¹⁸|Você não manda em mim
Meu cigarro é a única coisa iluminando o apartamento enquanto eu ouço o relógio na parede.
Tic tac.
Tic tac.
Tic tac.
É irritante, mas me dá algo no que me concentrar durante as duas horas que espero.
Finalmente, quando o relógio bate às 21h43, a porta do apartamento é aberta.
Está tudo escuro, então sua primeira reação é acender a luz. A segunda, é gritar quando me vê.
Seus olhos verdes se arregalam e ela cambaleia para trás, a mão no coração.
— Jesus Cristo! — A mulher que me colocou no mundo diz. — Khalil.
Pela primeira vez, não há rancor na sua voz ao pronunciar meu nome. Não importa, no entanto. Tudo o que consigo ouvir é a raiva habitual que ela usava comigo. Sempre fria e distante. Amarga. Foram dez anos assim. Dez anos. Você pensaria que fiquei feliz quando ela foi embora, que eu comemorei, mas como eu podia fazer isso se meu irmãozinho chorava todas as noites com saudades dela? Ele sentia falta da sua mãe gentil e amorosa, a mãe que eu nunca tive. A mulher que tentou colocar meu irmão de seis anos contra mim, várias vezes. Mas Eros sempre foi esperto. Assim como eu nunca engoli o veneno dela, nunca odiei meu irmão por ser o preferido dela. Eu tentei, no início. Quando ele nasceu e ela não desgrudava dele e eu percebi que ela o amava mais do que a mim, eu tentei odiá-lo, mas eu não podia. Me vi feliz que pelo menos um de nós tinha o amor dela e era melhor que fosse Eros. Ele era mais novo, menor e mais frágil. Entretanto, no final, ela a magoou também.
E agora voltou para fazer mais estragos.
— Como você entrou? — Olivia pergunta, recuperando sua postura. Ela olha em volta antes de trazer seus olhos de volta para os meus. Nossos olhos.
Tensiono minha mandíbula e apago meu cigarro na mesinha ao lado da poltrona antes de me levantar.
— Como eu entrei aqui é o menor dos seus problemas — digo calmamente. Minhas primeiras palavras para ela desde que voltou.
— Khalil, o que você está fazendo aqui?
Cortar sua garganta para que você nunca mais diga meu nome.
Tiro do bolso da minha jaqueta o cheque com a minha assinatura e jogo aos seus pés.
— Você não merece nada que venha de nós; de mim, mas veja isso como um incentivo para ir embora da cidade e nunca mais voltar.
Olivia inspira fundo, como se estivesse ofendida.
— Você não pode…
Avanço na sua direção e dou risada mentalmente quando ela recua. Sou bem mais alto que ela agora e não me incomodo pelo brilho de medo em seu olhar. Tenho certeza que ela está se lembrando de quando eu quase a matei sufocada.
— Eu posso. E vou lhe dar um aviso: nunca mais chegue perto da nossa família, da minha sobrinha. Ou eu terminarei o que comecei naquele dia.
Aqueles olhos que me assombram sempre que me olho no espelho se enchem de raiva. Ótimo. O sentimento é mútuo.
— Quem você pensa que é para ditar o que devo ou não fazer? Eros é o meu filho e Freya é minha neta, eu tenho o direito…
Em um minuto, ela está falando e no outro, seu corpo está batendo na parede quando eu agarro sua garganta.
— "Direito"? Você quer falar de direito, porra? — Abaixo meu rosto para ficar no nível do seu. Aquele medo dominou sua raiva. É interessante como um sentimento se transforma no outro rapidamente quando você está encurralado. — Qual seria o direito de uma pessoa que foi desprezada pela sua própria mãe desde o nascimento?
Olivia segura meu pulso, tentando me afastar, mas ela não tem força o suficiente. Sua boca despeja sons de sufocamento e aqueles olhos horríveis parecem ficar cada vez maiores. Assim como a minha satisfação.
— Será que eu tenho o direito de tirar a sua vida por todo o sofrimento que você causou ao meu irmão, meu pai e a mim? — Afrouxo meu aperto apenas um pouco e observo ela buscar ar. Tão fraca e insignificante.
— Você não mataria a sua própria mãe.
Inclino minha cabeça para o lado e franzo as sobrancelhas.
— Mas você não é minha mãe.
Eu vou gravar esse momento na minha memória para o resto da minha vida: o medo genuíno em suas feições, tão cru que eu posso jurar que sinto o cheiro. É satisfatório esse tipo de poder. Eu sei que ela vê isso em meu olhar, ela sabe que tenho sua vida em minhas mãos agora. Olivia começa a se debater, mas é inútil. Foi inútil quando eu me debatia em seu aperto anos atrás. Porém, sou eu que tenho o poder agora.
Morrer ou viver. Homem ou assassino.
A escolha é tão difícil. Eu vejo suas pálpebras ficarem pesadas, seu rosto mudar de cor e sua luta ficar cada vez mais lenta conforme seu oxigênio vai se extinguindo. Conforme ela vai morrendo.
Ela não vale a pena. Ouço a voz de Eros na minha cabeça.
Você não é assim, filho. Meu pai se junta a voz fantasmagórica do meu irmão.
Mas não é nenhum deles que me faz recuar, e sim uma lembrança, de quando eu tinha dezesseis anos.
“— Você não precisa me chamar de mãe, se não quiser, mas eu ainda vou te amar como uma, querido.”
Foram as palavras de Carlota para mim quando nos conhecemos. Eu ouvi aquilo, mas não acreditei. (Por que deveria?) Mas Carlota não se importou. Não, ela cumpriu o que eu não tinha percebido que era uma promessa, e me amou. Em todos os dezessete anos que se passaram, ela nunca me tratou como essa mulher me tratou. E eu dei mais motivos a Carlota do que a Olivia.
E eu sei que ela ficaria decepcionada comigo se eu matasse Olivia. Toda a minha família ficaria e eu já os decepcionei demais.
Solto Olivia e dou um passo para trás. Ela desaba no chão, tossindo e se arrastando para longe de mim. Viva, infelizmente ou felizmente.
— Duas vezes agora — digo, observando-a. Ela olha para mim com assombro. — Por duas vezes, eu tive sua vida nas minhas mãos e você viveu. Se houver uma terceira… — Expiro, deixando as palavras não ditas pairarem no ar. — Faça suas malas e dê o fora de Chicago. Volte para o inferno de onde você saiu e nunca mais venha atrás da minha família.
Não espero mais um segundo na presença dela antes de sair do apartamento.
☠️
Vodka. Tequila. Whisky. Cerveja.
Parado no corredor de um mercadinho a alguns quarteirões do meu apartamento, encaro todas essas opções. Sempre gostei de vodka. Ela e eu temos um histórico. Talvez seja o meu relacionamento mais longo, mas nós terminamos há seis meses quando fui para aquela clínica de reabilitação.
Exato. Você está limpo. Você não quer ter uma recaída.
Não é sobre querer, mas sobre precisar.
Você não precisa disso. Não mais.
Será? Será que um dia vou parar de sentir essa coceira, esse chamado? Parece tão real, hipnótico, como o canto de uma sereia, me chamando e implorando que eu caia no vício de novo. Minha vida era mais fácil quando eu atendia a esse chamado. Eu não precisava comandar uma empresa, me preocupar a não ser que eu quisesse… Eu com certeza não teria hesitado em acabar com a vida daquela mulher se eu tivesse um pouco de álcool no meu corpo. E no final, eu ainda colocaria a culpa na bebida. Matar alguém a sangue frio é questionável, mas sob a influência de álcool e drogas? Eu não seria um monstro por isso.
Talvez eu devesse beber e ver o que o meu eu bêbado faria. Quando toda a raiva for libertada… Será que Olivia já vai ter saído da cidade até lá?
Pisco rapidamente quando meu telefone toca. Eu não o pego no bolso no primeiro momento. Ao invés disso, encaro minha mão ao redor do gargalo da garrafa de vodka. Eu não percebi que havia pego.
Ponho a garrafa de volta no lugar e alcanço meu telefone na minha jaqueta. Porém, ele parou de tocar. Vejo quem ligou mesmo assim.
Chamada perdida
Kathryn
Olho por quase um minuto inteiro o nome que brilha na tela. Kathryn está me ligando? Por qual motivo? Ela está com saudades?
Penso em hoje mais cedo e em como ela estava sedenta por meus lábios e minhas mãos. E por meu pau, não tenho dúvidas. No sábado, ela foi muito mais relutante que hoje, o que me faz pensar… O que será que mudou? Eu quase podia jurar que ela queria ser punida. Ela está finalmente cedendo a esse lado seu?
Enquanto saio do estabelecimento, aperto em retornar a ligação.
Começo a achar que ela deixará cair na caixa postal quando Kathryn atende.
— Sim…?
— "Sim"? Foi você quem me ligou.
— E desliguei. Porque foi sem querer.
— Você "sem querer" clicou no meu contato entre tantos outros?
— Exatamente.
— Eu não acredito.
— Problema seu.
Pressiono meu celular entre meu ombro e meu ouvido e uso minhas mãos para pegar meu maço de cigarro e meu isqueiro.
— Fez o que eu mandei?
Enquanto ela não responde, acendo meu cigarro e dou uma tragada, relaxando meus músculos.
— Kathryn.
— Você não manda em mim.
Sorrio. Não deveria ser tão satisfatório lutar com ela, mas me deleito com isso. Seu olhar furioso e aborrecido quando eu não a deixei gozar passa pela minha mente. Ela se comportou tão bem hoje que quase fiquei tentado a lhe dar o que ela tanto queria; descobrir o quão molhada ela estava para mim. Mas eu ainda não podia. Eu tenho controle, mas há um limite e sei que se o ultrapassasse, naquela hora, eu não pararia. Eu foderia Kathryn na mesa do meu escritório.
E por mais tentador que isso fosse, eu ainda quero brincar um pouco mais com ela antes da coisa real.
— Eu quero uma foto sua.
— O quê? Por que eu mand…
— Acho que eu mereço já que você gozou pensando em mim.
— Eu não…
— Ponha aquele conjunto que você estava usando naquele dia, com estampa de cereja.
— Eu não vou mandar porcaria de foto nenhuma para…
— Você tem uma hora ou eu não serei tão bonzinho na sua próxima punição.
Encerro a ligação antes que ela continue fingindo que odeia a ideia.
Dou uma última olhada para o mercado, pensando naquela garrafa de vodka, mas no fim, dou as costas ao lugar.
Aprecio as ruas praticamente vazias e silenciosas conforme volto para o meu apartamento.
No silêncio, enquanto caminho e fumo meu cigarro, uma vozinha ganha força no fundo da minha mente. Você estava quase tendo uma recaída, ela diz. Quero negar, mas não sou tão hipócrita. Se eu tivesse tomado uma gota sequer…
Talvez eu deva agradecer a Kathryn e finalmente lhe dar um orgasmo.
Ainda faltam três quarteirões até chegar ao meu prédio quando alguém esbarra em mim.
— Desculpe, senhor — o garoto responsável por me fazer tropeçar murmura rapidamente, sem parar de andar. Na verdade, ele está praticamente correndo.
Alguns segundos depois, quando retomo minha caminhada e o garoto já está muito à minha frente, um homem passa apressadamente por mim também. Faço uma careta para o cheiro da bebida que emana dele. Sinto um aperto no estômago ao pensar em quantas vezes já estive nessa mesma situação deplorável e quantas delas minha família registrou. Eros principalmente, já que era ele quem sempre limpava a minha bagunça.
Nunca pensei que fosse sentir tanta vergonha de quem eu era. E mesmo assim você quase voltou a ser aquilo essa noite. Eu não estava pensando direito, suponho.
Paro de discutir com a minha mente quando passo na frente de um beco e ouço vozes. Não paro de caminhar imediatamente porque penso que pode ser apenas moradores de rua ou pior, mas as vozes são altas o suficiente para chegarem aos meus ouvidos e eu perceber que posso estar errado.
— Você achou que podia sair assim? Quem você pensa que é, hein? — a voz meio trôpega e furiosa é de um homem. Consigo vê-lo de onde estou parado no início do beco. Ele está falando com um garoto. Aquele garoto que esbarrou em mim. E esse homem é o que passou por mim logo depois.
— Eu não quero voltar pra lá! Me deixa em paz! — O garoto tenta passar pelo homem, mas ele é baixinho e magricela enquanto o mais velho é mais alto e forte.
Deixo meu cigarro cair e escondo minhas mãos nos meus bolsos conforme caminho pelo beco. Aos poucos, consigo distingui-los melhor: o homem é branco, com cabelo escuro, uma barba espessa e roupas desgastadas e sujas. Já o garoto é negro, muito alto para ter dez anos, mas muito baixo para ter mais de dezesseis. O menino está com uma mochila nas costas, segurando uma das alças com força e com a outra mão ele tenta se livrar do homem.
— Você não tem que querer! — o mais velho grita. — Você roubou o meu dinheiro e agora eu quero de volta. Quando a gente chegar em casa você vai levar uma surra por isso.
— O dinheiro é meu. Eu trabalhei pra conseguir. Você é só um bêbado que gosta de bater em crianças.
— Olha aqui seu…
— Solta o garoto — digo quando ele ergue a mão para sem dúvidas bater no menino enquanto segura o capuz do casaco dele com a outra.
Ambos olham para mim, o homem congelando com a mão erguida. Seu olhar de desprezo me varre quando me aproximo mais deles.
— E quem é você? — questiona.
— Você conhece esse homem? — pergunto ao garoto, ignorando o homem.
O menino anue.
— Ele é o namorado da minha mãe.
— Você quer ir com ele?
— Ele não tem que querer — o bêbado interrompe, puxando o garoto para mais perto, como se ele fosse um escudo. Covarde de merda. — Sou o pai dele, ele vem comigo.
— Não! Você não é! — Mostrando que eu o subestimei, o garoto dá uma cotovelada no estômago do seu padrasto, que se curva e solta o capuz.
Livre dele, o menino vem para o meu lado enquanto seu padrasto uiva de dor.
— Seu merdinha bastardo!
Por que você tem que ser tão teimoso, hein? Por que não pode ser bom igual ao seu irmão? Talvez assim eu te amasse, mas você é um bastardo.
As palavras de Olivia surgem do nada na minha cabeça, me distraindo por um segundo e quase perco o próximo movimento do idiota bêbado na minha frente. Ele volta a se erguer e tentar chegar até o garoto, mas eu sou mais rápido e lhe dou um soco. Ponho toda a minha força no golpe e juntando isso com o álcool no sistema dele, não me surpreende quando ele cai no chão, desmaiado.
Faço uma careta para minha mão que ainda não tinha se recuperado totalmente do meu ataque a minha geladeira.
Ao meu lado, o garoto dá um passo à frente, olhando para seu padrasto no chão.
— Ele morreu?
— Infelizmente, não.
Ele não diz nada por alguns segundos e depois dá de ombros.
— É uma pena. A existência dele é um desperdício de oxigênio.
Olho para o garoto por um momento e depois solto uma risada. Que noite estranha do caralho.
— Qual o seu nome? — pergunto quando chegamos a um consenso silencioso que devemos sair do beco.
— Dean Barnes. E o seu?
— Khalil Blackburn.
— Nome legal.
— O seu também. Tá com fome?
— Depende da comida.
— Hambúrguer.
— Tô dentro.
Então nós caminhamos quatro quarteirões até o McDonald's mais próximo.
☠️
Não lembro a última vez que comi hambúrguer, mas tinha esquecido como é bom. O suficiente para eu comer dois e dividir uma grande porção de batata frita com queijo e bacon com Dean.
— …e aí ele ficou com raiva porque a Cheryl tava namorando comigo e não com ele, então destruiu o meu trabalho de física.
— Que idiota.
— Pois é, mas a Cheryl me ajudou a fazer outro. E isso aproximou mais a gente, mas depois de um tempo percebi que não quero namorar ninguém. Relacionamentos são complicados demais, cara.
Esse é o Dean; treze anos de idade, fã de filmes de super-heróis e videogame.
Deve fazer uma hora que estamos aqui e Dean se mostrou ser quase – senão mais – tão falador quanto Freya. Em sessenta minutos, ele me contou toda a história da sua vida: o pai dele morreu quando ele era mais novo e ele e a mãe vivem do seguro de vida do pai dele, mas as coisas pioraram quando a mãe começou a namorar o Abel – o bêbado idiota. Acontece que Abel é alcoólatra e usuário de drogas, e também levou a mãe do Dean por esse caminho.
Dean disse que eles estão juntos há quatro anos. Desde então, é Dean quem faz as tarefas de casa – limpar, cozinhar e etc – enquanto a mãe dele e Abel estão discutindo ou bebendo e fumando. Perguntei a Dean se a mãe dele sabe que Abel bate nele.
— Ele também bate nela, às vezes, então é melhor eu do que ela — ele disse, dando de ombros.
Apesar da vaca da sua mãe estar negligenciado a sua educação, sua saúde e sua segurança, Dean ainda assim tenta protegê-la.
Quando perguntei da escola, ele disse que parou no meio do ano letivo porque não conseguia conciliar os dois empregos de entregador – em empresas diferentes – com a escola. Então ele estuda em casa quando não está cansado demais ou quando Abel some por uns dias e o deixa em paz.
Dean também disse que estava juntando dinheiro para levar ele e a mãe dele para longe de Abel, mas o homem achou o esconderijo – sapatos que Dean não usava mais e estavam escondidos debaixo da cama. Ele gastou quase tudo com bebida, mas hoje Dean conseguiu recuperar o que sobrou quando Abel estava desmaiado no sofá. Ele colocou algumas mudas de roupa dentro da sua mochila e tentou persuadir sua mãe a ir embora com ele, mas a mulher não quis e começou a brigar com Dean. Isso acordou Abel, então Dean fugiu.
Mas Abel foi atrás e conseguiu pegar o mesmo metrô que Dean, apesar de Dean conseguir se esconder entre as outras pessoas. Ou foi o que ele achava. Ele desceu em um bairro aleatório – exatamente o meu – para despistar Abel, mas o homem veio atrás.
Então aqui estamos.
— Você não tem outra família? — pergunto quando termino de comer.
— Não. E você? — Ele me analisa enquanto come seu hambúrguer. — Aposto que você é um filhinho de papai.
— Eu não sou — rebato, ofendido.
Dean dá risada.
— É, sim. Olha pra sua cara. Eu acertei em cheio.
Reviro os olhos.
— Tá bom, Sherlock. Antes do seu plano de fuga dar errado, para onde você estava indo?
Ele dá de ombros.
— Pensei que minha mãe cuidaria dessa parte.
Dean parece bastante despreocupado, mas não acredito nessa máscara nem por um segundo. Meu palpite é que ele ainda está digerindo toda a situação – sua mãe escolheu seu padrasto ao invés dele, agora ele não tem mais ninguém e suas únicas alternativas são voltar para casa e para o inferno que o aguarda ou viver nas ruas.
Mas há uma terceira opção com a qual ele não estava contando.
— Termina de comer e nós vamos para o meu apartamento. Você pode ficar no sofá. É confortável. A gente vê o resto amanhã.
Como o garoto esperto que eu percebi que ele é, Dean não aceita imediatamente.
— Como eu vou saber que você não está sendo bonzinho só para me sequestrar?
— Eu não sequestro crianças.
— Você sequestra só adultos, então?
Semicerro os olhos.
— Eu não sequestro ninguém.
— Por que eu deveria acreditar na sua palavra?
Solto um suspiro, mas não posso realmente ficar chateado com o garoto. Ele está certo em não confiar em um estranho só porque ele lhe deu hambúrguer.
— Você tem algum amigo? Você pode ligar para ele pelo meu celular e dizer que tá comigo. Se você não ligar para ele de novo amanhã, ele pode chamar a polícia.
Dean pensa por alguns segundos, mas por fim, anue.
— Posso ligar pro Rafael. Eu tenho o número dele no meu caderno. Ele é um amigo da escola. Eu iria pra casa dele, mas ele mora com mais quatro irmãos, sabe? A mãe dele não pode alimentar mais uma boca.
— Sei.
Dou meu celular a ele, que digita o número do amigo após pegar no seu caderno dentro da mochila. O tal do Rafael atende e Dean faz um breve resumo do que aconteceu essa noite. Ele passa meu nome e o meu endereço para o amigo.
— Vamos — chamo depois de desligar. Já terminamos de comer também.
Dean pega sua mochila e nós vamos para o meu apartamento.
— Não vai dormir tarde vendo TV — aviso a Dean, uma hora mais tarde.
Quando chegamos, mostrei a ele o banheiro e enquanto ele tomava banho, separei um travesseiro extra e cobertas.
— Não tem nada saudável na geladeira, mas tem sorvete.
Já no sofá com os olhos pregados na TV, Dean anue.
— Boa noite.
— Boa noite…Ei, Khalil.
— Sim? — Volto-me para ele porque já havia lhe dado as costas.
Encontro os olhos castanhos de Dean, vendo neles a vulnerabilidade que ele tentou esconder a noite toda.
Ele coça a nuca, parecendo meio sem jeito.
— Obrigado.
Anuo, porque não há nada para agradecer.
— Não coma o sorvete de chocolate.
Dean solta uma risada.
— Tá bom.
Quando estou no meu quarto, meu celular apita. Penso em ignorar, mas então me lembro que eu estava mesmo esperando uma mensagem.
Sorrio ao abrir a mensagem enquanto me sento na cama. Ela mandou a foto. Posso imaginar como ela ficou se contorcendo pensando se me obedeceria ou não. Sinceramente, estou um pouco satisfeito por ela ter obedecido, mas também desapontado porque assim não poderei puni-la por isso.
Kathryn tomou cuidado para que seu rosto não saísse na foto tirada no espelho. Não tem problema, eu sei que é ela. Lá estão, escondidos naquele sutiã branco com estampa de cereja, os seios que saboreei hoje mais cedo. Meu pau endurece com a lembrança e com essa foto. Desço meus olhos por seu estômago e sua cintura magra, parando apenas onde outro pedaço de tecido estampado a cobre. Sua calcinha é uma coisinha minúscula que esconde sob ela a boceta que estava pingando para mim hoje. Posso não ter chegado a senti-la, mas eu sabia e agora lamento por não tê-la provado.
Logo, logo, querida. Em breve essa boceta será minha.
☠️
— Quem é você?
— Sou o Dean Barnes. E você?
— Kate.
— Kate de quê?
— Meus amigos me chamam de Kate. Está bom assim.
— O Khalil é seu amigo?
— Ele é o meu chefe. Como você o conhece?
— Ele me ajudou com o meu padrasto ontem. Você é bonita. Vocês namoram?
— Obrigada e não. Então até antes de ontem vocês não se conheciam?
— Não. O que é isso na sacola? Cheira bem.
— Café da manhã. Imagino que seja pra você.
— Obrigado.
— De nada. Sabe onde o Khalil está?
— No quarto.
— Ok.
Segundos depois dessa conversa emocionante, ouço os familiares tac tac tac dos saltos dela.
Liguei para Kathryn assim que acordei para ela trazer café da manhã. Falei sério ontem: não há nada saudável na geladeira ou nos armários e eu não tenho tempo para levar Dean para tomar café da manhã fora.
— Quem é… — Kathryn para na entrada do meu meu quarto, também parando no meio da frase. Provavelmente o fato de eu estar apenas de calça é o que lhe paralisa.
Ela abre e fecha a boca algumas vezes antes de pigarrear e desviar o olhar.
— Quem é aquele garoto na sua sala?
— Ele disse quem é.
— Sim, mas…
— Gostaria que você olhasse para mim quando estiver falando comigo.
Kathryn olha para mim, então, com aquele familiar fogo em seus olhos castanhos, sem nenhum vestígio do tesão que estava sobre eles ontem mais cedo.
— Dormiu bem? — pergunto enquanto começo a vestir minha camisa. Kathryn faz questão de manter seus olhos em meu rosto dessa vez.
— Perfeitamente. E como eu estava dizendo: de onde você conhece o Dean e por que ele está dormindo no seu sofá?
— É um sofá confortável.
Kathryn solta um suspiro exasperado com a minha resposta vaga.
— Khalil…
— Me ajude com a gravata.
Ela encara o tecido na minha mão depois que eu termino de abotoar minha camisa.
— Você ainda tem duas mãos, pode fazer isso sozinho.
— "Ainda"? Você tem planejado alguma coisa? — Arqueio a sobrancelha enquanto diminuo a distância entre nós. Invadindo seu espaço pessoal, sinto o cheiro do seu perfume. Esse tem a essência de baunilha e morango.
— Talvez.
Estendo o tecido para ela e Kathryn bufa, mas pega. Ela se abaixa para colocar sua bolsa no chão antes de voltar a se erguer e passar a gravata pelo meu pescoço.
Nós não falamos. Estou tão acostumado com nossas ocasionais discussões que estranho por um segundo antes de apreciar o raro momento em que ela não está usando essa boquinha bonita para me xingar ou me amaldiçoar.
Hoje, seus lábios estão cobertos por um batom mais claro do que ela costuma usar, me lembrando novamente um botão de rosa. Enquanto lamento por não tê-los provado ontem, o desejo de fazer isso agora cresce a cada segundo que ficamos próximos. Eu sei que Kathryn percebe isso porque seu peito se move com respirações profundas sob sua camisa de botão rosa choque.
Enquanto suas mãos trabalham na minha gravata, seus olhos encontram os meus. Seu hálito escapa dos seus lábios entreabertos e meu cérebro vê isso como um convite para reivindicá-los. O desafio está lá em seu olhar. Se ela continuar olhando assim para mim, não tenho certeza se vou conseguir manter meu controle por mais tempo. E está claro que ela deseja isso, só não irá admitir sem uma luta.
No entanto, Kathryn dá um último aperto na gravata – um aperto forte demais, diga-se de passagem.
Lhe dou um olhar de aviso, mas ela finge não notar ao dar um passo para trás.
— Quer que eu calce seus sapatos também? — pergunta, seu tom carregado de sarcasmo.
— Se você quer se ajoelhar para mim, Kathryn, não precisa inventar desculpas.
Ela revira os olhos, corando de raiva.
— Babaca.
Kathryn pega sua bolsa, mas para antes de sair.
— Quero que você apague aquela foto.
Tiro meu celular do bolso e ligo.
Então mostro a ela minha tela de bloqueio.
— Essa foto?
Seus olhos se arregalam e ela avança na minha direção, sua mão estendida para pegar meu celular.
— Seu idiota. Você não pode…
— Eu posso fazer o que eu quiser. A foto é minha agora. — Levanto meu braço e me divirto quando ela tenta alcançá-lo. Mesmo com esses saltos ela está longe de conseguir.
— Me dá isso… Argh! — Kathryn tropeça, mas já estou passando meu outro braço ao redor da sua cintura e puxando-a ainda mais contra mim.
— Eu mereço uma recompensa, lembra? — Aperto-o mais quando ela tenta se livrar de mim.
— Você é um idiota e eu te odeio! — Seus punhos batem em meu peito. É fofo.
— Palavras, palavras… Nenhuma delas é verdadeira.
— Claro que é. Você é um idiota.
— Então só isso é verdade? Você não me odeia?
Ela olha furiosa para mim, como uma gatinha raivosa.
Então ela me morde, como a porra de uma cadela.
— Caralho! — Solto-a para segurar meu nariz. Olho incrédulo para Kathryn. — Você realmente acabou de me morder?
Agora ela parece mais satisfeita do que furiosa quando dá um sorriso perverso.
— Sim, porque é o que fazemos quando odiamos alguém. E eu. Odeio. Você.
Então ela me dá as costas e vai embora, me deixando com meu nariz mordido.
☠️
OBRIGADA PELO 1K DE VOTOS!🖤🖤🖤
Eita q teve um pouco de tudo
nesse capítulo
Gostaram do Dean?
Tava doida pra apresentar o ele a vcs🤧.
Amo a relação deles e vou trazer mais daqui lra frente!
Aqui ele pra vcs👇 (no início ele seria mais velho, mas mudei isso, ent mudei o aesthetic tmb.
Gostaram do capítulo?? Espero de coração que sim!
Terça-feira tem capítulo (um dos meus preferidos até agr)💋🖤
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