O cheiro das panquecas de maçã fazia-me salivar pela boca, quando acordei estava sobre Usopp e Luffy. Os dois garotos acordaram ao mesmo tempo, Luffy pulou derrubando Usopp do sofá.

— Ei! — Usopp disse, me sentei perto da mesa e Luffy fez o mesmo, o empurrei, ele empurrou de volta.

— Isso é mel? Sanjizinho você fez panqueca de maçã? Eu posso comer? Eu posso?! — Implorei com as mãos juntas, Sanji colocou um prato cheio de panquecas em cima da mesa.

— Vamos, podem comer.

Acertei o garfo em três delas, Luffy fez o mesmo, nos encaramos. Quando Sanji virou de costas, parti para cima de Luffy e mordi seu rosto, ele começou a gritar.

— Ai ai! Ai! — Luffy tentava me soltar sem rasgar sua pele borrachuda. — Eu to com fome!

— Dividam vocês dois! — Sanji mandou, puxei o cabelo de Luffy, ele jogou a cabeça pra trás. — Eu vou fazer mais! Esperem!

Sanji preparou para nos separar com seu pé, soltei o rosto de Luffy pronta para acertar seu tornozelo, ele desviou e estremeceu preocupado.

— Vocês dois podem parar? — Nami entrou na cozinha. — Luffy, Usopp. Preciso de ajuda pra consertar o casco do navio.

Os dois garotos levantaram e deixaram-me na cozinha, puxei o prato para mim e devorei rapidamente o restante das panquecas. Sanji me encarou desconfiado, estiquei os lábios em um sorriso animado.

— Isso está muito bom! — Disse como se nada tivesse acontecido.

Depois do café da manhã, saí pela porta me espreguiçando. Avistei Luffy segurando Usopp pelos pés, enquanto ele tentava pregar a madeira do casco de Going Merry.

— É melhor não me soltar. — Usopp dizia trêmulo, Surgi ao lado de Luffy.

— O que estão fazendo?

— Eu to ajudando o Usopp a alcançar aquele buraco, foi de lá que veio a água. — Apontou com a cabeça, Usopp olhou para cima.

— Ei, se concentra! — Pediu de cabeça pra baixo, virei a cabeça.

— Ele precisa ficar pendurado desse jeito? — Coloquei o dedo no queixo confusa, Nami surgiu ao nosso lado boquiaberta.

— Eu falei pra pegarem o bote! O que estão fazendo?! — Ela gritou nos nossos ouvidos, cobri minhas orelhas.

— Terminei! — Usopp fez joinha com uma das mãos, Luffy o puxou de volta com suas mãos elásticas.

— Isso foi assustador. — Ele disse com os olhos arregalados, aliviado em estar de volta no deck.

— Terra à vista! — Luffy apontou por entre mim e Usopp, avistamos uma ilha no meio do nada.

— Que gritaria é essa? — Zoro saiu de dentro do navio bocejando, me virei animada.

— Luffy avistou terra! — Gritei, Nami voltou para cima e mudou a rota com o manche.

— Vamos atracar. — Nami avisou, assim que chegamos perto o suficiente da ilha, saltei de onde estava até o outro lado com facilidade.

Zoro não demonstrou surpresa, já Sanji e Usopp logo ao lado dele ficaram boquiabertos. Luffy sorriu e colocou os braços um em cada lado do navio, e então se esticou para trás com toda força.

— Minnie me espera! — Gritou, o garoto saiu disparado em uma velocidade inimaginável.

Corri para o lado, ele passou direto por mim e caiu de cara na areia. O encarei confusa, Luffy levantou a mão fazendo joinha.

— Eu to bem. — Ele disse na areia, o mesmo levantou e tirou toda a sujeira da sua roupa.

— Que lugar estranho? Onde está todo mundo? — Entrei na floresta, Luffy veio logo atrás.

Parei, Luffy esbarrou em mim e então me encarou confuso. Ouvi algo, um galho quebrando, estava nervosa demais para sentir o cheiro. De repente uma moita logo à frente de nós se moveu, pulei para trás de Luffy e segurei seu braço.

— Quem t-ta aí? — Perguntei, Luffy saiu andando como se não fosse nada.

— Não tem ninguém aqui. — Ele disse se enfiando no meio do mato, senti minhas pernas trêmulas no lugar.

— Luffyzinho e-espera!

Ele colocou a cabeça pra fora da moita, haviam vários galhos atravessados no seu cabelo com algumas folhas, segurei a risada.

— O que foi? — Ele perguntou, senti algo me encarando logo atrás de nós nas árvores, pulei na moita e puxei Luffy comigo.

— T-tem alguém ali. — Apontei, ouvimos as pegadas pesadas e então uma bufada, Luffy arregalou os olhos.

De repente a moita em que estávamos foi despedaçada, Luffy e eu nos abraçamos dando de cara com um tipo de ser híbrido, metade gorila, com juba de leão e patas de tigre. Gritamos feito duas crianças, disparei na frente e o gorila correu logo atrás de nós.

— Corre Luffy! Ele ta chegando perto! Corre! — Quando me dei conta, o garoto borrachudo estava disparando na minha frente, olhei para trás e acabei batendo nas costas do mesmo.

Despencamos de um penhasco em um lago, Luffy caiu e começou a afundar lentamente como se não conseguisse mover um músculo sequer. Nadei até ele e o puxei pela camiseta para a superfície, coloquei Luffy em minhas costas e o carreguei até a terra.

— Luffyzinho. Não não não. Luffy! — Segurei sua cabeça, olhei para o topo do penhasco, não havia nenhum sinal do gorila híbrido. Luffy tossiu a água para fora, o abracei aliviada.

— Obrigado. Companheira. — Disse recuperando o fôlego, ele segurou meu braço.

— Me desculpa. Me desculpa. Eu praticamente te empurrei para a morte! — Continuei o segurando preocupada, ele sorriu aliviado.

— Companheira! — Sentou-se, baixei as orelhas. — Eu falei obrigado, você me salvou. Agora chega de desculpas, vamos reunir o bando.

Levantei de onde estava e ajudei Luffy a levantar, comecei a sentir cheiro de comida, meu nariz se movia rapidamente enquanto eu seguia pela floresta.

— Minnie espera aí! Espera! — Ele apressou os passos, parei no meio do caminho e então virei-me para trás depois voltei.

— Está sentindo isso? Para só um instante. — Segurei seu nariz com o dedo indicador, Luffy ficou vesgo por alguns segundos e então levantou a cabeça e fechou os olhos. — Isso é...

— Comida! — Dissemos em uníssono, Luffy e eu disparamos atrás da comida, de repente chegamos ao que parecia ser um acampamento, e bem no meio havia um grupo de seres híbridos fazendo um cozido.

— Espera espera. Luffy! — Tentei puxá-lo, o garoto se esticou até o povo.

— Eita que rango bom. — Luffy sentou-se ao lado dos seres, um deles com rosto de zebra e corpo de humano, o encarou confuso.

Todos apontaram suas lanças para ele, o garoto levantou as mãos preocupado.

— Ei ei, calma aí! Não vou machucar vocês, só quero comida. — Luffy pontou para a boca e passou a mão na barriga, o aroma do cozido estava tão cheiroso que senti meu estômago roncar.

De repente um dos seres, menor entre todos eles, tocou meu rabo. Dei um pulo e o encarei, outros dois seres apareceram e tocaram minhas orelhas.

— O-oi. — Sorri, eles não falavam, apenas sorriram e começaram a ser amigáveis. Olhei para Luffy e dei de ombros, ele fez joinha com os dois polegares.

— Legal. Podemos comer agora? — Apontou, um dos seres, desta vez com pelo de tigre e orelhas de rena, pegou um pouco do cozido e colocou na tigela.

Assim, os seres nos serviram, desacreditada me juntei à todos na roda. Dois jovens pegaram tambores e começaram a tocar, Luffy e eu trocamos sorrisos e devoramos pelo menos três tigelas de cozido. Senti minha barriga inchada e em formato circular, me encostei no ombro de Luffy, ele respirou fundo satisfeito.

— O que será que o resto do bando está fazendo agora?

— Devíamos chamá-los pra comer cozido. — Encarei Luffy, outro pequeno ser tocou meu cabelo e sorriu. — Oi!

Ela riu, me senti levemente envergonhada. Luffy levantou terminando de mastigar e arrumou o chapéu.

— Vocês querem conhecer o meu bando? Eles estão lá na praia. — Luffy apontou, havia um grupo de pequenos seres comendo com seus pais, um deles levantou e os outros os seguiram. — Venham vamos!

Um deles subiu nas costas de Luffy, levei outros dois pelas patinhas. Apesar de serem híbridos conseguiam facilmente andar de pé como nós.

— Luffy, tem certeza que é uma boa ideia?

— Claro companheira, todos são bem-vindos no nosso navio. — Luffy dizia enquanto carregava uma das crianças em seus ombros.

— Mas é que... não é disso que estou falando. — Resmunguei, Luffy e as outras crianças começaram a andar em fileira, fiz o mesmo e os segui.

As crianças se dispersaram e correram para as moitas, estremeci pensando naquele gorila quando pisamos na ilha. Luffy coçou o nariz confuso, agarrei seu braço.

— O que foi? Por que eles correram? — Perguntou, ouvimos passos, as crianças nos puxaram para as moitas. — Huh?

De repente alguns homens passaram segurando armas, pareciam sérios e decididos. As crianças, escondidas logo abaixo de nós, estremeciam com medo. Assim que os homens seguiram o caminho, Luffy saiu da moita.

— Quem são aqueles caras? Não pareciam muito legais. — Ele disse puxando a calça, as crianças começaram a puxá-lo pelos braços na direção oposta.

— Acho que não querem que você vá pra lá. — Sugeri, uma delas se aproximou encolhida e assustada. Ela fez sinais com as mãos, e algumas caretas, parecia querer dizer algo a respeito dos homens. — Eles são ruins? Tem mais de vocês? Estão maltratando vocês?

Na medida em que perguntava, a criança concordava com cada pergunta. Luffy por outro lado, estava orgulhoso em me ter em seu bando, já que naquele momento eu parecia estar fazendo algo certo.

— Luffy. Acho que ela quer dizer que aqueles homens maus estão com o resto do seu povo, temos que ajudá-los. — Pedi, Luffy abaixou-se e olhou diretamente para a criança.

— Nós vamos ajudar vocês, mas primeiro vamos reunir nosso bando. — Ele explicou e virou-se de costas. — Sobe aí, vai estar segura com a gente.

Sorri, ajudei a reunir o restante das crianças, todas juntaram as mãos e me seguiram em fila pela trilha. Não demorou muito e começamos a ouvir mais passos, pareciam ser de pelo menos três pessoas. Com medo de ser mais homens maus, me enfiei na primeira moita que vi puxando Luffy e a fileira de crianças comigo.

— Vocês ouviram isso? — Usopp perguntou parando bem no meio da trilha, Nami passou direto por ele.

— Juro que se for outra piada com peido eu vou te acertar com meu bastão. — Ela disse seriamente, Usopp riu e coçou a nuca.

— Mas foi muito boa, você não pode negar.

— Onde aqueles malucos se enfiaram? — Sanji disse jogando seu cigarro no chão, ele o pisoteou com força.

— É melhor juntar isso. — Zoro reclamou, Sanji riu debochado.

— Virou bom samaritano agora?

— Essa ilha pode ser lar de alguém. — Zoro retrucou irritado, Sanji o confrontou.

— Desde quando se preocupa com isso ovo podre. — Xingou, Zoro segurou a espada no cinto.

— Desde que um lixo como você pisou aqui! — Gritou, Usopp esticou os lábios interessado na discussão.

— Quem você ta chamando de lixo filhote do capeta! — Sanji levantou o punho irritado, os dois começaram a se encarar.

— Só se for você com essa cara de bacalhau!

— Eu vou mostrar quem é o bacalhau!

— Parem os dois! — Nami gritou. — Eu não aguento mais essa discussão sem fim!

— Desculpe senhorita Nami, o Zoro não tem modos.

— Não tenho modos?! É você quem está jogando seu cigarro nojento no chão! — Ele gritou, Sanji partiu para cima o empurrando direto na moita.

Soltei um gemido, o silêncio se instalou na floresta e então os dois levantaram confusos.

— Ouviram isso? — Nami perguntou, saí da moita com alguns galhos e folhas atravessados em meus cabelos. Cocei a nuca e sorri sem jeito, Nami colocou as mãos na cintura. — Onde você estava?! Cadê o Luffy? Ele ta com você?

— Bem aqui. — O puxei para cima, Luffy tirou o dedo do nariz e acenou.

— Vocês estão loucos? Entraram na floresta e nem esperaram por nós, ficamos preocupados! — Nami brigou, baixei os ombros sem jeito.

— Que isso companheira Nami, estamos bem. — Luffy disse tentando acalmá-la, concordei.

— Está bem, vamos embora. Não quero ficar nem mais um minuto nesse lugar. — Ela se virou, os três garotos viraram junto com ela. Puxei o braço de Luffy.

— Nami espera! Precisamos ajudar uns amigos antes de ir. — Pedi, ela franziu o cenho confusa e olhou em volta.

— Amigos?

— Vamos pode sair, eles não vão machucá-los. — Avisei na direção da moita, de repente algumas crianças pularam para fora com seus olhos arregalados, Nami então percebeu de quem estava falando.

— Alguns piratas invadiram esta ilha, o mesmo que aconteceu com Arlong... eles dominaram a vila deles. — Apontei, uma das crianças se escondeu entre minhas pernas. — Temos que ajudá-los.

— Quantos são? Eles tem armas?

— Não sabemos. — Luffy deu de ombros, Nami coçou a testa com decepção, Zoro passou por ela e veio até nós.

— Pra onde vamos? — Ele perguntou, sorri animada.

Me abaixei na altura da pequena criatura escondida entre minhas pernas e sorri, a criança virou a cabeça confusa.

— Vamos ajudar vocês, nos levem até a vila. Vamos acabar com os caras maus. — Sorri de orelha a orelha, a criança assentiu e disparou na mata.

Fiz o mesmo e a segui, o resto do bando do Chapéu de Palha veio logo depois carregando as crianças com eles. Chegamos a vila dos seres, parecia mais um tipo de acampamento mas ainda sim continuava sendo uma vila. Havia muita fumaça para todos os lados, seres sendo empurrados e ameaçados enquanto os piratas apenas bebiam e trocavam risadas.

— Aqueles malditos. — Sanji cerrou os punhos, Nami se abaixou ao lado de Luffy.

— Qual é o plano? — Ela perguntou, Luffy levantou e saiu de trás das árvores, tentamos segurá-lo mas ele já estava exposto.

— Uh?

— Quem é aquele esfarrapado?

— Aí bando de idiotas! Eu quero saber de quem é a bunda que eu vou chutar?!