Capítulo 15. Guioza
Itadori era apenas uma criança, falava e agia como criança. Me sentia mal em vê-lo como hospedeiro de uma maldição de nível especial, principalmente, a pior maldição. Sukuna aterrorizou gerações, foi difícil de se conter. Conseguia ver os olhares de todos sobre Itadori, tinham medo de Sukuna tomar o controle. Foi graças ao Gojo, que ele se manteve na academia.
— Itadori. — Parei, olhei para a minha frente, avistei algumas maldições andando em plena luz do dia. — Está vendo aqueles dois bem ali. Estão com a maldição que estamos procurando.
— Podemos acabar com eles agora.
— Não. Agora não. — Respondi, Itadori afirmou e recuou. — Quero que volte para a academia.
— Olha moça, isso não vai acontecer. — Ele dizia, me virei.
— Eu terminei por aqui. — Avisei, Itadori olhou em volta uma última vez. — Pode voltar, e quero que conte apenas ao Nanami sobre hoje.
Ele afirmou, peguei um panfleto qualquer pelo caminho e anotei alguns números, coordenadas dos pontos de referência.
— Quero que entregue isso à ele, só pra ele. — Expliquei, Itadori afirmou sem hesitar. Fui até o metrô e peguei um pela primeira vez em muito tempo. Apenas fechei os olhos enquanto ouvia o som dos trilhos abaixo de mim.
Me encostei na parede e cruzei os braços tentando colocar todas as informações em ordem. Lembrei-me de Suguru, da noite anterior. Aquele não era ele, mas se parecia em todos os aspectos.
Você cresceu.
Suguru estava sentado bem na minha frente, por um momento não havia mais ninguém em volta de nós. Apenas eu, e ele.
— Suas orelhas também cresceram. — Sorri, ele se encostou com as pernas abertas e a postura relaxada.
É verdade.
— O que Satoru vai pensar quando te ver...
Não está mais no meu controle.
Ele disse com um pesar em sua voz, e num piscar de olhos desapareceu. O metrô chegou a outra estação, aproveitei para sair. Quando voltei a superfície, estava chovendo mesmo com Sol, uma chuva leve e confortável. Olhei para o céu, senti a chuva tocar o meu rosto, ouvi o guarda-chuva se abrir em cima da minha cabeça.
— Não precisa fazer isso sozinha. — Nanami disse, estiquei os lábios.
— Itadori foi rápido.
— Ele tenta. — Nanami me entregou o guarda-chuva e abriu outro. — Bom, acabou meu expediente.
— Quer tomar um café? — Sugeri, ele olhou para o relógio em seu pulso e analisou a proposta.
— Boa ideia.
Entramos em uma cafeteria próxima, pedi algo doce para comer com café. Nanami parecia relaxado, diferente de mim, que estava tentando descontar a ansiedade na comida.
— Devíamos colocar feiticeiros em cada ponto, assim podemos saber de onde ele vem, se tem algum padrão e...
— Como está o seu café? — Ele mudou de assunto, franzi o cenho.
— O-o que? — Perguntei, ajeitei a postura no lugar, ele bebeu um pouco do café.
— Não quero falar de trabalho fora do meu expediente. — Ele disse, engoli em seco e sorri levemente desconcertada.
— Tem razão. — Suspirei, continuei tomando meu café em silêncio.
— Você e Satoru se resolveram?
— É, sim. Acho que sim. — Gaguejei, Nanami riu antes de beber mais um gole.
— Uma conversa resolveria seus problemas. — Ele acrescentou, peguei uma fatia de bolo e engoli de forma impaciente.
— Ele pediu pra você falar sobre isso?
— Indiretamente. — Ele disse, desviei o olhar, senti meu rosto corar.
— O que quer dizer com "Indiretamente"?! — Perguntei, Nanami riu.
— Pergunte à ele. — Ele levantou e colocou o dinheiro na mesa. — Eu pago seu café, agora preciso ir, tem algumas coisas que preciso fazer.
— Espera, não precisa. — Antes de continuar, Nanami saiu da cafeteria. Me encostei no lugar e suspirei. — Não precisava pagar. Vou me sentir mal.
Voltei para a academia para pegar minhas coisas, e fui até o Loft que Satoru havia me oferecido. Quando entrei, notei que o ambiente estava limpo até demais, como se ninguém o usasse há muito tempo. Tirei os sapatos e deixei minhas malas na sala. Me joguei no sofá, praticamente afundei no acolchoado fofinho.
Estava tudo tão quieto, liguei a TV para preencher o vazio sonoro. Tentei pensar em qualquer coisa além do trabalho, mas só conseguia pensar em tentar ligar os pontos ou peneirar ainda mais as informações que tinha obtido durante o dia. Meu corpo ainda estava úmido da chuva, abri a mala e juntei algumas roupas confortáveis, fui até o banheiro tomar um banho quente.
O som da TV me impediu de ouvir a porta da frente se abrindo. Satoru entrou e notou minhas malas bagunçadas no meio da sala, sem dificuldades ele pulou por cima do sofá e deitou confortavelmente. Terminei meu banho e saí, notei que ele tinha alguns produtos femininos para cabelo, incluindo um secador.
— Graças a Deus você é vaidoso. — Sorri, peguei o secador e comecei a secar meus cabelos. Assim que terminei, saí do banheiro secando as pontas com uma toalha. Dei um pulo quando o vi na sala, Satoru me encarou da cabeça aos pés. — Podia ter avisado que viria!
— Pra minha casa? — Ele cobriu os olhos, parecia cansado. — Relaxa eu não vou ficar.
— Não é isso. Pode ficar, é sua casa. — Olhei em volta, ele riu.
— Eu posso é? — Foi irônico, suspirei e apenas o ignorei.
— Aí, Nanami disse que falou com ele sobre nós, indiretamente. — Arremessei a toalha, ela bateu em uma parede imaginária criada por Satoru e então caiu no chão. — Do que ele estava falando?
— Eu não sei, pergunta pra ele.
— Eu perguntei, ele disse pra perguntar pra você. — Esperei pela resposta, ele não disse nada, revirei os olhos e fui até a minha mala.
Satoru levantou o tecido cobrindo seus olhos e analisou minhas pernas lisas como porcelana, com alguns músculos definidos. Me virei, ele cobriu novamente voltando a posição inicial.
— Ta com fome? — Perguntei indo até a cozinha, ele sorriu. — O que quer comer?
— Sei não. — Ele levantou e veio até a cozinha. — To sem fome.
— Vou fazer Guioza, é uma receita chinesa. Aprendi quando estive em Yinchuan.
— Quando esteve na China? — Me perguntou e apoiou o queixo em suas mãos sobre a bancada, sorri, animada com o interesse.
— Quando saí de Shibuya, visitei vários lugares. Conheci culturas diferentes, algumas me ajudaram a "expandir" minha energia. Liberar minhas habilidades. — Expliquei, Gojo notou o quão importante foi para mim. — Acho que me ajudou a lidar com tudo... com como eu me sentia.
— Fico feliz que tenha encontrado um jeito. — Ele respondeu seriamente, mas com um pesar.
— Me ajuda com isso. — Pedi, mudando de assunto de propósito. Satoru levantou e veio até o meu lado. Cortei, fervi, fechamos os Guiozas e terminamos os preparativos juntos. — Aqui, prova esse.
Ofereci, ele abriu a boca feito uma criança mas com o dobro do meu tamanho. Entreguei, ele começou a mastigar e fazer caretas.
— Isso ta horrível. — Disse, arregalei os olhos, ele riu.
— Idiota. — O acertei no ombro, Satoru pegou outro do prato por cima de mim.
— Me espera servir! — Mandei, tentei pegar da sua mão mas seu braço era muito longo. — Satoru!
Consegui pegar, coloquei de volta no prato e o levei até a bancada. Ele riu e conseguiu roubar um do prato, como já estava servido, não impliquei.
— Continua insuportavelmente mandona. — Ele disse e jogou o Guioza na boca, lembrei-me da nossa adolescência.
— Somos adultos agora. — Respondi, me sentei no lugar e comi até encher as bochechas. Satoru riu. — Quando vai parar de ser tão irritante?
— Quando decidir parar de bancar a desconhecida.
— Não sou desconhecida, você só não me conhece como minha versão atual.
— E a sua versão atual prefere homens como Nanami? Chatos e sem senso de humor?
— Responsável, cuidadoso, protetor. — Disse, mesmo sabendo que Satoru tinha todas essas qualidades e só as escondia por baixo do seu humor infantil.
— Chatos. — Ele pegou um pouco de molho. — E sem senso de humor.
Satoru disse e sujou meu nariz com molho, peguei um pedaço de papel para limpar, ele lambeu seu próprio dedo com a língua.
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