24.
Bellamy, apesar de não concordar completamente com a ideia, reconhecia sua necessidade quando ajudava Olivia a reunir alguns grupos. Explicaram que seria mais prudente e estratégico não estarem em menor número, pelo menos era o que pensavam. Juntos, planejavam enfrentar os desafios iminentes, unindo forças para aumentar suas chances de sucesso na busca por alimentos.
Bellamy, Olivia e agora Clarke estavam lado a lado, observando enquanto os delinquentes entravam no módulo da nave com uma única intenção: obter armamento.
— Usem as lanças para caçar. Peguem o que conseguirem. Voltem no fim da tarde, ninguém fica lá fora depois que escurecer — Bellamy terminou de falar, suas palavras carregadas de autoridade e precaução. Era evidente que a segurança do grupo era sua prioridade principal.
Clarke encaminhou-se para se preparar, equipando-se com armas. Enquanto isso, Olivia franziu o cenho ao observar os delinquentes emergindo do módulo da nave. Ela estava ciente de que, mais tarde, provavelmente se sentiria culpada pela decisão que estava prestes a tomar. No entanto, não podia permitir que o acampamento ficasse praticamente desprotegido enquanto Murphy ainda estivesse presente.
— Olivia, você não acha que devíamos considerar... — Bellamy começou a falar com a garota, virando-se na direção dela, porém sua frase foi interrompida abruptamente quando ela o interrompeu sem cerimônia.
— Eu vou ficar. — afirmou ela. Sua cabeça estava baixa anteriormente, mas agora estava erguida o suficiente para encontrar os olhos castanhos de Bellamy, os quais se contraíram em resposta — Eu sei que fui eu quem tomou essa decisão da caçada, e não ir seria uma falha de minha parte, mas não posso deixar esses delinquentes sozinhos com Murphy. — ela terminou, apreensiva. A garota não confiava totalmente em Murphy e não esperava que ele permanecesse por tanto tempo.
Bellamy piscou algumas vezes antes de apresentar qualquer reação. Em seguida, assentiu com a cabeça, demonstrando aceitação diante do que Olivia havia falado.
— Só tome cuidado, está bem? — Bellamy perguntou, após longos segundos de silêncio, sua preocupação evidente em cada palavra proferida. Olivia assentiu com a cabeça em resposta
— Sim, claro — ela sorriu levemente, sem revelar os dentes. O módulo da nave estava cada vez mais vazio, e Olivia sentia uma ansiedade crescente ao considerar a possibilidade de não retornarem — Por favor, se cuide também. — ela acrescentou, com uma nota de urgência em sua voz, reconhecendo a importância da segurança de Bellamy.
Bellamy riu brevemente, sacudindo a cabeça em resposta. Uma das sobrancelhas do garoto se ergueu quando o último delinquente saiu do módulo da nave, deixando apenas os dois ali.
— Pode ficar tranquila, princesa, você não vai se livrar de mim — Bellamy disse, fingindo uma expressão séria, mas um brilho travesso reluzindo em seus olhos.
Olivia ergueu uma de suas sobrancelhas e soltou um pequeno riso, negando com a cabeça.
— Essa frase é minha! — ela disse, com um tom brincalhão em sua voz.
Bellamy deu de ombros e fez uma careta, enquanto ambos contemplavam o quão incrível era o fato de conseguirem encontrar diversão um na companhia do outro, mesmo em meio ao caos que os cercava.
Bellamy talvez nunca admitiria, mas Olivia despertava nele emoções e sensações que possivelmente ele nunca havia experimentado antes. A amizade dos dois era extraordinariamente forte, servindo como um apoio crucial em tempos turbulentos.
E após isso, Bellamy deixou o módulo. Olivia respirou fundo ao sair logo atrás dele, observando os grupos de delinquentes se preparando para saírem do acampamento. O peso da responsabilidade pesava em seus ombros.
Já era noite quando voltaram. Olivia parou ao lado de Murphy, que segurava um peixe nas mãos. Ela franziu o cenho por um breve momento, mas preferiu ignorar a presença do garoto.
Todos aqueles que haviam saído mais cedo já estavam de volta dentro dos muros. No entanto, havia exceções. Clarke, Finn e Miles não haviam retornado. A ausência deles lançou uma sombra de preocupação sobre o acampamento.
Ao ouvir o barulho da chegada dos delinquentes, Raven correu em busca de Finn, porém, não o encontrou em lugar algum. Bellamy informou à garota sobre o não retorno de seu namorado, o que a deixou imediatamente em estado de desespero.
Com pressa contida, Raven adentrou sua tenda, o coração pesado pela ausência de seu amado. Enquanto isso, Olivia mal teve oportunidade de trocar palavras com Bellamy, pois ele partiu imediatamente em busca de Raven.
Olivia observou o jovem seguir Raven com passos determinados, sua expressão se contraindo em um franzir de sobrancelhas. Uma confusão de sentimentos tumultuava seu interior, deixando-a perplexa diante da ardência que consumia seu peito, sem compreender ao certo sua origem.
— Que rápido... — resmungou Murphy, entre risadas, provocando uma reação de Olivia — Ele já te trocou? — perguntou, com sarcasmo. Olivia revirou os olhos em resposta, sua paciência esgotada diante das brincadeiras do rapaz.
— Vai se flutuar, John.
Olivia dirigiu-se à sua tenda, tirando sua jaqueta e deixando-a cair descuidadamente sobre uma cadeira improvisada assim que chegou. Com um gesto suave, libertou os cabelos antes presos em um rabo de cavalo, permitindo que caíssem livremente sobre seus ombros. Acomodou-se então na cama rústica que servia como sua própria, observando o espaço ao redor.
Ela permaneceu imóvel, sem deitar-se ou sequer mover-se nos próximos cinco minutos, absorta em contemplação enquanto seus olhos fixavam-se no chão. Um sentimento estranho e desconhecido permeava o peito da jovem, algo que ela não conseguia decifrar e admitia não apreciar.
Suas mãos tornaram-se frias e úmidas, e seu coração acelerou seu ritmo de batimento. Por que isso estava acontecendo? Essa era a pergunta que ecoava incessantemente em sua mente, sem uma resposta clara à vista.
No entanto, a imersão nos seus pensamentos foi brevemente interrompida quando alguém entrou em sua tenda. Olivia, sem muito interesse em interromper seu devaneio, não se deu ao trabalho de erguer a cabeça para ver quem era.
— Não vai falar comigo, princesa? — ao ouvir aquelas palavras, Olivia ergueu o olhar e encontrou Bellamy ali, uma expressão aflita misturada com um sorriso ainda presente em seu rosto.
Olivia recusou-se a sorrir, a dor que pulsava em seu peito intensificando-se, como uma maldição que a assombrava. Seu único gesto foi soltar um suspiro aliviado em resposta. Bellamy, franzindo o cenho diante da falta de resposta, decidiu então sentar-se ao lado dela na cama.
Olivia mantinha o olhar à frente, sentindo-se excessivamente vulnerável. Reconhecer que se deixara abalar por uma sensação incipiente no peito a fazia questionar sua própria força, consciente de que não deveria sucumbir por algo tão trivial.
Agora que Olivia havia retirado sua jaqueta, Bellamy notou que ela usava uma regata o tempo todo. Seu olhar logo se fixou em uma cicatriz que ficava um pouco abaixo do ombro da garota, na parte de trás do braço.
Sem qualquer aviso prévio, os dedos de Bellamy repousaram sobre a cicatriz de Olivia, fazendo-a dar um leve sobressalto. O gesto inesperado provocou um sorriso sutil nos lábios de Bellamy.
— Qual é a história dessa cicatriz? — ele perguntou, agora encontrando o olhar de Olivia, que finalmente voltou a encará-lo.
— Ah... — Olivia suspirou, relembrando a história por trás da cicatriz, ela balançou a cabeça negativamente — Consegui essa quando tinha treze anos. Meu pai achava que eu deveria aprender a manejar uma espada, mas eu não era muito habilidosa em evitar golpes. — ela disse com um leve riso.
Bellamy sorriu, notando a expressão nostálgica de Olivia enquanto ela recordava o momento. No entanto, em questão de segundos, o sorriso desapareceu do rosto da garota.
— Você está bem? — ele perguntou, retirando seu toque do braço da garota, mas mantendo seu olhar fixo no dela. Ele não tinha a intenção de desviar o olhar.
— Sim — ela respondeu de forma direta. Então, a garota virou-se para Bellamy e posicionou sua perna esquerda dobrada sobre a cama — E você?
— Estou bem, Liv — ele respondeu com um sorriso fraco — Clarke e Finn ainda não retornaram. Não faço ideia do que fazer a respeito. — seu sorriso desapareceu, revelando sua preocupação não apenas pelo paradeiro dos dois, mas também pela segurança do acampamento como um todo.
— Podemos organizar um grupo e procurá-los, o que acha? — perguntou a garota, com a testa franzida e os lábios levemente contraídos em uma expressão de preocupação.
— Não acha que seria perigoso? — ele perguntou, fazendo uma careta de preocupação.
— Tudo aqui é perigoso — resmungou Olivia, passando a mão direita pela testa e logo a colocando atrás da orelha para afastar uma mecha de cabelo que caía sobre seu rosto.
Bellamy não respondeu; na verdade, mal tinha ouvido a pergunta. Seus olhos estavam fixos no rosto de Olivia, enquanto ela estava distraída com os próprios dedos.
— Às vezes eu penso que teria sido melhor morrer por falta de oxigênio na Arca do que nas mãos dos terráqueos — Olivia disse, embora não estivesse falando sério. Era apenas seu humor ácido tomando conta dela. Ela balançou a cabeça negativamente quando percebeu o que estava prestes a dizer.
— Credo, Olivia! — Bellamy riu, mas com um toque de nervosismo na risada. Olivia ergueu a cabeça e riu, mostrando os dentes em um sorriso.
— Desculpa! — ela riu, mas suas palavras saíram quase como um sussurro.
Olivia cessou sua risada ao notar o olhar penetrante de Bellamy fixo em seu rosto. Ela estranhou a intensidade do olhar, tentando fingir que não se importava, mas era impossível. A sensação era como se Bellamy pudesse enxergar através dela, como se ele tivesse acesso a todos os seus segredos e defeitos mais profundos.
— O que foi? — ela perguntou, envergonhada. Um riso nervoso escapou dos lábios da garota.
— Seu pai estaria orgulhoso se visse quem você se tornou, Liv — Bellamy falou depois de um momento de silêncio. Olivia ficou estática, sem saber como reagir — Não estou apenas tentando confortá-la, é a verdade.
Olivia não respondeu; sua única reação foi abraçar Bellamy. Ele demorou um momento para processar o aperto ao redor do pescoço, sentindo os fios de cabelo da garota roçarem em seu rosto, mas quando se deu conta da realidade, ele a abraçou de volta. O calor de seus corpos entrelaçados era quase como um momento divino para ambos.
Quando o abraço finalmente se dissipou, eles não se separaram totalmente. Seus rostos permaneceram tão próximos que podiam sentir a respiração um do outro roçando delicadamente suas peles.
— Olivia... — Bellamy começou a dizer, encarando os olhos da garota. Era como se estivesse hipnotizado por eles, incapaz de resistir ao seu poder cativante. Talvez ele nem quisesse resistir.
— Sim? — sua voz saiu em um sussurro, carregada de uma mistura de emoções indefiníveis. Olivia sentia seu coração acelerar, uma sensação de calor percorrendo seu corpo enquanto encarava os olhos profundos de Bellamy.
Ela se perguntava se ele podia ouvir as batidas desordenadas de seu coração, se podia sentir a eletricidade que parecia fluir entre eles. Era como se estivessem dançando no limite entre a amizade e algo mais, uma tensão palpável pairando no ar, esperando ser reconhecida.
E Bellamy, por sua vez, se via mergulhado na imensidão dos olhos de Olivia, capturado por sua intensidade e vulnerabilidade. Havia algo magnético na maneira como ela o olhava, algo que o fazia querer se perder naquele momento para sempre. Eles estavam apaixonados, mesmo que ainda não compreendessem totalmente o que isso significava.
— Olivia... Eu quero te beijar agora. Posso? — ele perguntou delicadamente, enquanto intercalava seu olhar entre a boca e os olhos da garota.
Olivia sentiu um arrepio percorrer sua espinha ao ouvir as palavras de Bellamy. Seu coração parecia querer escapar do peito com a intensidade de suas batidas. Ela prendeu a respiração por um momento, incapaz de desviar o olhar dos olhos dele, perdida na profundidade do momento. Por fim, ela encontrou coragem para sussurrar:
— Sim, Bellamy. Você pode.
Com delicadeza, Bellamy encaixou sua mão direita no maxilar de Olivia, trazendo seu rosto para mais perto do seu. O coração dos dois batia descompassado enquanto finalmente seus lábios se encontravam em um suave selar, como se estivessem descobrindo um ao outro pela primeira vez.
O mundo ao redor desapareceu, deixando apenas a sensação de calor e ternura que emanava daquele momento tão esperado.
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