02.
Olivia estava na nave quando ouviu um tumulto do lado de fora. Ao sair, viu delinquentes ao redor de uma fogueira. Quando se meteu no meio deles, percebeu que estavam tirando suas pulseiras.
— Quem é o próximo? — Bellamy perguntou.
— O que vocês estão fazendo? — Olivia esbravejou.
— Estamos nos libertando. O que acha que é? — Bellamy disse.
— Parece que estão tentando matar todos nós. — Wells interveio. — O sistema de comunicação pifou. Essas pulseiras são tudo que temos. Tirem-nas, e a Arca pensará que estamos morrendo. Que não é seguro que venham.
— Essa é a ideia, chanceler. — Olivia resmungou, arrancando risadas das pessoas.
— Podemos cuidar de nós. Não podemos? — Bellamy perguntou. A multidão concordou com ele.
— Acham que isto é um jogo? — Wells perguntou. — Não são só amigos e pais que estão lá em cima. São nossos agricultores, nossos médicos, nossos engenheiros. Não me importa o que ele lhes diz. Não sobreviveremos sozinhos. Além do mais, se realmente for seguro, por que não querem que o resto das pessoas venha?
Wells é tão ingênuo, foi o que passou pela mente de Olivia, mas ela guardou para si mesma.
— Minhas pessoas já estão aqui. — disse Bellamy, com certeza firmeza. Ele apontou para o céu — Aquelas pessoas trancaram minhas pessoas. — Ele se aproximou de Wells. — Aquelas pessoas mataram minha mãe pelo crime de ter um segundo filho. Seu pai fez isso.
Olivia engoliu em seco. Aparentemente, o pai de Wells fez todos sofrerem, e Olivia se sentia culpada por seu pai ajudá-lo.
— Meu pai não redigiu as leis. — Wells afirmou, seus olhos beiravam águas, mas por conta do sentido de raiva que transbordava o seu ser.
— Não. Ele as fez cumprir — Bellamy balançou a cabeça negativamente. — Mas não mais. Não aqui. Aqui, não há leis. Aqui, fazemos o que quisermos, quando quisermos.
Os jovens delinquentes cercando os garotos que falavam, em coro, concordaram com Bellamy.
— Agora, vocês não precisam gostar, Wells. — Bellamy disse, e logo direcionou seu olhar até Olivia. — E você, princesa, até pode tentar impedir, mudar, me matar. Sabe por quê?
Olivia cruzou os braços, ao saber que o "princesa" dito por Blake, era direcionado a ela. Odiava que a chamassem assim, mas parece que era um de seus apelidos agora.
— Fazemos o que nós quisermos. — Wells, desesperado ao ver os delinquentes concordarem com Bellamy e repetir o que o mesmo havia dito, olhou para Olivia, que tinha um olhar indescritível para Blake. Ao olhar para Wells, ela simplesmente deu de ombros e se aproximou dele.
— Seu pai não está aqui, Wells. Infelizmente, precisa se proteger sozinho e, aparentemente, suportar essa ditadura. — ela disse.
Wells parou por alguns segundos, e tentou raciocinar o que a garota acabara de falar. Assim, ele passou por ela e parou em frente a Bellamy. Os dois se encaravam. Olivia já previa mais um drama, mas o que aconteceu surpreendeu a todos. Começou a chover.
— Está chovendo!
— Vejam!
Bellamy sorria vitorioso, e Wells ainda tinha seu semblante sério e derrotado. Olivia fazia careta por, agora, estar encharcada. Mas no fundo, estava feliz, nunca esteve embaixo de uma chuva antes.
— Precisamos coletar a água. — Olivia falou, atraindo a atenção dos dois garotos.
— O que quiser, princesa.
Os delinquentes festejavam a chuva. Riam, pulavam e gritavam feito animais. Tecnicamente, em algum momento de suas vidas, eles foram, mas enjaulados. Agora, estavam livres. E definitivamente, fariam o que quisessem.
Olivia olhou para o céu e logo fechou seus olhos. Um sorriso idiota não sairia do seu rosto tão facilmente enquanto a chuva não fosse embora. Horas atrás estava com medo de morrer sufocada ou até queimada pela radiação, e agora está sorrindo ao ser molhada pela chuva da Terra, sua nova casa.
[...]
Olivia tentava repousar na nave quando gritos abruptos a despertaram. Ao investigar, deparou-se com Wells e Bellamy isolados. A presença de um revólver em posse de Blake suscitou sua preocupação, levando-a a se aproximar.
Ao ouvir Bellamy discursar sobre liberdade e Wells confrontar a imposição de seu pai, Olivia se posicionou ao lado de Bellamy.
— O que estão fazendo aqui? — indagou.
— Ele tenta me convencer a remover essa maldita pulseira! — exclamou Wells.
Ao arquear a sobrancelha, Olivia recebeu o olhar de Bellamy, que deu de ombros.
— Remova a pulseira e experimentará uma sensação de bem-estar incrível. — Bellamy falou, como se buscasse persuadir. — Sério, princesa. Não está cansada de estar sempre sob as asas de seu pai? Mesmo com todos os privilégios, ele a deixou na solitária por um ano inteiro.
— Não, Blake. Nunca. Não vai acontecer. Está bem claro para você? — negou. — Meu pai pode ser um cretino, mas não tinha controle sobre a situação, e mesmo se tivesse, sou uma criminosa, mereci o que passei.
— Concordo com Olivia, não tiraremos as pulseiras. — Wells engoliu em seco ao ver Bellamy sacar a arma.
— Lamento que tenha que ser assim — Bellamy falou, guardando a arma na cintura.
Posteriormente, dois delinquentes contiveram Wells, enquanto Bellamy restringia os movimentos de Olivia. Murphy apareceu portando sua faca, acompanhado por um sorriso irônico. Apesar da tentativa de Wells de escapar, resultou em fracasso, sendo recapturado. Relutante, Olivia procurava se libertar do domínio de Bellamy, sem sucesso.
— Soltem-me! — Wells clamava. — Não!
— Liberte-o! — Olivia exclamou para Bellamy, que simplesmente encarou a garota. — Blake, solte-o!
Os delinquentes mantiveram Wells e removeram sua pulseira. Olivia temeu ser a próxima, reunindo coragem. Com um impacto, desferiu um golpe no rosto de Bellamy, atingindo seu nariz, que agora sangrava. Tentou intervir antes que os garotos retirassem a pulseira de Wells, mas foi em vão.
— Sua vez, princesa. — Murphy sorriu, aproximando-se dela.
— Vá para o inferno, John! — desferiu um chute na perna, fazendo com que o garoto caísse de joelhos, gemendo de dor.
Bellamy, observando a cena, riu balançando a cabeça negativamente. Questionava-se sobre a presença ali da exemplar filha de Marcus Kane, membro do conselho. Estava determinado a descobrir.
[...]
Ao raiar do dia, o grupo que se aventurara em direção a Monte Weather ainda não havia retornado. Olivia, preocupada com Clarke, cuja presença considerava crucial, oferecia apoio moral enquanto Wells cobria as covas dos que morreram durante o pouso da nave.
— Será que ele se preocupa?
Observando a floresta, Olivia virou-se para Wells diante de sua indagação sobre seu pai.
— Seu pai?
— Sim, meu pai. — Wells suspirou. — Será que ele se preocupa se estou realmente morto?
— Devem presumir que esses loucos estejam removendo as pulseiras por conta própria. — Olivia cruzou os braços. — Ele é seu pai; é óbvio que se preocupa.
— Por que acha que eles conhecem o motivo?
— Seria estranho várias pessoas morrerem uma de cada vez com sinais vitais ótimos. Além disso, são delinquentes; por que seguiriam ordens do seu pai?
— Faz sentido, Kane. — ele disse, sorrindo levemente.
— Me chame de Kane novamente, e desta vez o que será arrancado de seu pulso será as veias. — ela sorriu meigamente.
Wells arregalou os olhos, lembrando-se do humor ácido de Olivia, e riu. Ao retornarem ao acampamento, alguns delinquentes corriam desordenadamente, enquanto outros se embrenhavam na mata.
— Quanto tempo acha que esses desajustados durarão se continuarem assim? — Wells perguntou enquanto caminhavam até a nave.
— Acredito que pouco. — Olivia respondeu casualmente. Ao chegarem à nave, um dos delinquentes familiarizados com Bellamy os interceptou.
— Onde arranjou essas roupas? — referiu-se às roupas que Wells carregava.
— São dos dois jovens que morreram no pouso. — Wells respondeu.
— Esperto. — o garoto disse. — Deixe comigo. Sempre há um mercado... — ele tentou tirar as roupas de Wells.
— Partilhamos com base nas necessidades, como em casa.
Bellamy emergiu da nave com uma garota. Sem camisa e visivelmente suado.
Pelo amor de Deus, Olivia pensou.
— Ainda não entendeu, chanceler? — Bellamy perguntou. A garota ao seu lado, com a mão na cintura, recebeu um selinho dele. Logo, a garota se afastou. Olivia revirou os olhos.
Acabaram de chegar na Terra, e já estão carentes? Deplorável.
— Esta é nossa casa agora. — Bellamy começou. — As regras do seu pai não valem mais. — disse, pegando uma camiseta das mãos de Wells.
Olivia tentou pegar, mas Atom, o delinquente que falara com eles anteriormente, a segurou.
— Não, Atom. Espere. — Bellamy disse, e o garoto soltou Olivia. — Quer de volta, princesa? Pegue.
Bellamy encarou Olivia com a camisa nas mãos. Ela não cairia em seu jogo.
— Não vou cair no seu joguinho, Blake. — ela disse, e ele sorriu. — Faça bom proveito das roupas dos cadáveres.
Wells soltou as roupas no chão, bufando. Bellamy agora vestia a camisa, ainda sorrindo.
— É isso que quer? Caos? — Wells perguntou.
— O que há de errado com um pouco de caos? — Bellamy falou, passando a camisa pela sua cabeça. Gritos ecoaram. Olivia viu de longe e correu até John Murphy, que segurava uma garota perto da fogueira.
— Bellamy — chamou Murphy. — Veja, queremos que a Arca pense que a Terra está nos matando, certo? Imaginei que seria melhor se sofressemos um pouco antes.
Bellamy, Olivia e Wells se aproximaram para ver o que o delinquente estava fazendo. Wells empurrou Murphy, liberando a garota.
— Você pode impedir isso. — disse Wells.
— Impedir? Só estou começando.
Murphy socou o rosto de Wells, em seguida, Wells socou sua barriga, várias vezes. Olivia não achou muito ruim, odiava Murphy e sabia que ele merecia. Sentiria-se mal depois por pensar assim. Bellamy, que assim como Olivia, observava a briga, segurou Olivia pelo braço.
— Deixe-o se defender sozinho. — ele semicerrou os olhos para ela.
Wells estava agora sobre Murphy, quase espancando o garoto. Olivia sorriu com a cena; Murphy merecia. Bellamy, ao notar o vermelho no braço de Olivia, parou de apertá-lo, mas não a soltou.
— Idiota, olha como está meu braço! — ela esbravejou.
— Entenda como uma vingança; meu nariz ainda está doendo. — Bellamy disse no mesmo tom. — Treinou por quantos anos na guarda? Nunca te vi.
— Não interessa, Bellamy, me solta. — ela disse, irritada. Não entendia essa perseguição.
— Só se me falar.
— Se eu não falar, vai sair me arrastando por aí?
— Talvez.
Ela bufou, e Bellamy sorriu.
— Não treinei na guarda, meu pai me treinava sozinho. — ela disse, relutante. — Satisfeito?
— Não. E sua mãe?
— Por que quer saber? Não tem coisas mais importantes para cuidar? — ela perguntou, conseguindo soltar seu braço.
— Porque eu quero, princesa. — ele sorriu ao ver a garota passar a mão no próprio braço. Bellamy olhou para os garotos, e viu Murphy pegar uma faca. — Espera! — ele se meteu no meio dos dois, e logo estendeu a mão, com uma faca para Wells. — Luta justa.
— Só pode ser brincadeira! — Olivia exclamou.
[...]
Após o retorno do grupo dos cinco, agora desfalcado por Jasper, e a chocante revelação de que tudo que sabiam sobre a Terra estava equivocado, o dia de Olivia não poderia ter piorado. A notícia de outros sobreviventes além deles gerava tanto temor quanto esperança. Octavia, vítima de um ataque de uma criatura gigante em um lago recém-descoberto, adicionava um elemento aterrorizante à equação.
— Onde está sua pulseira? — Clarke perguntou a Wells, indignada.
— Pergunte a ele.
Seu olhar se dirigiu a Bellamy, que permaneceu em silêncio.
— Vinte e quatro e aumentando. — Murphy relatou.
— Idiotas. — disse Griffin. — Os suprimentos na Arca estão se esgotando. Fomos enviados aqui para que soubessem que é possível sobreviver na Terra, e precisamos da ajuda deles contra o que quer que exista aqui. Se removerem suas pulseiras, não estão apenas os condenando. Estão nos condenando!
Um silêncio tenso dominou o local. Bellamy encarava Clarke com fúria, depois voltou seu olhar para os delinquentes.
— Somos mais fortes do que pensa. Não a ouçam. Ela é uma privilegiada.
Olivia semicerrou os olhos ao ouvir isso. Não estavam mais na Arca, não possuíam mais privilégios, mas Bellamy parecia não compreender.
— Se eles vierem, ela ficará bem. Quantos de vocês podem dizer o mesmo? Podemos cuidar de nós mesmos. Essa pulseira em seu braço? Ela o faz prisioneiro. Não somos mais prisioneiros!
Olivia concordava, mas não plenamente. A Arca estava de fato à beira da ruína, e não eram apenas os membros do conselho ou quem causou a morte de sua mãe; eram também crianças inocentes e trabalhadores. Eles não tinham culpa.
— Eles prometem perdoar nossos crimes. Eu digo que vocês não são criminosos! São guerreiros, sobreviventes! Os habitantes da Terra devem se preocupar conosco.
— Patético. — Olivia resmungou.
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