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⁴⁹|Nós nunca damos as costas à família

    Eu fodi tudo.

    Eu perdi Pax, e agora Kathryn.

     Todas as coisas boas que eu já tive na minha vida, se foram.

     E a minha forma de lidar com isso ainda é a mesma: álcool.

     Eu deveria ter ido atrás dela. Deveria ter tentando impedi-la. Qualquer coisa. Mas em vez disso, fui ao supermercado e comprei toda a bebida alcoólica que eu pude trazer em duas sacolas.

     Mas nem todo álcool do mundo conseguiria me entorpecer o suficiente.

     Pax está morto. Meu melhor amigo. A primeira pessoa que eu amei. E eu nunca disse isso a ele. Agora que penso nisso, me pergunto porque diabos eu nunca falei. Eu dizia que tinha todo o tempo do mundo para falar essas coisas. Que um dia, talvez, eu diria a ele. Não era algo importante na época. Pelo menos eu achava que não, mas Pax constantemente dizia aquelas três palavras. Quantas vezes ele não esperou que eu dissesse o mesmo? Quantas vezes eu revirei os olhos e debochei dessas palavras?

     Termino uma garrafa de Johnnie Walker e abro outra, não hesitando em engolir a bebida em longos goles. A queimação satisfatória há muito tempo se foi. Assim como Pax se foi. Ele sentiu dor? Ele convulsionou até a morte? Quais foram as suas últimas palavras? Quando penso nisso, uma imagem dele caído no chão, com espuma na boca, vem à minha mente. Pax morreu sozinho, no chão frio do seu apartamento. Dói pensar nele lá, sem ninguém para ajudá-lo. Dói não poder ter ajudado-o quando tive a chance.

     Dói, principalmente, que ele tenha morrido por minha causa. Se eu tivesse aceitado fazer aquela viagem com ele… Ou se eu simplesmente tivesse sido mais atencioso. Se eu tivesse me esforçado mais para ajudá-lo a largar o vício… Talvez Pax ainda estivesse aqui. Mas ele não está, e aquele lugar onde eu costumava manter meu amor por ele, está vazio. Eu me sinto vazio.

     Eu não apenas ferrei com Pax, mas fiz o mesmo com Kathryn. Eu a arrastei comigo para a escuridão. Eu quase me tornei os monstros que ela matou por mim.

    Ao lembrar das mãos de Bree sobre ela, atiro a garrafa, – agora vazia –, na parede. Eu estava sóbrio o suficiente para notar o olhar de incerteza que ela estava me dando. Toda maconha que tinha no bolo e aquele êxtase, deixaram Kathryn confusa. Era para fazê-la relaxar, se divertir, mas ela estava num nível muito perigoso, em que você perde a noção do que quer e o que não quer. Eu sei porque já estive lá. Eu sei porque era como eu me sentia quando Richard e Victoria me drogavam. E eu fiz isso com ela. Eu não quase me tornei um monstro, eu sou um monstro. Mesmo que eu tenha agido rápido. Mesmo que eu quase tenha vomitado ao ver o que Bree estava tentando fazer, seduzindo Kathryn porque sabia que ela não estava em plena consciência. Mas eu não agi rápido o suficiente porque Bree a assediou. Eu sei que ela também tinha ingerido sua quantidade de drogas, mas nada justifica. Assim como nada justifica como eu fiquei lá sentado e a deixei agir por tempo o suficiente para Kathryn pensar que eu estava de acordo com aquilo.

     O pior de tudo, na verdade, é o motivo por trás de Kathryn ter permitido que eu fizesse tudo isso. Ela me ama. Aquela mulher durona e que não queria se comprometer no início, me ama, e eu falhei com ela. Fiquei com tanta raiva de mim mesmo quando achei o teste de gravidez, que não reagi de uma forma racional. Eu estava com raiva – e ainda estou –, porque se já não bastasse o que eu fiz com ela, eu poderia ter prejudicado o bebê que eu achei que ela estava carregando. A mera possibilidade de Kathryn estar grávida e eu ter lhe dado êxtase e maconha, me fez vomitar. Mas eu não consegui explicar isso. Pelo contrário, eu tive a atitude mais babaca, como sempre.

     É claro que ela iria embora. Ela não quer lidar com alguém quebrado com problema de comunicação e um histórico ruim. E porque eu a amo também, eu não posso culpá-la por me deixar. Eu não posso exigir de Kathryn que fique ao meu lado, quando ficar perto de mim apenas a machuca.

     Essa é a diferença do amor que sinto por ela e o que eu sentia por Pax. Com ele, eu não me importava se estava ferindo seus sentimentos. Eu não me importava que aquele amor beirava a dependência e estava tão fundida com o vício, que me fazia igualmente mal às vezes. Era assim que Pax e eu éramos. Era como funcionava para nós.

     Mas amar Kathryn, é perceber que meu coração pode sim parar quando ela está à beira da morte. Amá-la, é entender que o mundo não é tão cruel, quando alguém como ela está andando pela Terra. E eu a amei aos poucos. Eu a amei durante anos. Eu a amei antes de saber o que era o verdadeiro amor. Eu a amei enquanto a odiava. E hoje eu a amo sabendo que jamais serei capaz de amar outra pessoa, porque uma vez que entreguei meu coração para Kathryn, qualquer um que não seja ela, perdeu a chance de um dia fazê-lo bater de novo.

    Estou tão fodido, que estou sofrendo por amar uma mulher que não me quer enquanto meu coração sangra por um homem morto que um dia eu amei.

    
☠️

    — Eu deixei o quarto de hóspedes arrumado. Vou levá-lo quando ele acordar. Você falou com ela? Ela disse o que aconteceu?

     Entro na cozinha, encontrando Eros encostado no balcão, os braços cruzados enquanto fala ao telefone. Foi sua voz que me acordou. Eu não lembro de ter ido dormir. Não lembro de nada que não seja o gosto do álcool e a dor insuportável em meu peito que eu estava tentando suprimir – e que eu falhei.

— Diga a ela que eu não estou bravo ou algo assim, ok? Eu entendo o que ela teve que fazer para… — Ao me notar, meu irmão se interrompe. — Ele acordou. Ligo para você depois… Eu também te amo.

    Sou um covarde, porque não encontro os olhos dele. Eu passo por ele, e sei que Eros sente o cheiro da bebida em mim. Mas ele não fala nada conforme eu ocupo um banco na ilha. Apoio meus cotovelos no mármore, esfregando meu rosto como se isso fosse aliviar a dor de cabeça.

— Aqui. — Eros põe uma garrafa de água na minha frente e senta no banco ao lado do meu.

— Obrigado — murmuro. Minha voz está rouca pra caralho. Eu estive gritando? — Que dia é hoje?

— Ainda é terça-feira. E estamos no meio da tarde.

     Anuo, não me importando muito.

     Enquanto bebo a água, lembro da conversa que ele estava tendo com Genevieve no telefone.

— Kathryn não está falando com você?

— Ela me mandou uma mensagem, explicando tudo o que aconteceu. Está se sentindo culpada.

    Isso me faz olhá-lo nos olhos, então.

— Nada foi culpa dela.

    Eros observa meu rosto por um instante, não sei se para verificar que estou falando a verdade ou para analisar o quão horrível eu estou.

— Eu sei — diz por fim.

     Solto um suspiro e volto a olhar para frente. Quanto tempo mesmo se passou? Parece que foi ontem que eu estava parado aqui ouvindo enquanto Kathryn me contava que matou Richard e Victoria. Naquele momento, eu a amei ainda mais e quase lhe disse isso. Por que não contei? Porque esperei até agora, até perdê-la, para falar?

— Eu sinto muito pelo seu amigo — Eros interrompe meus pensamentos.

— Eu também. — Minha garganta se fecha. Agora que estou sóbrio, as emoções finalmente batem em mim com força total. Eu quero urgentemente pegar uma garrafa de vodka, mas eu sei que mais uma vez meu irmão jogou fora tudo o que sobrou. Sem o álcool, eu não tenho como controlar a avalanche que começar a crescer dentro de mim. — Porra. — Jogo a garrafa para longe. Arfando, levo as mãos ao meu cabelo.

— Sim. Coloque tudo para fora. — Ouço Eros dizer suavemente.

— Foda-se. Eu os perdi. De formas diferentes, mas ainda os perdi — as palavras começam a sair sem que eu tenha nenhum controle sobre elas. — Pax está morto por minha culpa, porque eu não estava lá com ele. Porque eu o abandonei. Eu, Eros. Eu, que lidei durante anos com o trauma que aquela cadela da Olivia me causou; que sei exatamente o que é ser abandonado por alguém que você ama. Eu fiz o mesmo com ele. Eu sabia que Pax não seria capaz de largar o vício sozinho, porque eu não fui. Eu tive vocês para me apoiar, para não desistir de mim, mas eu desisti dele quando o que eu deveria ter feito era salvá-lo. — Mesmo enxugando meus olhos, as lágrimas ainda vêm. — Mas foda-se, não é? Do que adianta lamentar. Eu o perdi. Eu o perdi para sempre — sussurro a última parte, fechando os olhos. — E como se não bastasse, como se isso já não estivesse doendo o suficiente, perdi Kathryn também. Porra. Aquela mulher. Inferno, eu a amo. — Abro os olhos e encaro meu irmão. — E eu odeio você por ter feito eu me afastar dela. Odeio que só agora eu tenha percebido que ela é a porra do amor da minha vida de merda. Mas eu também te agradeço por não ter deixado eu me aproximar dela naquela época, porque eu a teria destruído sem sequer chegar a tê-la amado. No entanto, você sabe o quê? Talvez fosse melhor assim, porque agora eu sei exatamente como é amá-la, eu sei como fazê-la sorrir, e sei como é bom apenas passar o meu dia com ela. Eu sei de tudo isso, porra, e ainda a perdi! Eu ainda a magoei e falhei com ela. Você vê a semelhança aqui? Eu sempre falho com todo mundo. Eu sempre destruo tudo o que eu toco. Sempre…

— Não. Não diga isso. — Eros balança a cabeça. Eu nunca vi meu irmão chorar depois de adulto, mas posso jurar que há lágrimas em seus olhos. — Pax não morreu por sua causa. Ele fez a escolha dele…

     Fico de pé, me afastando dele. Eros nunca  entenderá. Ninguém nunca me entenderá. E a única pessoa que podia, que sabia verdadeiramente quem eu era, está morto.

— E você não perdeu a Kate — continua. — Eu tenho certeza que vocês vão se acertar. Vocês só estão passando por um momento difícil e precisam de um tempo.

    Sua voz fica distante. Eu preciso ir embora. Preciso de uma bebida. Minha cabeça dói. Meu coração dói. É demais para suportar. Eu preciso da bebida, preciso da sensação do entorpecimento.

     Quando tento sair da cozinha, Eros já está na minha frente, me impedindo.

— Saia de perto de mim. — Empurro suas mãos para longe. Eu vou sair e ele não vai me impedir.

— Não. — Eu ignoro o sofrimento em seus olhos. Eu sei que meu irmão não vai me deixar ir tão facilmente, mas eu não posso mais fazer isso com ele, comigo, com a nossa família. Eu só trago dor a eles. E decepção. Tanta decepção… — Olhe para mim.

     Quando tudo o que faço é tentar me livrar dele, Eros agarra minha nuca e segura meu rosto com a outra mão. Seu aperto é tão firme que chega a doer.

     Finalmente, encontro seus olhos iguais aos do nosso pai.

— Nunca. Você está me ouvindo? Eu nunca vou sair de perto de você. Eu nunca vou te abandonar. Você pode cair mais dez vezes e eu ainda estarei aqui para te segurar e te ajudar a se erguer de novo. E não é só eu, Khalil. Nossos pais, Anthony, Kate, Genevieve, Freya e Dean. Estaremos sempre, sempre aqui por você porque nós te amamos, Khalil. Porque somos uma família. E nós nunca damos as costas à família. E não estamos dando as costas a você. — Uma lágrimas desliza pelo seu rosto, mas Eros não está se importando com isso. Não, meu irmão está me olhando fixamente, está expondo para mim o que eu não sei se um dia serei totalmente merecedor, mas que nesse momento me traz um conforto e alívio tão grande que eu desabo contra ele, deixando que me puxe para um abraço. — Nunca mais esqueça disso.

     Eu prometo tentar.

   
     ☠️

   
    Eros queria que eu fosse para sua casa. Em outra época, eu provavelmente iria porque não suporto a ideia dos meus pais me verem assim, mas agora meu irmão é um homem casado e tem sua própria família. Ele tentou me convencer de que Genevieve não se importaria e que Freya na verdade ficaria muito animada, mas eu ainda recusei. Não posso ser mais seu problema para lidar.

     No entanto, também sei que não posso ficar sozinho no meu apartamento. Não falamos sobre a reabilitação, mas eu sei que é para onde eu preciso ir. Eu preciso de um tempo primeiro.

     Quando chegamos na casa dos nossos pais, vamos direto para o quintal. Eu não queria enfrentá-los agora, mas é o mínimo que eu tenho que fazer agora que os decepcionei mais uma vez.

    Paramos na varanda e eu semicerro os olhos para me proteger do sol enquanto observo meu pai, Carlota, Freya e Dean trabalhando na pequena horta que nossos pais cultivam.

— Freya não devia estar na escola? — pergunto, curioso.

    Eros apoia os cotovelos no corrimão de madeira enquanto observa a filha.

— Ela está suspensa.

— Freya? Suspensa? — Talvez eu esteja um pouco chocado.

     Meu irmão assente. Ele tenta esconder um sorriso passando a mão na boca, mas eu vejo.

— Uma colega da escola descobriu que Freya joga futebol e começou a perturbá-la com isso. Isso aconteceu por dias, sem que soubéssemos. Até que Freya mandou a garota ir se foder. — Ele ri. — A menina não gostou e chamou minha filha de "bruxa ruiva" e disse que ela deveria "queimar no inferno". Então Freya deu um soco no nariz dela.

     Uma risada quase me escapa. Não lembro a última vez que eu me diverti com alguma coisa.

— Ela é uma de nós — digo. Porque nós, Blackburns, nunca levamos merda de ninguém.

— Com certeza é — Eros concorda, orgulhoso. Talvez outro pai estaria furioso que sua filha brigou na escola, mas não meu irmão. — Mas ela ainda é criança, então tivemos que colocá-la de castigo.

— Freya não parece como alguém que está de castigo.

— Ela está proibida de assistir desenho. Você não sabe como doeu ter que contar a ela que ficará uma semana sem assistir Ladybug.

      Falando nela, Freya é a primeira a nos avistar e larga as ferramentas que estava usando na horta, para vir correndo abraçar seu pai. Pela primeira vez, me pego tendo inveja disso. Eu não esperava, mas lá está minha mente de novo imaginando os "e se". Porque se Kathryn estivesse grávida, eu facilmente me veria aqui, vindo buscar nosso filho ou filha. Eu nunca pensei sobre crianças, mas também nunca tive uma aversão completa à ideia de ter uma. No entanto, aqui estou eu querendo saber qual a sensação de ser recebido com tanta alegria, de ser o herói de alguém.

      E enquanto estou pensando nisso, braços me rodeiam. Não é Freya, mas Dean. Esse garoto que está comigo e quem eu decepcionei também. Mais do que todos, Dean está contando comigo. Mais uma pessoa que eu irei decepcionar. Até quando eu farei isso?

— E aí, garoto — digo, lhe dando um tapinha no ombro.

— Você não veio ontem. Nem hoje de manhã. Por quê? — Não sei se ele está sendo apenas curioso ou achando que eu o abandonei. Eu sei que é o segundo sem precisar pensar muito.

— Eu me meti em problemas.

— Você vai ficar de castigo também, tio Khalil? — Freya pergunta. Ela parece achar essa ideia fascinante. — Eu estou — sim, definitivamente essa pestinha está orgulhosa. — Eu quebrei o nariz de uma vagabun…

— Santo Deus. — Eros tapa a boca de Freya antes que ela termine. — Isso é uma palavra feia, Freya. Se sua mãe te ouvir falando isso, teremos que te deserdar.

      Ela diz alguma coisa, mas o som sai abafado, então meu irmão afasta sua mão.

— O que isso quer dizer? — A Pequena Boca Suja cruza os braços.

— Quer dizer que mandaremos os cachorros para outra família que não tenha crianças que falam palavras feias.

     É cômico o olhar de Freya. Seu olhar é tão horrorizado que eu sinto uma leve pontada de dó.

— Mas vocês não podem fazer isso! Eles são meus melhores amigos!

     Eros encolhe os ombros.

— São as regras.

     Com lágrimas nos olhos e um biquinho, Freya sai correndo para dentro de casa.

— Você a fez chorar — Dean comenta, franzindo as sobrancelhas para Eros.

— Ela vai superar. Pelo menos agora ela não estará mais xingando — Eros responde, mas Dean continua fazendo cara feia para ele antes de entrar na casa também, indo atrás de Freya. Quando ele está fora de vista, Eros ergue as sobrancelhas. — Achei que ele tentaria me dar um soco.

— Ele gosta dela. — Volto minha atenção para nossos pais, que estão vindo na nossa direção.

— Eu não estou reclamando disso. Freya terá mais alguém para protegê-la. — Meu irmão se mostra muito feliz com essa ideia. Gosto do fato de ele presumir que Dean ainda estará aqui futuramente. Porque ele estará.

— Ela vai estar te odiando antes dos quatorze anos, você sabe, não é?

— Mas me agradecerá aos trinta e quatro.

— Trinta e quatro?

— Sim, quando ela se casar.

— Nem você tem trinta e quatro, Eros. E você já é casado.

— Eu fui ameaçadoramente levado ao altar.

— Você foi ameaçado com uma boceta?

     Sem aviso, Eros me dá um tapa na nuca. Depois, aponta o dedo para mim.

— Não fale sobre as partes íntimas da minha esposa, seu idiota.

— Achei que irmãos compartilhassem. — Agora só estou falando merda para irritá-lo. Eros semicerra os olhos, então de repente ele sorri.

— Sim, bem, agora que você mencionou, eu já vi os peitos da Kate.

     Qualquer diversão que estivesse pairando sobre nós, é substituída por uma onda de possessividade.

— Jesus. Eu estava brincando — Eros explica. — Quer dizer, isso realmente aconteceu, mas…

     Faz algum tempo que não dou uma chave de braço no meu irmão. E eu resolvo isso agora.

— Foda-se. Filho da puta — Eros resmunga quando tenho meu braço ao redor do seu pescoço e ele tenta se soltar. — Foi por, tipo, cinco segundos, ok? E foi há muitos anos… e porque diabos eu estou explicando isso? Eu sou casado, porra.

— Cinco segundos é muita coisa — digo calmamente.

— Por que vocês estão na garganta um do outro? Nem está perto da hora do jantar. — Ouvimos a voz do nosso pai. Os dois estão subindo as escadas para a varanda.

— É esse imbecil que está tentando me matar. — Sem desistir, Eros continua tentando se livrar do meu braço.

— Khalil, querido, solte seu irmão — nossa mãe manda. Ela parece divertida.

    Eu o seguro por mais alguns segundos antes de soltá-lo e empurrar seu corpo.

— Filho da puta — resmunga, ajeitando sua gravata, depois, encara Carlota. — Desculpe, mãe.

— Freya tem a boca tão suja quanto você.

— Em minha defesa, aquela garota mereceu.

— Esse não é o ponto — nosso pai se junta a nossa mãe para o sermão. — Sempre fomos contra xingamentos nessa casa. Veja só porquê. Agora Freya está falando como um caminhoneiro.

— O senhor sabe se ela não quer ser uma caminhoneira? — Eros arqueia a sobrancelha. Ele está estranhamente cheio de gracinhas hoje. Antes que nossos pais digam mais alguma coisa, meu irmão revira os olhos e começa a entrar em casa. — Genevieve já está me enchendo de merda com isso. Relaxem. E merda não é um palavrão.

     Meu pai suspira e minha mãe balança a cabeça. Eles sabem que aquele dali não tem mais jeito.

     Depois que Eros entra, percebo que ele foi para me dar alguma privacidade. Não só isso, mas meu irmão estava sendo "engraçadinho" para aliviar o clima e me distrair. Confesso que funcionou. Durante esses poucos minutos, eu não pensei em toda merda que têm acontecido. Mas agora, olhando para meus pais, tudo volta numa velocidade que me deixa sem ar.

— Tirando o dia de folga? — Minha mãe pergunta enquanto senta em uma das cadeiras acolchoadas. Meu pai fica atrás dela e começa lhe fazer massagem nos ombros. Como posso ter falhado tanto com Pax e Kate, sendo que esses dois na minha frente sempre me mostraram qual a forma correta de amar?

     Lembrando da pergunta de Carlota, balanço a cabeça, negando, e ponho as mãos dentro dos bolsos.

— Vou ficar aqui por uns dias.

— Oh. Tudo bem. Mas aconteceu alguma coisa com o seu apartamento? — Minha mãe parece preocupada. Já meu pai está me observando.

— Um amigo meu morreu — a última palavra quase fica entalada na minha garganta. Pigarreio. — Eu não lidei muito bem com isso e tive uma recaída.

— Meu Deus. Nós sentimos muito. — Carlota vem me abraçar. Eu já imaginava algo assim, porque aparentemente todos dessa família gostam de abraçar. O que me surpreende, no entanto, é que não rejeito totalmente essa ideia, deixando que minha mãe me conforte. — Perder alguém que você é próximo é realmente muito difícil. E nós estaremos aqui com você, ok? Pode ficar o tempo que precisar.

     Eu retribuo o abraço um pouco desajeitado, mas eu sei que minha mãe me entende. Mais do que nunca, sou grato por ter a minha família ao meu lado.

— Obrigado, mãe — murmuro sobre o nó na minha garganta.

— Faço das palavras da sua mãe, as minhas, filho — meu pai diz quando sua esposa se afasta. Ele aperta meu ombro. — Fique quanto tempo precisar, nós cuidaremos de você.

    Anuo, grato. Em outro momento me envergonharei de precisar que meus pais cuidem de mim porque sou um adulto irresponsável. Agora, eu só estou aliviado.

— Vá descansar. Vou levar algo para você comer daqui a pouco — minha mãe manda.

— Ok.

     Eu não discuto, deixando os dois para trás e entrando em casa. Meus pais sempre fizeram questão de mantermos quartos aqui para nós. É como se eles soubessem que em algum momento, todos nós vamos precisar voltar para casa por um tempo, para uma época em que ser criança era bem mais fácil.

☠️

    Dia virou noite e noite virou dia de novo. É assim que tem sido meus dias. Perdi a noção do tempo. Hoje pode ser quinta ou domingo. Talvez segunda de novo. Tudo está embaralhado.

     Eu passo a maior parte dos dias dormindo, acordando apenas para comer o que minha mãe ou meu pai trazem para mim. Dormir é o que tem me mantido sóbrio, porque quando estou acordado tudo o que eu quero fazer é beber. Mas eu sei que eu não posso. No fundo, sei também que eu não quero. É apenas a doença que parece sentir quando estou mais fraco, mais vulnerável e mais propenso a falhar, então ela cria voz e fica sussurrando em meu ouvido, me instigando a tomar apenas um gole de vodka. Então um vira dois, dois vira quatro, e de repente eu já tomei seis garrafas.

    Não. Eu não quero mais isso.

     Quando não estou dormindo, nem comendo, lembro de tomar banho. Meu corpo acha desnecessário fazer isso quando eu não saio da cama, mas eu faço um esforço. Sei que meus pais não me deixarão ficar desse jeito por muito tempo, então estou aproveitando meu momento autodepreciativo.

     Em alguns dias, as memórias são piores que a vontade de atender ao vício. Minha mente vagueia no passado, com Pax. E no presente, com Kathryn. Eu sei que perdi Pax para sempre, que ele nunca mais irá voltar, então reviver essas lembranças é como me afogar no mar sem fim. Mas com Kathryn, no entanto… É como estar me afogando, sabendo que a costa não está muito longe. Porque ela se foi, mas eu sei onde encontrá-la.

     Deixei meu celular descarregar porque olhar as fotos nele estavam doendo mais. Temos poucas fotos de nós dois, mas eu tenho muitas fotos dela. Fotos que eu tirei enquanto ela não estava vendo, outras em que ela estava fazendo algo engraçado e não se importava que eu a estivesse fotografando, e outras que ela me mandou. Ver seu rosto já fez meu coração bater acelerado, mas hoje só faz doer e sangrar lentamente. Eu quero desesperadamente saber o que ela está fazendo. Ela está se alimentando bem? Seu ferimento não estava totalmente curado, então ela está se cuidando? Ela está indo para à empresa? Ela está sentindo tanto a minha falta quanto eu estou sentindo a dela?

    Um dos motivos de eu não ir atrás dela, é por medo da resposta da última pergunta ser "não". Ela disse que me ama, mas também pode ter parado de me amar, certo?

     Abro os olhos e encaro o teto. O quarto está escuro. Faz muito tempo desde que vi a luz do dia. Pode ser de dia ou de noite, eu não faço ideia.

     Olho para a mesa de cabeceira. A bandeja com os restos da última refeição se foi, mas não tem outra no lugar. Por dias, essa tem sido a dinâmica: alguém traz a comida enquanto eu estou dormindo, eu acordo, como, e volto a dormir, então tudo se repete. Menos hoje. Eu poderia ser pessimista e dizer que meus pais cansaram de mim e vão me deixar morrer de fome, mas eu sei melhor. Eles estão tentando fazer com que eu saia do quarto.

     Estava decidido que isso não iria acontecer, mas depois de mais duas horas me revirando na cama com meu estômago roncando, solto um gemido. Eu deveria ter praticado melhor a greve de fome na adolescência.

    Devo estar há muito tempo sem comer, porque sinto uma leve tontura ao ficar de pé. Após me recuperar rápido, vou até o banheiro. Pela primeira vez em sei lá quantos dias, me olho no espelho. Estou horrível. Mesmo dormindo na maior parte dos dias, ainda tenho olheiras horríveis sob os olhos. Minha barba precisa ser urgentemente aparada e meu cabelo está precisando de um corte.

     Aparo apenas a barba para que meus pais não pensem que estou tão na pior. Depois, me obrigo a tomar banho.

    Visto uma camisa nova, e não aquela que eu tenho usado há tantos dias que tinha cheiro de macarrão e alho. Até me passo um pouco de perfume.

      Considerando-me apresentável, deixo minha caverna para trás. A luz do sol fere meus olhos. Não sei que horas são ainda, mas conforme passo pelo corredor e várias janelas, sei que ainda é de dia. O cheiro de comida me encontra antes de eu chegar na cozinha. Meu estômago ronca tão alto que os alienígenas em Marte devem ter ouvido.

     Minha mãe é a primeira pessoa que eu vejo em dias. Ela está no balcão, anotando alguma coisa em um livro. Provavelmente receitas.

— Bom dia, flor do dia — diz sem erguer os olhos. Ela me ouviu chegar? Costumo ser silencioso – algo que aprendi desde criança –, mas aparentemente perdi esse hábito também.

— Oi.

— Fiz ensopado e torta para o jantar, mas você pode comer agora.

    Graças a Deus. Eu não sei o que eu faria se tivesse que esperar até o jantar.

     Depois que coloco uma quantidade exuberante de comida para mim, me sento à mesa e começo a comer.

— Seu pai está na empresa — minha mãe informa. — Eros estava tendo algumas dificuldades, então ele foi dar uma "ajudinha".

— Legal. — Na verdade tudo o que me importa agora é comer.

— Uhum. — Faz uma pausa. Posso senti-la me observando. — E você? Como está se sentindo?

     Dou de ombros.

— Com fome.

— Notável.

     Continuo comendo. Eu não saí do quarto para bater papo. Vou comer e comer um pouco mais, então pegar mais comida para estocar, assim não precisarei descer toda vez que precisar comer.

     Minha mãe deve desistir de tentar me fazer falar, porque ela fica em silêncio pelos próximos minutos. Agora que encher minha barriga não é a coisa mais importante na minha cabeça, noto o que não percebi antes: as vozes e as risadas. Estão vindo do quintal. Freya e Dean. Eu havia esquecido deles. Com esse pensamento, vem a culpa. Eu deveria estar cuidando de Dean. Que dia é hoje? Prometi que o levaria para ver a mãe.

— Dean precisa ver a mãe — não é um pedido, e eu logo me sinto mal pela minha grosseria. Felizmente, Carlota não parece se importar.

— Já fiz isso.

— Obrigado.

     Termino de comer e ponho a louça suja no lava-louça. Quando está tudo limpo, me preparo para voltar para o quarto, mas minha mãe me impede.

— Preciso ir ao mercado rapidinho. Você pode ficar olhando as crianças enquanto isso?

    Hesito, pronto para falar não, mas paro. Ela está me pedindo uma coisa simples depois de ter me deixado ficar aqui e me manter alimentado. Além disso, é apenas Freya e Dean. A primeira pode dar mais trabalho, mas nada que eu não possa lidar.

— Ok.

     Minha mãe me dá um sorriso feliz. Acho que nessa altura do campeonato, me manter fora do quarto por mais de dez minutos é uma vitória para ela.

— Eles já lancharam, mas se sentirem fome, dê fruta a eles, nada além disso, não importa o quanto Freya implore — orienta enquanto pega sua bolsa.

— Ok.

— Obrigada. Volto logo. — Ela me dá um beijo na bochecha e vai embora.

    Eu suspiro, quase me arrependendo, mas vou lá para fora mesmo assim. Semicerro os olhos para a luz que me cega temporariamente. Talvez fosse melhor se eu tivesse pegado os óculos de sol do meu pai.

    Freya e Dean estão brincando com uma bola de futebol. Tenho certeza que há terra no rosto da garota e nas suas roupas, mas ela não está se importando enquanto dá uma caneta em Dean e leva a bola ao gol improvisado, marcando.

— Isso! Três a zero. Dean não sabe jogar, lá lá lá lá lá lá. — Freya comemora.

— Não é justo. Você está em uma escola de futebol — Dean argumenta, mas não parece chateado.

— Tá bom. Vou te ensinar alguns truques, mas você tem que ser mais rápido. Você demora demais pra tomar a bola. Parece uma tartaruga.

— Você é muito mandona pra sua idade.

— Eu sou quase adulta.

— Não, é, não. Eu sou mais quase adulto que você.

— Foda-se.

— Você não pode falar isso, lembra?

— Eu ouço meu pai falando o tempo todo.

— Mas ele é adulto.

— Você vai contar pra ele?

— Não, mas só se você parar.

— Tá bom. Agora me dá a bola e presta atenção.

    Ocupo um daqueles sofá super fofos e grandes que tem aqui fora, chamando a atenção dos dois.

— Oi — dizem ao mesmo tempo, acenando.

— Minha mãe foi ao mercado. Se comportem ou ficarão sem sobremesa. — Deitado, cruzo meus braços e fecho os olhos. Eu sei como as crianças levam as sobremesas a sério, o que significa que eles não irão me desobedecer.

☠️

     Peguei no sono. Com certeza não ganharei a medalha de melhor babá do mundo. Eu não tinha planos de cochilar. Estava ouvindo a conversa das duas pestes – e eles têm muito assunto  apesar da diferença de idade –, mas em algum momento suas vozes ficaram distantes e eu capotei.

    E receio que continuaria dormindo se não estivesse sendo sacudido nesse exato momento.

— Tio Khalil! Tio Khalil, acorda! Rápido! — Freya está gritando.

     Abro os olhos, franzindo as sobrancelhas. Primeiro noto seu rosto vermelho cheio de lágrimas. Depois, que Dean não está com ela.

— Vem. R-rápido. — As mãozinhas de Freya se agarram ao meu braço e ela tenta me puxar. — Você p-precisa ajudar e-ele! Você precisa ajudar o D-Dean! Por favor, t-tio Khalil!

— O que aconteceu? — Eu já estou levantando, deixando ela me puxar. Meu coração bate acelerado, em pânico.

— A bola c-caiu na piscina e o Dean foi p-pegar, m-m-mas…

     Eu não ouço o resto, correndo até a piscina. E lá no fundo, submerso na água, está Dean.

     Mergulho na piscina sem pensar duas vezes. A água encharca minha roupa conforme eu nado até o fundo para alcançar Dean. Quando consigo pegá-lo, subo rapidamente. Ele está mole em meus braços, desacordado. Seus olhos estão fechados, o rosto pálido. O sangue em minhas veias fica mais gelado que a água.

     Porra, porra, porra. O Dean também não.

     Coloco-o fora da piscina e saio rapidamente. Tenho uma vaga noção de Freya ajoelhada ao lado dele também, chorando. Como ela está em segurança, minha única preocupação agora é Dean. Checo seu pulso, aliviado que sentir seu batimento cardíaco.

    Resgato todas as aulas que eu tive sobre RCP (Ressuscitação Cardiopulmonar) na escola quando coloco minhas mãos sobre o centro de seu peito, alinhando-me corretamente para as compressões e foco minha atenção na tarefa em mãos.

     Começo a pressionar com firmeza e ritmo, sentindo a resistência de seus ossos sob as palmas das minhas mãos. "Um, dois, três, quatro..." a contagem ecoa em minha mente, enquanto eu continuo a repetir o ciclo de compressões e ventilações. Vamos lá, Dean. Vamos lá, garoto.

    Olho para o seu rosto, buscando qualquer sinal de resposta.  A urgência impulsiona minhas ações. Cada compressão é uma mistura de força e delicadeza, sabendo que a vida dele depende desses movimentos coordenados. Enquanto eu mantenho o ritmo, a esperança e o medo se entrelaçam em meu peito. Cada respiração que eu tento insuflar em seus pulmões é uma aposta na vida dele. Cada compressão é uma promessa de luta contra o destino cruel que tinha lhe sido imposto por causa da minha negligência.

     Eu observo Freya, que está tremendo, segurar a mão dele, murmurando coisas. Acho que ela está rezando. Eu nunca fui muito religioso, mas eu espero que Deus ouça as orações dela.

      Finalmente, depois de mais algumas compressões, um suspiro. Um pequeno sinal de vida. Eu não contenho meu próprio suspiro de alívio, virando seu corpo para o lado quando Dean começa a cuspir toda a água que engoliu.

     Eu quase desabo, mas quando ele não abre imediatamente os olhos, sei que há algo errado ainda. Checo sua respiração outra vez. Ele está respirando, mas seu peito está se movendo muito lentamente. A RCP não foi o suficiente.

— Precisamos ir para o hospital — conto a Freya, pegando Dean no colo. — E eu preciso da sua ajuda.

— T-tá bom. — Ela levanta, enxugando o rosto. Freya está tentando ser forte. Ela tem sete anos. Vê-la se esforçando para não chorar termina de quebrar o que um dia foi meu coração.

— Pegue a chave do carro na cozinha. Deve estar no fácil. Então vá para a garagem. Eu vou levar Dean para lá.

     Ela anue, então sai correndo.

    Eu faço o que eu falei. E também tento me manter calmo. Se eu parar para pensar em tudo, não vou conseguir manter o controle. Cada segundo que passa é um risco para a vida de Dean. Eu não posso perdê-lo também. Eu falhei de formas inimagináveis nessa vida, mas eu não posso falhar com esse garoto também.

    Consegui apertar o botão da garagem e quando a porta está terminando de subir, Freya aparece com a chave.

— Também p-peguei o celular do D-Dean — explica, fungando.

— Muito bom. Aperte esse botão. Vamos ver qual carro vai ligar. — Porque tem três aqui. Uma SUV, uma BMW e um Corvette.

     Freya aperta e o SUV apita.

     Sem perder tempo, abro a porta, fazendo Freya entrar primeiro. Quando ela está sentada, eu deito Dean no banco, colocando a cabeça dele no colo dela. Fecho a porta em seguida e entro no veículo.

     Levo menos de um minuto para deixar a casa dos meus pais. O hospital mais próximo fica a quinze minutos de distância. Eu temo que Dean não tenha todo esse tempo.

— E-ele vai m-m-m-morrer? — Freya pergunta baixinho. Pelo espelho, eu vejo as lágrimas voltarem ao seu rosto.

— Não. Ele não vai morrer.

    Por favor, não me deixe estar mentindo.

     Eu ultrapasso vários sinais. Pego dois atalhos. Todo meu foco está em chegar ao hospital a tempo. Sobre o choro baixinho de Freya, está meu coração batendo num ritmo ensurdecedor. Eu aperto o volante até os nós dos meus dedos estarem brancos. A estrada é um borrão enquanto tento respirar fundo e me concentrar. Você não pode surtar. Dean está contando com você. Respire fundo e continue. Por ele. Você já falhou o bastante com ele. Se mantenha firme agora.

     Repetindo isso, nós conseguimos chegar ao hospital. Eu não me importo com vaga nem em estacionar corretamente, apenas paro o carro na frente da entrada da emergência e desligo o motor. Depois saio correndo e abro a porta do banco de trás, tirando Dean. Eu espero Freya sair, então bato a porta com o pé.

— Não saia de perto de mim — aviso a ela porque não posso pegar sua mão. Minha sobrinha anue.

    Corro com Dean em meus braços, entrando na emergência.

     Eu não preciso gritar por ajuda porque uma médica que estava conversando com alguém, vem na nossa direção ao notar o garoto desacordado nos meus braços.

— Ele se afogou — explico. — Eu fiz o procedimento de ressuscitação cardiopulmonar, mas apenas cuspiu a água e continuou inconsciente.

     Ela faz um sinal com a mão para dois enfermeiros enquanto põe seu estetoscópio e o move sobre o peito de Dean. Por alguns segundos agonizantes, ela ouve a respiração dele conforme os enfermeiros trazem uma maca.

— Ele está sem pulso. Vamos levá-lo para a sala de atendimento de emergência imediatamente! — ordena e os dois enfermeiros tiram Dean dos meus braços.

      Ela disse que ele está sem pulso? Isso significa que o coração dele… Puta merda. Não.

     Não. Não. Ele vai ficar bem. Os médicos irão salvá-lo. Ele vai ficar bem.

    Pego Freya no colo e sigo a médica e os enfermeiros. Minhas mãos estão geladas e o que mantém no presente é segurar Freya e manter meus olhos em Dean.

— Precisamos iniciar os protocolos de ressuscitação cardiopulmonar imediatamente — informa a equipe quando chegam na sala. — Preparem a desfibriladora e liguem para a equipe de cardiologia.

     A atmosfera na sala fica tensa, mas a equipe permaneceu focada e diligente. Eu observo, tentando controlar meu pânico, a enfermeira conectar os eletrodos ao peito de Dean, enquanto a médica coordena as compressões torácicas.

— Vamos, mantenha o ritmo, todos — ele incentiva, a voz determinada.

— Não olhe — sussurro para Freya, que está abraçando meu pescoço. Ela vira o rosto para o outro lado, seu corpo tremendo com o choro intenso. Meus próprios olhos estão embaçados.

    Os segundos parecem se esticar, cada um deles vital na luta pela vida de Dean. A sala está carregada com o som das compressões e os alertas sonoros da máquina de desfibrilação. Sinto como se o meu coração fosse sair pela boca. Eu não respiro.

     Após um momento que pareceu uma eternidade, há alguns segundos de silêncio tenso enquanto todos aguardam ansiosamente. Então, o monitor cardíaco emite um sinal fraco, seguido por um sinal mais forte. Meus joelhos dobram e eu caio ajoelhado no chão, meu aperto sobre Freya aumentando.

    A médica sorri com um misto de alívio e triunfo.

— Temos um pulso. Mantenham os cuidados, vamos estabilizá-lo.

— Ouviu isso, Freya? — sussurro, passando a mão pelo seu cabelo. — Ele ficará bem. Dean não está mais em perigo.

     A equipe continua trabalhando com determinação, monitorando constantemente os sinais vitais de Dean e ajustando o tratamento conforme necessário. Gradualmente, a situação começa a estabilizar e depois de um tempo, Dean começa a dar sinais de recuperação. Sua respiração se torna mais regular, e seu pulso se fortalece, confirmando cada vez mais que ele ficará bem.

    A médica vira para mim com um sorriso tranquilo quando fico de pé outra vez.

— Ele está estável agora, mas precisaremos manter um olhar atento sobre ele nas próximas horas.

     Solto um suspiro de alívio, levantando.

— Obrigado.

    Meus olhos se detém no garoto. Vivo. Respirando. Mas por muito pouco eu o perdi. Por muito pouco, minha irresponsabilidade não o matou. Dean pode estar salvo agora, mas eu nunca irei me perdoar pelo o que aconteceu.

    Eles o levam para um quarto – eu exigi um dos melhores – e enquanto isso Freya e eu esperamos na recepção. Quando nos sentamos, pego o celular de Dean com Freya. Foi muito esperto ela ter trazido. Minha sobrinha está sentada quietinha ao meu lado, mas ainda há algumas lágrimas em seus olhos. Não apenas quase perdi Dean, mas causei um trauma em Freya.

     A morte com certeza seria melhor.

    
☠️

     Meia hora depois que eu liguei para ele pelo celular de Dean, Eros adentra o hospital, acompanhado de Genevieve e meu pai. Gravei o número de Eros por causa de todas as vezes que eu fui parar na cadeia. Nunca achei que fosse me orgulhar disso.

     As expressões dos três são de completo horror e preocupação. Meu pai e Eros ainda parecem mais controlados, mantendo os passos firmes, porém rápidos. Mas Genevieve está quase correndo enquanto usa saltos de dez centímetros. Quando avista sua filha encolhida ao meu lado, seu alívio é notável.

— Freya.

     A garota ergue o rosto, então corre para os braços da mãe, que a pega no colo.

— Você está bem? Você se machucou? — questiona. Eu sei que Eros lhe disse que Freya estava bem. Eu garanti isso ao meu irmão, mas acho que é o instinto de mãe falando.

    Freya anue, abraçando Genevieve apertado. Meu pai e Eros as alcançam. Meu irmão passa a mão pelo rosto de Freya, perguntando algo baixinho a ela, provavelmente acalmando seu próprio instinto. Quando ele vê por conta própria que ela está bem, seus ombros relaxam e ele passa a mão pelo rosto, suspirando.

     Por quase um minuto inteiro, ele apenas respira. Nesse tempo, Genevieve encontra meu olhar. Nós já tivemos nossas desavenças no passado, mas ela nunca havia me olhado dessa forma: com decepção. Eu esperava raiva, afinal, eu deveria estar cuidando das crianças. Talvez até mesmo traição, porque confiaram em mim para isso. Mas não decepção. Isso me pega desprevenido, mesmo sabendo que eu, de fato, decepcionei a todos. A culpa é uma coisa ácida crescendo dentro de mim. Por pouco não vomito.

— Sinto muito — peço. Eu sei que essas duas palavras não valem nada agora.

    Genevieve engole em seco, mas não diz nada ao voltar sua atenção para a filha.

— Vamos na cantina, sim? Você não está com fome? — Mesmo que Freya responda "não", ela leva a filha mesmo assim.

    Meu pai e Eros observam as duas irem, então finalmente encontram meu olhar. Eles são tão parecidos. Estão tentando esconder suas emoções de mim. Não é preciso. Eu sei o que ambos estão pensando.

— Como Dean está? — meu pai é o primeiro a perguntar, sentando no banco de frente para mim.

— Estável. Disseram que precisamos esperar pelas próximas horas, mas ele não corre mais perigo.

     Meu pai solta um suspiro de alívio. Ele tem cuidado de Dean durante essas últimas semanas e é óbvio que se apegou ao garoto. Todos nós fizemos.

— Vou ligar para sua mãe — avisa, trocando um olhar com Eros. É engraçado como eles chegaram ao consenso que meu irmão é a melhor escolha quando se trata de lidar comigo. Na verdade, acho que eu fui quem jogou essa responsabilidade para Eros quando passei a ligar para ele quando tinha um problema, e não para o homem que nos criou.

     Depois que ele vai, Eros ocupa o lugar que sua filha estava, ao meu lado. Ele solta um suspiro. Parece mais velho. Talvez porque sempre aja como se fosse. E tudo culpa minha. O centro da família Blackburn sempre foram nossos pais. Mas fale sobre alguém que puxa todos para baixo e eu ganharei essa medalha.

— Podia ter sido pior. Você agiu rápido ao trazê-lo — diz tranquilamente. Olho para ele. Como pode estar tão calmo comigo?

— Ele quase morreu por minha causa, Eros. Eu não precisaria ter agido rápido se ele não estivesse em perigo.

— Não foi sua culpa.

    Solto uma risada sem humor.

— Você não precisa vir com essa merda. Eu não preciso que continue passando a mão sobre a minha cabeça.

     Silêncio. Enquanto nenhum de nós diz nada, me pergunto como contarei a Renée o que aconteceu. Prometi que cuidaria do seu filho e ele quase morreu sob os meus cuidados. E se ela decidir que ele ficará melhor longe de nós? De mim? Ele não tem para onde ir. Não suporto a ideia de Dean voltar para aquela vida, mas eu sei que se Renée voltar atrás e tentar tirá-lo de nós, eu perderei a causa se tentar levar ao tribunal.

    Porra. Eu realmente consegui foder tudo.

— Você está certo — Eros diz de repente. — Eu não vou passar a mão na sua cabeça. Eu não posso mais. Mesmo que me doa ser sincero… Podia ter sido pior, Khalil. Ele podia ter morrido. Podia ter sido Freya. Deus, só de pensar nisso… — Ele esfrega o peito, seu rosto contorcido de dor. — Demos um tempo a você para que achasse seu próprio caminho. Não queríamos te apressar ou tomar decisões por você, mas depois de hoje…

— Eu sei — concordo. — E eu tomei minha decisão antes de você chegar. — Engulo em seco, sabendo que não posso desistir agora. — Vou voltar para a reabilitação.

    Quando encontro o olhar de Eros, o puro alívio e orgulho ali quase me matam.

— Fico feliz em ouvir isso, irmão.


☠️


VOLTEIII.

Primeiro, quero agradecer pelas mensagens de carinho e principalmente por não terem me abandonado. Tem acontecido algumas coisas (coisas boas, eu juro), na minha vida, então  meu tempo tem sido muito corridas, mas logo vai se acalmar e eu venho aqui compartilhar com vocês☺️❤️.

Agora sobre esse capítulo... Gente, voces não sabem como me doeu escrever. Juro. O que eu sofri com o Khalil não tá escrito. Mas pelo menos espero que vocês estejam gostando.

🔴 IMPORTANTE🔴
🔴⚠️Queria falar outra coisa também... Eu sei que cada um tem sua opinião, mas se você não está gostando da história, não leia mais. É simples e muito melhor do que ficar falando merda nos comentários. Tá achando ruim? Não gosta dos personagens? Então para de ler! Cada um tem o direito de não gostar, mas pq vc continua lendo se odeia tanto? Pra vir aqui e deixar comentários que sabem que vão ferir? Pois bem, peço educadamente que todos que estão insatisfeitos com a minha história, que PARE DE LER!!!!!! Desde já, agradeço😘⚠️🔴.

Por enquanto, é isso. TERÇA-FEIRA TEM CAPÍTULO, VIU?☺️😘❤️

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2bjs, môres♥

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