⁶⁰|Sombra
Eu fodi tudo.
Essas palavras ficam se repetindo na minha mente junto com a imagem do rosto de Kathryn quando percebeu… quem eu era.
— Eu sinto muito — digo, minha testa apoiada na porta que, com alguma esperança, Kathryn irá abrir. — As coisas fugiram do controle e… — Solto um suspiro, deixando a frase morrer. Não adianta me explicar se não posso ver seu rosto e saber se ela está ou não acreditando em mim. — Apenas abra a porta, por favor, e vamos conversar.
Depois de quase um minuto inteiro e nada acontece, sento no chão, minhas costas contra a porta. Irei acampar aqui, se for preciso.
Sei que deveria lhe dar espaço. Ela literalmente usou a palavra de segurança, ela pediu para eu parar. Mas eu sei também que se eu for embora agora, se eu lhe der espaço e tempo para pensar, ficará ainda mais difícil para Kathryn me perdoar. E eu preciso que ela me perdoe. Preciso que ela entenda. Preciso contar as coisas do início.
Sim, fiquei obcecado por ela assim que entrou naquela na sala e me olhou nos olhos como se soubesse o que destino nos reservava. Eu a fiz minha naquele dia. Eu a segui até em casa depois que Eros a colocou em um táxi. Eu sabia que era errado. Sabia, principalmente, que meu irmão me mataria, mas nada disso importava porque eu não conseguia parar de pensar nela.
Mas eu sempre me mantive longe. Sempre nas sombras. Ainda é bizarro e muitas pessoas não entenderiam, mas observá-la era o que me mantinha são às vezes. Quando nem a bebida nem as drogas eram o suficiente para calar minha mente perturbada, era ela quem eu procurava. Talvez isso tenha sido uma desculpa para justificar minha obsessão, mas funcionava e eu nunca fiz nada além de observar.
Até o dia em que eu fiquei sóbrio. Até o dia que eu percebi que aquilo, que ela, já não era mais uma obsessão. E eu perdi o controle. Eu já não suportava mais vê-la com aqueles homens. Sabia, lá no fundo, que não tinha o direito de me sentir incomodado, mas a razão sempre foi uma coisa distante quando se trata de Kathryn. O dia em que finalmente me revelei… Aquilo não estava planejado. Eu deveria tê-la chamado para jantar. Já estava planejando há um tempo fazer dela minha assistente pessoal, então mostrar a ela que eu não era tão babaca e convidá-la para um encontro era questão de tempo.
Mas eu perdi a porra do meu controle, a assustei e me deixei levar por uma crise de ciúmes e possessividade a ponto de pregar as mãos de um homem por tocá-la. Percebi meu erro, mas já era tarde demais para consertar. Então a segui naquela rua. Fiquei cara a cara com ela. Fiz o papel de psicopata que ela já achava que eu era. O que eu não estava esperando era o brilho de adrenalina em seu olhar. Sua expectativa do que eu faria a seguir. Não podia ser, certo? Kathryn não poderia gostar daquilo… Era doentio.
No entanto, confirmei minhas suspeitas ao ir naquela boate. Eu disse a mim mesmo que seria a última vez, que eu poderia me aproximar dela sendo eu mesmo em vez de me esconder atrás de uma máscara. Decidi que, se ela gritasse, se estivesse muito assustada e tentasse fugir de mim, eu nunca mais me aproximaria dela sendo ele. Mas não foi o que aconteceu. Eu vi, pela primeira vez, quem Kathryn realmente era. Eu a entendi. E eu sabia que não tinha como eu voltar atrás, pois já estava condenado.
Eu deveria ter me mantido longe e só me aproximar dela como o homem atrás da máscara quando percebi isso, mas eu não conseguia. Não esperava que as coisas entre nós ficassem tão sérias, que ela também desenvolvesse sentimentos por mim. Então, novamente, agir como um psicopata nas sombras já não era o bastante e nem parecia certo. Eu não contaria a Kathryn que era eu o tempo todo, mas também não continuaria com aquilo. Não precisávamos mais daquela fantasia.
Parecia um plano perfeito e tudo estava correndo bem… Até hoje. Até ela usar quase as mesmas palavras que Pax muito tempo atrás.
Abro os olhos ao ouvir o som familiar do elevador. Dois policiais saem pelas portas de metal, ambos com seus olhos fixos em mim.
Porra, Kathryn.
Você não pode culpá-la, pode?
— Você mora aqui? — o primeiro policial diz. No seu uniforme está escrito Andrews.
Fico de pé lentamente, assentindo.
— Esqueci a chave. Estou esperando a minha namorada — minto, torcendo que acreditem na minha mentira.
Os dois se entreolham e o segundo policial – Torres –, prossegue:
— Recebemos uma denúncia de que havia um homem perturbando os moradores desse andar. — Ele olha para frente e para trás no corredor. — Só há você aqui.
— Devo ter feito um pouco de barulho mais cedo, mas já está tudo em ordem.
O policial Torres me olha de cima a baixo, parando nas tatuagens que ele consegue ver. Depois, olha para o seu parceiro, que anue.
Porra.
— Melhor esclarecermos isso na delegacia — diz as palavras que eu estava temendo ouvir.
Meu primeiro instinto é gritar com eles e tentar fugir, mas isso só pioraria as coisas. Além do mais, isso é culpa minha. Se eu tivesse dado espaço a Kathryn, ela não teria sentido a necessidade de chamar a polícia para mim.
Então, mesmo que doa deixá-la, eu “acompanho” os policiais, rezando para que nesse meio tempo Kathryn mude de ideia sobre me ouvir… e me perdoar.
☠️
Cinco anos atrás
É inverno e segundo a previsão do tempo, a mínima em Chicago para essa noite é de 6°C. Eu deveria estar no meu apartamento com Bree e Pax. O último comprou alguns baseados dos bons e eu deveria estar lá para fumar mais porque encontrar qualquer coisa boa hoje em dia é quase impossível se não tiver os contatos certos.
Mas, em vez de estar aproveitando uma boa maconha e dois corpos nus, estou parado ao lado de um poste observando-a dançar. Minha pequena vênus não sabe que estou aqui, é claro, então não vê problema em ficar com a janela aberta, às 23h, enquanto dança uma música ruim – consigo ouvir alguns trechos –, usando apenas uma calcinha vermelha e uma camiseta branca super apertada. Ela não sabe que existem psicopatas por aí e que esse showzinho que ela está dando seria como um convite para eles?
No entanto, estou aqui, então ela não precisa se preocupar com isso.
Mantendo-me nas sombras, acendo um cigarro porque está frio pra caralho e preciso de algo para me aquecer. O apartamento da minha pequena vênus parece convidativo agora. Seria tão fácil abaixar o gorro do meu moletom e tirar esse boné, então ir até lá e tocar a sua campainha. Mas considerando nossa relação, minha vênus não me deixaria entrar. Ela odeia o homem que eu sou fora das sombras.
Você a fez te odiar.
Eu precisei. Se tivesse ido em frente naquele Natal, eu a teria arruinado. Entendo agora porque Eros me deteve. Ainda o odeio por isso, mas entendo. Eu destruo tudo o que toco.
Um movimento me chama atenção e eu saio dos meus pensamentos para ver a mulher que me transformou em um Joe Goldberg, dançando com seu gato nos braços. Não consigo ver daqui se o pobre bichano está de acordo com essa performance, mas eu trocaria de lugar com ele sem precisar pensar muito. Minha vênus pula e canta a todo vapor sua música pop ruim do momento. Um pequeno sorriso surge na minha boca. Essa mulher é completamente maluca às vezes.
De repente, ela para de dançar, seu corpo virando para a janela. Sei que não pode me ver com clareza, mas mesmo assim dou um passo para trás, me camuflando na escuridão. Minha pequena vênus se aproxima da janela, seu gato ainda nos braços. Ela olha pela rua, como se procurasse algo. Às vezes tenho a sensação que ela sabe que estou aqui. Será que, de alguma forma, ela consegue sentir a minha presença?
Desistindo do que procurava, ela está prestes a voltar para dentro, quando faz uma pausa. Seu rosto se volta exatamente para onde estou. Eu não me movo. Não respiro. Mas minha mente continua pensando… O que ela faria se me visse aqui? Chamaria a polícia? Se trancaria dentro de casa? Por que eu ainda fico observando-a depois de três anos?
Por fim, ela me dá as costas e fecha a janela.
Mesmo não podendo mais vê-la, ainda passo a noite toda aqui, nas sombras, onde sempre estarei mesmo que ela não possa me ver.
☠️
O rosto de Eros está indecifrável quando o encontro do lado de fora encostado em seu carro. Liguei para ele há meia hora. Achei que nunca mais interpretaríamos esses papéis (eu sendo preso e ele me tirando da cadeia), mas desde que sua esposa é sobrinha do chefe da DP, eu precisei pedir a ele para mexer uns pauzinhos. Não é porque tudo isso é minha culpa que eu ficaria de bom grado em uma cela a noite toda.
Deveria agradecer a Eros por não me deixar na mão e por ser um bom irmão quando não está se intrometendo na minha vida, mas só consigo pensar em Kathryn. Já passaram cinco horas desde que me jogaram naquela cela (os policiais ignoraram todas as nove vezes que exigi dar um telefonema). Todas essas horas devem ter sido o suficiente para Kathryn pensar, certo? Quando voltar ao seu apartamento, ela estará disposta a conversar comigo? Eu só preciso que ela me ouça…
— Você não vai me contar o que está acontecendo? — Eros questiona quando estou prestes a entrar no carro.
— Depois.
— Não. Agora. — Então ele se desencosta de onde estava e vem até mim, batendo a porta que eu tinha aberto. Alguém está irritado. — Que porra? Você foi preso, caramba.
— Isso é perceptível — respondo, meu tom seco. Ele deixou a chave dentro do carro? Eu poderia roubá-lo.
Eros me dá um olhar de quem não está de brincadeira. Para o seu azar, eu também não.
— Olha, eu fiz merda e preciso consertar — explico apenas porque sei que ele não vai me deixar em paz se eu não lhe disser nem o básico. — Então você pode me levar até o apartamento da Kathryn ou vou pegar um táxi.
Algo se passa no rosto de Eros. Não sei o que significa essa expressão, mas não gosto. Principalmente quando ele passa a mão no rosto antes de me encarar de novo.
— Kate me ligou. Ela pegou um voo para Nova York há duas horas.
☠️
Gente, desculpa o atraso, eu esqueci totalmente que ontem era sexta KKKKKKKKKKKKKKKK. Mas enfim, vou postar outro capítulo amanhã pra compensar.
Agr vamos conversar...
Acharam que a Kate ia denunciar o Khalil? Queriam isso? Oq vcs teriam feito no lugar dela??
Espero que tenham gostado do capítulo! Vi alguns comentários perguntando se eles ficarão juntos no final... Gente, vcs nunca leram meus outros livros? KKKKKKKKKKKKKK
Bjs e até amanhã ❤️
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2bjs, môres♥
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