25-Destroços
"...Tudo que eu sei, tudo que eu sei
Amar você é um jogo perdido..."
Arcade-Duncan Laurence.
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Movida por adrenalina até o último fio de cabelo do corpo, chego ao corredor onde o confessionário corrosivo começa.
Solta a mão do homem confuso ao meu lado, mal sabendo o porquê de eu estar agindo assim com ele.
Marcos e Júlia ficam pasmos ao ver o ato de coragem audacioso que acabo de pôr em ação.
— Conte a ele. — Ordeno fixando os olhos nela, agora já perfeitamente nítidos.
Júlia movimenta os lábios tentando falar algo, porém não sai.
Marcos paralisado, os olhos arregalados.
— Que diabos está acontecendo aqui Leila? Alguém pode me dizer porra! — Victor braveja ficando enraivecido.
Suspiro risonha com sarcasmo.
Bato palmas no ar, admirando a expressão de injustiçada da vítima teatral em minha frente, coitadinha dela...
— Eu te chamei aqui, para te contar o porquê estou estranha com você estes dias Victor... — Num puxão, arranco com selvageria a correntinha do pescoço dela, quase fazendo a loira cair no chão.
— SÃO DOIS FARSANTES, ESCROTOS, TRAIDORES. — Esbravejo sentindo tudo em mim queimar, quero derrubar a máscara deles — Marcos agarra meu pulso violentamente.
— CALA A BOCA, LEILA. — O resultado disto é um ardido tapa na cara enjoativo dele, atrevido o filho da puta.
Marcos cambaleia para trás e tromba no vaso de cerâmica branco acima da mureta e o faz cair, quebrando com tudo.
Júlia trinca os dentes revoltada, querendo me fuzilar.
Victor põe as mãos em meu quadril e eu o afasto de forma grosseira.
— Me larga! Porque eu vou falar o que estes dois carniceiros estão fazendo debaixo do seu nariz sabe se lá quando tempo! — Cravo as unhas nas palmas ao gritar para Victor que fica horrorizado com minha atitude agressiva que não está acostumado a ver.
— EU VI, NINGUÉM ME MOSTROU NÃO, EU MESMA PRESENCIEI, ESSA VADIA DISSIMULADA TRANSANDO COM ESSE FILHO DA PUTA CANALHA, PEGUEI OS DOIS UM EM CIMA DO OUTRO NO QUARTO DE HÓSPEDES. — Grito gesticulando acima do ombro, quero que todo mundo saiba.
Victor mal pisca, está paralisado digerindo a nojeira descabida.
— É mentira! Acha que eu seria capaz de fazer isto com você Victor? SOU EU, A SUA JÚLIA. — Simula a vagabunda do nariz arrebitado, assim que se aproxima de Victor, dou um puxão em seu cabelo e a faço cair sentada para trás.
Marcos age em prol da defesa de sua amante e vem para cima de mim afim de agarrar meu pulso, um estalo, nem sei como tirei forças para isto.
— SUA LOUCA, QUAL O SEU PROBLEMA? — Grita Marcos caído no chão, sangue escorre do seu nariz agora, consequência do soco que dei nele.
Júlia levanta e agarra a camisa de Victor, tentando justificar ou inventar outra baboseira inconsistente.
— NÃO TOCA EM MIM, SUA MAL CARÁTER. — Victor a empurra para longe bruscamente.
Marcos levanta ainda meio abalado e se aproxima de Victor.
— Irmão, não pode acreditar nela! Eu sou sangue do seu sangue! Volta a si por favor! — A punhalada nas costas foi dolorida que Victor mal consegue expressar algo além da decepção chorosa.
Um relance, Victor prensa o mais novo na parede fazendo o corpo estatelar na estrutura e pressiona o braço em seu pescoço, irracional e revoltado.
— DESGRAÇADO, ME TRAINDO DEBAIXO DO MEU NARIZ, SEJA HOMEM E FALE A VERDADE, PELO UMA VEZ NA SUA VIDA SEU FILHO DA PUTA. — Esbraveja Victor agora todo avermelhado.
Marcos resiste a pressão que está deixando-o roxo.
Victor treme por inteiro, prestes a matar o irmão, nunca o vi transformado assim.
— Você não me dava atenção Victor! Não queria me tocar e me ignorava toda vez que ela aparecia, queria o que! — Júlia grita indignada com ele, como se isto tivesse justificativa.
Vapt!
Acerto o tapa com tanta força que quase desloco o ombro.
— COMO OUSA ME BATER. — Pergunta colocando a mão no local atingido onde certamente ficará a marca dos meus dedos.
— DOU OUTRO COM MUITO PRAZER SE ESTE NÃO FOR SUFICIENTE SUA PUTA. — Esbravejo até quase perder a voz.
Marcos sorri ainda sendo pressionando sem piedade pelo braço do irmão.
— A culpa não é minha se não consegue satisfazer sua própria namorada irmãozinho. — Diz venenoso feito uma cobra, debochando do que fez.
Algo em Victor se quebra e eu quase consigo ouvir os estilhaços do seu coração sob o piso.
Júlia permanece silenciosa, a culpa não a deixa falar mais asneiras.
— Você sabia há quanto tempo Leila. —. A voz cortante de Victor me atinge.
Não consigo responder — apenas espero que eu não leve culpa alguma...É o mínimo que mereço depois de derrubar o Império asqueroso dos dois traíras.
Victor agarra as golas da camisa branca de Marcos e o joga violentamente no chão, tento impedi-lo, porém minhas pernas travam e o teto gira acima de mim.
— VICTOR, POR FAVOR, POR FAVOR, ESTOU IMPLORANDO, NÃO FAÇA ISSO... — Implora Júlia a todo pulmões, apavorada com os diversos socos que o namorado disfere no rosto do irmão, como se o enxergasse perfeitamente.
— EU QUERO VOCÊS DOIS MORTOS, VÃO SE FUDER, ODEIO VOCÊS, ME TRAINDO TODO ESSE TEMPO. — Vocifera Victor agredindo o irmão ferozmente, totalmente transtornado, Marcos não revida, apenas tenta tirar o irmão de cima de si.
— PARA VICTOR, O ÚNICO CULPADO É VOCÊ. — Grita Marcos empurrando o irmão para o lado, o rosto ensanguentado e inchado — Victor reúne forças para gritar estridentemente, estirado no chão com a barriga para cima. Parte de mim se quebra junto com ele.
Júlia mal pisca, completamente chocada do meu lado, mantendo a mão na boca e encolhendo o corpo.
Victor levanta ainda tomado pelo ódio agressivo e sem impedimentos.
— EI, EI, SE CONCENTRA EM MIM. — Entro no meio, ficando de barreira entre ele e o irmão espancado atrás de mim, seguro seu rosto e com a mão direita sua cintura.
Ele é mais forte fisicamente que eu, porém não perco a firmeza e pressiono sem delicadeza, quase sinto minhas vísceras saltarem para fora.
O semblante dele desaba, cedendo a minha instância em segurar seu corpo e impedir que machuque mais a mão arrebentando a cara lava de Marcos.
— SE EU NÃO ESTIVESSE CEGO, PODE TER CERTEZA QUE FARIA PIOR, BEM PIOR. — esbraveja apontando dedo por cima do meu ombro para seu irmão.
O corpo tão agitado que quase não consigo segurá-lo.
— FAZ QUANTO TEMPO QUE ME TRAI SUA INFELIZ? EU TE DEI TUDO, TUDO DE MIM, TODA A CARALHA DA MINHA VIDA E VOCÊ FOI CAPAZ DE ME TRAIR ASSIM. — Victor despeja as palavras nela, perdendo o fôlego por tanto esforço vocal.
Cada colapso do seu corpo quase me derruba, mas mantenho a firmeza.
— EU TE AMO, EU JÁ DISSE QUE NÃO É COMO VOCÊ PENSA VICTOR, EU...
— CALA ESSA MALDITA BOCA, MENTIROSA DOS INFERNOS, VOCÊ NUNCA ME AMOU, NÃO SE ATREVE A DIZER ESTÁ MERDA DE NOVO, OS DOIS PODEM DAR AS MÃOS E PULAR DO PRECIPÍCIO, ME DÃO NOJO. — Cada palavra expressando a dor dele me fere também.
Júlia recebe tudo desperdiçando as lágrimas de crocodilo, encolhendo o corpo atrás de mim, até agora consegue manter a falsa fragilidade?
Marcos consegue ficar de pé e cospe sangue no chão, o manchando assim como sua camisa branca amassada agora.
As íris verdes apagaram, sumiu aquele brilho caloroso — restou apenas cinzas e destroços.
Estou no meio termo entre: vilã ou heroína?
Eu ajudei, ajudei a quebrá-lo, mesmo tendo a melhor das intenções.
— Victor... me perdoa. — Peço com toda honestidade e neste momento as íris esverdeadas sombrias se viram para mim.
Tudo parou.
Carlota vem de longe fazendo barulho com o sapato ao pisar.
— Que absurdo está acontecendo aqui! — Pergunta a mulher que segura a barra do vestido para conseguir movimentar bem os tornozelos.
— A sua adorável cuidadora, disse a...
— A verdade, eu disse ao seu filho a verdade Carlota. — Interrompi sem hesitar a naja atrás de mim.
Carlota fica pálida e gela a expressão.
— O babaca covarde do seu protegido, estava fodendo a Júlia dentro desta casa, bem ali no quarto ao lado, magnífico não é? — Ironiza Victor já parando de chorar mesmo tendo a voz embargada por tanta maré, vou soltando ele devagar ainda correndo risco de que o mais velho voe no mais novo.
— Eu. Não. Acredito. — Pronuncia Carlota decepcionada olhando para o filho arrebatando próximo a janela, ainda refletindo em silêncio sobre a canalhice que cometeu.
— Eu devia ter colocado você no seu lugar desde pequeno, é impressionante como se parece com o crápula do seu pai. — Cospe as palavras nele, afiada igual faca.
Marcos limpa o nariz com o dorso da mão e dá risada com escárnio.
— Pelo menos meu pai era esperto, traiu você logo com duas, não com uma só, eu trai o trouxa do Victor só com a Júlia, porque a Leila não aceitaria uma orgia pelo que conheço dela. — Me ofendeu sem um pingo de pudor, debochando da própria mãe, desrespeitando quem tanto o defendeu.
Carlota balança o queixo em concordância, perigosamente.
— A surra que eu não te dei, vou te dar agora seu moleque atrevido. — O tom calmo bizarro, faz Marcos perceber tarde demais, a mãe dele estapeia o próprio filho diversas vezes por cima da cama de pele já danificada, dá socos em seu braço e até chutes.
A outra ridícula está envergonhada no canto.
— Vem comigo, precisa descansar. — Falo alguma bobagem irrelevante para tirar ele daqui, por mais que seja satisfatório ver Marcos gemendo de dor ao receber a surra, Victor está arrasado, o mínimo agora é poder se jogar na cama e descansar.
Victor suspira dolorido e consente.
— Mas antes... — Ele rodopia e dá meia volta, retirando a aliança grossa do dedo e jogando nela, o acessório atinge o rosto da loira descabelada.
Marcos parou de apanhar da mãe, encolhido no canto e chorando. Cretino, isto é pouco.
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