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31-Convença ele

Retiro a bolsa do ombro enquanto ando mantendo o foco no celular, entrei em um aplicativo de relacionamento: tinder.

Por que eu entrei? Sinceramente nem eu sei, acho que preciso desabafar, algo casual quem sabe.

Mensagem Bel:

O cinema do final de semana está de pé?

Puts, esqueci deste detalhe.

— Não me viu chegando. — A voz rouca e sensual me faz dar um leve pulo assustada, meu coração dispara e minha orelha ainda sente sua voz quente. Que raiva desta linda criatura sorrindo maldoso atrás de mim.

— Se eu tivesse visto, não tomaria um susto espertinho. — Sorrio forçado recuperando a instabilidade.

Victor se aproxima e me dá um beijo morno na bochecha, o perfume dele invade minhas narinas — é delicioso e suave...e principalmente... não me dá alergia.

Hoje parece melhor, mais disposto, versátil.

Fico borboletando depois deste ato meigo.

— Lembra da viagem para Londres? — Pergunta com um sorriso entusiasmado nos lábios.

— Claro, inclusive estava pensando nela. —Comento sorrindo.

— Falei para minha mãe, agora é só falta sua resposta e comprar as passagens. — Fala o dos olhos verdes charmosos.

Entrelaço o braço no dele e nós seguimos a passos lentos para o jardim.

Pelo visto já tomou banho, escovou os dentes e todo o restante, sozinho.

— Só preciso que esteja de acordo. — Soou exclusivo, ou seja, está em minhas mãos em grande parte.

— Nunca viajei de avião sabe... tenho um pouco de medo. — Victor sorri achando graça do meu pavor antecipado.

— É sério, eu entro em pânico só de pensar aquela coisa voando... É enorme. — Estremeço afastando tal visão da mente.

Victor dá risada se divertindo.

— Não seja dramática Le, todos nós temos que ter certeza do medo para ter certeza de que realmente ele nos perturba. — O tom bem humorado dele diz enquanto adentramos o jardim ensolarado.

— Fala isso por que já viajou não é? — Resmungo brava, para o bonito é fácil né.

— Já viajei de navio uma vez, fomos para Argentina quando eu tinha lá uns onze anos. — Conta o branquelo.

— Quantos dias pretende ficar lá? Sua tia, ela é rabugenta ou bacana? Preciso levar alguma roupa especial? — Questiono feito uma metralhadora.

Victor franzi as sobrancelhas absorvendo devagar demais minha rapidez nas frases.

Estamos percorrendo o caminho entre os arbustos e depois vamos para as escadas da sala de estar.

— Minha tia é uma mulher faladeira e supersticiosa que adora cozinhar e ter companhia, então acredito que vá gostar dela. — Responde a primeira pergunta.

Percebo que cortou o canto da testa e paro de andar imediatamente.

— Que corte feio, onde fez? — Analiso o ferimento vendo a expressão de desinteresse dele.

— Deixa isso para lá, não foi nada demais. — Resmunga impaciente e eu concordo, depois cuidarei disto para que não piore.

Certamente foi alguma aventura teimosa do bonito, pois adora se meter em encrenca.

— Não foi nada demais, mas pode virar. — Reclamo bem séria, ele nem liga.

Mastigar a ideia de viajar com Victor é muito pesado para mim agora, preciso botar a cabeça no lugar e ir ajeitando uma coisa de cada vez —, inclusive nem contei sobre o pedido do Marcos.

— Victor, tenho que te falar uma coisa. — Comento esfregando a testa, ansiosa.

Ele pega um dente de leão no meio das plantações e percorre os dedos com muita dedicação, sentindo a flor em cada centímetro dela.

— Sou todo ouvidos. — Responde cheirando a flor abaixo dos raios de sol que iluminam seu rosto pálido, logo a tarde chegará.

Respiro fundo e tomo coragem, não que eu não tenha, mas é um assunto delicado.

Victor assopra o dente-de-leão e faz ele se desfazer pelos ares. Um gesto tão inocente e belo que quase perco o foco, vendo isto.


— Seu irmão quer uma chance para conversar contigo. — Digo de uma vez aliviando o peso dos ombros.

Imediatamente a expressão fica ríspida.

— Não tenho absolutamente nada para falar com aquele canalha. — Victor lança o cabo da florzinha no chão grosseiramente.

— Ele parecia realmente arrependido... pelo menos tente, se não der certo...

Victor avança um passo e me silencia segurando a ponta do meu queixo delicadamente.

— Esteve com Marcos? Se encontrou com ele não foi? — O tom soou meio incomodado, sinto seu hálito morno atingir minha pele.

Trinco os dentes querendo rir. Victor contrai os lábios em uma linha fina e irritado... fica mais lindo ainda quando está zangado.

— Está com ciúmes por acaso? — Ergo as sobrancelhas querendo resposta destes olhos verdes charmosos e sombrios.

Victor tira o polegar do meu queixo.

— Ciúmes? Claro que não... apenas quero você longe dele, Marcos não presta. — A lucidez soberba que fala isto é repetida.

— Não presta mesmo... mas quer que eu fique longe dele por que exatamente? Todos merecemos segunda chance. — Victor revira os olhos e suspira sarcástico.

— Ah! Leila, Leila, deixa de ser ingênua, é isto o que ele faz, manipula até conseguir contornar a situação, Marcos sempre foi assim... não deixe ele te enfeitiçar com aquela carinha bonita e voz doce, é uma cobra. — Victor resmunga perdendo a tranquilidade, andando de um lado para o outro passando a mão pelos cabelos.

Parece uma situação que eu já vi...carinha bonita e voz doce, só muda para voz rouca, mas enfim...

— Ele é sangue do seu sangue Victor, não seja tão orgulhoso... pense pelo menos... faça pela nossa amizade, ok? — A palavra faz o Avelar ficar surpreso.

Amizade.

— Está bem, vou pensar sobre o assunto, mas não garanto nada. — Acrescenta cedendo, porém, o orgulho ainda entocado nele, a mania de fazer a pose: cruzar os braços e jogar levemente a cabeça para trás; acaba de ser feita. Com o toque especial de contrair o canto dos lábios.

— Mas só... — O branquelo se aproxima e antes que eu recue ele começa a me fazer cócegas, até que não aguente e implore para que pare, pois estou sem fôlego já.

— Vamos dar uma volta? Estou enjoado de ficar dentro desta casa. — Pede do modo mais gentil e meigo abrindo o sorriso que aquece meu coração. É bom vê-lo tão animado.

— Só porque você está merecendo. — Sorrio largo, Victor ameaça me morder e eu distancio o ombro ainda sendo presa por suas mãos.

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