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──── Wanheda pt. 1
Apesar de Clarke ter partido, consumida por uma culpa insuportável pelas vidas que tirara em Mount Weather, na primeira semana, tudo parecia tranquilo. O alívio dos delinquentes por estarem de volta e reunidos com seu povo era enorme.
Com o passar do tempo, Olivia começou a descobrir eventos que ocorreram durante sua ausência em Mount Weather.
Primeiro, Finn. Ele estava morto, morto pelas mãos de Clarke. Aparentemente, os terráqueos buscavam vingança por ele ter massacrado uma aldeia de inocentes. Eles conseguiram sua vingança. Além disso, Jaha estava vivo, e, surpreendentemente, Murphy havia escapado com ele.
Durante esses três meses, muitas coisas aconteceram, boas e ruins.
Olivia sofreu com pesadelos constantes durante o primeiro mês, sempre revivendo sua experiência em Mount Weather. Felizmente, Bellamy estava sempre presente para apoiá-la.
No segundo mês, os pesadelos cessaram. Bellamy conheceu uma garota chamada Gina, que parecia ser o tipo de namorada perfeita para ele. Entretanto, eles não namoravam. Olivia achava isso estranho porque, apesar de tudo, ela achava Gina uma garota legal.
A Kane lidou bem com isso; eles ainda eram amigos e ela tinha questões mais urgentes para resolver.
Como o dano na articulação do quadril causado pela perfuração, que foi descoberto no segundo mês. Abby sugeriu uma cirurgia, a única maneira de Olivia se recuperar sem dores crônicas. Em poucas semanas, Olivia já conseguia caminhar com menos dor, e no terceiro mês, ela já estava participando de missões com o resto de seus amigos.
Os Arkadianos haviam estabelecido uma trégua com os terráqueos e, finalmente, desfrutavam de um período de paz. Entretanto, os Arkadianos continuavam a realizar missões até Mount Weather para coletar suprimentos e tudo o que pudessem necessitar.
Olivia jamais retornou àquele lugar, não depois do que aconteceu. Sempre encontrava uma desculpa para evitar as missões, até que, um dia, não pôde mais se esquivar. Uma única vez. Depois de tudo, a garota pisara uma única vez em Mount Weather. Foi difícil, mas ela superou.
Agora, nos dias atuais, ela acordou mais cedo do que de costume. Estava escalada na ronda de mapeamento daquele dia, realizada sempre pela manhã.
Ao atravessar a porta da garagem, deparou-se com Jasper e Monty discutindo. Era uma cena comum.
Tão cedo, e Jasper já estava embriagado. Era deprimente.
— Ei, ei — Olivia forçou um sorriso, depositando seu arco e flechas sobre uma das mesas ali presentes e aproximando-se dos amigos — Como estamos?
— Bêbados — resmungou Monty.
— Eu não poderia estar melhor — balbuciou Jasper.
— Ah, sim — a garota fez uma careta — Com certeza. Por que não se senta?
— Boa ideia, eu estou indo — afirmou Monty, sem paciência, dirigindo-se à mesma mesa onde Olivia havia deixado seu arco.
A garota soltou um longo suspiro.
— Não estou afim de me sentar, Kane — Jasper franziu os lábios.
— Não tem problema — ela sorriu — Eu fico aqui com você.
— Você vai beber comigo?
— Por que precisamos beber?
— Fico melhor desse jeito — Jasper deu de ombros.
Olivia sabia que não conseguiria convencê-lo do contrário; todos tentaram por dois meses, sem sucesso.
Ela pressionou os olhos ao ver Jasper encher outro copo com uma bebida alcoólica.
"Por que deixam isso aqui, sem ninguém cuidando?", pensou a garota.
— E aliás, como vai seu companheiro, Liv? — Jasper riu ao derramar um pouco da bebida no chão.
— Meu o quê?
— Bellamy, seu namorado. Como ele está?
— Jasper, já falei mil vezes que Bellamy e eu não somos namorados — ela afirmou, cruzando os braços.
— É uma pena — Jasper virou-se, deparando-se com um piano — Desde quando há um piano aqui?
Olivia pensou em responder, mas foi tarde demais. Com um baque, o garoto escorregou na bebida que havia derramado e caiu ao chão.
— Jasper! — chamou a garota, aproximando-se — Vem, levanta.
Ela se agachou para ajudá-lo.
— Ah, não — ele negou, passando uma das mãos pelo rosto de Olivia, na intenção de fazê-la calar a boca — Aqui está bom.
Olivia fez uma careta, sentindo o cheiro de álcool que invadiu suas narinas.
— Que nojo, Jasper — reclamou ela — Está bem, quando quiser levantar, me chame.
Jasper fechou os olhos e fez um "joinha" com as mãos.
Minutos se passaram, e agora Olivia estava sentada ao lado de Monty, com a cabeça apoiada na mesa como uma criança emburrada.
— Por que não estão prontos?
Os dois jovens olharam na mesma direção ao ouvir a voz de Bellamy.
— Nós estamos — afirmou Monty, olhando de canto de olho para Jasper, que ainda estava no chão — Ele não está.
Bellamy enrugou a testa ao ver o amigo naquela condição e dirigiu-se a ele, seguido por Monty.
— O que faremos? — perguntou Monty.
— Vamos deixá-lo desta vez — respondeu Bellamy.
— Ele não vai melhorar. A morte de Maya o devastou — Monty franziu os lábios — Ele precisa disso.
Olivia, no entanto, permaneceu sentada, apenas observando de longe. Ela ajudava Jasper como podia, sem lhe dar sermões, pois sabia que isso não funcionaria e seria pior para ele.
Ela só... estava lá. Sempre que ele quisesse, ela estaria lá.
— Pegue um braço — disse Bellamy, após soltar um suspiro.
Olivia queria poder rir daquela cena, queria poder saber que o garoto estava embriagado apenas por diversão, mas sua situação era triste.
Quando os dois garotos levaram Jasper até a Rover de patrulhamento, Olivia pegou seu arco e dirigiu-se ao veículo.
Ao olhar para o lado, deparou-se com Bellamy e sua... namorada, ou caso passageiro, aos beijos. Ela fez uma careta e balançou a cabeça negativamente.
Olivia se aproximou do Rover e quase deu um pulo de susto quando Raven apareceu saindo de baixo do veículo.
— Credo, Raven — ela exclamou — Bom dia para você também.
— Se acostume — Bellamy riu, jogando uma mochila em cima do veículo.
— Ei, pega leve! — Raven afirmou.
Logo, Bellamy retirou da mochila uma arma e a entregou para Miller.
— De que adianta ir se não podemos atirar neles? — Miller perguntou.
— Nós podemos. Mas sem matar. Isso vale para todos — Bellamy disse — E Octavia?
— Vamos atravessar o muro. Acha mesmo que ela perderia isso? — Miller perguntou ironicamente, afastando-se.
Olivia franziu a testa quando Bellamy lhe estendeu uma arma.
— Para que isso?
— Para usar — ele ironizou.
— Eu prefiro meu arco.
— Você que sabe, princesa — Bellamy deu de ombros.
Olivia só notou a presença de Jasper apoiado no outro lado do veículo quando Monty jogou um balde de água fria nele.
— Desculpe, estava muito fria? — Monty ironizou.
Com isso, ele atacou Monty, agarrando-o pela gola da camisa e jogando-o contra o veículo. Bellamy se aproximou ao perceber Jasper se dirigindo para as armas.
— Só terá armas quando estiver sóbrio — Bellamy afirmou.
— Não quero arma — Jasper retrucou.
O garoto fez um sinal de continência, e logo sua mão atingiu o rosto de Bellamy com um tapa.
Olivia soltou um riso baixo, olhando para o lado. Ao perceber Raven olhando para ela com uma expressão séria, recuperou sua postura.
Quando entraram no veículo, Bellamy foi o último, pois estava se despedindo de Gina.
— Ela é boa demais para você — Raven brincou.
— Cale a boca — Bellamy revirou os olhos.
— Cuidado. Monty pode amolecê-la — Jasper comentou.
Jasper estava na frente, ao lado de Raven, que iria dirigir. Monty e Miller estavam sentados lado a lado, enquanto Bellamy e Olivia ocupavam os assentos restantes, um ao lado do outro.
Monty começou a falar algo, mas Olivia o interrompeu.
— Ei — ela exclamou, dando um leve tapa na nuca do asiático, que fez uma careta.
— Raven... vamos sair daqui — Bellamy afirmou, ignorando o que tinha acabado de ver.
Raven sorriu para o garoto, logo dando partida no veículo. Quando os portões se abriram, Octavia apareceu montada em um cavalo.
— Tentem me acompanhar — a Blake mais nova sorriu antes de partir.
— Para onde vamos? — Raven brincou.
— Setor 7 — Olivia arqueou uma sobrancelha.
— Me pergunto quando os dias de glória virão — Miller cruzou os braços, arrancando uma risada de Bellamy.
[...]
No meio da viagem, Jasper começou a cantar. Ele usava fones conectados ao MP3 de Maya, que continha apenas as músicas favoritas dela.
Monty retirou os fones do garoto.
— Sem chance. Se vai de carona, não pode desaparecer.
Jasper então conectou o MP3 ao rádio do Rover. Monty tentou impedi-lo novamente, mas Bellamy interrompeu.
— Não tem problema. A viagem é longa — disse Bellamy.
Segundos se passaram e o silêncio foi quebrado. Primeiro, Jasper começou a cantar, o que acabou animando Raven, que cantou rapidamente, sorrindo. Miller gesticulava com as mãos como se tocasse uma bateria, fazendo Olivia rir e cantar também. Monty se rendeu, sorrindo para Olivia e deixando-se contagiar pela música.
Bellamy tentou manter a pose séria, mas ao ver Miller fingindo tocar bateria, Monty rindo e cantando ao mesmo tempo e Olivia cantando alegremente, ele não resistiu. O moreno abaixou a cabeça, rindo dos amigos.
Depois de tanto tempo, aquela era a primeira vez que viam Jasper genuinamente feliz. O garoto levantou-se de seu lugar e colocou a cabeça para fora do Rover, cantando.
Infelizmente, a alegria cessou quando Raven desligou a música após notar um sinal apitando dentro do veículo.
— Um farol rastreador da Arca — Monty exclamou, praticamente pulando do lugar para o banco da frente.
Raven parou o veículo imediatamente, fazendo Jasper se abaixar novamente.
— Ei, era a melhor parte — lamentou o garoto.
— Quem é? — Bellamy perguntou, referindo-se ao rastreador.
— Estação Agrícola — Monty respondeu.
— Após quatro meses? — Miller balançou a cabeça — Como?
— É melhor descobrirmos por conta própria — Bellamy deu de ombros — Onde eles estão?
Olivia virou a cabeça rapidamente quando Octavia abriu a porta atrás dela.
— Não me digam que perdi a festa.
— Setor 8 — Monty informou.
— É a Nação do Gelo — Miller afirmou.
— O que tem? — Octavia perguntou.
— Pelo protocolo, devemos voltar — Raven começou — Cabe à chanceler decidir o que fazer.
— Então que o protocolo se dane — Olivia afirmou. Bellamy a olhou com uma sobrancelha arqueada — Ela não é da Estação Agrícola.
— Monty é. E o namorado de Miller — Bellamy concordou com Olivia, então olhou para Miller — A decisão é de vocês.
— Vamos lá, então — Monty decidiu.
— Tenho que pedir? — Miller ironizou.
Bellamy assentiu com a cabeça, olhando para sua irmã.
— Tente acompanhar.
Octavia não demorou para fechar a porta novamente e subir em seu cavalo, o que permitiu que Raven retomasse a direção, agora com ainda mais velocidade.
Ao chegarem, desceram correndo do Rover.
— O mato deve ser a fronteira — Bellamy comentou.
— E onde está o gelo? — questionou Jasper.
— Bem mais ao norte — Octavia respondeu — Azgeda se estende por mil e seiscentos quilômetros.
— Que bom que só precisamos andar duzentos metros — Monty falou, com os olhos fixos em seu monitor portátil.
— Devagar — Bellamy colocou o braço na frente do garoto — As regras de combate pedem força não letal. Formação cerrada ao meu comando.
Olivia parou entre Bellamy e Raven, que por sinal havia acabado de descer do veículo.
— Raven e Olivia, fiquem no transporte — Bellamy olhou para as duas.
— Sim, claro — ironizou Raven.
— Nem pensando — Olivia negou imediatamente.
— Precisamos de todas as armas — Octavia defendeu as garotas — E arco.
— Estão vindo — Monty começou a falar — Cento e vinte metros. Cento e dez.
Ele continuou contando até Bellamy sacar sua arma.
— São o nosso pessoal!
— Tomara que sejam — disse Bellamy.
Octavia preparou sua espada. Monty, Miller e Raven empunharam suas armas. Olivia ergueu seu arco, certificando-se de que estava pronta para agir se necessário.
— Ao meu comando.
Entretanto, Monty estava completamente errado. Não eram seu povo. Eram terráqueos montados em cavalos.
— Nação do Gelo? — Bellamy perguntou em um tom baixo.
— Sim. Pintura branca de guerra — Octavia respondeu — Tenham calma.
Octavia, lentamente, guardou sua espada e ergueu as mãos enquanto avançava.
— Chon yu bilaik? — um dos terráqueos questionou.
Olivia aprendeu o básico da língua dos terráqueos com Lincoln e Octavia, principalmente durante as aulas de combate que Lincoln dava aos Arkadianos.
O terráqueo havia perguntado quem eram.
— Skaikru — Octavia respondeu.
Ela explicou que estavam procurando por seu povo. O terráqueo afirmou estar em busca de Wanheda.
— O que é Wanheda? — Bellamy sussurrou para Olivia, fazendo uma careta.
— Acho que é comandante da morte, não tenho certeza — ela respondeu no mesmo tom, enrugando a testa.
— Estão procurando por Wanheda — Octavia informou.
— Quem é? — Bellamy perguntou.
— Eu não sei.
Quando um dos terráqueos desceu de seu cavalo, as sobrancelhas de Monty se elevaram.
— A luz é o farol.
O homem carregava o rastreador consigo. Jasper avançou até ele, mesmo com Bellamy tentando impedi-lo.
— O que está fazendo? — Olivia exclamou.
Os outros dois cavaleiros prepararam seus arcos na direção do garoto.
— Diga logo que obedecemos à trégua da comandante — Bellamy disse para Octavia.
A garota rapidamente alertou os terráqueos sobre o que Bellamy havia pedido. Felizmente, isso foi o suficiente para que os homens abaixassem os arcos, mas não para deter Jasper.
— Isso é nosso — Jasper mostrou o rastreador ao terráqueo, após arrancá-lo da mão do homem.
O terráqueo puxou Jasper pelo colete à prova de balas, imobilizando-o e posicionando uma faca em sua garganta.
Ele perguntou novamente onde estava a tal de Wanheda.
Os Arkadianos apontaram suas armas para os terráqueos. Olivia manteve sua atenção focada no peito do homem que segurava Jasper, embora soubesse que só podiam usar força não letal.
— Solte-o! — Bellamy exigiu.
Octavia, desesperada, avisou aos terráqueos que ninguém ali sabia quem era Wanheda.
Apesar de ter uma faca pressionada em seu pescoço, Jasper soltou uma risada. O terráqueo que o segurava perguntou se ele achava aquilo engraçado, enquanto o sangue do garoto escorria pelo pescoço.
Olivia desistiu de mirar no peito. Em uma fração de segundo, a flecha que estava posicionada em seu arco cravou-se no meio da testa do terráqueo que segurava Jasper.
— Não atirem! — Bellamy exclamou.
Raven e Miller atiraram nos outros dois terráqueos.
"Transporte um, responda. Repito, transporte um, responda" soou do rádio da Rover. Octavia e Raven correram para ajudar Jasper, enquanto Bellamy se dirigiu ao veículo para verificar a chamada.
Olivia aproximou-se de Bellamy, que exibia uma expressão séria no rosto.
— Quem era? — ela perguntou.
— Seu pai. Ele nos quer no setor 4.
— Setor 4? Por que Kane está tão longe do muro? — questionou Raven.
Bellamy balançou a cabeça negativamente, dirigindo-se até Jasper.
— Levem-no para casa!
— Eu estou bem, valeu por perguntar — Jasper brincou.
Decidiram que Miller, Raven e Octavia levariam Jasper de volta ao acampamento com os cavalos, enquanto Bellamy, Monty e Olivia seguiriam para o setor 4 para descobrir o que Kane queria.
Quando chegaram, os três estavam em silêncio.
— Você estava certo sobre Jasper — Monty começou — Quer que eu diga isso?
— Quieto. Fique de olhos abertos — Bellamy respondeu secamente — Eu poderia ter dito não.
— Ele está piorando, não é? — Monty perguntou — Ficar bêbado toda noite é uma coisa, mas sorrir com uma faca no pescoço é outro nível de demência.
Ninguém respondeu. Permaneceram em silêncio quando avistaram Kane se aproximando com uma mulher atrás de si.
— Com quem ele está? — Monty franziu a testa.
— Indra — Bellamy respondeu.
— Essa é a Indra? — Olivia ergueu as sobrancelhas.
— Ele deve ter informado que violamos a trégua — Bellamy afirmou.
Olivia assentiu em direção ao pai quando eles se aproximaram.
— Senhor, houve um bom motivo... — Bellamy foi interrompido.
— Cuidarei disso depois. A questão é Clarke — Marcus disse.
Os três delinquentes se entreolharam.
— O que aconteceu com ela? — Bellamy perguntou.
— Está sendo caçada — Indra respondeu.
— Por quem? — Monty questionou.
— Por todos — afirmou Indra.
Bellamy engoliu em seco, enquanto Olivia soltou um suspiro profundo, coçando a testa.
— Devemos procurá-la? — perguntou a mais jovem Kane.
— Com certeza — Marcus afirmou.
Em poucos minutos, os cinco estavam na Rover. Para Indra, aquilo era claramente novo; a mulher olhava com desdém para cada barulho diferente, especialmente o motor.
Ela se assustou quando o veículo balançou de maneira estranha. Kane riu suavemente.
— Ainda não me acostumei com isso — disse ele.
— Senhor, estamos quase fora do alcance — Monty, que dirigia, informou — Não quer avisar a chanceler?
— Não. Só preocuparei Abby quando descobrirmos algo.
— Bom, sabemos que há uma sentença de morte — Bellamy disse sem ânimo, dirigindo-se a Indra — Seu povo está bastante interessado.
— Não é uma sentença de morte. É uma recompensa — Indra explicou — Clarke é um símbolo. Ela é conhecida como Wanheda.
— A comandante da Morte, não é? — Olivia perguntou, pela primeira vez fazendo contato visual com Indra.
A garota se sentiu extremamente julgada sob o olhar analítico da terráquea.
— Exato.
— Os homens da Nação do Gelo que eliminamos mencionaram Wanheda — Bellamy parecia confuso ao falar — Estão procurando Clarke. Por quê?
— Meu povo acredita que, ao matar alguém, você ganha sua força — Olivia fez uma careta com as palavras de Indra — Mate Wanheda e comandará a morte.
Bellamy, ao lado de Monty nos bancos da frente, balançou a cabeça em descrença.
— Ela é só uma garota — Marcus disse.
— Assim como a comandante. Clarke se enfraqueceu com o ocorrido em Mount Weather — Indra afirmou — A Nação do Gelo foi encorajada. A rainha deles quer a força de Clarke. Se seu povo acreditar que ela possui essa força, sairá da coalizão e iniciará uma guerra. Isso não pode acontecer.
Olivia bufou, os olhos levemente arregalados.
— Bem-vindos ao Setor 7. E agora? — Monty falou após um apito soar.
— Se ela estiver aqui, precisará de suprimentos — Indra respondeu — Vamos começar pelos entrepostos.
Monty acelerou, e o tempo pareceu acompanhar. A noite já havia caído, e ainda não haviam alcançado seu destino.
Olivia quase foi arremessada por cima do pai quando Monty freou abruptamente.
— O que diabos foi isso? — Olivia perguntou, esfregando a cabeça dolorida pelo impacto.
— Uma árvore caída — Monty respondeu, olhando para Bellamy — Precisamos removê-la.
— Esperem — Indra disse quando os jovens se preparavam para descer do veículo — Ela foi derrubada.
Olivia espiou pelos vãos da Rover, estreitando os olhos para enxergar melhor.
— Como você sabe? — Bellamy perguntou, saindo de seu lugar e indo até o meio do veículo, onde podia colocar a cabeça para fora pelo teto e analisar a situação.
Ele passou apenas alguns segundos antes de voltar apressado para dentro, quase se jogando ao lado de Indra quando outra árvore caiu atrás do veículo.
— Agora sabemos — a mulher afirmou.
Bellamy arregalou os olhos em direção a Olivia, que estava com a boca entreaberta, olhando ao redor.
— E o que fazemos agora? — ela perguntou.
— Esperamos — Indra respondeu.
Olivia revirou os olhos, praticamente jogando a cabeça no ombro do pai.
[...]
— Já se passaram três horas. O que estão esperando? — Bellamy indagou, cruzando os braços com impaciência.
Para Olivia, aquelas foram as três horas mais tediosas e inquietantes de sua vida. Eles permaneceram imóveis, apenas aguardando que algo ocorresse.
— Mesmo com a luz, não consigo ver ninguém — Marcus comentou, espiando pelos vãos do veículo.
Ele estava nessa posição há alguns minutos. Olivia, com a cabeça apoiada nas mãos e os cotovelos sobre as próprias pernas, olhava fixamente para o chão.
— Acho que deveríamos arriscar — Monty sugeriu.
— Não. É isso que eles querem que façamos — Marcus negou.
— O garoto está certo — Indra concordou com Monty — Eles podem esperar mais do que nós.
— Certo, Bellamy. Suba na torre de artilharia e nos dê cobertura — Marcus ordenou — Quando alcançarmos aquele monte, faremos o mesmo por você.
— Entendido — Bellamy assentiu — Corram rápido.
Assim que Bellamy cumpriu a ordem, ele ergueu os braços em um movimento rápido.
— Eles estão aqui.
Olivia olhou rapidamente para cima, segurando firmemente seu arco.
— Todos para fora ou o garoto morre.
E então, puxaram Bellamy.
— Está bem! Está bem, estamos saindo! — Marcus exclamou — Não o machuque.
Ele largou sua arma, seguido por Indra e Monty. Olivia hesitou, mas acabou deixando seu arco cair ao chão também.
Quando Marcus abriu a porta do veículo, os invasores não perderam tempo em puxá-los e jogá-los ao chão.
— Alvos dominados!
Um dos homens pegou o rastreador que Monty segurava, erguendo-o do chão.
— É meu. Devolva! — Monty protestou.
— Monty, esqueça! — Bellamy ordenou, tentando acalmar o amigo.
— Monty? — uma voz feminina soou.
Todos olharam, confusos, para a dona da voz.
— Mãe?
Quando a mulher tirou a máscara, revelou-se ser a mãe de Monty. Ela correu e abraçou o filho.
— Estação Agrícola, relaxem — um dos homens ordenou.
Marcus se virou, reconhecendo o homem.
— Pike? — perguntou, surpreso.
— Pike? — Olivia repetiu, ainda mais alto, virando a cabeça na mesma direção do pai.
O homem tirou a máscara e sorriu para Kane.
— Não sabe como é bom ver você!
Pike estendeu a mão para ajudar Marcus a se levantar.
— Achamos que não tinha sobrevivido — Marcus comentou, ainda perplexo.
— Lacroix, Smith, atenção! — Pike falou com os homens que pressionavam Olivia e Bellamy contra o chão.
— Sim, senhor.
— Pessoal, relaxem.
Olivia se levantou assim que o homem retirou o pé de suas costas, olhando-o com desdém. Bellamy fez o mesmo com o outro.
— Onde está o meu pai? — Monty perguntou.
— Seu pai não sobreviveu.
Monty, visivelmente triste, apenas abraçou sua mãe. Olivia, apesar da cena comovente, manteve seu olhar fixo em Pike.
— Quantos são vocês? — o Kane perguntou.
— Sessenta e três — Pike respondeu — O restante está acampando nas montanhas ao norte daqui. Assassinos terráqueos, estou certo?
Todos ao redor de Pike concordaram com ele.
Olivia trocou um olhar significativo com Indra. Em seguida, aproximou-se de seu pai, com Bellamy logo atrás.
— Desculpem interromper, mas precisamos encontrar Clarke — ela afirmou.
— Clarke Griffin? — Pike perguntou, e Olivia assentiu — Quem dera todos os meus alunos fossem como ela. E como vocês dois.
Bellamy, agora posicionado ao lado de Olivia, sorriu.
— É bom vê-lo, senhor.
— Você também — Pike sorriu de volta.
Olivia franziu a testa, ignorando os sorrisos trocados.
— Certo, removam o tronco — Marcus ordenou.
— Ajudem-nos! — Pike exclamou para seus homens.
Olivia observou Bellamy se dirigir à árvore caída, seguido por Monty. Ela cruzou os braços, analisando Pike atentamente.
— Sessenta e três? — Marcus perguntou a Pike — A Estação Agrícola partiu com o triplo desse número.
— Pousamos com esse número — Pike respondeu, lançando um olhar de desdém para Indra.
— A Nação do Gelo pode ser brutal — afirmou Indra — Orgulhe-se do número de pessoas que salvou.
— Indra, este é Charles Pike — Kane apresentou, colocando uma das mãos no ombro do homem ao seu lado — Ele era professor na Arca.
Pike esboçou um leve sorriso.
— Esta é Indra. Ela é a líder de Trikru e uma aliada de confiança.
— Terei que acreditar em você — Pike retrucou, voltando-se para Marcus.
A tensão era palpável, refletida nos olhares trocados entre Indra e Pike. Claramente, Pike não apreciava a ideia de conviver com uma terráquea.
— Kane, temos que ir — Bellamy anunciou, após finalmente terem removido o tronco do caminho.
Olivia suspirou, aliviada com a dissipação da tensão.
— Monty, dê a eles as coordenadas para Arkadia — Marcus ordenou, voltando-se então para Pike — Temos um povoado a 80 km ao sul. Seu povo estará seguro lá.
— Vocês são meu povo — Pike afirmou.
Olivia fez uma careta, afastando-se ligeiramente dos dois homens.
— Que piada — ela resmungou, revirando os olhos.
— Não gosta de Pike? — Bellamy murmurou, cruzando os braços como Olivia.
— Não é isso — ela endireitou a postura — Só não gostei do modo como ele chamou os terráqueos de assassinos.
— Não sabemos o que eles passaram — Bellamy franziu os lábios.
— Ainda assim é estranho — ela deu de ombros — E é desconfortável o jeito como ele olha para Indra, como se ela fosse uma vilã.
— Você acabou de conhecê-la. Como sabe que ela não é?
Olivia descruzou os braços, deixando-os cair ao longo do corpo. Ela ergueu uma sobrancelha.
— Pare de tentar justificar tudo o que eu digo — ela reclamou.
— Não estou fazendo isso. Só que às vezes as coisas são mais simples do que parecem — Bellamy descruzou os braços, apoiando as mãos na cintura.
— Ah sim, claro — ela ironizou, desviando o olhar.
— Qual é, Liv? Pike é parte do nosso povo também! — Bellamy insistiu.
— Honestamente, não poderia me importar menos. É perigoso nosso 'povo' tratar nossos aliados como assassinos, especialmente agora que eles se juntarão a nós — Olivia ergueu as sobrancelhas, enfatizando o óbvio.
— Eles já fizeram isso conosco.
— Eles têm exércitos e doze clãs para enfrentar uma guerra, Bellamy — ela retrucou, a intensidade em seu olhar sublinhando suas palavras.
Bellamy abriu os lábios para retrucar a garota, prestes a lhe dar mais um de seus argumentos, mas Monty interveio, colocando-se entre os dois.
— Vocês estão parecendo um casal de velhos brigando. Calem a boca e subam na Rover, já estamos indo — o asiático parecia dar-lhes um sermão.
Olivia e Bellamy trocaram olhares como duas crianças após uma discussão, forçadas a se reconciliar. No entanto, tudo o que precisavam fazer era entrar no veículo.
[...]
Olivia não sabia se podia chamar aquele local de "loja", mas era o que parecia. Apesar dos terráqueos não conhecerem o conceito de dinheiro, a garota acreditava que aquilo era sim uma loja.
Quando chegaram ao local, Bellamy teve que atirar em um homem que agredia a provável dona da loja.
Ela se levantou rapidamente, assustada com tantas pessoas desconhecidas entrando com armas em seu estabelecimento.
— Como você está? Tudo bem? — Bellamy perguntou, embora não tivesse recebido uma resposta.
Indra e Olivia pararam ao lado do corpo do homem. Olivia fez uma careta, franzindo a testa.
— Caçador de recompensas — Indra afirmou, após analisar o homem.
Indra comunicou-se com a mulher na língua dos terráqueos, alertando-a que só queriam ajudar.
— Fale a nossa língua! — exclamou Pike.
— Pike, vá para o lado de fora — Olivia retrucou, com o semblante sério enquanto encarava o homem.
— Olivia — Marcus chamou-a.
— O quê? — ela perguntou — Ele não vai ajudar se continuar na defensiva desse jeito!
Marcus e Olivia trocaram olhares significativos até o homem assentir com a cabeça.
— Leve Monty e Hannah e vasculhe o perímetro. Certifique-se de que ele estava sozinho — Marcus ordenou.
Pike estreitou os olhos, intercalando seu olhar entre Olivia e Marcus, antes de bufar e sair do local com Monty e Hannah.
Indra voltou a se comunicar com a mulher, agora informando-a que estavam procurando por Wanheda.
A mulher ergueu uma sobrancelha, olhando para o homem sem vida no chão, e logo para os Arkadianos à sua frente.
— Ele também estava.
— Por favor. Ela está em perigo — Bellamy falou.
— Você é um skaikru? — a mulher perguntou.
— Sim.
— Ela esteve aqui ontem à noite — afirmou a mulher.
Bellamy olhou para Marcus na mesma hora.
— Ela disse aonde ia? — perguntou o mais velho.
— Não. Estava aqui quando fui dormir e tinha partido quando acordei.
— Ela lhe deu alguma pista de aonde poderia ir? — agora quem perguntou foi Olivia.
— Não — a mulher respondeu, engolindo em seco, mas logo direcionou seu olhar para o homem no chão — Mas ele deu. Ele disse que o parceiro dele voltou por ela. Foi a Nação do Gelo.
Olivia ergueu suas sobrancelhas, relaxando os ombros, mesmo que estivesse aflita com a situação.
— Espero que a encontre.
— Obrigado — disse Bellamy.
Monty apareceu apressado no local.
— Boa notícia. Encontrei pegadas frescas.
— Ótimo, ligue o veículo — Bellamy lhe disse.
— Essa é a má notícia. Tem árvores demais. Temos que ir a pé.
Kane assentiu com a cabeça, seguindo em frente. Monty foi logo atrás do mais velho. Bellamy arqueou uma sobrancelha ao observar Olivia encarando o homem sem vida no chão.
— Liv — ele chamou pela garota.
Olivia piscou algumas vezes antes de olhá-lo.
— Estou indo — ela afirmou.
A garota olhou uma última vez para a mulher, antes de sair dali. Bellamy foi logo atrás dela.
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