
Capítulo 41
Quando meus olhos se abriram, avistei o céu estrelado, cada pontinho mais brilhante que o outro... ao me levantar reparei que não estava no meu quarto e sim em um bote. Havia água para todos os lados e o mar não tinha fim, ou estava escuro demais para perceber.
— Olá?! — Chamei, minha voz ecoou como se estivesse em uma grande sala vazia. Me apoiei na borda do bote, o reflexo da lua bem acima de mim, era cintilante. Meu reflexo por outro lado, era da minha forma normal, sem meus aspectos animalescos.
Estendi a mão na direção da água, engoli em seco lembrando-me de que era o ponto fraco da akuma no mi. Mas quando toquei a superfície líquida, me deparei com um véu quase sólido, era mole feito líquido mas impermeável. Me levantei e pisei na superfície, nada aconteceu, era como pisar em uma gelatina sólida o bastante para me manter de pé.
— Luffy?! — Chamei, olhei em volta mais uma vez, não havia nada nem ninguém.
Quando tentei dar outro passo, caí de cara no chão. Do outro lado conseguia ver o mar, havia alguém lá, afundando cada vez mais no breu absoluto. Tentei rasgar o véu, era sólido demais, usei minhas unhas para perfurar e acabei criando uma fenda que me engoliu completamente. Senti que estava me afogando por breves segundos antes de pular da cama.
Me joguei para frente, minhas orelhas caíram sobre o meu rosto, as toquei garantindo que não era mais uma alucinação. Meu rosto pingava suor e o Sol entrava por uma pequena janela, o silêncio no cômodo era facilmente interrompido pelo ronco incansável de Luffy durante seu cochilo. Me virei e notei que ele estava dormindo feito uma pedra, estiquei os lábios e suspirei antes de levantar.
Já estava cedo e meu estômago já começara a implorar pelo café da manhã. Me espreguicei enquanto segui pelo corredor até a cozinha, havia um pequeno cesto com pães e bolinhos. Estiquei os lábios mais uma vez, peguei dois bolinhos e enfiei o terceiro na boca. Segui pelo corredor até a saída, parei quando avistei Robin atrás de uma mesa lendo um livro.
— Robin. — Entrei na sala, ela não desviou o olhar do livro. — Escuta você já viu água sólida.
— Já. Se chama gelo.
— Não é isso, eu sei que é gelo. Mas outro tipo de água sólida. Água sólida mas líquida, como geleia só que não é água. Eu não sei explicar. — Meus ombros foram ao chão, ela demorou alguns segundos para me responder.
— Não vi.
— Mas seria possível o mar ser líquido, mas com um tipo de véu sólido por cima? Como uma gelatina. — Tentei formular uma pergunta, ela fechou o livro e levantou a cabeça.
— Manipulação.
— O que? Como assim?
— Você tem a habilidade da Mizu Mizu no mi, pode manipular água em qualquer estado. Poderia criar esse estado gelatinoso não poderia? — Robin se levantou e guardou seu livro em uma prateleira junto dos outros.
— E-eu não sei... e eu não controlo a água do mar. — Afirmei, ela concordou e se sentou novamente.
— Tem razão.
— Mas é que eu sonhei com algo parecido quando cheguei perto demais, consegui até ver alguém do outro lado. Estava submerso e não consegui ver quem era. Parecia estar se afogando...
— Ele morreu? — Ela perguntou, minhas orelhas saltaram.
— Não! E-eu acordei antes.
— Então você não sabe? Interessante. — Ela disse, senti um arrepio na espinha.
— O-o que é interessante?
— Sonhos podem significar alguma coisa, ainda mais no alto mar. — Ela me disse, neguei sem hesitar.
— Prefiro acreditar que foi só um pesadelo. — Respondi, ela deu de ombros. Deixei o cômodo e saí de dentro do Merry, uma brisa revigorante soprou em meu rosto.
— Você acordou. — Nami disse logo acima de mim, saltei e subi ao seu lado. — Por que não usa as escadas?
—Assim é mais divertido. — Respondi, fui até a borda e olhei em volta, Nami sorriu. — Pra onde vamos?
— Eu não sei ainda, mas vou encontrar uma rota o quanto antes.
Afirmei e voltei a olhar pro mar, as ondas batiam calmamente no casco do navio, apoiei-me na borda e estendi a mão.
— Ainda não descobriu como controlar a água do mar? — Nami me perguntou, neguei. — Acho que não é possível fazer isso, já que os mar...
— Eu sei. Vira as costas pra quem usa akuma no mi. — Acrescentei, ela esticou os lábios.
— Mas foi graças a você que salvamos aquela cidade, e aquelas pessoas. — Nami disse tentando me reconfortar. — Não se sinta culpada.
— E-eu não sinto. — Sorri levemente sem graça, ela notou. — Faz dias desde aquela investida, será que estão atrás de nós?
— O velho é persistente, então é bem provável que estejam. — Nami dizia, olhei para o horizonte outro vez. Minhas orelhas começaram a fazer movimentos mínimos, como se conseguisse ouvir qualquer som diferente vindo do meio do mar.
— Eu posso ver o mapa? — Perguntei, ela afirmou mas franziu o cenho. Me aproximei e olhei cada rabisco no papel, apontei. — Podemos virar para esta direção?
— Mas não tem nada aí.
— Eu sei é que... é só um pressentimento. — Enquanto falava, me virei para o horizonte mais uma vez, Nami veio logo atrás de mim. — Nami, não vamos nem desviar da rota original. Eu falo sério. Vamos pra lá por favor.
— Está bem, mas vou contar ao Luffy que desviamos da rota. Concordei, Luffy não se importava em mudarmos de rota desde que não desviasse completamente do seu objetivo. Portanto seguimos pelo resto do percurso como pedido, Nami continuava olhando para o mapa e para o horizonte.
Seguimos até avistar uma ilha, ela arregalou os olhos. Apontei quase me jogando para frente ao mar, Nami correu até o meu lado.
— Lá! Eu falei!
— Como você sabia? — Ela me perguntou, dei de ombros. — Você chutou essa localização?
— N-não eu só sabia. Sabia que tinha algo lá.
— Mesmo assim, não sabemos o que pode ter naquela ilha. Vamos descer e avisar aos outros.
— Tudo bem. — Afirmei, Nami tentou reduzir ao máximo a velocidade em que Merry estava indo na direção da ilha.
Sendo assim descemos até o convés, entramos e nos encontramos com Luffy, Usopp e Sanji na cozinha. Todos olharam para nós, Zoro cruzou o corredor e chegou logo depois.
— Fizemos um pequeno desvio, tem uma ilha. Mas não sabemos nada sobre ela, acham que devemos parar? — Ela perguntou, Usopp olhou para todos, parecia aflito.
— É brincadeira? Estávamos sendo perseguidos há literalmente dois dias atrás. Foi difícil nos livrar deles, querem parar em um lugar fora do mapa?
— Estamos ficando sem suprimentos. — Sanji deu de ombros, Luffy se virou enquanto mastigava um pedaço de pão.
— Estamos? — Ele perguntou preocupado, Sanji afirmou.
— Seria bom parar e ver se encontramos algo.
— Mas se passaram só dois dias. — Luffy perguntou novamente, Sanji o encarou.
— Estamos em oitos pessoas e você come por mais vinte. — Ele explicou, Nami cruzou os braços preocupada.
— Tem razão. — Luffy afirmou, Sanji pegou alguns pratos molhados e começou a secar cada um. — Então eu vou descer!
Luffy bateu na mesa animado, soltei um sorriso frouxo, ele apoiou as mãos na cintura e olhou para Nami ao seu lado.
— Vou procurar um lugar melhor para atracar. — Nami disse antes de sair de dentro do navio e subir novamente até o leme. A segui para fora, Luffy veio logo depois, nós subimos até Nami. — Talvez nem precisemos atracar em terra firme, o mar parece estar entrando direto por aquela repartição. O que acha?
— Eu vou descer. — Luffy avisou e pulou em terra firme, Nami arregalou os olhos e correu até a borda.
— Luffy! Espera pelos outros!
— Eu cuido dele. — Pisquei e saltei logo depois, Nami franziu o cenho e negou.
— Vocês dois! É melhor não arranjarem problemas!
— Pode deixar Namizita! — Fiz sinal com a mão e pisquei, ela negou nos fuzilando com os olhos.
Corri atrás de Luffy saltitando, seus olhos estavam distantes, notando cada detalhe na mata. Escondi as mãos atrás e continuei andando, pensando se deveria puxar assunto ou deixá-lo explorar sem interrupções. Suas costas eram mais estreitas comparadas as de Zoro, e Luffy estava cada vez mais alto e esguio, o que para mim era atraente.
Apesar de nunca ter parado para reparar nos seus aspectos físicos, eu sentia algo por quem ele era, um capitão de coração puro, o primeiro pirata bom que tinha a intenção de ajudar todos pelo caminho. As vezes sentia até culpa em não pensar como ele em algumas situações, em não conseguir dar segundas chances e confiar como ele fazia, como fez com Robin.
— Você está bem? — Quando me dei conta, Luffy estava parado na minha frente.
— Sim. Tudo bem. — Afirmei, ele coçou o nariz e se virou, apressei os passos para segui-lo. De repente ouvimos sons estranhos vindos da mata, saltei nas costas de Luffy e me segurei. — O que foi isso?
— Sei não. — Ele disse, ficamos ali parados esperando algo pular do meio da mata, nada aconteceu. Luffy me impulsionou para cima, ajeitou a postura e seguiu comigo em suas costas.
O abracei por cima dos ombros e estiquei os lábios alegremente, minhas pernas se moveram animadas enquanto ele segurava. Luffy por outro lado, continuou como se fosse nada demais.
— Luffy. Se pudesse falar com algum deus dos mares, e eles lhe concedessem um pedido, o que pediria?
— Gostaria de provar todos os tipos de carne no mundo. — Ele respondeu sem hesitar, franzi o cenho.
— Pensei que ia pedir pra encontrar o One Piece...
— Seria muito fácil. — Luffy parou e virou a cabeça na minha direção. — Quero encontrar eu mesmo, não quero que ninguém me leve até ele.
Refleti sobre o que ele disse, apoiei o queixo em meu braço por cima do ombro e continuamos assim. Comecei a pensar em como Luffy estava determinado a fazer as coisas do seu jeito, mesmo que o One Piece sequer fosse real.
Não. Eu acreditava no tesouro, acreditava no Gol D. Roger e em suas conquistas mesmo que não tenha vivido para ver.
— Você me lembra o meu pai. — Sussurrei, Luffy continuou andando, agora curioso.
— O que eu tenho a ver com aquele coelhão? — Ele perguntou, neguei.
— N-não ele. Você não conheceu meu outro pai... acho que se dariam bem. Ele me contava muitas histórias de aventuras com seus companheiros. — Toquei seu ombro sinalizando para parar, Luffy me deixou sair de suas costas cuidadosamente.
— Ele parece o Shanks. — Ele disse colocando seu chapéu de palha, afirmei.
— Um dia espero conhecer esse Shanks.
— Você vai conhecer. — Ele parou bem na minha frente e tirou uma folha presa em meu cabelo. Meus olhos brilharam em resposta, e meu rosto começou a formigar. — Quero que conheça todo mundo que me ajudou.
— Luffy...
— Quero apresentar minha namorada pra todos eles. — Ele me puxou pela mão e saiu na frente, o segui mesmo que naquele momento não controlasse para onde minhas pernas estavam me levando. — Quero que conheçam todas as pessoas boas que me ajudaram, e quero que Shanks conheça minha tripulação. Que agora é minha família.
— Você acha que vão gostar de... — Estava falando enquanto caminhava, meus olhos seguiam apenas o chão, era Luffy quem guiava a frente. Isso até ele parar e me fazer bater contra suas costas. — O que foi? Mas o que... nossa!
Um pouco mais à frente haviam várias fontes termais, era fácil notar uma leve neblina no ambiente. As fontes não estavam tão escondidas dentro da floresta, mas enquanto conversava com Luffy, acabei perdendo a noção de tempo distância.
— Acho melhor avisar o bando. — Me virei, Luffy não respondeu. — Não acha?
— Eles nos encontram depois. — Ele disse e começou a tirar seu sapato e depois camiseta, Luffy a arremessou para trás e acabou acertando em mim.
— Você vai entrar mesmo? N-não é perigoso? — Tirei a camiseta do rosto, Luffy estava retirando os shorts, arregalei os olhos e me virei corada. — V-você vai tirar tudo?!
— Eu vou entrar peladão. — Ele disse e deu uma gargalhada, ouvi o som da água esguichando.
— Luffy? — Me virei, ele voltou a superfície e balançou a cabeça. Assim que reparou minha expressão de confusão, deu uma risada e levantou as mãos.
— Calma, é só água. — Ele disse, continuei o encarando. Ele me arremessou um pouco, recuei. — Tudo bem, pode ir e avisar os outros se quiser. Eu vou ficar aqui.
Não respondi, ele deu de ombros e se encostou na borda apoiando as mãos atrás da nuca. Minutos depois de Luffy fechar os olhos para relaxar, saltei perto dele fazendo a água esguichar, voltei a superfície e tomei fôlego novamente.
— Viu. Eu falei. — Luffy disse animado, toquei a água quente sentindo meu corpo ficar cada vez mais relaxado. Para a minha surpresa, ele me levantou de um lado, segurei envolta dos seus ombros.
— Luffy! — Gritei, ele me arremessou na água, gargalhei alto e pulei no seu pescoço. O puxei para baixo da água, ele mergulhou e voltou a superfície segurando meu braço ainda em volta do seu pescoço, tentando se soltar enquanto ria. Sua pele estava quente e molhada, a sensação me trazia conforto.
O soltei e me encostei deixando meu corpo relaxar na água como em um ensopado, deixei-me afundar completamente até os ombros. Joguei meus cabelos para trás junto de minhas orelhas, agora com meus olhos fechados tentando relaxar. Luffy olhou diretamente para mim, seus olhos desenharam minha clavícula sem perceber.
Tomei fôlego e mergulhei, ele desviou o olhar rapidamente notando sua fixação repentina. Voltei a superfície, enrosquei meu cabelo e o torci feito uma toalha úmida. Logo depois levantei os braços para me espreguiçar, saltitei para perto de Luffy, ele sorriu. Puxei seu rosto e deixei um beijo em sua bochecha, ele virou para mim e me beijou de volta, trocamos olhares.
— L-Luffy, onde estão nossas roupas?! — Perguntei, ele olhou para trás onde devia estar nossas roupas. — Pra onde foram?!
Me levantei, Luffy também levantou logo deoois e olhou em volta.
— O que vamos fazer?! — Gritei com ele, Luffy deu de ombros tão surpreso quanto eu e saiu da fonte completamente pelado, senti meu rosto corar. — Espera por mim... aonde você vai?!
Corri e segurei seu braço, me escondi logo atrás dele. Luffy olhou para trás pra garantir que eu ia seguir ele.
Luffy então começou a andar olhando aos arredores prestando atenção em qualquer coisa, ouvimos um estalo vindo de uma moita, arranhei seu braço.
— Desculpa. — Recuei, de repente ouvimos outro estalo do outro lado, e alguns galhos se movendo. — Luffy...
Ele correu até a moita e a afastou, me escondi atrás dele, olhei por cima do seu ombro.
— São nossas roupas! — Apontei, haviam algumas peças, Luffy resgatou seu chapéu de palha e seu shorts aliviado.
Passei na sua frente e peguei meu shorts de volta, e meu sutiã. O restante das roupas havia sido destruído completamente por roedores da floresta.
— Isso é melhor do que nada. — Sugeri, apontei para os esquilos. — Isso não foi legal, é melhor correr ou vou pegar todos vocês!
Os roedores fugiram para dentro da floresta. Olhei de volta para Luffy, ele parecia, ele parecia feliz em rever seu chapéu de palha.
— Acho que podemos voltar agora. — Me aproximei, ele concordou, segurei seu braço mudando de ideia na mesma hora. — Espera.
— O que foi? — Ele perguntou, e olhou em volta procurando algum sinal de perigo.
Minhas orelhas se moveram minimamente tentando ouvir, primeiro ouvi um assobio rápido, seguido de um disparo de flecha rápido. Joguei Luffy no chão, o dardo acertou meu pescoço, o tirei e encarei a pequena farpa de madeira com tinta vermelha na ponta. Luffy estava no chão com os olhos arregalados sem entender, ele levantou num salto, e eu senti meu corpo enfraquecer.
— C-corre. — Pedi, desmaiei em seus braços, Luffy franziu o cenho com os olhos arregalados e o corpo tenso.
— M-Minnie? Companheira! — Gritou chacoalhando meus ombros, meu corpo mole e quente não reagiu aos estímulos.
De repente pessoas mascaradas e camufladas com mantos esverdeados saltaram das moitas, o conseguiram encurralar ele com lanças e facas. Um deles, com uma máscara de madeira parecida com um servo, se aproximou. Seu companheiro acertou um dardo no pescoço de Luffy fazendo-o cair por cima de mim.
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