o que precisavam, Raven analisava o local com admiração, impressionada com o quão bem planejado era o Bunker.
— Como achou esse lugar? — Raven perguntou, curiosa. Olivia intercalava o olhar entre Raven e Clarke, esperando a resposta da loira.
— Não fui eu. O Finn achou. — Clarke respondeu normalmente após colocar uma caixa em cima de uma mesa e começar a mexer nas coisas que tinha dentro dela. Olivia franziu a testa ao ver Clarke tirar um carrinho de brinquedo de dentro da caixa.
— Ei, isso vai ajudar? — perguntou, chamando a atenção de Reyes, que logo se virou para Kane.
— Legal. RF — disse Raven, aproximando-se de Clarke e pegando o brinquedo de sua mão. Vendo as expressões confusas das garotas sobre sua abreviação, ela resolveu explicar. —Radiofrequência — Olivia assentiu com a cabeça em seguida, compreendendo o entusiasmo de Raven ao ver o brinquedo. — Se pudermos achar o controle, será um tesouro — disse Raven novamente. Agora, ela saiu de onde estava e começou a vasculhar as caixas em busca do controle do brinquedo, enquanto Olivia e Clarke se juntavam a ela para ajudar na busca. A esperança de encontrar o controle adicionava um novo sentido de propósito à tarefa, enquanto o grupo se empenhava em explorar o bunker em busca de recursos úteis.
— Certo... — murmurou Olivia para si mesma enquanto examinava uma das caixas ao lado de Clarke, que fazia o mesmo. Enquanto isso, Raven avistou algo familiar. Era algo que Finn costumava fazer para ela, um gesto de afeto. A garota se abaixou para pegar o objeto, e Olivia notou a ação, franzindo o cenho em seguida.
— Finn fez isso — Raven sorriu ao dizer, segurando o objeto que revelou ser um mini veado com duas cabeças. Clarke virou-se para ver o que Raven segurava e engoliu em seco ao reconhecer o objeto, antes de voltar sua atenção para a caixa que estava vasculhando.
— É. Vimos um veado com duas cabeças no primeiro dia na Terra — explicou Clarke com uma risada sem graça, percebendo a desconfiança de Raven.
O sorriso de Raven desapareceu rapidamente, substituído por uma expressão de dúvida. Enquanto isso, Olivia, que já havia voltado a procurar em uma das caixas, soltou um sorriso ao encontrar o controle que precisavam.
— Achei — anunciou, virando-se para Raven, que apontou a lanterna para o controle. Clarke permaneceu indiferente ao ver o objeto nas mãos de Raven, então retirou o controle das mãos dela e segurou-o firmemente. Raven forçou um sorriso ao ver que conseguiram o que precisavam para consertar o rádio, finalmente possibilitando a comunicação com a Arca.
— Finn sempre faz isso — disse, dirigindo seu olhar para Clarke, que estava visivelmente desconfortável. — Ele encontra beleza no inesperado. — a observação de Raven trouxe à tona uma mistura de emoções para Clarke, lembrando-a das características únicas de Finn e da conexão especial que ele compartilhava com Raven. Enquanto segurava o controle do rádio, Clarke sentiu um peso adicional sobre seus ombros, consciente das decisões difíceis que ainda estavam por vir.
[...]
Após encontrarem o que precisavam, as três garotas saíram do bunker. No caminho de volta ao acampamento, o silêncio pairava entre elas, deixando Olivia um pouco nervosa. Ela odiava o silêncio. Tinha vivido com ele a vida toda e não suportava a sensação de vazio que ele trazia. Ao chegarem no acampamento, Raven se direcionou para a nave, enquanto Olivia colocou uma de suas mãos no ombro de Clarke, fazendo-a parar e olhar para ela.
— Aquele objeto que Finn fez. É seu, não é? — perguntou, seu semblante sério contrastando com sua voz suave e calma. Clarke assentiu com a cabeça. — E o que irão fazer sobre isso?
— Sobre o quê, exatamente? — Clarke tentou se fazer de desentendida, mas ao perceber a expressão séria de Olivia, sabia que não poderia escapar.
— Sobre vocês dois, Clarke — afirmou Olivia, deixando Clarke desconfortável. Clarke mordeu os lábios, sentindo-se pressionada pela franqueza de Olivia — Você gosta dele. — a afirmação direta de Olivia fez Clarke hesitar por um momento, enquanto pensava sobre seus próprios sentimentos em relação a Finn.
— Raven também, eles se conhecem desde sempre, não há o que fazer, — disse Clarke, mostrando determinação em sua voz. Seus ombros subiram e desceram enquanto falava.
— Ela sabe? — perguntou Olivia, desviando o olhar de Clarke. A loira negou com a cabeça. — Certo... — Olivia pressionou os lábios, parecendo ponderar sobre a situação por um momento, antes de olhar novamente para Clarke. — Vamos lá ver como está indo o conserto do rádio. — sorriu.
Olivia puxou Clarke pela mão, o que surpreendeu Griffin no início, mas ela logo retribuiu o sorriso e seguiu até a nave com Olivia. A iniciativa de Olivia trouxe um leve alívio para Clarke, enquanto elas se afastavam para lidar com as tarefas que ainda tinham pela frente. Quando entraram na nave, Raven estava concentrada em alguns fios que pareciam confusos para Olivia, que não sabia nem para o que serviam. Clarke respirou fundo, forçou um sorriso e se aproximou de Raven.
— Como vão as coisas? — perguntou a loira. Raven, no entanto, não respondeu, o que deixou Olivia intrigada com a situação.
— Você está bem? — perguntou Olivia, também se aproximando de Raven. — Você mal conversou o caminho todo, depois do bunker.
Demorou apenas alguns segundos para que Raven se virasse para as duas garotas, deixando de lado as ferramentas que usava para consertar o rádio. Seu olhar estava fixo em Clarke, que estava tensa diante do comportamento incomum de Raven. Raven segurava o mesmo objeto que havia visto no bunker: o mini veado de duas cabeças que Finn havia feito para Clarke. Clarke, por sua vez, soltou uma risada sem graça, tentando aliviar a tensão do momento.
— Raven...
— Diga que estou errada — ordenou Raven, mas ela sabia que não estava — Diga que Finn não fez isso para você — disse, sua voz exalando dor e raiva ao mesmo tempo. Ela se sentia traída. Aquilo que Finn havia feito para ela como um ato de amor também foi feito para Clarke, que ele havia conhecido há apenas alguns dias, enquanto Raven estava ao lado dele durante toda a vida — Diga que não estava dormindo com meu namorado, enquanto eu arriscava a pele para vir para cá.
Olivia engoliu em seco ao observar a interação tensa entre Clarke e Raven. Clarke negou com a cabeça suavemente, sua vergonha se refletindo em seu semblante.
— Não posso te dizer isso. — confessou Clarke, o peso de suas palavras evidente. A dor nos olhos de Raven apenas aumentou, misturada com uma crescente onda de raiva. A sensação de traição era quase palpável, deixando um amargor no ar enquanto as emoções se entrelaçavam.
— Ele fez um para mim também — disse Raven, aproximando seu rosto do de Clarke, sua voz carregada de provocação. Clarke olhou para a garota com remorso, sentindo o peso de suas próprias ações — Caso tenha pensado que era especial. — com essas palavras finais, Raven se virou e tentou voltar sua atenção para o rádio, deixando Clarke com uma sensação de culpa e arrependimento.
— Acha que ele queria isso? — perguntou Clarke, sua voz enfraquecida pela torrente de emoções que a assolava — Eu nem sabia que você existia! — Raven virou-se novamente para Clarke, sua expressão carregada de descrença e tristeza — Ouça, para ele, você estava morta, Raven — disse Olivia, seus olhos arregalados com a gravidade das palavras que estavam sendo ditas — Ou estaria, muito em breve. Mamãe também, e todos que conhecemos, na Arca. E não poderíamos fazer nada para impedir. — as palavras de Clarke ecoaram no silêncio tenso da nave, trazendo à tona a realidade sombria que pairava sobre eles desde que desembarcaram na Terra.
— Ele poderia ter esperado mais dez dias — lamentou Raven, sua voz carregada de dor e desgosto. Ela levou a mão até o próprio rosto, secando as lágrimas que caíam sobre suas bochechas. Após soltar um suspiro doloroso, ela se sentou novamente e encarou o rádio. Clarke, que havia dado as costas para sair da nave, parou quando a voz de Raven ecoou novamente pela nave. — Você o ama? — a pergunta de Raven pairou no ar, carregada de vulnerabilidade e uma busca por entendimento em meio ao tumulto emocional.
— Eu mal o conheço.
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Passando aqui rapidinho para agradecer a todos vocês! Notei que chegamos a mil visualizações na fanfic e vim agradecer. Muitíssimo obrigada pelo apoio de sempre. Escrever essa história é uma delícia, e saber que vocês curtem tanto quanto eu é incrível demais! Espero que continuem acompanhando e curtindo cada capítulo. Beijinhos e até mais! <3
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