07.
Na noite anterior, constataram que, na realidade, não se tratava de uma estrela cadente, mas sim de uma nave da Arca. Bellamy proibiu estritamente que qualquer pessoa deixasse o acampamento durante a noite.
Ao amanhecer do dia seguinte, Olivia percebeu a ausência de Bellamy no acampamento, assim como a de Finn e Clarke. Achou estranho, pois teria observado Bellamy saindo de sua própria tenda.
— Monty! — Kane chamou pelo garoto. — Viu Octavia?
— Ela saiu ontem à noite, atrás de Bellamy.
— Bellamy saiu do acampamento à noite? — Olivia franziu o cenho.
Monty concordou com um aceno de cabeça, agradecimentos foram expressos por Olivia, que então pegou uma faca da mesa de armamento e deixou o acampamento. Propunha-se a seguir os três. Olivia percorria a floresta com a máxima rapidez. Até que ouviu ruídos nos arredores. Eram Clarke e Finn, que acabavam de se separar. Olivia estava em sua perseguição.
Preferiu não avisá-los, chegaria depois.
Ao chegar ao ponto onde Finn e Clarke interromperam sua jornada, Olivia apoiou-se nos próprios joelhos, nunca tendo corrido tanto em sua vida. Clarke dirigiu-se imediatamente à nave da Arca, enquanto Finn observava a distância.
Olivia parou ao lado de Finn, assustando-o.
— Meu Deus, Olivia! — ele colocou a mão no peito, ofegante. — O que está fazendo?
— Vocês desapareceram, vim procurar. — ela explicou rapidamente. — Viram Bellamy e Olivia?
Finn negou com a cabeça, e Olivia se preocupou, possivelmente sem necessidade. O queixo de Finn caiu ao ver quem saía da nave. Raven Reyes, sua namorada. A jovem caminhava lentamente sobre o solo macio do planeta Terra, exibindo um sorriso encantador, os braços abertos e a cabeça erguida. Ela estava fascinada com o planeta, tendo nascido em uma nave espacial.
— Sonhei que teria este cheiro. — ela disse, sorrindo, enquanto ainda contemplava as árvores.
Clarke, posicionada atrás de Reyes, sorria diante da empolgação da jovem. Mal sabia Griffin, que Raven era a namorada de Finn, sua recém-descoberta paixão.
— Isto é chuva? — ela indagou, apontando o dedo indicador para o céu ao sentir gotículas geladas tocarem sua pele. Clarke assentiu com a cabeça, acompanhada por um sorriso.
— Bem-vinda ao lar.
Finn observava à distância, fora do campo de visão de Raven. Olivia questionava-se sobre o que deixava o rapaz tão nervoso; afinal, era apenas mais alguém da Arca chegando à Terra. Por que ele estava tão aflito? Então, Olivia descobriu a razão. Finn correu rapidamente em direção à garota. Seus cabelos molhados balançavam a cada passo. A garota virou-se imediatamente ao ouvir chamarem seu nome.
— Raven! — ele exclamou. Ambos se encararam, sem expressão por alguns momentos.
— Finn! — ela sorriu e correu até ele. O sorriso de Clarke desaparecia cada vez mais a cada segundo que passava. — Eu sabia que você não podia estar morto.
Finn, com a boca formando um "O", alternou seu olhar entre Raven e Clarke. Não demorou muito para concentrar seu olhar exclusivamente em Raven.
— Está sangrando. — disse ele, examinando cuidadosamente o ferimento na testa da garota.
— Não tem importância. — ela negou com a cabeça, sorrindo. Raven uniu seus lábios aos de Finn, em um beijo caloroso e cheio de saudade. As mãos da garota deslizavam pela nuca de Collins.
Olivia aproximou-se de Clarke, que agora não experimentava nenhum sentimento de felicidade capaz de provocar um sorriso. Ela observava a cena do casal com um pesar no peito. Clarke tinha sentimentos por Finn, acreditando sinceramente que ele compartilhava dos mesmos sentimentos. No entanto, aparentemente, Finn tinha outra pretendente, e essa não era Clarke.
Ao se separarem, Finn dirigiu um olhar de perdão diretamente a Clarke. Raven ria após o término do beijo, sem entender o que estava acontecendo. Esvaziando a mente e focalizando na namorada que havia chegado de forma inesperada, Finn olhou para Raven.
— Como chegou aqui? — ele perguntou, confuso.
— Sabe aquele ferro-velho enorme, no convés K? — ela disse, claramente orgulhosa de si mesma. Finn, surpreso, dirigiu seu olhar para a nave e depois de volta para Raven.
— Construiu isso com ferro-velho?
— Digamos que reconstruí. Por favor, como se fosse difícil. Só precisava de algumas peças e um pouco de amor.
Raven sorria, sua alma transbordando felicidade. Clarke respirava com dificuldade, perdida em sua própria situação. Olivia, que observava a cena, sentia compaixão por Clarke.
— Você é maluca. — Finn disse, focando seu olhar nos olhos de Raven.
— Eu faria mais por você. E pior. — disse Raven. — Como você faria por mim. — após pronunciar essas palavras, a garota desequilibrou-se. Finn a segurou imediatamente. Suas pernas estavam fracas, e a tontura a assolava.
— Venha, sente-se aqui. — Finn conduziu-a até uma pedra próxima, para que Raven se sentasse. — Vou pegar algo para o ferimento.
Finn correu até Clarke, que agora vasculhava sua mochila em busca de algo que pudesse ajudar Raven. Ela encontrou e entregou diretamente a Finn.
— Desculpe. — Finn lamentou.
— Não vamos falar sobre isso. — Clarke ignorou o pedido de desculpas.
— Nos conhecemos desde que nascemos. — ele se explicava, verdadeiramente arrependido.
— Não precisamos falar disso. — Clarke afirmou. — Ela precisa pressionar o ferimento.
Ambos caminharam até Raven, e ela expressou gratidão pela ajuda. Finn, buscando aliviar a tensão, decidiu apresentar as duas. Olivia, que anteriormente estava afastada, aproximou-se e parou ao lado de Clarke.
— Esta é Clarke. Ela também estava na nave. — Finn indicou Clarke e, em seguida, Olivia. — Esta é Olivia. Todos estávamos na nave.
Raven olhou rapidamente para Clarke.
— Clarke? — então, ela se levantou para se aproximar da garota. — Isso tudo foi por causa de sua mãe.
— Minha mãe? — Clarke perguntou, com seriedade.
— Tudo foi planejado por ela. Estávamos tentando vir juntas. Se esperássemos... — Raven falava rapidamente, mas parou por um segundo para respirar e lembrou de algo. — Meu Deus! Não podíamos esperar, porque o conselho estava votando, 300 pessoas seriam sacrificadas para economizar ar.
— Quando? — Clarke perguntou, em desespero, preocupada com seu povo.
— Hoje.
— O conselho? — seria a primeira vez que Olivia falaria com Raven.
— Sim, Kane deu a ideia.
Olivia sentiu seu peito afundar e piscou diversas vezes ao escutar aquilo. Seu pai havia dado a ideia de sacrificar seu próprio povo? Raven percebeu o olhar profundo da garota e logo entendeu.
— Olivia Kane. — ela disse, franzindo a testa. — Precisamos informar que vocês estão vivos!
Raven correu até a nave, fazendo com que todos a seguissem. Ela colocou a cabeça dentro da mesma, mas não encontrou o rádio.
— O rádio sumiu. — disse Raven. Clarke e Olivia trocaram olhares. — Deve ter se soltado na reentrada. Eu deveria tê-lo preso à estrutura. Idiota!
— Não, não, é culpa minha. — alegou Clarke. — Alguém chegou antes de nós.
Olivia franziu o cenho, desfocando seu olhar para qualquer outra coisa que não fossem as pessoas presentes. Encaixando as peças, ela só tinha uma certeza: Bellamy havia pegado o rádio. Uma chance implacável de se comunicar com a Arca, ele não queria isso. Ele havia invadido a nave Exodus, de alguma forma roubado um uniforme da guarda, o que não era tão fácil. Ele não queria que a Arca viesse, por isso queria remover as pulseiras.
Tudo se encaixava perfeitamente.
— Temos que encontrá-lo. — Olivia afirmou, com firmeza. Seu queixo erguido e postura ereta indicavam a certeza de sua decisão.
[...]
Após dedicarem quase 60 minutos inteiros à busca por Bellamy, Finn avistou o rapaz entre as árvores e alertou o grupo.
— Ei! — exclamou Clarke, dirigindo-se a ele. Bellamy a ignorou e continuou a andar. Até que ela o puxou pelo ombro, forçando-o a parar. — Onde está?
— Princesa! Passeando no bosque? — Bellamy ironizou, ao perceber a silhueta de Olivia se aproximando de onde ele estava, e ignorando totalmente Clarke.
— Estão se preparando para sacrificar 300 pessoas para economizar oxigênio, Bellamy. — Olivia disse, de maneira séria. — E posso garantir que não serão os membros do conselho. Serão operários. Sua gente. — ela bateu com o dedo indicador no peito do rapaz.
Olivia expressou suas palavras com verdadeira aflição. Ela não acreditava que Bellamy agiria daquela forma, mas agora, diante dele, ela estava completamente certa. Bellamy Blake não era quem ela imaginava. Ontem, seus olhos irradiavam calma e conforto; hoje, estavam sombrios e monstruosos, como se pertencessem a outra pessoa.
— Bellamy! Onde está o rádio? — questionou Finn, empurrando Bellamy de maneira agressiva.
— Não tenho a menor ideia do que está falando. — retrucou Bellamy, empurrando Finn de volta.
— Bellamy Blake? Estão a sua procura lá! — anunciou Raven, em um tom provocativo.
— Cale a boca. — respondeu Bellamy, de forma rápida.
— Procurando por ele por quê? — indagou Clarke, confusa, seu olhar alternando entre Bellamy e Raven, em busca de respostas
— Ele disparou contra o Chanceler Jaha. — respondeu Raven à pergunta de Clarke, como se fosse algo simples.
Bellamy notou o olhar de desapontamento vindo de Olivia. Apesar de tê-lo conhecido posteriormente, ela não imaginava que ele seria capaz de tal ato. Ou, ao menos, acreditou nele e na imagem amigável que provavelmente foi habilmente construída para enganá-la.
— Por isso você retirou as pulseiras! — exclamou Clarke, chocada com a revelação.
Bellamy a encarou com uma expressão neutra, sem saber o que dizer. Sua máscara havia sido removida, seu plano descoberto.
— Precisava que todos pensassem que tínhamos morrido. — ponderou Olivia, como se estivesse montando o quebra-cabeça em sua própria mente.
— E todo esse discurso de "o que quisermos"? — questionou Finn, um sentimento repugnante permeando suas palavras. — Parece que só se preocupa em salvar a própria pele.
Ignorando as manifestações de hostilidade dirigidas a ele, Bellamy tentou se afastar do local. Raven, ainda determinada a recuperar seu rádio, o seguiu, proferindo gritos.
— Pistoleiro! Onde está meu rádio?
— Saia do meu caminho. — afirmou Bellamy, com firmeza.
— Onde está? — ela questionou novamente, colocando-se agora à frente do "pistoleiro".
— Eu deveria tê-la matado quando tive a chance. — comentou Bellamy, expressando toda a sinceridade que possuía.
— Mesmo? Bem, estou bem aqui. — provocou Raven.
Bellamy, num gesto brusco, agarrou Raven pelo pescoço, pressionando-a de encontro a uma árvore. Nesse instante tenso, Raven, rápida em sua reação, extraiu uma faca do bolso, erguendo-a com ameaça evidente contra Bellamy. Uma atmosfera carregada de tensão pairava entre os dois, enquanto a confrontação se desenrolava.
— Onde está meu rádio? — Raven indagou mais uma vez, evidenciando sua expectativa de que essa seria a última vez.
— Certo. Parem! — interveio Clarke.
Bellamy e Raven mantiveram o olhar fixo, envolvidos em uma tensa troca de olhares, cada um buscando impor seu domínio sobre o outro. Após alguns instantes desse impasse, Bellamy finalmente soltou Raven.
— Jaha merecia morrer. Todos vocês sabem disso. — Bellamy proferiu suas palavras como se o que tivesse perpetrado fosse um ato de justiça.
— Sim, ele não é meu preferido, também. — Raven retomou a fala, mantendo sua expressão irada. — Mas ele não morreu.
Ao Bellamy encarar Raven, Olivia identificava o olhar de Bellamy. Desespero. Internamente, Bellamy se desesperava ao perceber que aquele a quem tentara tirar a vida fora de alguma forma salvo. A possibilidade de a Arca chegar à Terra representava uma ameaça real para ele.
— O quê? — indagou Bellamy.
— Sua pontaria é péssima. — Raven tentou provocá-lo.
No entanto, Bellamy não era um assassino, afinal. Ele não nutria um desejo de tirar vidas; apenas agiu conforme necessário para proteger sua irmã.
— Bellamy, não percebe o que isso significa? — questionou Olivia calmamente, aproximando-se de Blake. O olhar do rapaz se dirigiu imediatamente para Kane no momento em que ela pronunciou seu nome. — Você não é um assassino. Sempre agiu para proteger sua irmã. Isso é quem você é. E pode fazer isso novamente, protegendo 300 pessoas.
Ouvir essas palavras de Olivia fez Bellamy começar a acreditar nelas. Ele engoliu em seco, alternando seu olhar entre os dois olhos dela.
— Onde está o rádio? — Olivia perguntou. Ele a encarou, mantendo sua expressão rígida e séria.
— É tarde demais.
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