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6-Barbie

Não demorou muito para chegar a barbie após terminarmos o café conversando sobre a empresa da família Avelar.

Victor ficou calada e podia jurar que revirava os olhos a cada palavra proferida pelo irmão detestado.

— Que cara é essa amor? — Disse a voz melosa a Victor assim que o viu.

— A única que eu tenho Júlia. — Respondeu grosseiro, coisa que não o vi ser desde que presenciei as inúmeras trocas de beijos e carícias enjoativas dos dois naquele dia.

Marcos mexeu na gravata desconfortável.

— Oi, Letícia. — Cumprimento sem muito gosto revirando os olhos como se eu fosse um peso ali.

— Leila. — Corrigiu Victor, antes que eu respondesse, entediado e incomodado.

Júlia deu de ombros em tanto faz e cumprimentou Marcos com um beijo na bochecha, em seguida a sogra.

— Vamos Leila, cansei dessa palhaçada. — Ordenou Victor erguendo o corpo.

— Vou com você, preciso resolver algumas coisas no centro também. — Júlia comentou parecendo ter tido a ideia de última hora.

Marcos e Carlota também levantaram.

— Estarei lá também, Leila foi um prazer te conhecer... te vejo depois. — Marcos estendeu a mão comprida em minha direção e eu apertei por educação, tendo que dividir minha atenção para ele e Victor também.

Barbie do outro lado ficou esperando, não parece gostar que eu toque em seu namorado (sinto muito boneca, é meu trabalho e vou fazê-lo).

Carlota limpou os lábios finos com o guardanapo e seguiu atrás de nós três.

— Amor, podemos conversar sobre ontem. — Pediu Júlia com suavidade.

Victor arranhou a garganta e posso chutar que quer evitá-la.

— Depois que eu voltar, prometo tentar. — Disse o mais sensível possível, pisando em vidro perto da loira.

Júlia deu a volta em minha estrutura e parou em nossa frente impedindo a passagem, quase derrubando o namorado que por sorte eu segurei um passo de distância dela.

— Por que sempre me evita? Estou ficando cansada de tentar e tentar e você sempre foge de mim Victor! — Elevou o tom de voz batendo o salto boneca preto envernizado no chão.

Victor suspirou fraco do meu lado...que mimada insistente.

— Não estou te evitando Ju, apenas preciso de tempo... entenda que é insuportável passar o dia dependendo dos outros para quase tudo...

— Tempo, tempo, tempo, quanto tempo mais? Faz uma semana que você não me toca, não conversa comigo e evita responder minhas perguntas! Que droga Victor! — Reclama enraivecida e indiscreta em relação a intimidade dos dois.

Perco o último fio de paciência que tenho.

— Deveria ser mais compreensiva, não vê que ele está começando o processo de adaptação? Como namorada dele deveria apoiá-lo e respeitar o tempo que é necessário. — Respondo no lugar do silencioso homem do meu lado.

Júlia suspira incrédula balançado sutilmente o rosto.

— E quem pensa que é para me dizer o que devo ou não fazer? Deixe que eu lembre, que é apenas a cuidadora, não seja intrometida. — O tom arrogante me atinge em meio ao corredor.

Minha vontade é de xinga-lá, mas se fizer isto posso perder o emprego.

— Com todo respeito senhorita, está incomodando seu namorado, tenho certeza que pode deixar isto para outra hora. — Comento contendo o ódio em minha garganta fechada.

A barbie arregala os olhos azulados desacreditada.

— Sua audácia não me agradou nenhum pouco Leila, Carlota poderia ter escolhido melhor alguém que não metesse o nariz onde não é chamada...

— CHEGA. — Interrompe Victor furioso, desvencilhando o braço do meu bruscamente.

— Cansei das duas, fiquem aí batendo boca. — Proferiu com acidez se referindo a nós, saindo do corredor sozinho, com dificuldade em sentir os objetos e afins para não trombar em nada.

— Não era necessário fazer isto. — Digo a barbie inconveniente que ainda permanece paralisado diante do susto que tomou com o grito de Victor.

— Victor, espera! — Corro atrás dele pelo corredor antes que algum acidente aconteça.

Minha cabeça está latejando agora.

— Me deixa sozinho Leila. — Ordena irritado, andando pela casa sem muita coordenação.

— Não vou fazer isto. — Replico tomando fôlego para ajudá-lo a ir até onde pretende, corri demais.

Paro em sua frente e num puxão, Victor segura meus braços com firmeza, mas sem machucar, fazendo minha estrutura quase colar na sua.

— Você é paga para obedecer ordens, então faça isso... me deixa sozinho. — Reforça de modo selvagem a última frase, bem próximo a meu rosto.

"Exige muita paciência Leila".

Recordo as palavras da Carlota e busco no fundo da alma tentar ser compreensiva e ficar calma.

Retiro os dedos dele que envolvem minha camiseta e ergo a cabeça, o coração tamborilando a mil por hora e o estômago ferventando.

A prepotência dele vai sumir, seja lá o que eu tiver que pôr na roda para isto.

— Entendo como deve ser incômodo estar rodeado de pessoas que te tratam como incapaz... porém, não pode agir como se eu fosse a vilã aqui, apenas estou fazendo meu papel ok. — Tento dialogar civilizadamente com ele, Victor trinca os dentes enfurecido.

— Não entende não, ninguém entende! Vocês tem dó de mim, estão me tratando feito um imbecil de cristal... odeio isso. — O tom soa chateado e confuso, precisa de apoio...compreensão e algo a mais que não consigo decifrar.

Respiro fundo o vendo virar o rosto para baixo magoado, lágrimas escorrerem sob a pele pálida.

Não sei o que fazer, o turbilhão que possivelmente estar a mente dele com certeza é o maior fardo desta situação.

Alcanço sua mão e a seguro.

O ato surpreende ele.

— Sempre me disseram que devemos tentar de novo a cada dia que passa...não faço ideia do quão ruim é para você, mas estou aqui caso quiser conversar. — Ofereço minha companhia sendo totalmente sincera.

A expressão dele fica menos tensa, contudo ainda está atordoado por tenta pressão.

Meu coração aperta dentro do peito.

Victor solta minha mão lentamente e enrijece a postura, parece receoso em relação ao meu toque...não dou choques.

— Devo agradecer por não me tratar com pena. — Não sei se foi uma pergunta, talvez agradecimento camuflado.

Sorrio sozinha por segundos, avançamos um passo.

Victor sorri fraco após secar o rosto das lágrimas que o molham, deixando de lado o orgulho, por pouco tempo... mas, deixou.

Quero que ele confie em mim, espero o tempo que lhe for necessário, ao contrário da namorada arrogante, não vou pressionar até deixá-lo estressado.

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