08 ₂
As pálpebras de Olivia se abriram lentamente. A intensa luz branca atingiu seus olhos, causando uma ardência imediata. Vozes familiares invadiram seus ouvidos, enquanto ela recobrava a consciência da realidade.
— O que você acha que aconteceu? — indagou uma das vozes. A pessoa parecia ansiosa, o nervosismo transparecendo em seu tom.
— Cara, confie no que nos disseram — bufou o outro.
Olivia enrugou a testa ao abrir completamente os olhos. Parecia estar em uma enfermaria, mas não a de Abby, uma desconhecida. Esta era mais... civilizada.
Ao virar o rosto para o lado, deparou-se com Monty e Jasper, sentados na maca ao lado da sua, encarando a garota.
— Gente? — ela tentou levantar-se, apoiando a coluna na maca com os cotovelos, mas não conseguiu. Estava enfraquecida.
— Olivia! — exclamou o asiático, aproximando-se com um breve sorriso nos lábios — Como você está?
— Como eu estou? — perguntou ela, incrédula, esboçando uma careta — Foram vocês que foram raptados!
— Raptados? Não, Olivia, estamos seguros aqui — disse Jasper, sorrindo.
— Aqui onde, exatamente? — questionou a garota, enquanto sentava-se com dificuldade na maca.
— Monte Weather, senhorita Kane.
Olivia se conteve para não arregalar os olhos ao ouvir essas palavras saírem dos lábios de um senhor de cabelos grisalhos, que acabara de entrar na enfermaria.
— Como é possível? — ela arqueou uma sobrancelha — Não, um de vocês me sequestrou!
— Garotos, recordam-se do que a enfermaria nos disse? — o mais velho soltou uma pequena risada, acompanhado por Jasper.
— Olivia, você bateu a cabeça em sei lá o quê, e um dos soldados do Monte Weather a encontrou e a trouxe para cá — Jasper colocou uma de suas mãos no ombro direito da garota — É comum ter alucinações; esse incidente que acabou de nos contar foi um fruto de sua imaginação.
Os olhos perplexos de Olivia analisaram o ambiente. Surpreendeu-se ao notar uma agulha inserida em seu braço esquerdo.
— Por que estão retirando meu sangue? — seu olhar dirigiu-se até o homem.
— Ninguém está extraindo seu sangue, minha querida — ele sorriu — Você perdeu uma quantidade significativa por conta da batida, estão apenas realizando uma transfusão.
Olivia estudou os rostos ao seu redor com uma cautela silenciosa, os olhos examinando cada detalhe. Ela mantinha uma distância sútil, mantendo-se à margem das conversas que agora fluíam ao seu redor.
Seus lábios se apertaram ligeiramente, relevando uma expressão subjugada, enquanto seus dedos tocavam nervosamente na parte metálica da maca.
— Está bem, crianças, vou deixá-los a sós — disse o homem — Meninos, assegurem-se de que a senhorita Kane esteja familiarizada com o ambiente — e com um sorriso, ele deixou o local.
Jasper e Monty exibiam sorrisos esperançosos quando Olivia direcionou seu olhar para eles.
— O restante veio comigo, pelo menos? — perguntou ela, exalando um suspiro longo.
Jasper e Monty trocaram olhares impassíveis ao testemunhar a garota praticamente arrancar as agulhas do próprio braço.
— Olivia, só encontraram você — Monty respondeu, cruzando os braços sobre o peito com uma expressão séria.
A garota congelou no lugar assim que ouviu aquilo. Suas sobrancelhas se contraíram em confusão, enquanto a perplexidade invadia sua mente.
— Isso é impossível! — disse ela com firmeza — Eu estava com Octavia e Bellamy. Seria impossível que um deles passasse despercebido.
— Bem, parece que não foi tão impossível — Jasper deu de ombros com um ar de resignação — De qualquer forma, lidaremos com isso mais tarde. A enfermeira providenciou algumas roupas para você vestir. Vamos aguardar do lado de fora.
Olivia fez uma careta de incredulidade enquanto Monty era conduzido para fora da enfermaria por Jasper.
Após escolher algumas peças de roupa, Olivia fez questão de selecionar um casaco, visando ocultar a agulha que havia praticamente roubado da enfermaria, mas apenas por precaução.
Quando passou pela porta da enfermaria com as mãos enfiadas nos bolsos do casaco, Jasper estendeu a mão para ela, exibindo um sorriso discreto, sem mostrar os dentes.
— O que foi? — perguntou ela, ficando o olhar no garoto com uma expressão de curiosidade misturada com cautela.
— Me dê o que acabou de pegar — disse ele, com um tom firme e olhar atendo, ainda estendendo a mão para ela.
— Olha, Jasper, eu não peguei nada — afirmou Olivia, endireitando a postura e mantendo a voz firme enquanto o encarava diretamente.
— Eu sei que pegou — bufou ele, balançando a cabeça com exasperação — Só prometa que não vai usar isso contra ninguém.
— Se não me derem motivo, não vou usar — Kane respondeu, com um sorriso irônico, enquanto dava de ombros.
Em seguida, Jasper começou a falar sobre Monte Weather e todas as suas qualidades duvidosas.
Monty, por outro lado, apenas os acompanhava. Seu olhar estava baixo e distante, como se estivesse perdido em seus próprios pensamentos. Quando Jasper se distraiu, falando sobre algo pouco interessante, Olivia aproveitou o momento para cutucar Monty.
— Ei, você está bem? — perguntou ela em um tom baixo, o suficiente para que Jasper não pudesse ouvir.
— E aqui estamos, no lugar que nos pediu para vir — disse Jasper com um sorriso, enquanto abria a porta do recinto.
Inúmeras perguntas atravessaram a mente da Kane naquele momento. Quem era Maya? Que lugar era aquele? Por que Maya havia pedido para que eles fossem até ali? E, sobretudo, por que Monty estava agindo de maneira tão estranha?
Ao entrarem, após Jasper fechar a porta, Olivia deparou-se com uma jovem de cabelos escuros, com uma expressão cansada, e... intrigante. Tudo parecia suspeito para Olivia naquele momento.
— Não temos muito tempo, mas podemos conversar livremente aqui — disse a garota rapidamente.
— O que está acontecendo, Maya? — perguntou Jasper, com uma expressão preocupada evidente em seu rosto.
A jovem baixou o rosto enquanto lágrimas escorriam por suas bochechas.
Olivia arqueou uma sobrancelha, tentando compreender a situação. Monty e ela se entreolharam, ambos compartilhando uma confusão mútua.
— Sinto muito — lamentou Maya.
— O que aconteceu? — Jasper perguntou novamente — O que você quer dizer? Não foi um acidente?
Olivia estava se sentindo cada vez mais perplexa. Ela não compreendia absolutamente nada do que estavam discutindo, como se estivessem falando em outra língua.
— Significa que ela foi exposta à radiação de propósito — afirmou Monty — Aposto que foi para fazer você concordar em ser o irmão de sangue dela.
— Espera aí, radiação? — Olivia precisou interromper a conversa. Se tentasse raciocinar sobre algo mais sem entender do que estavam falando, sentia que seu cérebro fosse explodir.
— É, radiação — respondeu Murphy — As pessoas que vivem aqui sempre estiveram isoladas na montanha, não passaram pelo processo de adaptação. Ou seja, não são imunes à radiação, não como nós. Não como nosso sangue é.
Agora, sem dúvida alguma, tudo se esclarecia para a Kane. Esta era a peça que faltava no quebra-cabeça que Clarke tentava montar durante o tempo que estava aqui.
— Por isso estavam extraindo meu sangue.
Maya concordou com um aceno de cabeça.
— Eu sabia. Clarke tinha razão — Monty comentou.
— Cala a boca, Monty — Jasper resmungou, antes de voltar-se para Maya novamente — Você sabia disso?
— Não.
— Por que fariam isso com você? — Jasper questionou, tentando compreender a situação que estavam.
— Porque o tratamento convencional é pior do que o que você passou — confessou Maya.
— Foi o que Dante mencionou — indagou Jasper, agora parecendo contemplativo.
— Que tratamento? — Olivia fez uma careta.
— Qual é o tratamento? — Monty perguntou.
— Por ali — disse Maya por fim, antes de virar-se e começar a andar, levando todos a segui-la.
Quando os três seguiram a garota, ela
parou diante de uma grade de ventilação. Jasper e Monty avançaram antes de Olivia, os dois parecendo extremamente chocados com o que viam. Só quando a Kane empurrou Jasper para o lado e tomou seu lugar, ela compreendeu a razão de suas reações.
— Minha nossa — Jasper deixou escapar, incrédulo enquanto seus olhos rolavam rapidamente pela imagem diante dos mesmos — Aqueles são... todos os terráqueos?
Atrás da ventilação, havia várias pessoas presas, parecendo debilitadas, com tubos de sangue saindo de seu braço. Eram terráqueos, mantidos em cativeiro, sendo drenados de seu sangue.
— Isso é desumano — Olivia enrugou a testa, com os olhos meramente arregalados.
— Espere um momento — disse Monty, virando-se lentamente na direção de Maya, acompanhado por Olivia e Jasper — Por que está nos mostrando isso?
A garota engoliu em seco antes de responder.
— Porque tenho medo.
— Medo de quê? — indagou Jasper.
— Medo de que vocês sejam os próximos — respondeu Maya, sua voz falhando enquanto lágrimas transbordavam de seus olhos.
Olivia engoliu em seco antes de soltar uma pequena risada nervosa e esfregar os olhos. Ela sabia que a situação podia piorar, mas não imaginava que tanto.
— Quem mais sabe sobre isso? — exclamou a Kane, apontando para a cena perturbadora.
— Todo mundo, mas ninguém fala nada. Aprendemos a não fazer perguntas.
Jasper engoliu em seco com a resposta da garota.
— Sem os tratamentos morreríamos — disse Maya, aproximando-se de Jasper — O que deveríamos fazer?
— Morrer — responderam Olivia e Monty, em uníssono, suas vozes neutras, sem demonstrar qualquer reação.
Jasper e Maya olharam para os dois, principalmente quando Monty desviou o olhar dos terráqueos e se posicionou ao lado de Olivia.
— Precisamos sair daqui. Dante disse que podíamos sair daqui, não é? — indagou Monty.
— Ele estava mentindo — afirmou Jasper.
— É claro que estava. Lembro perfeitamente o que estava fazendo antes de acordar neste manicômio; não bati a cabeça em lugar algum — disse Kane, furiosa, com os punhos cerrados como se precisasse de um alvo para descarregar sua raiva — Eles precisam cada vez mais do nosso sangue. Eu estava sozinha e era um alvo fácil.
— Droga! — bufou Jasper, incrédulo — Ele sabia que eu estaria aterrorizado demais para não sair daqui, assim como sabia que eu faria qualquer coisa para salvar Maya.
— Então, simplesmente, não perguntamos — disse Monty, atraindo o olhar dos outros três jovens — Se Clarke conseguiu escapar, nós também podemos.
— Nunca conseguirão. Desde de que Clarke desapareceu, a segurança ao redor da montanha foi reforçada — informou Maya.
— Temos que tentar — insistiu Monty.
— Não vamos embora. Não vou deixar os outros para trás — disse Jasper firmemente — Isso significa que acabarão como os terráqueos.
O silêncio desesperador e ansioso se instalou entre eles, até que Monty o quebrou.
— Que escolha temos?
— Seremos voluntários — afirmou Jasper.
— Como é que é? — indagou Olivia, cruzando os braços sobre o peito no mesmo instante.
E assim fizeram: tornaram-se voluntários.
Olivia achou a ideia insana desde o início e ainda mais agora, enquanto observava Monty deitado em uma das macas da enfermaria.
— Está tudo pronto, Monty — disse a doutora, com um sorriso que parecia falso iluminando seu rosto — A anestesia geral fará efeito em breve. Você não sentirá nada.
Com isso, ela se retirou.
Jasper e Olivia estavam parados ao lado de Monty. Jasper até tentou forçar um sorriso para a mulher, mas Olivia a seguiu com os olhos semicerrados até que ela saísse do local.
— Quão chapado está agora? — perguntou Jasper ao amigo, com um leve sorriso nos lábios.
— Quase não sinto a agulha de quinze centímetros no pescoço — respondeu Monty, como se fosse algo casual.
O riso nasalado de Olivia teria durado mais se o mesmo homem grisalho que falara com ela mais cedo — aquele que ela descobrira ser o Dante de quem tanto falavam — não tivesse entrado no local e caminhado até eles.
— Devo dizer que estou impressionado, Jasper, e profundamente agradecido — afirmou Dante, seus olhos percorrendo a enfermaria cheia de "voluntários".
Então, os olhos do mais velho pararam no rosto de Olivia, que o encarava com uma expressão profundamente desconfiada.
— Esses são só os primeiros, senhor — disse Jasper, aproximando-se do homem com um sorriso — Outros mais virão.
— Não tenho dúvidas — respondeu Dante, devolvendo o sorriso.
— Vocês nos salvaram, não foi? É o mínimo que podíamos fazer.
Foi tudo o que Jasper disse antes de Dante sorrir novamente e deixar o local.
Sem nem ao menos tentar disfarçar, Olivia seguiu o mais velho com o olhar. Ele se dirigiu ao mesmo local onde a doutora havia ido antes. Parecia um laboratório ou algo semelhante, mas ela não tinha certeza.
— Tente disfarçar da próxima vez — murmurou Jasper, dando uma leve cotovelada no braço de Olivia.
— Vou tentar disfarçar quando eles pararem de tentar nos matar — ela retrucou, com a voz baixa.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro