42-Desculpas
12:20.
Conversei com Carlota pela manhã, Victor e eu, fizemos uma chamada de vídeo com ela, nunca a vi tão feliz, por nos ver, juntos.
Ela disse que não poderia ter nora melhor, Victor foi muito inteligente em não me deixar ir, disse também que o mínimo que ele fazia, era me dar imenso valor, ser grato por tudo que eu fiz por ele até hoje.
Ofélia também conversou com a ex-cunhada, pois ela é irmã do Otávio. Continua sendo tia do Victor, pois ele tem o sangue do Cavalieri. Perguntou por Marcos também, e eu não respondi, não quero vê-lo nem pintado de ouro. Cafajeste.
Estou com cólica, morrendo de dor de cabeça, não consigo pensar em outra coisa, além da relação que está iniciando-se entre Marcos e minha única irmã.
— Ainda está mal? — Victor aproxima-se, massageando meus ombros doloridos, atrás da cadeira que estou sentada, suspiro de maneira preguiçosa, estou bem mais que mal.
— Quer conversar? — Recebo um beijo carinhoso em meus cabelos crespos e escuros.
— Por enquanto, não. — Respondo desanimada, agora não quero conversar.
Victor envolve os braços em meu pescoço, apoiando o queixo em meu ombro esquerdo. Estou sentindo-me péssima.
— Sabe que te adoro, né? Pode desabafar comigo no momento em que quiser. — Ele ergue minha mão e dá um beijo no dorso dela, sorrio pelo simples gesto meigo.
— Você é meu melhor amigo, é claro que vou desabafar contigo. — Inclino o rosto para encará-lo, os olhos verdes parecem brilhar mais agora. Ficamos flertando mais alguns minutos, até que nos damos um selinho, ultimamente tem estado tão carinhoso comigo. Gosto disso.
— Por que meus patinhos, estão desanimados hoje? — Ofélia aparece, as mãos sujas de farinha de trigo e o avental amassado, parece estar com pressa.
— A irmã mais nova dela, foi bem desagradável na ligação. - Responde meu namorado, acariciando minha mão. O faço dar a volta na cadeira e sentar do meu lado esquerdo, não estou no clima para conversar tanto hoje. Victor não trocou mais de duas palavras comigo desde que acordamos, também não respondi às mensagens da minha mãe.
— Ela gritou comigo, foi super grosseira, nunca comportou-se assim antes. — Tamborilo dos dedos na mesa, lembrando do dia anterior. Victor continua em silêncio, escutando.
- Minha criança, às vezes, os adolescentes que estão entrando na fase adulta, agem pela impulsividade, são complicados de lidar, pensam que sabem de tudo e podem tomar algumas decisões, sozinhos. — Diz Ofélia, em um tom carinhoso.
— Eles se aborrecem, por praticamente tudo, não querem que prendam-lhes, são pássaros que acabaram de iniciar a o reinício do voo, então irão acabar sendo muito imaturos, hostis e irritantes. — Ofélia acrescenta, espantando farinha das palmas, com um tom fraterno.
— Concordo com ela. - Diz Victor, esbanjando um sorriso simpático.
— Antes do assalto, quando eu ainda enxergava, Marcos fazia muita besteira, chegou até a quase ser detido pela polícia. - O passado vem à tona, estranhamente, quase consigo ver que ele ainda importar-se com o irmão, embora não o queira por perto, não deixou de amá-lo. A relação dos dois é muito conturbada, não é fácil esquecer tudo que Marcos fez, tampouco perdoar em dois dias. Mesmo assim, Victor não rejeita o irmão.
— Vocês dois eram muito serelepes, saiam pela manhã e diziam ir andar de bicicleta, a Carlota ficava maluca, queria arrancar os cabelos. Porque os dois, retornavam apenas de noite e cheirando a perfume de garota. - Conta Ofélia, divertindo-se.
Admito, sinto ciúmes em pensar que ele já teve outros amores antes de mim. Mesmo que seja besteira.
— Ela está brava, não é? — Victor pergunta para a tia dele, sorrindo divertidamente.
Entrelaço a mão na sua, sob a mesa.
— Então, você era xavecador? — Dou risada, isso é engraçado. Victor ergue as sobrancelhas fazendo gracinha. Que cachorro!
— Nós dançavamos até deixar os pés dormentes, bebíamos tanto refrigerante que ficávamos estufados, era tão bom... — O semblante dele vai ficando cabisbaixo, eu o entendo, nunca mais ver a luz do dia...
Entristecido, ele silencia as palavras.
— Vou buscar uma caixa de fotos que tenho no quarto, vai ver como eram lindos, meus sobrinhos. — A senhora gorda, sorri tentando amenizar a tensão que surgiu.
Nandinha aparece trazendo um jogo de xícaras de brinquedo, cor-de-rosa.
— Tia Leila, brinca comigo? — Pede a garotinha banquela, sentando ao meu lado direito e organizando os brinquedos sob a mesa coberta por uma toalha apropriada, contendo desenhos de rosas vermelhas.
— Amor, você está bem? — Acaricio a mão dele, notando que está quieto por tempo demais, quando ele fica assim, é tiro e queda, tem algo engasgado dentro de si.
— Estou sim... Nandinha, não vai me convidar para o chá? — Victor esforça-se para manter um sorriso animado no pálido rosto, onde as maçãs se destacam.
Nandinha abre um sorriso indeciso, enquanto serve chá, usando a imaginação para nos entregar a bebida.
— Você me disse que o coelho da história da Alice, tinha bebido todo o chá. — A garotinha sardenta o lembra do que foi dito. Victor não é muito fã de crianças, mas parece disposto a tentar mudar isso.
— Isso é uma afronta! Você não vai acredita nela né, Le? — Brinca ele, fazendo-se de ofendido ironicamente. Eu dou risada, Nandinha ri junto a nós.
— Já pensou na ideia de ter filhos? — O pergunto, enquanto finjo beber o chá imaginário da pequena garotinha.
— Nunca fui bom com crianças, deve ter percebido. — Nós damos risada juntos, não posso dizer o contrário mesmo.
— Tentando, quem sabe não muda de ideia.
— Digo-lhe, acariciando seus cabelos escuros e lisos, da nuca. Sinto-me um pouco aliviada agora, a tensão diminuiu.
— Só poderia tentar, tendo um filho como teste. — Aquele tom engraçadinho surge, ele franzi as sobrancelhas querendo indicar algo para mim. É uma das formas que encontrou de nós comunicarmos, já que não pode me ver com a visão.
— Por enquanto, vamos deixar isso de lado. - Respondo sorrindo, é uma boa ideia, porém, não é o momento, obviamente.
— Temos muitas coisas para viver ainda, não precisamos ter pressa, tudo ao seu tempo, Le. — Fala em tom amoroso, depositando um selinho morno em minha bochecha esquerda, ao inclinar-se um pouco para mim.
— Ao nosso tempo. — Reforço convicta.
Afinal, somos um casal. Precisamos estar de acordo, quando ambos tomam uma decisão. Existe compreensão e diálogo entre nós, por isso, quase nunca estamos discutindo sobre algo. Nos identificamos, somos muito parecidos em diversas coisas.
De volta ao Brasil.
Um dia depois.
Nos despedir da Ofélia e da filha dela, foi bem triste, confesso, porém, ela nos deixou garantido que poderá nos receber a hora que for. Talvez futuramente na lua de mel. É cedo para pensarem casar ainda? Talvez, mas de qualquer modo, poderemos voltar algum dia. Espero eu. Londres é um lugar muito bonito, entretanto, prefiro meu país.
O Brasil, com seus defeitos, ainda é uma das melhores nações para se viver.
Voltamos para cá, e Victor tomou uma decisão, porém, quis me deixar curiosa e fazer mistério até segunda ordem.
Voltei para casa, deixei minhas malas, tomei um banho, conversei com meus pais, e no dia seguinte, minha mãe pediu ajuda para carregar as compras que faria no mercado, a coluna dela está com movimentos limitados, tem sentido dor.
No mercado.
Contei a ela, sobre o que Isabel fez, obviamente dona Ivone, reprovou tal atitude, dizendo que não criou Bel para ter atitudes como estas, tampouco quer nos ver afastadas.
Marcos não é boa influência, Isabel ainda é jovem demais para poder escolher, quem é ou não, saudável para se ter uma amizade.
Examino os tomates, enquanto deixo o saco plástico aberto para colocá-los dentro, assim que escolher. Ivone pega as batatas e vai colocando, logo levará para pesar.
Iremos fazer uma receita quando voltamos para casa, irei primeiro passar no banco e retirar meu salário.
— Você? — Realmente estou boquiaberta de ver a Barbie aqui no mercado.
Mercado de pobre. Melhor dizendo.
Júlia fica por minutos, sem reação.
— Pensei que estivesse viajando com Victor... Vi a foto que postou. — Ela profere, ainda perplexa por encontrar-me aqui.
— Mãe, pode nos dar uma licença? — Peço gentilmente, minha mãe lança um olhar desconfiada para a loira do nariz arrebitado e sai em silêncio, indicando o corredor que estará me esperando.
— Já voltamos. — Respondo Júlia, mantendo a distância entre nós.
— Você e ele, parecem estar muito felizes. — Resmungo que sim, vendo seu nítido incômodo, estas palavras não são transparentes o suficiente para que eu saiba, sobre o que ela está sentindo.
Não parece gostar, óbvio.
— Olha Júlia, não sou e nem quero, ser sua amiga, muito menos próxima à você. - Deixo bem claro, antes de começar.
Júlia apenas escuta em silêncio, mexendo na manga do blazer rosa-claro, que provavelmente custa o preço de um quilo de carne vermelha.
— Porém, eu te devo desculpas. — Aproximo-me alguns passos, não tenho problema algum em admitir que errei.
— Eu também devo pedir desculpas, tudo que eu fiz ao Victor, e a maneira que te tratei... Eu me arrependi. — A loira do cabelo até os ombros diz, enquanto cutuca um dedo com o outro nas mãos finas.
— Não é a mim, que você deve estas desculpas, e sim, ao Victor... Continuando, eu não deveria ter batido em você, nem ofendido daquela forma, afinal, sou tão falha quanto você... Não trai, mas não sou perfeita, então peço sinceras desculpas. Agi no calor do momento, não foi certo o que fiz. - Falo para a mulher magra, com profundas olheiras que nem sequer a maquiagem, foi capaz de ocultar.
— Tudo bem, são águas passadas, eu desejo que você e o Victor, continuem bem. Porque você é a felicidade dele, então se ele está feliz, fico contente em saber disso. Victor e você são compatíveis. — Júlia esboça um sorriso entristecido.
— Obrigada, nós seguiremos em frente, espero que você fique bem. — Digo-lhe, sendo totalmente sincera, não guardo mais rancor, se guardasse, viveria amargurada com isso por anos, seria como um bicho empacado no mesmo lugar. Inútil, nocivo.
O olhar dela transmite o quanto ainda sente algo pelo Avelar, porém, já foi o tempo em que ela teve a oportunidade de tê-lo, jogando no lixo. Agora, é tarde.
Mesmo assim, desejo que ela continue sentindo-se bem, vivendo a vida, pois nem todos nós precisamos de um par romântico para continuar vivendo. Nascemos únicos (as), devemos ser realizados (as) por nós mesmos, não por ter outra pessoa ao lado.
Sinto-me melhor ao conversar com ela, estava precisando fazer isso.
— Adeus, Leila. — A loira despede-se, acenando sutilmente, eu aceno de volta, afastando-se dela, seguindo na direção oposta. Recebo uma mensagem de voz do meu namorado, dizendo desejar que eu vá até a casa dele hoje, mesmo sendo minha folga. Pois, é um assunto de extrema importância. Geralmente quando isso acontece, é porque não é algo muito sério, Victor às vezes faz alarde a troco de nada.
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